28 de dezembro de 2006

REFLEXÕES DE FIM-DE-ANO

Às vezes me ocorrem idéias brilhantes, gigantescas, quese megalomaníacas. Sinto nelas uma possibilidade de mudar o mundo, revolucionarizar. Daí a pouco procuro por elas e não faço a mínima idéia de pra onde foram, onde se meteram... E a vida segue... Se o sujeito estiver num buraco, a melhor coisa a fazer é abrir os olhos, pensar rápido e tentar sair dele enquanto não há terra por cima... Quando reconheço um erro volto atrás imediatamente, sem constrangimento. Afinal, não me comprometi com ele. Difícil mesmo é a primeira parte.

19 de dezembro de 2006

VIDA QUE SE RENOVA

"Olha que coisa mais linda, mais cheia de graça..." Meu pé de acerola verdejando, brotando folhas por todos os poros e renascendo depois da tempestade. Vida que se renova. O regador tem dado grande ajuda. Eu supervisiono. Vida, vida, vida!!! Natal não é assim? A idéia de nascer e renascer? Minha aceroleira comemora o natal em paz. Até quando, não sei. Tou parecido com ela... só que um pouquinho mais surrado. Nada que uns 10 ou 15 dias de férias não resolvam. Como prometi, esta semana publicarei tudo que está guardado. Quer dizer, tudo do que foi produzido por estes dias de 'estaleiro'. Enquanto isso vamos regando minha plantinha. Obrigado pela solidariedade!

12 de dezembro de 2006

FENG SHUI PARA FAVELADOS

ENCONTREI ESTA MATÉRIA HÁ TEMPOS NA INTERNET E GUARDEI. Na impossibilidade de escrever algo agora, procurando o que postar resolvi mostrar pra você. Acho um barato!

A autoria está exposta como também detalhes de sua localização.

por MrManson. Original em Cocadaboa Para quem não sabe:Feng Shui - Prática oriental que busca estabelecer o equilíbrio energético de um local através da arquitetura e do posicionamento estratégico dos móveis. A arte do Feng Shui começou a ocupar um importante espaço em minha vida. Desempregado e sem ter o que fazer, fui obrigado a me matricular em um curso profissionalizante do IUB (Instituto Universal Brasileiro). Finalmente os 4 anos que estudei economia em uma universidade pública foram de alguma serventia. A base teórica que adquiri com o auxílio de meus mestres foi muito útil para escolher um curso que tenha um mercado em expansão. Qualquer outra pessoa, desprovida do arcabouço teórico extraído de milhares de páginas de Marx, Keynes e Smith, teria optado por outras opções pouco rentáveis, como Silk Screen ou Datilografia.Abro parênteses - Os anúncios do IUB estão estrategicamente posicionados nas revisitas em quadrinhos da Turma da Mônica e da Marvel, pois qualquer adulto que possua tempo para desperdiçar em uma forma de entretenimento tão escrota, com certeza está precisando desesperadamente de uma ocupação profissional. Bato palmas para esta genial jogada de marketing - fecho parênteses. Como todos os cursos do IUB, o de Feng Shui também exige que seus alunos apresentem um projeto final antes de ganhar o diploma. Sempre fui uma pessoa muito preocupada com as causas sociais e o Cocadaboa é uma das minhas humildes ferramentas de ação. Resolvi então apresentar um projeto que equilibre os fluxos energéticos dentro de um barraco de favela. Os motivos da escolha são simples: além de grande parte dos brasileiros morarem em um barraco, este segmento da população é visivelmente prejudicado pela falta de um equilíbrio energético em sua moradia. Com certeza este é o principal motivo das desgraças em suas vidas miseráveis.Para simplificar o projeto esbocei a planta baixa de um barraco médio, que pode ser encontrado em qualquer esquina de nosso país. No desenho foram marcados 7 pontos que representam os erros que são mais freqüentemente cometidos pelos favelados. Vou tentar explicar de maneira clara e concisa cada um deles, além de apresentar a solução para os mesmos. No ponto 1 já notamos um erro fatal. O barraco está posicionado de frente para uma vala. A primeira lição do Feng Shui explica que o fluxo de água é um grande canalizador de energia, mesmo que ela seja podre. A vala está desviando a energia que deveria estar entrando pela porta, o que provoca uma descomunal falta de ânimo para os membros da residência. Provavelmente é por isso que eles sentem fome, pois estão impedidos de absorver a energia do cosmos. A solução mais simples é construir uma nova entrada, de frente para o fluxo de água, assim a energia da corrente flui naturalmente para o interior do ambiente, principalmente durante as enchentes. No ponto 2 vemos outro erro grave. O "gato", que puxa ilegalmente energia da rede elétrica, está localizado ao sudeste da residência. Como todos sabemos, a energia elétrica deve vir do leste, pois é lá que o sol nasce. Nosso astro rei exerce poder sobre todas as coisas, inclusive sobre os quilowatts. Uma simples mudança no ângulo do "gato" permitiria que esta família economizasse 20% de seu consumo total. Prestem atenção no ítem 3. A pia está ao lado do fogão, ou seja, o elemento água está convivendo muito próximo do elemento fogo. A água e o fogo são os pilares de nosso universo, logo devem estar localizados em pontos opostos do barraco, proporcionando uma base de sustentação mais sólida para o ambiente. O ítem 4 é fácil de ser corrigido. O sofá, quebrado e fedorento, está posicionado de costas para a entrada principal. As pessoas que sentam nele recebem os fluxos energéticos pelo "canal reverso", o que na linguagem leiga é conhecido como "penetração energética pelo ânus". Devido a esse erro, os filhos do meio estão expostos a uma homossexualidade latente.O número 5 deve ser analisado em conjunto com o número 6. A televisão (5) é a única conexão que esta família de favelados possui com o universo. É através dela que chegam as informações e os sonhos do "mundo exterior". A forma de agrupamento das crianças em frente ao aparelho é muito irregular (6). Um simples adestramento faria com que elas posicionassem os seus corpos paralelamente uns aos outros. As energias e as mensagens educacionais dos programas de TV seriam recebidas de forma adequada, e não de uma maneira distorcida. Esta distorção certamente encoraja estes pivetes a praticarem atos ilícitos.

AINDA NO ESTALEIRO

AOS AMIGOS, VISITANTES, CURIOSOS, LEITORES QUE ME HONRAM COM SUA VINDA, VEZ POR OUTRA, NESTE PEQUENO TERRITÓRIO QUE VAI VIRANDO MEU QUASE SÍTIO (UMA CHACRINHA!) VIRTUAL, MINHAS DESCULPAS. A CIRURGIA DO OLHO FOI UM SUCESSO, MAS AINDA NÃO POSSO ME DEMORAR DIANTE DA TELA. A CABEÇA ESTÁ A MIL. NOVAS COISAS EM BREVE. GRANDE ABRAÇO! OBRIGADO!

8 de dezembro de 2006

BOAS NOVAS

1. A cirurgia no meu olho esquerdo pra correção de uma 'carnosidade' que começava a querer invadir o 'preto do olho' foi um sucesso; 2. As formigas-de-roça fizeram a segunda invasão há uns 20 dias, mas com bons tratos e adubo orgânico, a pobrezinha está em franca recuperação. Espero brevemente poder postar foto da dita cuja toda viçosa. 3. Já posso ficar diante da tela do computador. Neste sábado devo postar novidades. 4. Retomo a leitura d'A Pedra do Reino. Uma verdadeira viagem!

2 de dezembro de 2006

QUANDO TUDO ESTÁ DENTRO

Abraço mais intenso Somente o do ar ou água. A geografia invisível Do teu corpo me delimitam os braços E posso tatear no escuro Ou na rua em pleno ar te abraçando. E eu ainda abraço-te na rua. Invisível. Como abraço meu pai Pois não é saudade que sinto Quando tudo está dentro. Se há melancolia É de não ser pleno, mas tudo está aqui. Tudo que me presenteaste E carrego comigo agora e adiante. Tudo que fui ainda sou… maturado. Doravante posso desenhar-te À minha maneira tosca e inábil de criança Como garatuja apenas E ninguém te verá nestes traços Mas sei que és tu sem medidas. Do livro "Os Sapatos Apaixonados"

1 de dezembro de 2006

NA VOLTA NINGUÉM SE PERDE

Já dizia o autor d'A Bagaceira. Voltei e estou em franca 'recuperação' do cansaço e tentando quitar débitos com muita gente. Pra minha felicidade, nenhum é financeiro. Trouxe sinopses de dois folhetos de cordel (A SAGA DE MANÉ GABÃO - O MAIOR CHARLATÃO DO CARIRI), com título ainda provisório e meu 'Marco' que agora vai virar 'Marco, Castelo e Fortaleza'. A leitura d'A Pedra do Reino acendeu o 'fogo' novamente. A você, que me honra com sua visita e leitura, pagarei neste sábado à tarde com novo post. Espero você!

26 de novembro de 2006

GLÓRIA TRICOLOR

Que me perdõe o filósofo Biu Gomes, meu pensador preferido, mas gostei de ver o tricolor crescer pra cima da "cobrinha coral". Cobrinha aqui não é pejorativo não, até porque nutro um simpatia grande pelo Santa Cruz.

Entretanto, torcer contra o Fluminense aí já era pedir demais.

Voamos baixinho, pertinho do chão pro 'Mundão do Arruda' e deu tempo de ainda ver o tricolor entrar em campo. Mesmo com um time medíocre (e um futebol idem) ainda conseguiu fazer dois a um. Se Evandro, Tuta e Alex não tivessem perdido três gols incríveis a história descambava pra goleada.

Salvou-se o pó-de-arroz do rebaixamento e fez-se a alegria da torcida numerosa e, ao menos na arquibancada, maior que a do time da casa.

Ver de perto o clube do coração, vibrar com os gols do Goiás (contra a Ponte Preta) e ainda 'empurrar' o time no grito todo o tempo valeu-me uma rouquidão que deve durar uns dois ou três dias. Reclamar, eu? Meu time ganhou! Finalmente!

Como disse Gonzaguinha "(...) hoje eu só quero saber da comemoração / e nem quero pensar / se meu time não fosse campeão / - sorrindo ele me segredou: / - nós faria uma revolução."

A empáfia do título nega o texto, mas com paixão é assim. Comemoramos o fato de sermos um time 'de primeira'. Ufa! Por pouco!

24 de novembro de 2006

GENTILEZA

Depois de um tempo vivendo e prestando atenção às coisas e pessoas a gente aprende algumas noções fundamentais praquilo que dizem ser e viver melhor. Uns mais cedo, outros nem tanto. Diria que ainda em tenra idade aprendi que sabedoria não rima com arrogância; que conhecimento verdadeiro não convive com autoritarismo. As pessoas com maior bagagem de conhecimento que conheci até hoje, as que unem informação com capacidade de transmitir ensinamentos pelo exemplo, as que trazem consigo aquilo que alguns chamam Sabedoria, todas, inevitavelmente traziam agregada a si a marca da humildade. Com o tempo descobri também algumas expressões quase mágicas como 'por favor', 'muito obrigado' e 'desculpe-me'. Essas sim, me ensinaram que é sempre possível abrir pesadas portas, extrair sorrisos simpáticos de faces tensas e mesmo conter acessos de ira nascente em corações magoados. Descobri a enorme satisfação de parar o carro antes da faixa de pedestres e receber sorrisos maravilhosos de agradecimento por ter feito quase nada, apenas contido um pouco a ansiedade de chegar nalgum lugar. Descobri o quanto é possível dar ordens, comandar ações, determinar atitudes dizendo a um subordinado hierárquico, 'por favor, faça tal coisa pra mim'. Ele sabe que está recebendo uma ordem, mas o 'por favor' colocado naturalmente antes tem um poder incrível de desarmar espíritos e até diminuir níveis de mau humor. Aprendi que a expressão 'muito obrigado', muitas vezes dita apenas por formalidade, tem uma força incrível quando verdadeira, olho no olho, sinceramente dita. Nessas idas e vindas da vida, aprendi que a força quase indescritível do perdão. Não da expressão 'perdoe-me' ou 'desculpe-me'. Falo do perdão mesmo. Aquele que você consegue dar com tranqüilidade a um sujeito que se acha o dono da rua e das leis e lhe fecha no trânsito crente que está certo e ainda rosna um palavrão. O perdão, e nem sei até que ponto isso vem de minha formação cristã, tem a força impressionante de fazer o bem muito mais a quem dá do que a quem recebe. Mas é muito gostoso sentir o alívio de não existir raiva dentro da gente. A ira entorpece e estraga o humor. Acho até mesmo que abaixa o tesão. Tenho descoberto algumas coisas ultimamente e isso me tem feito um bem enorme. Uma delas foi não brigar comigo mesmo. Começo a sentir uma paz enorme em aceitar-me como sou e, sendo assim, desse jeito, não bastar-me a mim mesmo, mas ser feliz assim. A gentileza não faz mal a ninguém. Como o presente dado, creio fazer quantidade de bem maior a quem dá do que a quem recebe. A lua minguante nos céus da Borborema, a exuberância primaveral dos Ipês, a brincadeira de Vinícius no seu sorrisão desprovido de malícia, encostando a cara no vidro, ainda sem dizer uma palavra são, pra mim, a prova de que existem mais detalhes pra serem observados na vida que aquilo que a gente simplesmente vê "a olho nu". A lente pra ver mais e melhor está dentro da gente. Certamente o Dr. Sabino, meu oftalmologista preferido, concordará comigo!

22 de novembro de 2006

"TE REGALO UNA ROSA"

"Te regalo una rosa / la encontré en el camino

no sé si esta desnuda / o tiene un solo vestido (...)

Mi amor, eres la rosa que me da calor / eres el sueño de mi soledad,

un letargo de azul, un eclipse de mar..."

A canção de J. L. Guerra é por demais conhecida e como tantas outras do cancioneiro popular, destacam a rosa como simbolo da formosura, além do perfume, claro.

A rosa também é uma imagem recorrente quando se quer lembrar que na vida as coisas boas também têm seu lado dolorido, seus espinhos.

Pois então? E não é assim com quase tudo? A vida bem poderia ser um 'mar de margaridas', boninas, tantas outras flores, mas alguém inventou logo cedo de cunhar a frase "a vida não é um mar de rosas". Agora não tem mais jeito.

Diz a sabedoria popular que quando você não tiver nada pra dizer permaneça em silêncio.

Entretanto, gostaria hoje, sem ter o que dizer, vitimado por uma espécie de quase completa prostração intelectual... e mesmo afetiva (aquilo que no passado chamavam banzo), deixar pros meus visitantes uma ou duas rosas-meninas de presente.

Não têm utilidade aparente, mas podem alegrar o dia de alguém. Com uma clara vantagem sobre as rosas originais, essas não espinharão os que as tocarem.

Na falta de um ipê-roxo ou amarelo, transformado em plenitude floral na primavera campinense, de um buquê de flores silvestres, lírios, jasmins... duas rosinhas singelas pra enfeitarem o seu dia.

Plantei dois desses ipês num jardim imaginário, um rôxo e outro amarelo. Ano que vem eles me darão milhares de flores ou, na verdade, se transformarão em flores, pois com minha imaginação também acelero sua maturidade.

Caro amigo! Querida amiga! Precisamos olhar mais e tocar mais as flores. Por enquanto, como dizia Juan Luis Guerra, "te regalo una rosa".

Somente isso e minha vontade imensa de deitar numa rede que gostaria de também dividir com você.

P.S. O pé de rosa-menina vive muito bem na casa do "Tio Nato" em Alagoa Grande.

18 de novembro de 2006

UM SUJEITO AFORTUNADO

Não tenho os créditos da foto. O sinistro aconteceu na BR 324, em Feira de Santana (BA). Qualquer pessoa há de se perguntar se o sujeito dono deste carro achou que teve prejuízo ou lucro. Você acha o quê? Pode parecer com aquela velha história da "Lei de Murphy", se existe uma possibilidade de dar errado, prepare-se, pois vai dar errado. Sei não, mas acho que isso é o alimento dos pessimistas. O cara pode raciocinar de duas formas: 1) como sou azarado! Perdi meu carro! 2) Que sorte! Que maravilha! Tô vivo! Escapei fedendo! (Essa é de Juazeirinho!). Eu, quando menino, tinha uma mania esquisita de desafiar alguns tabus e o azar. Diziam que se a gente revirasse a pálpebra superior dos olhos e, naquele instante, o galo cantasse ficaria daquele jeito pra sempre. Pois não é que eu fazia e ficava ali, esperando... pra ver ser o galo cantava e o que aconteceria. A esta altura não lembro mais se o galo cantou alguma vez, coincidindo com aquela bizarrice. Outra coisa desafiante era passar por baixo de escadas na rua. Encontrar um gato preto e ficar torcendo pr'ele cruzar pela frente... nunca entendi bem porque fazia aquilo, mas era muito engraçado. Psicólogos, psicanalistas talvez ajudem-me a entender. Afinal, há um adágio antigo que diz que quem cospe pra cima tem grande chance de levar na cara. Depois de um tempo, ao menos pro tabu da escada encontrei explicação. Se ela escorregar na hora em que você vai passando... ai! Tive sorte até hoje e depois de um tempo larguei de fazer esses desafios. Hoje, quando vi a foto, enviada por meu irmão Gilberto, pensei comigo mesmo: sou um cara muito afortunado! Quantas vezes não escapei (simbolicamente)como o cara do carro? Fechei os 44 esta semana e perdi a conta de apertos de mão, abraços, sorrisos, votos, telefonemas, presentes antecipados e atrasados... muitos de amigos de perto e de longe. Algo me inquietou profundamente e me fez mudar um conceito. Sempre achei que presente é pra fazer a felicidade de quem o dá. A alegria de dar presentes deve ser sempre maior que a de receber. Fico todo sem graça ao receber um presente (os amigos já conhecem e não sei se é um defeito), quando deveria demonstrar contentamento. Mas, o bom mesmo é dar presentes. Agora tenho pensado em inverter a lógica. Penso que no nosso aniversário deveríamos comprar um montão de presentes pra dar. Se isso não fosse possível, uns cartões, uns telefonemas, uns emails, uns scraps uma série de visitas... a todos os nossos amigos. Você chegar no dia do seu aniversário e nunca mais o amigo passar aquele 'aperto' de arrumar uma desculpa pro esquecimento. Você liga logo cedo e diz: "valeu, cara! Hoje é meu aniversário e estou ligando pra lhe agradecer por ser meu amigo, por me dar este fantástico presente." Imagine você chegar prum amigo que não vê há um bom tempo, levar-lhe um mimo, um regalo e dizer: "hoje é meu aniversário e lembrei de você, amigo! Vim aqui só pra dizer que, mesmo distante, mesmo sem nos vermos ou nos falarmos durante tanto tempo, você continua meu amigo. Por isso vim lhe dar um presentinho, pra que você saiba o quanto agradeço por você existir e me presentear com sua amizade." A vida em si é um presente. Aliás, é o presente. Ter amigos que fazem com que nos sintamos importantes, gostados, amados, aí já é presente borbulhando como champanhe em fina taça. Acho que, como o cara do carro azul da foto, sou um sujeito extremamente afortunado.

16 de novembro de 2006

NO FUNDO DOS OLHOS

Por favor, não diga que são olhos de ressaca. Essas pequenas bolsas, ou são hereditárias, ou são resultado da vigília maior que o repouso. Com a devida vênia, a boêmia tem um pouquinho de participação também, mas minoritária.
Sentado, quieto estava, quieto fiquei. Meus olhos foram penetrados por uma luz que, mesmo sabendo de onde vinha, assustou levemente. É assim que acontece, mas nem sempre. Às vezes tudo é muito superficial já me disseram amigos mais experimentados.
Nunca meus olhos foram olhados com tamanha curiosidade e penetração. Ângulos diferentes, comandos os mais variados, algumas perguntas breves, secas, quase monossilábicas a que eu respondia tentando uma formulação mais sofisticada, mas percebi pela situação que o ideal seria oferecer também respostas no mesmo padrão.
Aos poucos fui relaxando e um sutil contentamento foi tomando conta de mim. Já havia experimentado sensações parecidas antes, mas no dia em que se está completando 44 novembros é muito diferente. Lacrimejei um pouco, foi-me oferecido um suave lenço, enxuguei as lágrimas e deixei prosseguir aquela espécie de prospecção por um terreno até então só investigado por outros interesses mais sutis.
Antigamente tinha gente que dizia que eu possuía olhos cor-de-mel e, apesar de ficar lisonjeado com o sutil conceito e um certo conteúdo poético daí, sei que na prática eles eram furta-cor. Todo mundo tinha olhos de uma cor e o meu, ah, o meu mudava (e ainda muda) de cor conforme certas circunstâncias climáticas e biopsíquicas minhas. É assim! Por santo nenhum, porém juro!
Mas, deixa pra lá esse detalhe. O importante é como me senti depois de um tempo e o Dr. Sabino Rolim, craque da oftalmologia, companheiro dileto de algumas esparsas degustações cachaçais, regadas a um papo endless, amante da boa música e abraços sorridentes da vida me diz no final: você está muito bem! Não vai usar óculos, se não quiser. Ao menos por enquanto não! Vamos marcar a pequena cirurgia, também se você quiser fazer agora. Eu quero pra tirar o ardor e aquela imagem de "olhos-de-fogo", de quem já chega na festa de "cabeça feita".
Feliz pela garantia estendida dos meus olhos, fiquei todo ancho com aquilo que soou pra mim com um dos melhores elogios que recebi até os 44 (tirando aquele dos "olhos cor-de-mel", claro).
Agora é comemorar e preparar pra tentar chegar aos 45, se não com olhos de lince, ao menos com olhos de caçador. No meu caso, caçador de mim, que é o que mais tenho sido nos últimos anos. Quem me conhece bem o sabe!

14 de novembro de 2006

UM CASARÃO RODEADO DE JANELAS

Ontem vi no roda-viva uma entrevista da escritora norteamericana Laura Kipnis falando de um livro seu que ficou famoso sobre uma suposta morte do amor no seu formato mais conhecido, intitulado "Contra o Amor". Ela argumenta que "o amor é uma invenção moderna, não traz toda a felicidade que promete, cria ansiedade e provoca estresse e depressão." A escritora questiona o fato da sociedade "continuar idealizando relacionamentos duradouros e monogâmicos, quando a realidade mostra que isso é cada vez menos possível". Seria uma espéecie de decretação da infalivel arapuca em que se meteram o seres humanos com a fórmula do amor romântico nos moldes que temos conhecido. Falava dos norteamericanos, mas o livro vem rodando o mundo e sendo lido e bem vendido. Fiquei matutando se não deveria escrever um livro desses. Há alguns anos até escrevi uma sinopse do que seria tal livro e tenho guardado, mas isso é empreendimento de fôlego e não sou gato. Eu, hein? Pense num assunto onde quem mais fala parece ser porque não compreende de jeito algum e está tentando dizer. Aqui talvez seja o caso. Uma foto tirada há poucos dias do interior de uma casa me deu um mote. Busco uma imagem que me ajude a entender o amor. Não o amor em geral, mas o amor romântico, ou romantizado, erotizado e culturalmente adotado e praticado por boa parte de nós, seres humanos brasileiros. Falo brasileiros por serem os que conheço um pouquinho. Imaginei um casarão sem nenhuma porta, mas repleto de janelas. Janelas como essa, donde se pode divisar o mundo de ângulos completamente diferentes e até inusitados, de onde se pode respirar, sonhar o mundo de dentro e de fora. Esta janela poderia ser de qualquer cidade e qualquer casarão. Daqui vejo uma arvore perto, uma rua calçada, um muro, arvores outras, casinhas ao longe e bem longe formações rochosas, serras se entrecruzando... depois o azul, o infinito. O infinito eu não vejo necessariamente, mas imagino. Penso assim o amor. Esse amor de que falo. Duas pessoas escolhem o casarão, mandam vedar as portas e ficam lá dentro com suas enormes janelas abertas pro mundo. Um dia, por acaso, os dois não estão juntos na janela, até e porque estar sempre juntos estraga o amor, e um, mesmo adorando o casarão e a vida dentro, vê coisas acontecendo lá fora, movimento, vida pulsando diferente e sua respiração muda de ritmo. Pensa numa porta, mas porta não existe. E agora, José?, como diria Drummond! Quer morrer no mar, mas o mar secou. Tranca as janelas e volta pra dentro do casarão. Um breu sem tamanho toma conta do dia. Fica ali, em estado de quietude quase total. Numa espécie de quase-catatonia, olha ao seu redor e descobre que o mundo não há de compreender o amor a não ser por metáforas. Com efeito, talvez somente os poetas possam nos revelar algumas verdades, mesmo fugazes. Os poetas e o tempo. O tempo! Salvem-nos os poetas! E os lunáticos! Tenho dito!

13 de novembro de 2006

IMAGEM DA DESTRUIçÃO

PROMETI E ESTOU PAGANDO; EIS O DESASTRE PROVOCADO PELAS FORMIGAS NA MINHA ACEROLA. Tem um monte de coisas pra postar, mas acho que precisam maturar. Hoje ainda, quem sabe... Por equanto, a foto que prometi. Tenho boas novas. Bastante cuidado, carinho e regas e alguns olhinhos ja começaram a brotar. A vida se renova.

12 de novembro de 2006

BRASIL: PRESIDENTE COMUNISTA!

Estou devendo uma foto da minha acerola "comida" pelas formigas roçadeiras, mas antes disso não resisti e resolvi publicar parte da matéria do G1, o portal da gobo que pretende ser o centro das notícias do mundo, sobre o fato de um comunista assumir por 24 horas a presidência do Brasil. Aldo, Presidente! Taí, uma boa campanha! O preconceito, a desinformação e o ranço anticomunista revelados na forma quase jocosa de apresentar a informação é reveladora do conteúdo de classe com que a chamada 'grande imprensa' trata a notícia no Brasil. Veja você mesmo. Os negritos e comentários entre parênteses são por minha conta. É hilário! Vale a pena ler! "Um dos últimos partidos stalinistas do planeta, o PC do B chega à Presidência do Brasil 17 anos depois da queda do Muro de Berlim, que marcou simbolicamente o fim do chamado "socialismo real" no dia 9 de novembro de 1989. Deputado desde 1991, Rebelo elegeu-se graças ao apoio de Lula (detalhe: Aldo já é deputado federal há pelo menos umas quatro legislaturas, por que só agora elegeu-se "com o apoio de Lula"?) e ao diálogo que sempre soube manter com outros políticos, inclusive conservadores (quanta sutileza!), mesmo atuando debaixo do "centralismo democrático" (aspas no original), a rigorosa disciplina partidária do PC do B. (num país de partidos tão frágeis isso é um elogio do car...!) O primeiro presidente comunista do Brasil é jornalista por formação e foi presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), então uma entidade clandestina. Torcedor do Palmeiras, futebol e história são suas paixões. No gabinete pessoal, Rebelo tem retratos dos comunistas Vladimir Lenin, Josef Stalin e Mao Tse-tung. Para a sala de presidente da Câmara, levou bustos de outros ídolos políticos: Simon Bolívar e Abraham Lincoln." (OBS: Estes 'detalhes' são extremamente relevantes para o leitor assimilar a informação. Esse é o 'padrão' globo de competência.)

8 de novembro de 2006

FORMIGAS... ESTOU COM RAIVA DELAS!

Definitivamente... estou com raiva das formigas. Elas existem aos milhões, já foram estrela de cinema, mas fazem questão de nos lembrar sempre de sua existência. Só no Brasil as denominações para suas variedades devem somar algumas dezenas ou bem mais. Alguns dizem até que formigas e ervas daninhas são como a consciência, aqui ou ali somem um pouco, mas depois voltam sempre. Ocupam o seu lugar pra nos dizerem, estou aqui! Eu bem que não deveria reclamar pelo tanto que me fartei de tanajuras nos tempos de menino. "Cai, cai, tanajura / que é tempo de gordura...!" Alguém aí já cantou esse pregão popular? Não entendia muito bem a relação da chegada das tanajuras com a meteorologia e as estações do ano. Em Juazeirinho esses assuntos de outono, primavera, verão e inverno não passavam de fantasia literária e formalidade dos livros de geografia, pois ali só existiam duas estações: quando chovia e quando estava seco. Pronto! Simples assim! Entretanto, numa determinada época do ano, me parece que logo depois das primeiras chuvas, alguém dava o sinal, "chegou a tanajura!", e era aquele corre-corre. Meninos com latinhas na mão, outros pegando as coitadinhas, retirando a parte que interessava, a bunda, e comendo logo, outros juntando em saquinhos pra levar pra casa. E os cururus fazendo sua festa. Pareciam que iriam estourar. Segundo o amigo Eduardo, doutor em entomologia, aquela parte a que chamamos bunda (e não poderia ter outro nome melhor) é uma fortuna em proteínas. Era uma festa! Tinha meninos, inclusive, que comiam a tanajura inteira, retirando somente a cabeça com os ferrões. Se fosse frita na manteiga, espalhada numa farofa, até que dava pra descer com tudo, mas crua era barra. Tinha que ser muito destemido ou ter estômago de tamanduá. Alguns o faziam com a maior naturalidade. Eu, hein! Somente sei que fazíamos uma farra danada. Tudo bem, mas desde esse tempo e ele passado, nunca morri de amores por formigas. Até mesmo porque quando no meio de uma brincadeira num monturo qualquer ou mesmo numa caçada, dávamos de cara com um formigueiro da famosa formiga-preta (uma miudinha) o desmantelo era grande. Aquilo é coisa de louco. Na vida do citadino tornou-se algo comum a convivência com formigas. Elas estão por toda parte. Há as galeguinhas miúdas que adoram de açúcar a biscoitos e até mesmo (pasmem!) água e outras pretas que têm ferrão rápido e uma peçonha especialmente dolorosa. Existem também umas formigas comuns amareladas que estão em toda parte, mas não fedem nem cheiram, não incomodam muito. Tem também aquelas de asas que aparecem quando chove e outras amarelas graúdas, açucareiras, que vez por outra resolvem alugar um aparelho eletro-eletrônico e fazer dele sua morada até que o dono descubra o prejuízo. Meu conflito com as formigas não passou por nada disso. Depois de quatro dias fora de casa, chego no domingo à noite e sou chamado às pressas pr’uma inspeção, pois um grave problema havia ocorrido. Meu pé de acerola, ainda brotinho de uns 8O cm, foi vítima das roçadeiras. As famosas formigas-de-roça, fizeram a festa na minha ausência e quando cheguei ainda concluíam sua obra. Haviam comido noventa por cento das folhinhas mais tenras e cuidadosamente tratadas. Foram no topo, deixaram as folhas velhas e garantiram sua nutrição por um bom período com aquilo de mais pujante e renovador que existia na aceroleira. Quando vi o desastre elas ainda viajavam em filas confusas carregando o resultado de sua labuta e meu desgosto pro escuro dos seus formigueiros. Tudo bem, elas fizeram a sua parte, mas tinha que ser logo aqui? Logo com meu pé de acerola? Dona Neide me presenteou e há uns bons meses venho cuidando carinhosamente pra um mói de formigas chegarem assim, donas do ‘pedaço’ e mandarem ver na minha plantinha. Ah, não! A guerra foi declarada. Pisamos na fila de formigas, elas correram desesperadas, umas fugiram largando suas cargas, outras morreram ali mesmo sob nossos sapatos cansados de viagem, mas lutamos bravamente pra proteger nosso futuro arbusto, que bem poderá nos fornecer alguns dos melhores acompanhamentos pr’umas boas doses de cachaça com alguns amigos. Tudo bem e você pode até dizer que as formigas são importantes pro equilíbrio ecológico, que eu não deveria ter trucidado as bichinhas, que elas estavam no seu papel... ao que eu replico imediatamente: mas tinham que fazer o seu papel logo com minha acerolazinha? Definitivamente, acho que as formigas têm lá a sua importância no ecossistema, sua parte na cadeia e lugar no equilíbrio da natureza. Mas, dá licença, elas que vão comer a acerola de quem quiser. Elas que procurem... afinal, mato tem em todo canto, inclusive umas belas carrapateiras num monturo de cinco lotes rodeando minha casa. Por que escolher logo a minha? Não me conformo e pronto! Tenho dito!

DESPERTO NO FIM DA MADRUGADA

Desperto no fim da madrugada E procuro divisar o firmamento Por uma greta na janela Como um nostálgico contador de estrelas. O lusco-fusco anuncia a aurora E não há tempo para brincar de poesia. O cheiro do café que vem de outra casa E alguns motores que rugem Avisam-me que a vida urge E não há tempo pra sonhar de novo. Tento emendar o sono E colar pedaços do mesmo sonho, Como se um ‘durex’ imaginário pudesse Fazer continuar a fantasia trincada. Agora a água fria sobre a cabeça Informa que a roda-viva engrenou Como num moto-contínuo E este aprendiz da vida é apenas um dos dentes.

6 de novembro de 2006

NÃO HÁ BOM SEM DEFEITO

O amigo me encontra depois de varios anos, eu devidamente paramentado com as cores do pavilhão tricolor, e me cumprimenta efusivamente. De fato, a amizade é antiga, dos tempos áureos do movimento estudantil onde partilhávamos bandeiras. Mulher e sogra o acompanhando no bar à beira mar, juntamente com o filho de uns 12 anos, ele faz a festa do reencontro, fala dos velhos tempos, da politica, de nossas opções historicas e, batendo em meu peito, bem do lado esquerdo, alfineta na saida: «não há bom sem defeito». Na verdade meu amigo batia na minha camisa sobre o escudo do fluminense, o tricolor carioca, o glorioso pó-de-arroz. E eu me fazendo de desentendido respondi que o que era defeito pra uns poderia ser virtude para outros. Fiquei matutando depois sobre essa breve prosa futebolística de contrornos morais. Logo eu que sou casado com uma flamenguista, peguei a imaginar o que seria de mim se uma apaixonada tricolor tivesse por acaso pousado em meu ninho, vibrando, sofrendo e curtindo a paixão pelo mesmo time numa aventura sem fim. Um verdadeira epopéia tricolor a dois sem medidas. Êita desmantelo! Paixão é assim, não tem razão, não carece explicação, apenas existe e se manifesta. Preferencialmente, da maneira mais estapafúrdia possível. Talvez por isso alguns apaixonados jogam pétalas de rosas de helicópteros sobre as casas de suas paixões feminis, picham muros com o nome de suas musas, põem música nas difusoras de parques de diversão – 'de um alguém para outro alguém' -, escrevem poemas, tornam-se inteligentemente bobos. Pois pra mim encontra-se nesse nivel a paixão pelo futebol. Afinal, como explicar o fato de torcer por um time que tem como mascote um urubu? Ou por outro que traz no nome a história de um tabu, do preconceito, da superstição que envolve os números e o azar? Não se explica. Não tente, por favor, amigo ou amiga que me lê, explicar racionalmente suas paixões. Em qualquer que seja o terreno humano. Afinal, paixões são invenção humana. Use seu precioso tempo com exercicios intelectuais mais requintados. Sobre a preferência apaixonada pela combinação verde-branco-grená posso apenas dizer que não escolhi, pois nasci tricolor. Meu pai o era. Meus irmãos todos o são. Todos os meus sobrinhos idem. Meus dois filhos tambem trazem essa marca indelével. Há quem arrsique dizer que é genético, mas eu, por não entender muito do assunto, fico apenas com minha paixão. Você pode até duvidar sobre Vinícius, que tem pouco mais de um ano de vida, mas sou capaz de jurar por tudo que de mais sagrado (lá vou eu por um terreno pantanoso) que mostrei a ele várias camisas, de cores diferentes, uma totalmente branca, outra mais ou menos branca (ou seria marfim?), outra esverdeada, uma outra misturada de vermelho com amarelo, mas confesso que percebi uma espécie de sorriso de cumplicidade quando mostrei-lhe o pavilhão tricolor. Juro que ele esboçou uma reação diferente, uma especie de contração facial parecida com alegria. Explico: Camilla, barriga dilatada com aquele mundão de vida dentro, por mais flamenguista que seja, sabendo da importância que tal escolha teria na vida do seu futuro rebento, escolheu por própria conta e risco e acertou comigo de bordar uma camisetinha branca com um belo escudo e a inscrição: Sou - tricolor – Vinícius! Se a sua cria não pôde vestir a indumentária no hospital é uma outra história, mas você não é capaz de acreditar que ele fez um arzinho de riso quando lhe mostrei a camisa tricolor. Ah, fez sim! Não duvide, caro interlocutor, por favor, de minha honestidade paterna! Sinceramente, você não é capaz de imaginar a cara de satisfação do meu cotoquinho de gente quando pus a camisa por sobre seu bercinho de maternidade todas as vezes que a enfermeira o trazia pro apartamento pra ser amamentado e ficar um pouco por perto. Imagine a alegria: a mãe, peito de flamenguista, mas leite tricolor! Comida tricolor, sentimento tricolor, uma nova paixão tricolor! Fico a imaginar como deu-se a transmissão genética da paixão tricolor do velho Tonito pros seus filhos todos! Como foi eu não sei, porém, tenho provas que foi assim que aconteceu, como dizia João Grilo, «só sei que foi assim». Por conta da provocação do meu amigo fico me perguntando, como de fato pode tanta gente viver um mundo de paixão pelo futebol e especialmente por determinado cordão? Uns podem ter se apaixonado por uma vitória magistral em uma partida específica. Outros poderão ter desenvolvido sua paixão pela combinação de cores, outros tantos pelas relações familiares, outros quiçá pela ‘plástica’ de um ou outro jogador. Diziam antigamente que Leão, aquele chato de galocha, quando jogador do Palmeiras foi escolhido por uma dessas revistas que não tem assunto como o « homem das pernas mais bonitas do Brasil ». Vôti ! E eu lá tenho tempo nem jeito pra ficar reparando nesses detalhes, hômi !. Deixa isso pra sensibilidade feminina. O mais bonito na história da paixão pelo futebol é que ninguem deve buscar explicação por ela e foi isso que tentei dizer pro meu amigo. O que ele via em mim como defeito eu destacava como perfeição. Neste caso, qual a distância entre virtude e vício? Claro que é a medida da paixão. Assisti muitos jogos do Fluminense pelo radio, um ABC «a voz de ouro» que Seo Tonito comprou pra 'assistirmos' a copa de 70. Da mesma forma assisti junto com meus irmãos muitas vitórias de Emerson Fittipaldi na Formula 1, e quem diz que precisávamos de imagem pra termos emoção de sobra? Num canto de parede ouvíamos o ronco dos motores passando pelo rádio, como se fossem sair de dentro dele, e viajávamos juntos naquele universo de fantasias, assim como eu delirava com as histórias de Machado, de Alencar, de Jose Lins, com a poesia de Castro Alves, Raimundo Correia, Vinícius e Bilac... assim como sonhava com as histórias de caçadas incríveis e viagens fantásticas de Seo João Gonçalves, o maior contados de ‘estórias’ que já conheci. Agora o Fluminense deu pra passar vexame e tentar nos matar do coração. Acho até que sangue bem que poderia ser tricolor. Já imaginou algo assim parecido com aquele creme dental que sai com duas faixas de cores diferentes? Imagine, vermelho com listras verdes e brancas. Sinceramente, respeito muito suas preferências, mas sangue tricolor seria bem mais bonito.

1 de novembro de 2006

PERMITO-ME AO MUNDO

Permito-me ao mundo

E nele toco.

Virtudes e vícios.

Menino, quero dele apropriar-me

Pelos sentidos

E nessa aventura

Já tive dedos queimados,

Pequenos choques elétricos,

Provei do gosto amargo,

De coisas que não queria

E sabores inesquecíveis.

Toquei em flores, espinhos,

Rostos de crianças, pele macia.

Escutei a maravilhosa música do mundo.

E o mundo sorri pra mim.

Às vezes escancara numa gargalhada...

Afinal, ao me permitir pra ele

Recebo de volta generosamente

Sua contrapartida.

Em parceria com ele

Sigo arriscando.

Vivo o mundo como se fosse meu,

Penetro cada brecha aberta

E quando ela não existe eu a faço.

Melhor que falar mal do mundo

É tocar nele

Como gente,

Como parte dele,

Como menino

Brincando de gente grande.

27 de outubro de 2006

PREJUÍZO INCOLOSSAL

Resisti muito em comentar aqui no blog algo sobre as eleições estaduais. Acabou! Assisti mais uma vez ao debate entre os candidatos ao governo da Paraíba. Insosso! Fraco que só sopa de bila. Não sei porquê insistem nesses debates às vésperas das eleições. Deveriam fazer debates de dois em dois meses, o ano todo, todo o tempo. Com os partidos e não com os candidatos somente, como se fosse um duelo. Tem até preparação, treinamento... vôti! O que menos se tem são esclarecimentos, propostas... que possam levar o eleitor que não se envolve diretamente com as questões partidárias a decidir votar neste ou noutro por achá-lo melhor em suas propostas e convicções. Cada dia me convenço mais que o eleitor decide seu voto pelas vísceras: estômago, intestinos, fígado, rins, bofe (É o novo!) e coração. Contam-se nos dedos os eleitores que votam pelo partido, pela consciência, pela racional escolha e esperança que, assim fazendo, melhores dias virão pro conjunto da sociedade e não tão somente pra ele e seus parentes, agregados e aderentes. Quando afirmo isto, não me excluo por completo, nem aos que de mim estão mais próximos. Em se tratando de eleição, a paixão determina quase que completamente e sempre mais que a razão. E quando assim acontece, como ademais em quase tudo na vida, os resultados não são os melhores. Estamos falando de política, portanto, o que guia o mundo nas relações humanas coletivas. Acredito que as elites de Pindorama não criam uma legislação partidária e eleitoral melhor porque é exatamente assim que querem deva permanecer. Cláusula de barreira é mais importante que fidelidade partidária. Voto distrital é mais importante que financiamento público de campanhas. Eu, hein! "Me engana, que eu gosto!" Tenho minha decisão tomada e não vou publicá-la. Atende a um conjunto de critérios combinados dentre os que citei antes, um deles e o mais importante, a consciência. Não resisti, entretanto, em fazer um comentário sobre fatos de um passado recente: Fui vítima da "arrogância, prepotência e autoritarismo" de um destes dos dois candidatos há alguns anos. Estava indicado por um coletivo político e acadêmico como pré-candidato à reitoria da Universidade Estadual da Paraíba. Diziam alguns colegas que ele, por conta do perfil acima descrito, "... jamais aceitaria um comunista (o que sou, com muita honra!) na condição de reitor da UEPB". Diziam ainda mais: que "... se fosse candidato não seria eleito (pois seus seguidores golpistas tramavam autoritariamente contra nós) e se eleito não seria nomeado...” Pronto! É o rei! A dois meses da eleição a autoridade fez publicar um DECRETO mudando as regras do jogo, uma verdadeira intervenção na instituição e um golpe na sua incipiente tradição democrática. O processo foi todo modificado e foram instituídas novas regras, verdadeiramente draconianas, para o deleite dos seguidores daquela autoridade. Resultado: a candidatura foi derrotada. Natimorta! Abortada! Seis anos depois eu continuo aqui, entrincheirado, combatendo o bom combate, fiel às minhas escolhas ideológicas, tentando fazer o bem que me cabe e a minha consciência determina. Muitos (a grande maioria) companheiros daquela batalha continuam com a mesma opinião acerca daquela autoridade. Ela não mudou! Mas voltemos ao debate. Assisti ao debate e se não fizer meus comentários aqui, ao menos aqui que é meu espaço privado-público, vou estourar feito cururu (êita! Essa é de Juazeirinho!) com sal no espinhaço. Mesmo com toda a falta de sal e tempero do debate, algumas coisas não escaparam aos ouvidos mais atentos. Além da grande dúvida que paira: se os dois dizem e provam que o outro é mentiroso, quase dá pra interpretar que o melhor pra Paraíba é que um dos dois esteja errado. Muitos colegas, dentro e fora da universidade, tiram o maior sarro da cara de um dos contendores pela sua notória dificuldade com o vernáculo. Digo quase sempre: não sejamos cruéis nem preconceituosos com o 'pobrezinho', pois na maioria nas vezes isso é apenas recurso lingüístico e deve ser aceitável, respeitado. É parte da riqueza imensurável da brasilidade. Alguns deslizes, com um pouco de humildade e fonoaudiologia, seriam perfeitamente corrigidos. Entretanto, pra não “passar em branco”, deixo algumas observações. Neste sentido, confesso de me diverti com o debate. Acho que o bom mesmo da "contribuição" de um dos candidatos para a língua portuguesa, em minha humilde opinião, se deu em dois momentos: 1. Quando afirmou peremptoriamente, com pompa e circunstância, que determinada ação do adversário havia "(...) causado um prejuízo incolossal à Paraíba (...)". ESSA FOI BOA! QUER DIZER, BOAZINHA! O MELHOR AINDA ESTARIA POR VIR! 2. Quando se referiu ao episódio conhecido como "apagar o último candeeiro" afirmando que aquilo era uma espécie de consigna, de chamamento, uma proposta, uma meta... portanto, e por essa razão, "...o verbo estava no infinito... ESSA FOI DEMAIS! Grande contribuição para uma compreensão mais dinâmica, flexível e vivificada da língua portuguesa. O VERBO QUE NÃO ACABA! Parece a coisa do 'gênese' invertida no livro do apocalipse. “No final (princípio) será (era) o verbo...” Pobre Machado de Assis! E pobre de mim que deverei em breve ser chamado a algum “Tribunal da San...” cala-te boca! Meu silêncio quase episcopal tem sido acompanhado por poucos. Testemunhas amigas de um sofrimento psicológico de não poder (ou seria dever) dizer o que manda o desejo e a consciência. Que eu mesmo me apiede de minha alma! Deus deve estar muito ocupado cuidando das eleições. Afinal, os dois candidatos agem em nome dele e se acham escolhidos por ele. Assim mesmo, sem maiúscula. Ai! Vou ser castigado!

26 de outubro de 2006

SOU UM POÇO DE SAUDADE

"Sou um poço de saudade - sou a vida - Tão cuidadosamente represada Em parede circular - bem rejuntada - E a saudade lá no fundo, ali... contida. Meio dia - sol a pino - iluminada, Evapora-se a saudade ante a lida. Faz de conta que se foi - é tão fingida Que retorna quando é alta madrugada. Feito orvalho, ela volta, se condensa. Mas engana-se quem vendo-a, 'inda pensa Que ela em mim é passado - coisa rara. Sou o único quem sabe - quem assume - Que ela aumenta e abaixa o seu volume, Pois no fundo há uma fonte que não pára." D'Os Sapatos Apaixonados'

22 de outubro de 2006

A MORTE BATE À NOSSA PORTA

Amigo e amiga que me lê: você já pensou em quando poderá ser o dia de sua morte? Já pensou que poderá ser exatamente agora, no momento exato em que você lê este pequeno e despretensioso escrito? Não se assuste, por favor! Não pretendo causar pavor, apenas provocar. Imagino o que pode pensar da morte um garoto de 14 anos. Eu, quando tinha essa idade, tinha três registros marcantes sobre a cuja. Minha avó Paulina na cama, um ronco esquisito, o movimento angustiado de pessoas entrando e saindo, os netos retirados do quarto às pressas, Seu Zé Braz `voando` pra Soledade no Opala de Dona Alzira em busca do Dr. Teodomiro, o retorno, o inevitável e definitivo diagnóstico. Josebel era um garoto loirinho, meio tímido e sentava ao meu lado no colégio, naquelas carteira duplas, boas pra fazer amizade ou rixa. A correria na hora da entrada do colégio, o burburinho, a notícia da fatalidade: ia pro colégio e deu uma fugidinha pra tomar um banho na ponte, uma mergulho, a cabeça numa pedra, uma vida verdinha ainda indo embora, o vazio na minha carteira escolar, o assombro por muitos dias, o costume da ausência. Aos 14 anos, eu ajudava nas tarefas domésticas e Dona Neide estava em Campina acompanhando Seu Tonito, meu pai, que estava internado na Casa de Saúde Dr. Brasileiro, vítima de infarto. Dona Maria de Jaime bate à porta, estou varrendo a sala, ela me diz que não traz boas notícias. Um calafrio, uma `marretada no juízo`, uma voz dentro de mim ecoando... papai morreu! Tive que arrumar a casa toda pra receber as `visitas` fúnebres. Hoje, estou pra completar 44 e já vi muito desmantelo. Como dizia meu mapa astral, eu deveria ser marcado por Plutão, o planeta da morte, o `deus do inferno`. Não sei agora, que baixaram a patente do meu astro, se ainda está valendo. Continuo o processo de me avezar com a morte, mas sempre me deparo com um choque entre a aceitação e o estranhamento, a relativa naturalidade e o processamento do luto. A professora Eliane Pinto, fisioterapeuta, trazia sempre no rosto um largo e permanente sorriso. Tinha um jeito peculiar de sorrir, claro, sempre que abordada. Um sorriso de aparência tímida, mas sempre sorriso, sempre anunciando alegria, abertura pro mundo. Não fui seu aluno, convivi pouco com ela, mas tenho dela essa afável relembrança. Pois a professora foi visitar a mãe e, ao sair da casa materna, foi abordada por um garoto de 14 anos que, em vez de pedir-lhe ajuda, de revólver em punho, disparou-lhe um tiro que entrou-lhe pelo nariz quase sem deixar marca. O marido estava sendo assaltado e ela, ao que parece, não entendeu. Não havia reagido senão com o habitual espanto de quem se vê numa situação estranha. Morreu rapidamente, pois o projétil atravessou-lhe o cérebro. O garoto, sabe-se agora, já tinha outros feitos dessa ordem em seu currículo, ou pelo menos participou de outros. Fico imaginando o que poderia se passar na cabeça de um garoto de 14 anos acerca da morte, do que seria a morte. O que seria pra ele morrer ou matar? Eu, um incorrigível defensor da vida, fico me perguntando: o que poderia se passar na cabeça de um garoto de 14 anos ao ter em suas mãos a possibilidade de tirar uma vida? Talvez se tivesse a possibilidade de dar vida a alguém não fizesse diferença. Um pensamento incômodo me assalta cotidianamente. Questiono sempre onde vamos parar com essa história de tão pouco valor dado à vida humana. Mata-se gente na rua como antigamente a gente matava passarinho no mato, às vezes pra testar a pontaria, pra ver a queda. Já escapei de dois assaltos e me sinto mais ou menos treinado para reagir (ou melhor, não reagir) com certa e dosada tranqüilidade numa situação dessas pra que o indivíduo nem tenha medo de mim, nem me ache seguro demais e pense que vou reagir, leve tudo e me deixe a vida, a única que tenho. Em meu primeiro assalto (não sei se é assim que devo dizer!) o sujeito me deixou deitado no chão, submetido como a mais vil criatura, um clic seco de um revólver sendo engatilhado, o frio do metal encostado em meu pescoço, próximo à nuca, um pedido desesperado de calma de “não faça isso”! Pelo atrevimento tomei um chute nas costelas que deixou o solado do tênis desenhado em minha camiseta branca, Dona Neide levou aquele tradicional insulto e eu carreguei no corpo alguns dias de dor. O primeiro a gente não esquece. Na segunda vez em que fui assaltado, no interior de um ônibus de viagem, em plena madrugada, acordei sobressaltado com o carro dentro do mato e o burburinho dos passageiros: calma, não reaja, é um assalto! Meia dúzia de sujeitos mascarados nos ameaçando a todos com seus revólveres e um deles, se engraçou de mim e resolveu encostar o 38 em meu estômago. Como não conseguia abrir minha mochila foi ficando irritado (não sei se devo dizer assim!) e ante minha tranqüila oferta para ajudá-lo, deu-me uma pancada na chamada “boca do estômago” que não contive o grito de dor e pavor. Ele me levou um velho celular, algum dinheiro, documentos e quase tudo que eu tinha. Fiquei feliz, pois o tal me deixou o principal, a vida. Chego em casa um pouco assustado pra abrir o portão à noite. Saio do banco tenso com medo de um sujeito pensar que vim de lá com grana. Paro numa barreira policial desconfiado pensando que podem ser bandidos disfarçados. Não ando mais à noite, pois o sossego foi embora e não é mais possível como antigamente que você poderia voltar da casa da namorada feliz, relaxado e a pé. E ainda caminhando com um sapato cavalo de aço. A vida está valendo bem pouquinho mesmo. Por isso, me parece, ela deve ser mais valorizada ainda. Ah, se aquele garoto tivesse a chance de aprender. Será? Saudades de Cazuza. “Ah, que tempo mais vagabundo é esse que escolheram pra gente viver?"Como dizia o poeta Chico Passeata, “se a vida / é uma só / por pior que seja / é a melhor.” Viva, meu amigo! Viva intensamente! Viva e sorva com calma, saboreando, cada gole de vida de que disponha. Amanhã ainda não é

17 de outubro de 2006

O MUNDO RUGE

Digo adeus! Digo-te adeus como se a sombra das palavras Permanecesse em mim. Não era eu que clamava por um sonho? Não eras tu que navegavas em mar tranquilo? De onde esse vulcão ensandecido? Não há mais anatomia desesperada Não há mais fremir de corpos. Nada mais há ou tudo ficou pra depois. O tempo em mim é medo. É dentro! O tempo em ti é sossego. O tempo em nós é ficção. O tempo! O tempo! Agora, até as palavras perderam a força. Hoje não há mais palavras Há vocábulos imaterializados. A vida é dentro! Fora, o mundo ruge Como leão faminto.

AUTO-RETRATO

"Vivo brincando. Às vezes com sons Às vezes com palavras Às vezes com fogo... Ando ardendo em chamas! Bem feito! Madeira de lei queima devagar."

13 de outubro de 2006

OS SAPATOS ANDARILHOS

ESSES MEUS SAPATOS INCORRIGÍVEIS INCANSÁVEIS ANDARILHOS SÃO SAPATOS GASTOS, É BEM VERDADE, MAS ME LEVAM... ME LEVAM... AO QUE NÃO TEM NOME AO QUE NÃO TEM LUGAR AO QUE NÃO TEM JUÍZO. ME LEVAM... ME LEVAM... ESSES MEUS SAPATOS APAIXONADOS! UM DIA RESOLVO SER ANDARILHO DESCALÇO. PEREGRINO! ACHO QUE ELES NÃO DEIXARIAM. ESSES MEUS SAPATOS APAIXONADOS...

6 de outubro de 2006

É PRECISO NAMORAR MAIS

É preciso namorar mais para que a escuridão não seja sombra e o amor navegue sem desassossego. Para que, afinal, praças, bancos de praças, árvores, poeira de chuva e uma primavera anunciada? Sem os beijos dos enamorados a primavera estará perdida, irremediavelmente fria, vazia de sentido.

2 de outubro de 2006

BILHETINHO PRO LULA

Caríssimo Presidente! Perdõe-me pela intimidade e exagero. Quando eu chamá-lo de Lula será porque ainda me sinto companheiro. Deveria dirigir-me sempre a Vossa Excelência. Afinal, o cargo exige. A eleição presidencial não se decidiu no primeiro turno. Todos já sabem, para o deleite da turma da Globo e da grande mídia em geral. A grande imprensa (as 5 ou 6 grandes empresas de comunicação do Brasil) age com uma cara-de-pau que precisaria um caminhão-tanque inteiro de "óleo de peroba" pra lustrar as faces dos sujeitos que aparecem na TV com o discurso do fortalecimento da "democracia", porque vai ter 2º turno. Provaram que poderiam provocar o 2º turno. O sorriso deles se multiplicou. Vinham carrancudos ultimamente. Preocupados com o "fortalecimento da democracia", agora conseguiram. Fortaleceram a "sua" democracia. Eles não engolem você, Lula. Definitivamente. Até acham que o governo Lula foi bonzinho pra eles, mas não engolem. Lula, para eles da grande e poderosa mídia sudestina você ainda cheira a nordestino. Cheira a povo, ainda! Aquele seu dedo cortado numa máquina de fábrica, aquele seu sotaque meio carregado, não totalmente paulistano ou carioca. Seus "escorregões" no vernáculo. Eles já estavam acostumados aos oito anos do "poliglota" que não sabia falar a nossa língua, a do povo. Lula! Você pensa que é gente! Pra nós, você é um grande brasileiro. Não um cara que "venceu na vida" como gostam de falar os ricos, mas uma pessoa que por circunstâncias da vida e capacidade própria chegou à presidência da república brasileira. Infelizmente, para a grande mídia não é assim. Você deveria, assim como todos os que levou para Brasília, voltar pra senzala. É mais ou menos isso que eles pensam: - "Já fizeram a farra de vocês na casa-grande durante quatro anos, agora é hora de dar meia-volta-volver!" Voltem pra senzala que a casa-grande é lugar de nobres. Pô, Lula! Bem que você poderia ter feito mais pelo povo. Bem que poderia ter apertado os banqueiros, tentado taxar o grande capital, impor o imposto progressivo para as grandes fortunas... ter feito auditorias nas privatizações das teles e da Vale do Rio Doce... tá vendo? Não fez nada disso e agora eles acham que você já se divertiu demais. Você e sua "turminha" de pobres. É assim que eles pensam! Não bastam os programas sociais de distribuição de renda? Essa história de criar muitas vagas para universidades públicas? Mais filhos de trabalhadores nas universidades? Quéquéisso, companheiro? Universidade pública de boa qualidade deve ser espaço privilegiado dos filhos das elites, que se prepararam durante tantos anos nas melhores escolas (privadas) para conquistar as melhores vagas, terem a melhor preparação e perpetuarem sua situação de dirigentes do país. Ali é o lugar "deles". Basta! É isso que eles pensam. Lembra do que disse o Bonhausen? (Num sei nem escrever o nome do hômi!) Aquela história de "varrer" sua "laia" de Brasília por uns 30 anos? Além do mais, nem competência pra falcatruas sua "turma" tem. Seria preciso um estágio de muitos anos junto ao grupo de ACM para entender de dossiês. Um curso especial com FHC e Alckmin para aprender a barrar CPIs, mandar dinheiro pro exterior sem deixar rastros, comprar deputados e controlar as grandes redes de comunicação. Alguns de seus aliados precisariam de um treinamento básico com o Serra pra aprender a como articular propinas e favorecimentos às máfias das ambulâncias sem se comprometer nem comprometer seus currículos. Se quiser, depois de recolocado em seu devido lugar, defenestrado do cargo, bem que você poderia ser eleito vereador por São Paulo pra representar os "interesses dos migrantes nordestinos". Essa sua "raça", juntamente com a "outra raça" que você incorporou que é a dos petistas. E olhe que eu nunca fui nem sou petista, Lula. Cá pra nós, Lula, mas muitos de seus companheiros têm uma capacidade de fazer besteiras que dá dó. Peço-lhe novamente desculpas pela intimidade, mas gostaria de deixar um recadinho final: Não "baixe a crista" não, caba véi! Tomo a liberdade ainda de dar-lhe alguns conselhos, apesar de saber que você é, como dizia o homem d'Os Sertões, antes de tudo um forte e um sujeito muito sabido. Se não fosse não teria chegado onde está. Não siga "seus" instintos. Ouça os camaradas de outras correntes. Dê mais ouvidos a Dona Marise. Não assista aos telejornais das grandes redes. Leia "O Príncipe" de novo (digo de novo, pois acho que você já o leu!). Leia Sun Tzu. Leia o Cardeal Manzarin. Assista e ouça Chico Buarque nos seus 12 DVDs. Leia a poesia simples de José Martí. Leia um pouco de Vinícius de Moraes, pra relaxar! Você tem direito. Tome umas "branquinhas" pra lembrar os velhos tempos. Ah! Vou votar em você novamente. Com muito gosto! Vou pedir votos, vou pras ruas, mas... por favor, companheiro: vê se mexe um pouquinho, de fato, com essa burguesia brasileira. Se não, ela vem e te destrói! Se é que não vão conseguir logo agora. Vê se não dá muito mais corda pros grandes capitalistas. Eles não te querem. Você não serve mais pra eles. Aprendi um ditado lá em Juazeirinho: "Não dê asas à cobra senão ela voa e lhe morde". É isso! Vamos juntos!

A VIDA É! O AMOR É QUANDO!

Um escrevinhador de sonhos, um caminhador às vezes solitário, noutras acompanhado demais... mas sempre caminhando. Feliz com as coisas que tenho e os sonhos que carrego. Amo de longe e de perto com o mesmo coração. Amar não é estar vivo? Vivo comigo mesmo e meus sapatos apaixonados, que me levam e constroem comigo meus caminhos. Sou um incorrigível fazedor de caminhos... às vezes descaminhos. Dizer isso é como se escrevesse cartas a um amigo distante: um papel almaço, uma caneta BIC - escrita fina -, um envelope branco com as bordas listradas de azul e amarelo. Num canto lê-se a expressão "par avion". Trago uma saudade infinita de coisas que nunca vivi. Pessoa me ensina a ver o mundo com olhos de criança. "sentir é estar distraído (...)" A VIDA É! O AMOR É QUANDO!

29 de setembro de 2006

CENAS DE CAMPANHA II

continuação... Sem preconceito, mas não resisti: A candidata a "governador" da Paraíba Lourdes Sarmento com seu discurso impecável em defesa dos "interesses gerais da classe operária". Sua proclamada coerência no PCO (que a moçada estudantil secundarista chamava de "Pão Cum Ovo"). Sua coerência (lembrança minha) ao aposentar-se por "invalidez" na UEPB e logo depois tentar um contrato como "professora visitante" no mesmo departamento de psicologia para a mesma vaga que ocupava antes da aposentadoria "por invalidez". Alguns "revolucionários" de hoje precisam, de fato, de uma reciclagem... no seu sentido ecológico.

CENAS DE CAMPANHA

Cenas mais que interessantes da disputa eleitoral de 2006: 1. A permanente blusinha branca (modelito evangélico-igrejeiro de carola) e o indefectível ramalhete de flores sustentado na mão esquerda pela candidata a presidente do Brasil HH em todas as aparições na TV. Se era sincero o seu carregar flores só tem um resultado: vai precisar de ortopedista (ao menos pra pedir raio X) e fisioterapeuta depois de 1º de outubro, pois, invariavelmente, deve adquirir LER. Seu discurso de "mãe" me lembrou o tempo todo uma ex-candidata paraibana.

QUANDO NASCE UM POETA

Pensando bem... quando nasce um poeta? Ao escrever o primeiro verso? Ou ao beijar a primeira boca?

23 de setembro de 2006

SONETINHO (QUASE) MODERNO

"SEGUI UM CERTO AMOR QUE ME CHAMAVA SEGUI O VENTO SEM DESTINO CERTO UM SOM DISTANTE, QUASE INAUDÍVEL SEGUI... A LUZ TÊNUE DO OCASO. SEGUINDO ASSIM A UM CHAMADO NOVO VIREI MENINO E ATÉ VOLTEI NO TEMPO A MÃO SUADA A EMOÇÃO REVOLTA O DESCOMPASSO ME APERTANDO O PEITO. E POR TANTO SEGUIR A TAL PRETEXTO DESCONFIADO SE 'INDA PODIA VOAR POR ESSES MUNDOS DE VISAGENS DEPOIS DE TANTOS CARNAVAIS... DEPOIS LUAS... E MAIS LUAS... E O SERENO A VIDA ME RESPONDE: TOME TENTO!" (Do livro "Os Sapatos Apaixonados")

18 de setembro de 2006

TECENDO A MANHÃ

Nada mais belo há sobre a face da terra que o ser humano. Não há flor, lua, pôr-de-sol, paisagem... nada mais belo que esse ser humano, obra inacabada. Somente ele é capaz de amar, de inventar, de reinventar até o amor. Somente ele é capaz de amar e comunicar ao mundo o seu amor. Esse ser humano, tão capaz, criou um "ser" à sua imagem e semelhança, dotado de todo o amor e bondade. Tanto amor e bondade que ele, ser humano, estava impedido, incapaz de praticar pela opressão do seu semelhante. Vivemos tempos sombrios, é bem verdade. Tempos de desamor e muitas desalegrias. Tempos de muito dizer-não! Mas, que tempos são esses em que o amor precisa pedir passagem para ser amor? Para se revelar por inteiro? Felicidade não rima com miséria. Não há miséria maior que um choro de criança faminta. Falo de fome sem esperança, não de apetite com certeza de mamadeira. Felicidade rima com igualdade. É preciso dar uma chance ao amor. Dar uma chance para que ele vença. O amor que não se vende, não explora, não segrega, não oprime... Precisamos, como os galos, anunciar a aurora. Tecer uma manhã não é obra de um. Pode ser sonho de um, de uns, de milhões. Preparar essa aurora, edificar essa nova manhã... urge construir esse novo dia. A aurora é vermelha! Não esse vermelho eleitoral! Vamos juntos!

16 de setembro de 2006

... NÃO TÊM PREÇO!

Acho que andei plagiando alguém que não sei de onde nem quem. Parcialmente a mim mesmo. Já descobri. No texto "das antigas". Creio que aquele é que se baseou neste. Deixa pra lá! Este aqui foi "requentado", pois originalmente publicado no portal IPARAIBA. Mas está aqui na íntegra. "De fato, prezado (a) internauta, como diz aquela propaganda do cartão de crédito, certas coisas, pequenas lembranças, coisinhas singelas de tempos remotos, reminiscências do baú da memória... não têm preço. Aquelas ondinhas sopradas por fraco vento, formando uma espuminha junto ao cascalho da barragem do açude de Juazeirinho. Os barquinhos de papel que fazíamos quando chovia e seguíamos pela correnteza do meio-fio torcendo para que pudessem atingir a maior distância possível. O cineminha improvisado com os monóculos de casa numa caixinha de madeira, nosso "projetor" movido à pilha e lampadinha de lanterna. As apostas em carros que passavam na BR, pra ver quem acertava com o carrão mais luxuoso e caro. Sonhos à beira da rodagem, sombras que se agigantavam e desapareciam no paredão do posto de saúde quando faltava energia e os carros se aproximavam e sumiam no breu da noite. As partidas de futebol barra-a-barra, jogadas com bola-de-meia no leito da rua descalça. O canto melancólico do carro-de-boi avisando desde longe sua aproximação. Um jogo de finca, de pião, bila ou barra-bandeira. A confecção cuidadosa de uma boa coruja (pipa) com palitos de coqueiro, papel seda colorido, um carretel de linha Círculo e uma colinha de goma arábica para uma boa disputa nos céus caririzeiros. Um bom banho na ponte do açude. A conseqüente surra de Dona Neide na chegada em casa. Uma calça boca-de-sino, um sapato cavalo-de-aço, um cinturão com uma fivela de quase meio quilo e uma camisa de volta ao mundo. Uma cantoria de cego na porta do mercado, batendo o ganzá no ombro. O orgulho no peito num Sete de Setembro de bombo reluzente, elásticos nos punhos, esparadrapo nos dedos, peripécias e evoluções. Um passarinho preso no visgo. Um banho de chuva com direito a disputa numa biqueira especial da Prefeitura. Mela-mela durante o dia e um frevo de carnaval no clube. Fantasias estimulando 'fantasias' e lembranças. Um toca brincado em cima dum "pé-de-figo". Uma unha de dedão arrancada num tropicão e uma pereba curada com terra quente e lambida de cachorro. Uma boca toda pintada de violeta genciana pra curar sapinho. Uma aguinha fria e doce de barreiro colhida com as mãos em concha e bebida calmamente com direito a BG de passarinhos. Uma pescaria de piaba com anzol de vara de marmeleiro e uma enfieira de arame. Uma balinheira (ou baladeira para alguns) fabricada em casa com esmero, tiras de câmara de ar de caminhão, retalho de couro do lixo da sapataria de seu Raimundo e forquilha de marmeleiro, escolhida a dedo depois de longa pesquisa. Um alçapão pra pegar golado, pintassilgo, bigode e papa-capim na beira do açude. Um nambu, uma codorniz ou uma galinha-d'água, derrubados em pleno vôo, nos bons tempos de caçador adolescente. Uma poção de pipoca quentinha, fabricada na panela de barro com areia de rio lavada. Um pão francês com sardinha coqueiro e uma "crush" laranja. Um pacotinho de hóstias, comido às escondidas na sacristia da igreja e "aquele grude" no céu da boca impedindo a voz. Um pirulito de puxa-puxa vendido numa tábua cheia de furos, e um papel que impreterivelmente teria que ser parcialmente chupado junto. As primeiras batidas descompassadas de um coração e a denúncia anatômica do nascimento de uma paixão. Uma quadrilha junina desorganizada em pleno fim de festa num mercado público transformado em clube e a sanfona de Lourenço tocando dezenas de vezes "pagode russo" e "ôxente, camaleão!". Um grande rolamento de aço, cheio de rolemãs e empurrado por um arame dobrado ou um patinete de rolemã descendo a ladeira. Um repique de sino, tocado lá do alto da torre da igreja em enterro de gente importante, com uns bons trocados de gorjeta. Uma difusora de parque com um locutor de voz empostada enviando recadinhos e "páginas musicais" de "um alguém para outro alguém" numa festa de padroeiro. Um passeio circulando a praça numa pegadinha de mão suada, nervosismo de primeiras descobertas com o coração querendo saltar pela garganta. Quer saber mais? Elas não têm preço porque são atemporais, são eternas, são experiências imensuráveis e que nos compuseram, como notas de uma trilha sonora de nossas vidas". Então? Tente lembrar de quantas coisas boas não têm preço pra você!

9 de setembro de 2006

QUANDO SE ANUNCIA: PRIMAVERA!

Quando se anuncia: primavera, no calendário agreste já um verão juvenil mostra os dentes. A luz penetra por entre juremas, catingueiras e velhas baraúnas ressequidas, alquebradas e de pé. Nuvens brincando de algodão, quase congeladas, inertes, esperam. Os lajedos são espelhos ao sol, lagartixas deleitam-se numa nudez imaculada enquanto os aveloses enfileirados viram soldados: guerreiros caririzeiros de uma batalha sem fim.

6 de setembro de 2006

BREXITA É A (...) DA MÃE!

(Este pequeno conto foi premiado no I Concurso de Contos-crônicas IMPRELL/CAAP, João Pessoa-PB) "O diacho é que ela era uma doida fogosa. Era mesmo. Diziam que havia ficado daquele jeito porque o queijo tinha subido pra cabeça. Sabe como é que é… num botou o bicho pra funcionar... Outro dia uma amiga profissional – gente entendida – me deu até uma explicação científica pro troço: o tal do queijo existe mesmo, e fica localizado numa região assim na parte de trás da cabeça. Eu, hein! A bem da verdade, quando o povo diz que é queijo… num sei não, mas é difícil de errar. Certo também que a língua do povo, principalmente numa cidadezinha como aquela, com um quase nada de coisas pra fazer a mais do que ver o tempo passar era um negócio terrível. Pois então! Dona Lourdinha do Pade, que tomava conta das chaves da igreja, uma beata carola, barata-de-sacristia, que muito mal levantava a cabeça quando andava pela rua, nunca nem se chegou assim mais perto de outro homem que não tenha sido o finado Tonho de Maroca, e diziam o diabo dela… imaginem só uma doida como Maria Brexita, sem pai nem mãe, sem peia nem cabresto. Era uma figura teatral. Andava rua acima rua abaixo, andar firme, mas cheio de mungangas, um caqueado sem sentido - ao menos pra nós - como se procurasse sempre alguma coisa no meio do amontoado de trapos esquisitos que cobriam seus couros velhos engelhados e de raros banhos. Cá pra nós, já viu coisa mais esquisita que roupa de doido? Cada um tem um estilo mais sofisticado, espalhafatoso, mas algo parece lhes ser comum: mesmo no tempo mais quente têm uma quedinha, cada qual ao seu estilo, pra botar um monte de trapos por cima do esqueleto e, de quebra - o que não pode faltar, é claro - alguns adereços que, no fundo, acho eu, devem ter algo a ver com a mania que os acompanha. Algum detalhe no percurso que os transformou em seres especiais, essas coisas que a gente não entende muito e joga logo na vala comum do “Freud explica”, como se o velho e sisudo pai da psicanálise tivesse inventado nada mais que um moderno oráculo, fonte onde devíamos buscar todas as respostas para o desconhecido universo da psique. Andava com um vestido longo de chita que batia lá pelo calcanhar, cheio de florzinhas azuladas, já desbotado pela peleja de tantos anos, de tanto sol e tanta chuva que, se não me trai a memória, era o único, ao menos durante o tempo inteiro em que a conheci. Usava-o com uma blusa verde por cima, um casaco velho de malha parecido mais com um bombril, cheio de fibras e, como se fosse pouco ainda, uma inseparável manta - que no passado havia sido uma colcha de chenil Madrigal e que umas vezes servia de cachecol, noutras, era o cobertor que defendia os velhos e quase carcomidos ossos da friagem noturna. Não tinha parelha a velha Brexita. Com ela não tinha esse negócio de ser lua cheia não. Qualquer dia era dia. Um moleque açoitava por trás dum poste, “Brexita!”, “Brexitaaaaa!”, ao que ela devolvia estridentemente, “Brexita é a (...) da mãe”. Mais à frente sentava no batente da casa paroquial, outro espocava da esquina, e este era o mais provocador de todos, “Maria Brexita, ói o preá na boca”, insulto suficiente para que a dita cuja arribasse a saia, deixando à mostra toda sua intimidade, se é que louco algum já teve intimidade na vida. A escolha do preá como símbolo não era gratuita, pois a referência ao pequeno roedor silvestre, um verdadeiro gabiru sem rabo, era uma comparação da região pubiana com o dorso peludo e de cor escura no animalzinho tipicamente nordestino. Era uma zorra total naquele momento, um cu-de-boi desgraçado… pois a pobre louca, até ali compenetrada, mexendo com seus teréns na velha mochila, brandia o seu tradicional cacete de catingueira de mais ou menos uns oitenta centímetros e sei lá quantos anos de companhia, e aí não ficava ninguém por perto, temendo a concretização da ameaça. O certo é que não se tem notícia se algum dia ela bateu em alguém ou mesmo atirou uma daquelas tantos milhares de pedras que apanhou à primeira vista e as ergueu trêmula, bradando, ameaçando atira-las em seus desafetos. Conseguia mesmo era satisfazer a curiosidade da meninada que ansiava pra ver o tal “preá...” que só Brexita mostrava. E a molecada se deleitava. Sou capaz de jurar que até mesmo ela se divertia um pouco com aquele espalhafato provocado pelas suas estripulias. Talvez, no íntimo - e esse pode ser o grande segredo de muito louco por aí afora - debochasse da cara de todo mundo, na sua mesmice, no seu todo-dia-fazer-a-mesma-coisa, enquanto ela, Ah! isso ninguém iria saber, pois no seu mundo ninguém penetrava, ou quase ninguém… ninguém… Não sei por que cargas d’água, sempre há de ter algum destrambelhado que, na falta do que fazer, aparece pra estragar tudo. E, nestas horas, fica sempre no ar a grande dúvida sobre quem é mesmo louco. Naquele fatídico dia, sem imaginar o desfecho infeliz de sua conturbada trajetória, Brexita passou como sempre na casa de Dona Zefinha que encheu de café sua velha caneca de ágata, outrora laqueada de verde, já descascada pelos anos de sopapos, pegou o pão francês adormecido na bodega de Zé Pequeno e mandou-se pra rua. Aquele era o ritual de anos e anos. Sempre o mesmo caminho, sempre às mesmas horas, os mesmos gestos, as mesmas falas, os mesmos moleques. Claro, de três ou quatro gerações diferentes, mas sempre os mesmos. Aquele parecia um dia como todos os outros, não fosse a chuva pesada que ameaçava despencar lá de cima com toda força. Ora, quem diria que justo naquele dia a cidade teria uma das maiores quedas d’água de sua história? Depois de tantos anos de seca, novamente a promessa de fartura. Nos últimos anos, quando chovia com abundância acontecia a chamada seca verde, que deixa o mato todo verdinho, mas caindo sem regularidade, mata a lavoura inteira deixando todo mundo na mão. No entanto, aquele inverno prometia. Começando logo com um temporal brabo, quem sabe agora... Não andou duzentos metros e teve que se proteger do toró que veio troando e veloz como uma bala pra desgosto de Brexita e alegria e esperança de milhares de corações daquele velho cariri de guerra que, apesar de toda aquela tal modernidade, ainda penava com a agricultura de subsistência à mercê dos fenômenos da natureza. Ali os homens e mulheres não sabiam ainda o que era progresso, a não ser nos discursos dos candidatos nas eleições ou diariamente depois da boquinha da noite quando desligavam do seu mundo real e se ligavam na televisão. Aí sim, o mundo se transformava. Pelo menos nas suas esfrangalhadas fantasias. Êita, mundinho bonito aquele da televisão... Pois bem, quem iria dar abrigo a uma louca no meio dum temporal daqueles? Somente sei que ela foi esgueirando-se pelas paredes até o velho prédio do vapor, onde funcionou a casa de força, que em tempos idos fornecia luz elétrica para a cidade, a esta altura abandonado e prestes a cair. Suspirou aliviada quando se sentou embaixo de uns papelões velhos que alguém providencialmente havia estirado por cima de umas cinco ou seis estacas, provavelmente roubadas da cerca do açude, e outros quatro paus mais finos fincados em buracos feitos na velha parede de tijolos cheios e carcomidos, uns tijolões como não se fazem hoje em dia, de uns quarenta por vinte cada um, sustentados no massame forte, agora caliça ressequida pelo passar dos anos. Nem sei como ainda mantinham-se de pé, resistindo à ação do tempo e do abandono há quase um século. Ali mesmo ela acocorou-se encostada na parede do velho prédio, aproveitando para comer um pedaço de pão ensopado no café há horas frio. Dente já não possuía mais nenhum dos que a natureza lhe deu. Sorte que um dia o velho Zé da Ilha Grande, prático dentista, de coração imenso, fez-lhe um favor extraindo-lhe os últimos três caninos que restavam. Agasalhada em seus trapos, embalada pelo barulho ritmado da chuva sobre o papelão, quase cochilava quando surgiu não se imagina de onde, aquela figura estranha, olhos esbugalhados e um sorriso estranho, meio cínico, meio raivoso, meio-não-sei-o-quê, daqueles de canto de boca, tomando conta de toda a cena. Ela até que tentou ensaiar um grito, mas quem ouviria um grito no meio daquele toró de fim de Janeiro? Ainda mais o grito de uma doida. Só sendo mesmo... Encontraram-na por acaso, no dia seguinte, jogada em meio aos teréns largados no chão enlameado, um pedaço de pão dormido, feito uma pasta disforme ainda junto da velha caneca de ágata – companheiros inseparáveis. Entre tantos suspeitos, há um que ainda hoje vive preso por lá. Estatura mediana, branco, cicatriz no lado esquerdo do rosto, entre o olho e a orelha, que também faltava um pedaço no lóbulo, lembrança de uma briga no cabaré de Sinforosa. Quiseram – até tentaram – linchá-lo dentro da cadeia, mesmo sem sabê-lo culpado. Qual nada. Precisavam, como disse um passante, de um “bode respiratório” para exorcizarem seus dramas cotidianos, quiçá a maldita estupidez da vida. No laudo comprovaram estupro seguido de morte por traumatismo craniano, provocado por objeto contundente, provavelmente um dos tijolões daqueles lá do velho prédio. Dela não se sabe muita coisa. Origem, família, idade… Foi enterrada como indigente, levada ao cemitério no caixão de caridade, empréstimo da prefeitura. Disseram que tinha uns parentes lá pros lados da Serra do Borges e que de há muito já dobrara o Cabo da Boa Esperança. A expressão do seu rosto era indescritível. Só mesmo vendo! Mas, quem iria perder seu tempo pra ir ver uma louca defunta? Estivesse viva, ao menos xingaria daria-lhe um pão dormido… mudaria de calçada. O que não daria mesmo era pra ignorá-la".

3 de setembro de 2006

DAS ANTIGAS

Todas essas coisas já foram moderníssimas entre os rapazes! Uma calça de BRIM (TERBRIM) com bolsos laterais rasgados na diagonal, uns botões de metal e costuras à vista. Qualquer que fosse a cor. Uma camisa de poliéster ou volta-ao-mundo, fininha, coladinha ao corpo e aquela sensação de estar ligado, sintonizado com a “última moda de Paris”. Um sapato cavalo de aço com uns 5 cm de solado e um salto de uns 8 a 10 cm. Pense numa capacidade de equilíbrio grande! Uma calça “boca-de-sino”, de preferência com uma “nesga” de outra cor diferente da original, fazendo uma espécie de funil de boca pra baixo, arrastando no chão. Um cinto de couro com uma fivela metálica “desse tamanho”, pra combinar com o “cavalo-de-aço” e a calça “boca-de-sino”. Ah, e a camisa coladinha de poliéster. Um perfume Topázio ou Toque de Amor, da Avon. Pense num sucesso grande! Comprar coisas na “Hermes” pelo reembolso postal. Fotografar um filme inteirinho numa máquina fotográfica “Love”, enviá-la pelos Correios e ficar esperando uns 15 dias pra receber as fotos normais coloridas, um conjunto das mesmas fotos miniaturizadas e uma “Love” nova pra começar tudo de novo. Um sabonete Alma de Flores ou PHEBO, até então, somente do pretinho! Um pente Pantera no bolso pra garantir o cabelo, cortado “pigmaleão”, bem penteado e “nos trinques”, com a ajuda de um Gel fixador. Poderia ser Brilhantina Promesa! Mandar um recadinho pr’uma menina escrito em bilhete ou apenasmente dito verbalmente pra outra amiga que atuava como “corta-jaca” ou “segura-vela”, dizendo: “Tô a fim de você”! Ass: fulano de tal. “Tirar um sarro” com uma das meninas que gostavam de trocar de namorado em cada nova festa , ou fim de festa, ou final de semana. Seria “ficar”? Assistir ao seriado “Os Monkies” ou “Os Três Patetas”, morrer de rir e achar o máximo. Sentir pena de Olívia Palito e vibrar de emoção quando Popeye achava a latinha de espinafre e a devorava, começando a reação para finalmente derrotar Brutus. Assistir os Thunderbirds ou os Jetsons. Ficar encantado com um brinquedinho “GENIUS” da Estrela, que fazia você apertar botões em uma seqüência aleatória que a geringonça oferecia tocando uma musiquinha eletrônica. Brincar de patinete descendo ladeira e empurrar um “breque”, feito de arame, e com um rolamento bem grandão sendo “guiado” por ele. Brincar de “finca” no chão úmido, disputando a melhor pontaria enfiando uma pequena alavanca no chão e demarcando o terreno até chegar a um alvo previamente delimitado. Jogar bila (bola de gude) e pedir “trans” para melhorar a posição para uma jogada de mestre. Assistir a um “cinema” (um filme em cinemascope!) no Mercado Público levando o tamborete de casa. Comer um pão-doce-de-côco, todo melado, acompanhado de uma “Gelada” de coco. Ou quando a grana estivesse melhor, uma Crush laranja ou Grapette. Jogar “bafo” com figurinhas de álbum da seleção brasileira, campeonato brasileiro ou simplesmente uma coleção de artistas de novela. Calçar um “Kichute” preto e sair se achando o máximo. O tampa de Crush! Vestir a farda do colégio completada por um tênis de lona e borracha “Conga” azul e branco. Ver passar uma menina linda, toda “reboculosa” e comentar baixinho pros amigos: “É uma jumenta”! Dar um passeio, no Domingo à tarde, no “Vemag” ou no “Aero Willys” do pai do amigo. Alugar bicicleta para aprender a pedalar ou simplesmente pra dar umas voltas pela cidade. Um passeio de roda-gigante num parque de diversões, com a 'paquera' do lado, ouvindo “A Desconhecida” de Fernando Mendes. Participar de um “assustado” no sábado à tardinha, dançando ao som de Lady Zu, As Frenéticas, Celly Campelo & Cia, das 17h às 20h, bebendo “calcinha de nylon” ou “leite de onça”. Os mais ousados dançavam “Black Côco”! O romantismo poderia ficar por conta do som de Bonnie Tyler cantando “It’a Heartache / nothing but a heartache / Hits you when you’re too late (...)”! Assistir Vila Sésamo numa TV em Preto & Branco (Telefunken ou National) com uma tela multicolorida acoplada na frente pra dar a sensação de TV em cores. Completando a cena, duas meias-buchas de Bombril nas pontas da antena pra melhorar a sintonia. Acompanhar palhaço de perna-de-pau ou monociclo pela cidade, respondendo suas chamadas: “E Olê lê, sinhá Chica! Arremexe a canjica!”. “Binidito Bacurau! Ta no ôco, ta no pau!”... e por aí em diante... Depois receber um carimbo no braço pra entrar de graça no circo “tomara-que-num-chova”. Tem mais...

31 de agosto de 2006

MULHERES

Escrevi esse pequeno texto no Dia Internacional das Mulheres, 08 de Março de 2006. "O título acima sugere uma canção de sucesso na voz de Martinho da Vila que dizia sobre a variedade e tipos de mulheres com quem havia convivido, ou, de uma forma mais popular, como inicia a canção: “já tive mulheres de todas as cores…”! A canção, ingenuamente, mas preconceituosamente, sugere posse, poder, propriedade. Dito por Rita Lee, “mulher é bicho esquisito / todo mês sangra…”, o ‘esquisito’ e o ‘bicho’ aqui não soam como preconceitos nem parecem ser a tônica do sentido da canção.Dizia outra canção que mulher brasileira é feita de amor, pois afirmava Benito Di Paula: “mulher brasileira em primeiro lugar”. Numa das canções mais cantadas em homenagem às mulheres que lutam, uma das estrofes fecha com a frase: “Maria, maria, mistura a dor e alegria (…) quem traz na pele a marca / possui a estranha mania de ter fé na vida”.São milhares de exemplos no cancioneiro popular brasileiro exaltando a beleza, a garra, a força, o romantismo, a sensualidade e até mesmo as curvas da mulher brasileira. Bons tempos em que o mais ousado era dizer que “a vizinha (…) mexe com as cadeiras (…) ela mexe com o juízo do homem que vai trabalhar”. Arriscado era falar de beijo suave ou ardente, de preferir as curvas da Estrada de Santos às do corpo da mulher, ou ainda que “no teu corpo é que eu encontro / depois do amor o descanso e essa paz infinita / no teu corpo minhas mãos / que deslizam e se firmam / numa curva mais bonita”. Velhos tempos! Ultimamente, anda muito em voga cantores e (pasmem!) cantoras chamarem as mulheres de “cachorras”, exaltarem as virtudes das “raparigas”, propagandearem a prostituição, banalizarem o sexo, transformarem a mulher, antes mesmo machistamente enaltecida, em mero objeto. Pior: não mais de cama e mesa, agora, pura mercadoria, expostas em vitrines iluminadas por jogos de luzes e fumaça cênica e disputadas pelo quem dá mais no leilão das vaidades. Vozes roucas, numa sensualidade fraudulenta, um gestual pra lá de explícito (que antigamente só tinha espaço nos ‘inferninhos’ e streepteases da vida), ganham palcos, DVDs e grandes telas de TVs nos bares e nos horários nobres, enchem a sala de jantar de sua casa de bundas recauchutadas e peitos turbinados por silicone. Mais ainda: vendem isso com a concessão pública de canais de TV e, muitas e muitas vezes com dinheiro vivo, pago com os cofres do erário em nome de pretensa diversão e de supostas festas populares que, como dizia Jessier Quirino, estão mais pra “putanhagem-fora-de-época”! Antes fosse, como diziam antigamente, “pão e circo”. O circo não dá mais, pois é muito ingênuo. Bom mesmo é o culto ao corpo da mulher, a encenação de um coito e a extrema vulgarização do sexo “na boquinha da garrafa” feita por menininhas de sete, nove anos de idade. Tudo sob olhares complacentes e às vezes estímulante de adultos que depois ficam se perguntando sobre o porquê de tanta gravidez na adolescência. As mulheres ganham espaço no mercado de trabalho e perdem no mercado do corpo, no mercado da política, no mercado da moda, no mercado do sexo, no mercado da vida. Ora, mas se tudo está se transformando num grande mercado, por que não sermos também mercadorias?Dona Beatriz, minha tia, vive há mais de dez anos dependendo dos outros para quase tudo, há tempos sobre uma cama, atrofiada com sua “amiga” artrite. Do alto de sua sabedoria de 69 anos é capaz de levantar o astral de muita gente nova que a visita para conversar sobre amenidades, contar piadas, resolver charadas, fazer orações ou simplesmente bater um papo. Dona Neide, minha mãe, pra completar 68 este ano, toma 13 comprimidos por dia, carrega um marca-passo no peito, perdeu uns 70 por cento da visão, cardiopata crônica e diabética, não perde tempo sem se mexer lentamente dentro de casa fazendo tarefas domésticas, cuidando de suas plantas, acompanhando a vida, acertos e desacertos dos filhos e, quando reúnes dois ou três deles ou duas noras já chama pra tomar uma taça de vinho e dar umas boas risadas. Helena Serrazul é comunista desde a juventude, foi presa e torturada (do que tem várias seqüelas) juntamente com seu eterno companheiro Chico Passeata, teve um filho nos cárceres da ditadura e continua mais ativa que nunca. Sessenta e tantos anos, é doutora, professora e pesquisadora da Universidade Federal do Ceará, presidente do sindicato dos professores, ri à toa com qualquer piada, fala da política e age com um vigor e alegria de quem está começando. Vou parar de falar em mulheres! Queria somente registrar minha quase devoção por figuras como Dona Zefita (minha primeira professora em Juazeirinho, ainda em atividade), Tereza Braga (guerreira pelos Direitos Humanos), Margarida Alves (mártir da luta pela terra), Elza Monnerat (guerrilheira na epopéia do Araguaia e comunista até a morte aos 91 anos). Nutro uma profunda admiração por mulheres que, mesmo com todas as facilidades das modernas cirurgias ainda preferem encarar a incerteza e as dores de um parto normal. Agora falando sinceramente, aqui pra nós, confesso uma pontinha de inveja das mulheres, carregando uma vida no ventre, tirando do próprio corpo o alimento do novo ser que veio ao mundo. Sei também que muitos marmanjos por aí pensam assim, mas não têm a coragem, como eu, de assumir. Como são belas as mulheres com suas barrigonas, uma bebezinho buliçoso se revolvendo, seus umbigos estufando, seus peitos vazando de leite, a vida brotando pelos poros, a natureza se preparando para realizar sua obra mais simples. Não vejo nesse reconhecimento nenhum demérito, fraqueza ou suposto desejo de ser mulher. Fiz minhas escolhas muito cedo e continuo firme com elas. Em meio a tantas comemorações (algumas cheias de falsidade e formalidade) pela passagem do Dia Internacional da Mulher, em meio a tantas homenagens, a melhor que posso fazer é uma bela celebração no altar de Vênus, uma rosa, um brinde, um beijo, um colo e um cafuné. Bem que gostaria de dizer: “Camilla, eu te amo”! Mas isso eu digo sempre!Não sei como dizer isso agora, mas antes de tudo acontecer era como se eu soubesse que você viria e me tomaria de assalto e atropelaria os meus dias e me deixaria tonto e me daria um lindo filho e encheria de alegria as minhas horas, ressignificando minha existência e (re) definindo a transitividade do meu verbo amar. Ah, essas mulheres! Elas vão longe!

25 de agosto de 2006

O SOL ME ACOMPANHA

O SOL BRINCANDO DE ESCONDE-ESCONDE POR ENTRE NUVENS NUMA MANHÃ QUE SONHA SER PRIMAVERA. UM SOL MENINO... COMO ESTE MATUTO OBSERVADOR. PRESTO ATENÇÃO EM TUDO: ROSTOS, SONS, PÁSSAROS, MARTELOS EM CONSTRUÇÕES, ODORES, SUORES, RONCOS DE MOTORES DESESPERADOS. SOU UM GUARDADOR DE MEMÓRIAS. ABRAÇO MINHAS MELHORES LEMBRANÇAS E AS TRAGO COMIGO "COM O ZELO DE QUEM CARREGA UM ANDOR". A VIDA É DE CADA UM E PULSA NA CDIADE QUE ACORDA. O SOL ME ACOMPANHA.

22 de agosto de 2006

UM BAÚ DE SONHOS III

A vida jorrando aos borbotões. Cinco sentidos em plenitude absorvendo o mundo, bebendo a vida. O tempo, o tempo, o tempo. Revejo impactado, o adolescente em mim, recompondo sonhos e canções. A vida é dentro.

18 de agosto de 2006

UM BAÚ DE SONHOS II

Dia chegará em que serei apenas lembrança. Depois memória de atos e coisas. Depois água, fogo fátuo... ar, energia dissipada descorporificando mesmo o amor que trago. O sentimento é.

UM BAÚ DE SONHOS

Quisera reinventar o dia em que sumimos, reconstruir a matéria, os fluidos em profusão. A chuva na madrugada, A relva fresca, o orvalho. Uma quase serenata. Palavras, palavras, palavras: O mundo é dentro.

15 de agosto de 2006

C'EST LA VIE!

A frase, repetida infinitamente ao longo dos tempos dá uma idéia de conformismo! É isso aí! Quer dizer o mesmo! "(...) É a vida, é bonita e é bonita (...)" completaria Gonzaguinha. Prefiro! Lembranças, baús cheios de lembranças, alfarrábios, trecos, souvenirs, coisas, coisas, coisas... Les mots et les choses! Perfumes, gestos, lugares, sons... As lembranças, a memória... ah, a memória! Memória parece coisa física. Lembrança se assemelha mais com sentimento, busca, coisa guardada, gravada por gosto. Quantas lembranças são importantes pra você? Quais as melhores lembranças que você guarda? Qual o carnaval foi mais marcante em sua vida toda? Você lembra o primeiro beijo? Lembra do gosto esquisito da língua do (a) outro (a)? Quantas cartas de amor você escreveu e/ou recebeu? Lembra da primeira vez em que você tocou uma mão e sentiu algo estranho, um calafrio, um tremor, uma sensação de que algo diferente estava acontecendo? Qual chuva de tantas outras você consegue lembrar de forma mais clara? Lembrar é estar vivo! Lembrar é saber-se pulsando, bulindo! Racionalmente, conscientemente! C'est la vie!

PAIXÃO NÃO SE EXPLICA, SE VIVE!

Nao me peça explicações sobre minhas paixões: paixão não se explica, se vive! Por que sou doido pelo Fluminense? Por que largo tudo pela musica? Por que brigo pra ca... qdo falam mal de um amigo? Por que sou incondicionalmente fanatico por Chico Buarque de Hollanda? Por que sempre atraso um pouquinho mais pra ficar com meus amores mais um tempinho? Por que pareço irracional quando sei la o que? Ah! Não me peçam explicações, pois não as tenho. Falaria da vida um dia inteiro coisas aparentemente sem nexo, andaria em circulos, repetiria coisas, voltaria ao mesmo assunto e, certamente, somente provaria uma coisa: sou apaixonado por ela. Pra quê explicações? Ser feliz e apaixonado é um direito. Ah, dê licença que vou tomar um trago, um bom vinho, uma cachaça boa, um cheiro no cangote de Vinicius... Evoé!!!!!!!

11 de agosto de 2006

BELEZA FEMININA

Tirante uma bem sucedida celebração no altar de Vênus, caro leitor, não imagino coisa mais prazerosa que sentir o peso do alimento no estômago. E olhe que quem vos fala é um apreciador inveterado de certo destilado brasileiro famoso no mundo inteiro. A fome saciada é um dos prazeres animais mais singelos. E quando saciada com algo de que você gosta, aí então nem se fala.Eu, que tive uma infância muito feliz, mas meio apertada no que tange a certas regalias alimentares e a ingestão de supérfluos, vim descobrir o sabor de muita coisa que hoje encontro plenamente à disposição depois dos 20 anos de idade.Sobre maçãs e uvas ouvíamos falar de tempos em tempos quando a safra no Sul estourava e os gaúchos com seu sotaque de novidade circulavam pelas ruas de Juazeirinho num caminhão com uma corneta (que naquele tempo chamávamos apenas de difusora) decantando os sabores e odores daquelas frutas. Aquelas caixinhas com papel seda roxinho, aquele cheiro diferente... Êita novidade grande! Difícil mesmo era o dinheiro pra comprar tais iguarias. Ficávamos no desejo, no sonho.Tudo aquilo era muito diferente aos nossos olfatos e paladares matutos acostumados a umbus, juás, pinhas, melancias, goiabas, frutas de palma, melão São Caetano, caju, banana, quase tudo tirado diretamente do pé de acordo com a época.Era a coisa mais comum do mundo naqueles tempos, que pra mim foram dourados pelo pôr do sol caririzeiro, se dizer que uma moça era bonita, bem feita, gostosa, quando se via claramente pelos seus contornos arredondados, mocotós bem torneados, quadris largos e coisa e tal.Por essa época, sem nenhum demérito para a reboculosa jovem que desfilasse circulando na pracinha depois da missa dominical, era comum que um grupinho de garotos sussurrasse entre si: “É uma jumenta!” Era, sem dúvidas, por mais que não pareça, um especial elogio.Passados menos de três décadas dessas reminiscências, o que se vê é uma completa inversão de valores. Eu não diria exatamente do gosto do brasileiro mediano. Acompanhamos, nos dias atuais, a hegemonia de uma espécie de estética de faquir só para mulheres.Prega-se aos quatro cantos do planeta que o padrão de beleza universal feminina é um corpo de um metro de setenta aproximadamente e uns cinqüenta quilos no máximo. O sucesso na televisão, inclusive no elenco das novelas, são pobres mulheres tísicas, verdadeiras varapaus que mais parecem espingardas de dois canos que gente de carne e osso. Aliás, mais osso que carne.Por outro lado, descobrir um sinal de celulite, uma estriazinha qualquer, um pneuzinho mais saliente, uma pelezinha a mais na parte posterior do braço é sinal de condenação à fogueira do inferno das vaidades. Meio caminho andado para uma vaga com o psicólogo, o psicanalista, o psiquiatra, o endocrinologista, o personal-trainer, o nutricionista e por aí vai.Enquanto isso, as burras da indústria da moda, da fome falsa e das anfetaminas vão se enchendo de dinheiro. Ao mesmo tempo as frustrações, recalques, insatisfações, (pela baixa auto-estima) e até mesmo certas patologias como a depressão vão fazendo fila e história na vida de nossas queridas amigas mulheres.Muitas vezes fico encasquetado com esse tipo de lógica. Quem diria que alguém em sã consciência passaria quase fome apenas pra manter certa pose pescoçuda de manequim de passarela e a silhueta mais que esguia, feito cobra de cipó, quase sumindo por onde passa.Quando garoto a gente costumava impor às meninas com tal biótipo, apelidos ácidos do tipo: escrita-fina (referência clara às amarelinhas canetas BIC da época), passo-mago, cibito baleado, cambito de caçuá, e coisas do gênero.Cá pra nós, mas uma coisa é você ter recebido quando de sua concepção e nascimento uma determinada carga genética que definiu qual seria seu tipo físico. Outra completamente diferente e insana é transformar a vida numa eterna luta contra a balança e o envelhecimento.Pior de tudo é ver tanta gente doida pra comer e sem ter o que, enquanto outras esbanjam se escondendo da fartura oferecida em casa porque pretendem obter tais medidas mínimas de peso, busto, quadril, perna e coisa e tal. Pra quê?Ainda continuo achando que beleza mesmo só se vê de perto e com um bom tempo. Você acorda e dorme de novo com a mesma criatura por perto dias a fio. De repente percebe aquele sinalzinho que ainda não havia chamado à atenção. Dá-se conta de que sua orelha tem um desenho interessante. Descobre que tem um pontinho meio furta-cor no lado esquerdo da íris do seu olho direito. Aquele jeitinho de colocar a perna do lado quando dorme. Um quase sorriso encabulado quando, de surpresa, você chega com um mimo, dá-lhe um beijo e diz: eu te amo!Por que buscar a beleza somente no quadril sem celulite? E aquela rugazinha na testa? E aqueles cabelos grisalhos que, vez por outra dão sinal que vão chegar aos montes? E as mãos, sim aquelas mãos mágicas que tantas festas proporcionaram e que já revelam um enrugamento precoce, marcas inevitáveis da lida diária?Sei não, ilustre e atencioso leitor que me honra com seu precioso tempo. Acho que precisamos fazer alguma coisa. O que? Quem sabe convencer nossas mulheres de que elas são lindas e maravilhosas do jeito que são?