17 de dezembro de 2009

PENSANDO COM SCHOPENHAUER

Fui presenteado por uma prezada amiga com um livrinho superinteressante. Ainda acho, como dizia o velho slogan da inesquecível Livraria Pedrosa em Campina Grande, que o livro é o melhor presente. Dele extraio e divido algumas ideias.


"Assim como o caminho que percorremos fisicamente sobre a terra é apenas uma linha e não uma superfície, na vida, quando queremos agarrar e possuir algo, devemos deixar muita coisa à direita e à esquerda e renunciar a diversas outras. E se não soubermos lidar com tal fato e, ao contrário, tentarmos pegar tudo o que nos atrai pelo caminho, como crianças na feira, é porque temos a aspiração insensata de transformar numa superfície a linha de nossa vida; corremos então em ziguezague, vagando aqui e ali como fogos fátuos, e não conseguimos nada".


Por hoje é só e suficiente. Deixo-vos com esta máxima.


O BLOGUEIRO, QUE JÁ É SAZONAL, ESTÁ PRESTES A ENTRAR EM RECESSO.

11 de dezembro de 2009

ESSE SOU EU E MAIS UM POUCO

A terra pegando fogo ao sol de Janeiro
A chuva emoldurando canções de ninar gente grande
O cheiro de mormaço caririzeiro
O peso das horas se espalhando em sentido anti-horário
A flor do mandacaru gritando desejo invernoso
O furioso ganido de um cão preso a uma corrente imaginária
O céu e o inferno na terra em permanente transe
A loucura cotidiana de querer ser tudo sendo tão pouco
A maciez do caju maduro se abrindo de felicidade
O delírio quixotesco de um andarilho maltrapilho com eternos moinhos a vencer
Avatar de priscas eras, metamorfoseado em tosco e contorcido bonsai
Alinhavador de canções que talvez nunca cheguem a ser terminadas ou escutadas.
Esse sou eu e mais um pouco, ainda no louco delírio de me descobrir!

6 de dezembro de 2009

ONDE ESTÃO NOSSOS HERÓIS?


Às vezes, pra fazer o que é certo, é preciso sermos firmes e desistir daquilo que mais queremos. Até dos nossos sonhos. Dito assim, como frase de efeito pra começar um texto, indica quase que claramente que o autor buscou inspiração num daqueles livros de pensamentos e frases marcantes.

Pode até parecer inusitado, mas a frase foi pronunciada por Tia May a Peter Parker, no meio de um de suas crises entre ser ou não ser o Homem-Aranha. A mesma frase ele repete um dia pro Dr. Octopus, tentando trazer à tona a sua consciência de homem bom. Neste filme, depois de uma sequência fantástica de luta em que ele evita um desastre enorme e salva um trem lotado de passageiros e após ter sua identidade secreta revelada, escuta de um garoto:
- Não vamos contar pra ninguém!

- Eu vou ser sempre o Homem-Aranha, por isso não posso ficar com você, diz Peter a Mary Jane nas entrelinhas. Noutro dia, após a amada desistir do casamento com o filho de seu maior desafeto e perseguidor diante do altar ele escuta de Mary Jane:
- Eu fiz o que tinha que fazer. É errado fazermos as coisas pela metade, não sermos completos...

E desde quando fazemos as coisas assim por inteiro? Eu diria que talvez apenas nossos heróis são capazes de tal feito. E pra que servem os heróis se não pra nos ensinar que as coisas que devem ser feitas têm que ser feitas, mesmo que isso nos custem um enorme sacrifício? O mais complicado dessa história toda é sabermos exatamente quais são as coisas certas e que devem inevitavelmente ser feitas.

A vida inteira passamos tomando decisões sobre isso ou aquilo. Desde a mais tenra idade, quando os juízos morais começam a se formar em nossa consciência, não fazemos outra coisa. O tal do livre arbítrio não passa de um nosso juiz interior que fica o tempo todo batendo aquele martelinho na mesa e proferindo sentenças. Muitas vezes elas são dolorosas, nos trazem sofrimento psíquico, remorsos e mesmo dores físicas, mas o fundamental é termos a clareza de que fizemos "a coisa certa". É isso que dá sustentação aos nossos desígnios e nos dá a exata dimensão de que não devemos ficar culpando o destino pelo que nos acontece ou à nossa volta.

Tirando o fato de que não precisamos ter um dupla identidade como a maioria dos nossos heróis da ficção, para que tomemos sempre a decisão de fazermos o que deve ser feito, custe o que custar, temos no mais íntimo de cada um de nós um pouco desses heróis que nos alimentaram a fantasia desde pequenininhos. Afinal, imagine se não fossem os caçadores da história de Chapeuzinho Vermelho...

Fazendo exercício de viagem interior, me vêm a lembrança Roy Rogers, Tex Willer, Zorro, Super-Homem, Batman e tantos outros... até o Super-Pateta. Mas, e qual o lugar ocupado por Che Guevara, Fidel Castro, Vitor Jara, Lenin, Zumbi dos Palmares, Oswaldão, Lenira, Ghandi, Maurício Grabois, Nelson Mandela, Luther King... e tantos outros que poderia encher uma página inteira.

Temos heróis e Heróis. Todos eles nos fazendo companhia e sendo um pouco do que nosso alter ego nos diz o tempo todo que devemos ser. Os heróis nos servem também para que tenhamos vez por outra a coragem de fazer aquilo que devemos fazer, mesmo que nos doa. Afinal, dentro de cada um de nós habita também um herói invisível que nos faz ser melhores do que seríamos sem ele.

28 de novembro de 2009

SOBRE GATOS, GENTE E SAUDADE

Um miado infantil de gato. Outro miado insistente se aproximando. Outro e mais outro e daí a pouco saio do lugar pra ver o movimento. Eram três. Gatinhos de uns dois ou três meses, provavelmente morando lá. Nada demais se não estivéssemos num cemitério.

Os gatos têm costumes interessantes. Eles roçam, se esfregam literalmente em nossas pernas quando querem um afago, totalmente domesticados parecem já nascer com o código genético totalmente redefinido com a perda total de sua original ferocidade felina.

Nada demais se não estivéssemos num cemitério assistindo a ‘seo’ Ciço de Camelo colocar os últimos bocados de massame nos tijolos que fechariam em definitivo a urna em que Dona Beatriz ficaria definitivamente aprisionada. Pode parecer “coisa do além”, mas foi exatamente assim. Logo ali e logo com ela que era apaixonada por gatos. Cinco ou seis testemunhas, Vinícius com minha lanterna inocentemente alumiando alternadamente a carroça de onde o coveiro tirava o massame e a parede do túmulo onde titia estava sendo sepultada. Era noite no mesmo cemitério onde já fiz até serenata em véspera de finados.

A vida de Dona Beatriz foi cercada por gatos. Minha infância em sua casa foi cercada por gatos. Um angorá, um mourisco, um amarelo... sempre os gatos fazendo-lhe companhia. Até que Mustafá, o seu último preferido se foi em definitivo e ela perdeu o gosto por criar gatos. Mantinha a sua última foto, feita pelo celular de Tia Zorilda, em um porta-retratos por sobre a base de sua estante, bem perto da TV por onde ela via o mundo.

Em sua temporada de mais de 15 anos entre a cadeira de rodas e a cama, guardando e domesticando suas dores a cada segundo, Titia olhava o mundo de uma forma interessante. Ela chamava de “minhas alegrias” suas dores atrozes de uma artrite reumatóide que lhe tirara quase todos os movimentos e sua capacidade de manipular objetos.

Quinze anos e mais um pouco de um quase martírio. Um sorriso permanente nos lábios, uma charada pronta pra qualquer visitante, uma anedota na ponta da língua pros mais íntimos, uma história do passado pros familiares ou amigos, uma lembrança doce de sua memória prodigiosa, uma palavra de conforto pra quem a visitasse cheio de lamúrias, pensando que iria confortar uma doente e saía de lá confortado.

Teve em Rosani Freire, Cornélio e filhos a família que não tinha ao seu lado. Teve em Lúcia, sua auxiliar e “enfermeira”, a filha que nunca teve e, como dizem, o anjo da guarda que a protegeu, a carregou literalmente nos braços entre a cama, a cadeira de rodas, o banheiro, alguma novena ou visita especial e assim foi sua vida nos últimos tempos.

Se alguém lamentava pelo fato de estar ali há tanto tempo ela respondia: “e o filho de Heleno que nunca soube o que é andar? Eu ainda andei e fiz tudo sozinha até os 55 anos”. Sua coleção de chaveiros na parede, seus livros, seus discos, sua inquebrantável fé, sua prontidão pra ajudar alguém que precisasse de uma palavra de conforto, sua disposição para a vida.

Há pouco mais de três meses fez uma cirurgia em um olho e me disse: “se eu perder a visão completamente não fica quase nada. Então, se eu puder ver já terei mais motivos pra me alegrar um pouco". E assim foi ao Dr. Sabino Rolim pra “arrumar” seu olho direito com a cirurgia de catarata enquanto o esquerdo dava mostras de não poder mais ser recuperado.

“Decolores! Decolores é a primavera florindo caminhos... Decolores! Decolores são todas as flores são os passarinhos!” É a sua cara guiando o grupo de jovens Decolores em Juazeirinho lá pelos anos 70, junto com Dona Madalena e Rosinha Zelo. Ainda tentei entoar em sua despedida, depois de uma provocação de Verônica ao lado de Zé Martins, mas a voz embargou e um arrepio me impediu. Encabulei!

Uma das maiores e melhores lições de vida que já pude receber. Setenta e Cinco anos de alegria e dedicação à vida. Verdadeira celebração.

Os acordes que hoje consigo ‘impor’ ao piano são resultado do que aprendi com ela na igreja de Juazeirinho por volta de 1977, entre meus 15 e 16, quando resolveu passar uma temporada em São Paulo e eu fui o escolhido para sucedê-la na Sarafina. Ensinou-me a escala natural de tons maiores e menores e lá fui eu dar conta de acompanhar todas as missas dali em diante. Descobri que sou do tempo de Sarafina. Pra quem não sabe, um órgão de fole de pedais, alemão (o da igreja de Juazeirinho deixaram ser literalmente comido pelos cupins, apesar de minha insistência, à época, em trocá-lo por um eletrônico com o objetivo de recuperá-lo), que recebia o nome de Harmônio, muito comum em igrejas lá pelos tempos de antigamente.

Além de acompanhar as missas eu pegava as chaves da igreja na casa de Dona Nevinha de Chico Antero e treinava algumas tardes aquilo que seria tocado no domingo. De quebra aproveitava pra ‘tirar’ algumas canções de Padre Zezinho e, sem medo de pecar, aproveitando a maravilhosa acústica da igreja, arriscava algumas de Roberto Carlos. Sozinho... Arrepiante! Não havia pecado! Tentava transpor o que sabia ao violão pro Harmônio.

Aprendi muita coisa com Titia. Uma delas foi a não desistir nunca.

Na estrada de volta pra Campina, com a mesma melancolia de outras duas viagens que já fiz neste semestre quando fui me despedir de Dona Neide, minha Mãe, e de Iuri, meu sobrinho, ‘viajei’ junto com ela nas belas histórias do passado, como falava com Ivam Freire no Bar de George há poucos dias enquanto degustava uma deliciosa rabada: era uma figura fenomenal.

Os gatos, que foram sua companhia predileta, depois das pessoas, marcaram presença em seu último adeus. Com poucas testemunhas, mas estavam lá como que para agradecer pelo seu carinho com os seus.

Coincidências? Se há algo de sagrado nisto, de místico, de misterioso, de secreto... só quem já partiu poderia saber. Como não vai contar... fica o registro! Fica a minha saudade... doce saudade...

26 de novembro de 2009

SOBRE ACEROLAS, MAMÕES E A VIDA


Colhendo acerolas aos montes sinto uma sensação gostosa de realização. Algo assim tão simples como tomar um copo d'água da minha quartinha, fria, com gostinho de barro e de infância. Olho pra Pitangueira que está crescendo e sonho com suas azedas frutinhas e até arrisco pensar num licor especial que prepararei pra distribuir com amigos.

Colhendo mamões lindos, amadurecidos no pé e tão aguados sinto uma pontinha de frustração e outra de alegria, ao tempo em que faço uma constatação quase fria como a água da quartinha de barro: a vida nem sempre é doce. Aliás, tão poucas vezes a vida é doce que mais parece esse mamão que resolvo comer, mesmo com seu sabor de quase nada, como se todo o açúcar do mundo tivesse se escondido na hora de passar por aquele Mamoeiro.

A questão é que tanto o pé de acerola quanto o de mamão me foram presenteados por Dona Neide, minha mãe. Com sua mania de produzir mudas e sair presenteando me fez cativo de tal costume. Tenho até algumas de graviola e atemóia que consegui produzir em casa e espero que virem frondosas fruteiras e deem bons prazeres a quem as adotar.

Assim como as maravilhosas acerolas gigantes e de macia polpa me lembram as coisas boas e doces, as maravilhosas reminiscências de minha mãezinha e sua alegria motivada por coisas tão simples e pequenas, o mamão aguado também me fazem lembrar o aguado da vida e sua via crucis de quase 25 anos entre médicos e hospitais lutando por seu bem mais precioso, a própria vida.

Hoje vejo com certa tranquilidade que, pra ela, havia chegado seu tempo de "desistir" de lutar contra algo inexorável. Afinal, somos todos assim! E como na vida há tempo pra tudo: pra escolher sementes, pra semear, pra regar, pra podar, pra colher... há o tempo de completude de ciclos, essencialmente de vida, que se completam e se reiniciam com a morte. Ou seja, deixamos de ser o que somos pra nos transformarmos em outras coisas. E olhe que falo apenas de física. Assim como tudo o mais estamos o tempo todo nascendo, morrendo, terminando, começando e recomeçando...

Por hoje, morro nas coisas que deixei de fazer, renasço nas coisas que fiz durante o dia, nos amigos (de sempre) que abracei, no cheiros que senti, nas idéias que plantei, nos sonhos que alimentei, naquilo que sempre fui e estou sendo, diferente sempre e parecido como se não fosse.

Vai entender...

24 de novembro de 2009

AGRADECIMENTO E DESCULPAS

Eu, com minha já tradicional incompetência para autopromoção, não tive a noção exata do que iria fazer e somente depois percebi que bem que poderia ter feito uma divulgação do show lá no Picanha 200, na quinta-feira passada. Fica o meu pedido de desculpas aos que deixaram de ir porque não souberam. Valeu, Débhora.

Ao mesmo tempo meu agradecimento pelas palavras de carinho, o apoio recebido e, claro, os elogios pelo show. "(...) é se guardar um rio perdido / E não encontra o mar..." Pois é assim esse meu amor escondido. às vezes fico achando que quando canto deveria gritar pra todo mundo que vou cantar, que estou feliz, que essa é a caoisa mais maravilhosa do mundo, mas sempre fico numa espécie de quase anonimato, de fato, como se fosse um "amor escondido".

Meu abraço pra vocês. Volto com novidades.

21 de novembro de 2009

RAIMUNDO FAGNER ESPECIAL


Arrisco afirmar que pelo menos uma canção de Fagner (cantada por ele) está impregnada na memória de cada brasileiro, principalmente nordestino, na faixa dos trinta em diante. Isso sem querer isolar outras pessoas em idade inferior.

Quem não estava lá precisava ver a reação de um grupo de uns vinte jovens, entre rapazes e moças na faixa dos 17 a 20 e poucos anos, no Picanha 200 na última quinta-feira, dia 19 de novembro, quando começei a entoar, depois daquele tradicional solo de contrabaixo: "O aço dos meus olhos / E o fel das minhas palavras / Acalmaram meu silêncio / Mas deixaram suas marcas (...) Ai, coração Alado..." (Gracco & Caio Silva). É impressionante!

Em primeiro lugar a longevidade de Fagner como intérprete, com uma voz bem mais apurada que nos primeiros anos de carreira e, da mesma forma, um compositor que não parou de produzir belas canções, sempre em parceria com contemporâneos e novos compositores. E ainda um sujeito que, sem ser caracterizado como um "artista regional", nunca deixou de cantar suas raízes musicais.

Pois bem! Recebi um desafio de fazer um especial com canções de Fagner (que ficaram marcadas em sua interpretação) no Restaurante Picanha 200 e comecei com um exercício de memória com um caderno aberto. Qual não foi minha surpresa quando a lista chegou a 32 músicas, sendo que destas apenas duas eu não tinha a letra e acompanhamento completamente memorizados. Resultado: entre o dia que comecei a lista e o último ensaio já havia chegado (à memória) mais cinco canções.

Tive que "sacrificar" algumas, pois não cabiam todas na proposta de show.

Pra mim foi uma noite memorável. Muito amigos, casa quase lotada em plena quinta feira, apresentação iniciada quase pontualmente na hora prevista, um acompanhamento muito bacana de Alexandre Couto (violão aço, gaita e vocais), Waldenor Fonseca (contrabaixo e violão) e Sandro Dupan (percussão e efeitos). Ainda a participação especial de Dimas Xavier (triângulo/block) na hora do baião.

Recepção maravilhosa, uma viagem fantástica pelo cancioneiro de Raimundo Fagner, uma mexida no baú da memória e dos sentimentos de muita gente (inclusive do cantor), muitos cantando e acompanhando quase todas as músicas... foi tudo de bom.

Lembrei de uma fita cassete que gravei e dei como presente, lá atrás, em 1980 quando eu contava apenas quatro anos que aprendia a tocar e cantar. Estava lá: "Eu sei qu existe por aí / Uma andorinha solta / Procurando um verão / Que se perdeu no tempo (...) É que meu coração de homem / Voa alto como um pássaro" (Ave Coração - Clodo & Zeca Bahia).

Velhos tempos... belos dias que se renovam sempre que pego o violão e começo a entoar uma canção...

O bom do show é que foi pura diversão pra mim, pura viagem divertida e prazerosa, como em homenagem a um cara que musicalmente fez a cabeça de uma geração e continua por aí "dando suas cacetadas", com CD novo e novas canções, novos parceiros, novas idéias...

Viva, Raimundo Fagner!

16 de novembro de 2009

REMINISCÊNCIAS DE UM BEBÊ QUE QUASE NÃO CHEGA LÁ

Mil Novecentos e Sessenta e Dois.Mais ou menos por essas horas do dia (manhã cedo) ele já dava sinais de que queria sair daquela bolsa aconchegante. Mesmo estando tão bom ali dentro havia chegado a sua hora de provar das agruras e maravilhas do mundo, fora daquele conforto razoavelmente seguro, mesmo com a nutrição deficitária.

Demorou, mas lá por volta das 11 da noite ele deu o ar de sua graça. Dona Maria Hilda foi a responsável por "pegá-lo" e em meio ao tradicional corre-corre de uma maternidade caseira, na Rua Getúlio Vargas em Juazeirinho, o bruguelo veio ao mundo.

Oito meses depois uma infecção intestinal o ameaçou de tal maneira que a mãe, contariando todos os conselhos familiares, arranjou o dinheiro da passagem e pegou um ônibus da Empresa Viação Batalhão e cedinho se mandou pra Campina.

- Veja só os olhinhos desse menino que já estão uma nata só. Já é um anjinho!
- Eu trago ele pra casa num caixão, se for preciso, mas não vou deixá-lo morrer aqui, à míngua!

A saga continua já em Campina. Bairro de Monte Castelo, Rua Paraná, casa dos irmãos e irmãs, uma farmácia perto e um farmacêutico famoso no bairro: Mamede Moisés Raia, nome de uma das princípais ruas do bairro hoje. Uma semana depois e o retorno de Dona Neide pra Juazeirinho (Obrigado!) com o menino são e salvo... ao menos daquela.

Não teve papeira, sarampo e outras coisas do gênero, salvo uma "bixiga" que não deixou marcas. Sobreviveu a todas as farras e porres da juventude e passou por quatro acidentes automobilísticos, nenhum de graves consequências.

Passados os anos, um pouco de sobrepeso que não chega a comprometer, umas avarais na coluna vertebral, uma memória levemente comprometida pelas noites mal dormidas e o estresse das atividades múltiplas, mas nenhum medicamento de uso contínuo, a não ser o que ajudou a restaurar a memória ou parte dela. Segundo diz o cardiologista, o coração vai muito bem, obrigado! Este mesmo coração, que já planejou mil vinganças e nunca executou uma sequer, ainda se ressente por não conseguir perdoar a todos que lhe feriram aqui ou ali. Porém, já não planeja vinganças, apenas espera o tempo operar e a vida oferecer a cada um o seu merecido quinhão.

O sujeito agora é um homem de "meia-idade" (se for assim, ao pé da letra, vai viver 94) que faz algumas estripulias de um garoto de 20 e poucos anos e tem certas limitações e hábitos (e até curte ser assim) de um coroa de 70. Agora ele chama de coroa os que intitulava de velhos quanto tinha 20. Só depois do efeito tempo é que descobriu que os referenciais mudam e os de 20 agora o chamam assim. Um coroa relativamente "enxuto", até poderia se dizer. O referencial é que faz a diferença.

Até aqui deixou plantadas algumas árvores, idéias (inclusive neste blog) publicou coisas escritas, ajudou a botar dois meninos no mundo (um já não mais tão menino assim), compôs e gravou músicas e ainda tem um "mói" de inéditas que sonha gravar um dia, deu sua pequena, mas comprometida, contribuição à história da UEPB. Plantou amigos que não os deixam sentir-se sozinho nunca, apesar de gostar de certa solidão. Eis o "pequeno perfil de um cidadão comum", como diria o compositor popular.

Entre idas e vindas, perdas e danos, prós e contras ainda acha que está no lucro. Sente-se feliz em seu mundo tentando gozar de todas as coisas boas que a vida lhe oferece e amargar resoluto todas as agruras do o mundo lhe impõe. No mais, é esperar pra ver os próximos quarenta e sete...

Eis um breve balanço de uma vida em movimento!

9 de novembro de 2009

O (MINI) VESTIDO DA DISCÓRDIA


A notícia mais quente da semana e ao mesmo tempo a mais mobilizadora dos meios de comunicação nacional, no momento, foi a expulsão da estudante Geisy Arruda, 20 anos, do quadro de estudantes da Universidade Bandeirantes (Uniban).

A moça da pauta, uma jovem reboculosa de cabelos transformados, causou espécie ao inexplicável universo dos machos de São Bernardo do Campo-SP, quando compareceu para assistir aula com um vestidinho vermelho, com pano sobrando nas mangas e escasso na parte de baixo.

Inevitavelmente lembrei de um xote cantado por Gonzagão, lá pelo final dos 70 e inícios dos anos 80, de autoia de Luiz Ramalho que vale a pena lemebrar a letra inteira:

"Comadre Joana sempre reclamou


Da minissaia que a filha tem

O namorado se invocou também

E certo dia pra ela falou:

Tua saia, Bastiana, termina muito cedo

Tua blusa, Bastiana, começa muito tarde


Mas ela respondeu: Oi, facilita

Pra dançar o xenhenhém, oi, facilita

Pra peneirar o xerém, oi, facilita

Pra dançar na gafieira, oi, facilita

Pra mandar pra lavadeira, oi, facilita

Pra correr na capoeira, oi, facilita

Pra subir no caminhão, oi, facilita

Pra passar no ribeirão, oi, facilita"

 
 
Mas, ora vejam só!
 
Se lá em tempos pretéritos (já se passaram 20 anos da morte do Rei do Baião) isto já era levado na onda, já se tinha tornado coisa banal, qual mesmo o sentido de tanta balbúrdia por causa de um vestido (ou minissaia) que termina mais cedo? Um olhar crítico sobre o fenômeno, completamente desprovido de juízos de valor é impossível.
 
O fato de conviver há mais de 29 anos com jovens universitários, tanto na condição de aluno quanto exercendo a docência, me dá uma certa noção no sentido de falar de um determinado lugar. Este lugar, em última instância está junto da tolerência. Posso afirmar que já vi quase tudo neste sentido (sem duplo sentido) quando se trata de moças de saias curtas e pernas cruzadas. Porém, nunca saí do meu lugar de educador, inclusive aconselhando, quando achei necessário, algumas a se protegerem.
 
O que causa espécie também, por outro lado, é que as mulheres conquistaram tal espaço no mundo moderno que lhes permite usar e, às vezes, abusar no uso da (pouca) roupa. Entretanto, isso virou uma banalidade de tal ordem que nem vejo mais as expressões de surpresa ou mesmo felicidade geral da macharia abestada com a passagem requebrante de qualquer jovem, a não ser que chame a atenção pelo conjunto da obra.
 
"E aí me dá uma tristeza no meu peito / feito um despeito de eu não ter com quem contar...", pois o problema é que a moça em pauta, em minha humilde opinião de macho, pelo conjunto da obra nem mereceria atrair para si tanta atenção. Afinal, ela estava vestida para dois eventos: uma aula e depois uma festa. Qual o problema? Qual o problema em gostar ou não de suas roupas ou do seu jeito de vestir e andar balançando seu patrimônio apertado naquele vestidinho curto?
 
Se ela tivesse se ofendido e (feito Maria Brexita, uma doida de saudosa memória, lá de Juazeirinho), num gesto de desespero, mostrado as partes pra quem quisesse ver, exibido o que não devia, ao menos naquele lugar reservado ao saber... praquele magote de marmanjos aparentemente obsediados... eu até admitiria a reação.
 
Todavia, apenas pelo uso da roupa, confesso que ela passaria por mim em qualquer lugar público ou privado merecendo, no máximo, um "olhar de conferência", como compete a 9 de cada 10 homens que eu conheço. O que queria então aquela macharada ensandecida escrachando a pobre moça com palavras de ordem e gritos de p... p... p...! E olhe que nem sei se ela é ou não. Porém, em qualquer circunstância, sendo o que seja, ela tem direito de andar, ir e vir, sem que se berre em coro que ela é isto ou aquilo.
 
Tenho certeza que muitas moças, centenas, milhares, em vários recantos deste país, têm ido às aulas, às missas, aos shopping centers com trajes idênticos e, às vezes menos compostos na parte de cima. Mais uma vez indago: qual o problema? Tenho certeza que boa parte daqueles jovens ensandecidos e defensores da moralidade e dos bons costumes que a UNIBAN protegeu expulsando a jovem, já ingeriu bebida alcoólica, já fumou maconha na universidade ao menos uma vez, já deu um amasso escandaloso em alguma donzela no interior da universidade ao menos uma vez, já fez isto em outros ambientes menos indicados ao menos uma vez. Qual o problema?
 
É bom lembrar que os linchamentos começam desse mesmo jeito. E aí as catarses coletivas acontecem, assim como em tempos muito remotos homens de carne e osso eram jogados aos leões para o divertimento da aristocracia.
 
Creio que nossa sociedade andamos perdendo coisas. Uma delas, sem dúvidas é o verdadeiro senso de preservação dos nossos direitos dos direitos dos outros, do exercício da cidadania e da justiça, da tolerância, do bom senso. Se não, coisas como essas não aconteceriam. E, se acontecessem teriam sido resolvidas no âmbito da própria instituição, sem maiores problemas, antes que tomasse tais proporções.
 
Pensando bem, acho que a moça perdeu muita coisa. Porém, pelo desenrolar dos fatos, ela sairá ganhando depois e muito. Perdemos nós todos brasileiros, e muito.

2 de novembro de 2009

O MAIOR FAZEDOR DE "BURÉ"


Não sei se você já ouviu falar em Buré. Não encontrei no dicionário nem encontrei palavra assemelhada que pudesse justificar seu uso. Segundo a Wikipedia, Buré é uma comuna francesa na região administrativa da Baixa-Normandia, no departamento Orne. Estende-se por uma área de 5,53 km², com 94 habitantes, segundo os censos de 1999, com uma densidade 17 hab/km².

Entretanto Buré é o ajuste de nivelamento feito sobre a parede de areia de praia que forma aquelas piscininhas feitas por nós, gente grande, para deleite da meninada. Explico: Estava construindo uma dessas piscinas e meu parceiro Vinícius diz pra mim:
- Papai, você bota a areia e eu faço o Buré!
- Como é, filho?
- O Buré, papai! Eu sou o maior fazedor de Buré!

Entendeu agora? Pois bem, Buré nada mais é que isto, a regulagem manual ou com uma pazinha de plástico que você faz no topo da parede de uma piscininha de areia de praia. É o Buré que deixa a parede mais bonita, digamos assim. Até ontem, pra mim essa palavra era inexistente. Não é mais! Pronto!

29 de outubro de 2009

ARTE, EMOÇÃO E COMPROMISSO

Se você está apressado (a) deixe pra lá! Porém, se tem 8'33'' pra se deleitar com um grande espetáculo, você pode colocar em tela inteira ou apenas clicar no video abaixo.
É impressionante o que a arte pode fazer (ou uma artista) pra chamar a atenção para um fenômeno social. A artista ucraniana Kseniya Simonova consegue fazer aquilo que alguns chamam de 'milagre'. Simplesmente fantástico, aos meus olhos.
Tire suas conclusões. Se não tiver tempo agora, volte depois ou vá ao youtube quando puder com a pesquisa do nome.

27 de outubro de 2009

AINDA CHEGO LÁ

O formato do blog ficou todo esquisito depois que fiz umas experiências noutro dia e não consegui mais voltar a ser como era antes. Acho que com a gente acontece assim também: a gente nunca consegue voltar a ser como era antes. Mas não precisava ser tão radical. Afinal, descobri que nos blogs acontece como na vida. Que legal!

Já tentei de várias formas, o tempo é pouco, mas não consegui retomar o formato anterior onde as informações apareciam na íntegra logo no início da página. Há um erro de configuração, pois em todos os modelos que já tentei ele mantem a mesma formatação, como se todo o blog fosse um texto corrido na vertical e isso o deixou meio esquisito. Pra mim, feio mesmo.

Se um dia eu tiver tempo verei se conserto. Meus conhecimentos do assunto se mostraram insuficientes e não tenho tempo pra estudar um troço desses. Guardarei alguns neurônios pra queimar em sinapses mais produtivas.

Conto com sua compreensão.

MOBILIZAÇÃO DE MASSA

Pode até parecer que foi tudo montado, preparado, ensaiado... sei não, mas a idéia geral ficou muito bacana. Veja o vídeo e perceba como as pessoas vão se contagiando com o balanço... e tudo começa com uma pessoa saltitando na platéia...
Tire suas conclusões.

SOBRE FRUTAS E MEMÓRIAS DOCES


Há pouco mais de um ano Dona Neide me deu uma muda de Mamoeiro e ainda passei quase um mês pra decidir onde ela seria fixada de vez. De um lado um pé de Siriguela, que também ganhei, mas que não se deu muito bem com minhas galinhas.

Fiz boa cova, preparei o terreno com adubo orgânico e somente agora colhi o primeiro mamão de um montão que estão lá pendurados esperando amadurecer. Chamei Vinícius pra foto, deixando pra ele a honra de colher a primeira fruta do Mamoeiro herdado de minha mãe. Dois dias depois, devidamente riscado pra que o 'leite' diminuísse não tive lá grande alegria ao comer da fruta, pois não era 'aquele' doce esperado. Talvez por ser o primeiro e apenas uns 30% do tamanho dos outros gigantes que estão lá crescendo e amadurecendo à minha espera.

Tem importância não! Doces mesmo foram as lemebranças daquela que me ensinou a amar as plantas, a cuidas delas e desfrutar de suas oferendas. Assim foi com a Aceroleira e com  Pitangueira. Da primeira tenho colhido frutos quase ininterruptamente. Da segunda ainda espero seu desenvolvimento e maturidade pra que possa de fato fazer o primeiro licor de pitanga (dizem que era especialidade de Gilberto Freire, o sociólogo, não meu irmão) e convidar amigos a provar do seu maravilhoso sabor.

O tempo passa e as coisas vão se acomodando. A saudade é que não dá tréguas. Mesmo em minha própria casa, por onde passo vejo um pedacinho daquela que me ensinou a gostar de tudo, essencialmente das coisas mais simples. Sigo seus passos e tento ser melhor que ontem também na simplicidade que a vida me permitir.

A ausência aqui no blog é resultado de uma quase abdução causada pela UEPB nos últimos dois meses. Estou tentando pôr a cabeça pra fora...

22 de outubro de 2009

PROMESSA DE "CURA" HOMOSSEXUAL E A PSICOLOGIA

No número 85 da Revista RADIS, publicação da Fundação  Oswaldo Cruz, foi publicada na coluna  "súmula" a notícia que segue. Aproveitei pra levar de imediato à discussão com os (as) prezados (as) estudantes do primeiro ano do curso de psicologia da UEPB com que tenho tido o prazer de interagir neste período letivo.

Veja a íntegra e tire suas próprias conclusões.

Conselho Federal de Psicologia decidiu (Agência Brasil, 31/7) aplicar censura pública à psicóloga carioca Rozangela Alves Justino, que oferece “cura” a homossexuais, por infração da resolução de 22 de março de 1999, que estabelece: homossexualidade “não constitui doença, nem distúrbio e nem perversão”.

A punição confirmava decisão anterior do Conselho Regional de Psicologia do Rio de Janeiro. O presidente do CFP, Humberto Verona, disse que a entidade não poderia agravar a punição, com suspensão ou cassação do registro, porque a própria psicóloga recorrera ao conselho. Rozangela afirmou que manteria sua atividade normalmente. “As pessoas têm direito de procurar esse apoio”, disse ela, de peruca, óculos escuros e máscara para não ser “atingida pela ira” dos ativistas gays. “Não sinto vergonha e nunca sentirei de acolher os que querem deixar voluntariamente o estado de homossexualidade”.

Segundo ela, as pessoas que estão “em sofrimento psíquico e desejam deixar a homossexualidade” devem procurar profi ssionais nas suas cidades. A psicóloga citou a OMS sobre transtorno de identidade sexual. “A homossexualidade pode ser primária ou secundária a outros transtornos”, afirmouRozângela. A motivação da psicóloga, entretanto, não parece ter base em evidências científicas, mas na religião: em texto no qual compara ativistas gays a nazistas, que o site monergismo.com publicou, ela se identifica como “psicóloga, especialista em psicologia clínica e educacional, uma das fundadoras do Exodus Brasil e membro do Corpo de Psicólogos e Psiquiatras Cristãos”. Segundo o site, “o monergismo (regeneração monergística) é uma benção redentora adquirida por Cristo para aqueles que o Pai lhe deu (1Pe 1.3; Jo 6.37-39). Ela comunica aquele poder na alma caída pela qual a pessoa que deve ser salva é efi cazmente capacitada a responder ao
chamado do evangelho (Jo 1.13)”.

O New York Times (6/8) publicou resolução da American Psychological Association, segundo a qual profissionais de saúde mental não devem dizer a pacientes gays que podem se tornar heterossexuais com terapia ou tratamento. Foi o repúdio mais direto da entidade americana à chamada “terapia reparadora”, conceito abraçado por “pequeno mas persistente grupo de terapeutas, frequentementeligados a religiões conservadoras, que sustenta que homossexuais podem mudar”, diz a matéria. Uma das maiores organizações desse tipo é a Exodus International, rede que oferece “libertação da homossexualidade pelo poder de Jesus Cristo”.

“Não há evidência sólida de que essa mudança seja provável”, diz a resolução, aprovada no conselho da entidade por 125 votos a 4. Pelo contrário, continua o texto, “alguns estudos sugerem que esforços para produzir mudanças podem ser nocivos, induzindo tendências à depressão e ao suicídio”. A associação já criticou essa “terapia” no passado, mas a decisão foi fortalecida pelas conclusões de seis especialistas que em 2007 examinaram 83 estudos sobre mudança de orientação sexual desde 1960.

21 de outubro de 2009

BELCHIOR E SUA ALUCINAÇÃO

Assim como naquele livrinho de brincadeira de esconde-esconde que não lembro exatamente o nome, mas me parece que era "Onde está Wally?", dias desses fizeram um fuzuê daqueles com o artista plástico, compositor e cantor Antonio Carlos Belchior. O mote era o sumiço de Belchior deixandoa pra trás carros em estacionamentos, correspondências, contas a pagar (e imagino que também a receber...).

Pois não é que encontraram Belchior? Foram descobri-lo em em uma cabana, na cidade de San Gregorio de Polanco, no interior do Uruguai, morando com uma mulher e, segundo ele, apenas vivendo a vida.

Consta que tinha deixado pra trás dívidas de mais de 18 mil reais. Ora, como se em dois show de hora e meia cada ele poderia resolver tudo isso e ainda ficar com o troco? Não acompanhei os detalhes todos das 'buscas' a Belchior, mas uma de suas canções talvez explique o que ele estava fazendo: ALUCINAÇÃO.

"A minha alucinação é suportar o dia-a-dia
E o meu delírio é a experiência com coisas reais
(...)
Amar e mudar as coisas
Amar e mudar as coisas
Amar e mudar as coisas
Me interessa mais!"

Deixemos Belchior em paz!

COLABORAÇÃO COM AS PALAVRAS

A leitora Débhora Melo comentou minha postagem anterior com um belo poema. Divido aqui na página pra quem não leu ou ler os comentários.

“Palavras são palavras
Nada mais do que palavras...”

Nada mais?!
Palavra é elemento
Suprimento
Palpável, moldável que se pode
Jogar, brincar, coreografar...

Palavra aríete que fere pessoas
E ganha causas judiciais.
Palavra remédio que alivia
Doloridos ais!

Palavra certa na hora exata
É tesouro achado
“É mel no olhar
É pétalas nos lábios”.

(Débhora Melo)

19 de outubro de 2009

A PALAVRA...

A palavra, por favor! Cadê a palavra que estava aqui? Eu quero a palavra! A palavra, já! Cantada, escrita, falada... memória... A palavra coisa, a palavra idéia, a palavra sentido. Preciso da palavra para que eu cale, Preciso da palavra para que eu seja, Preciso da palavra para que eu viva. A palavra punhal, a palavra alimento, a palavra flor, A palavra sorriso, a palavra dor e a palavra amor, Sim, a palavra amor, a palavra tesão, a palavra só, sozinho, solidão. Onde está a palavra? Cadê que ela estava aqui bem há pouco e sumiu? Onde se meteu a palavra? Preciso da palavra para que eu siga, Preciso da palavra para que eu pare, Preciso da palavra para que eu diga Preciso da palavra para que eu... nada! Deixe-me estar sem palavras E eu me morro aos poucos, E eu me esvaio em sons sem nexo, E eu me derreto como um cubo de gelo ao sol. Por favor, a palavra! A palaaaaavrrrrraaaaaaaaaa!!!

15 de outubro de 2009

EDUCADORES E PROFESSORES

Se buscarmos as razões na grafia que nos acostumamos a usar, eu diria que estou mais para educador que para professor. Aprendi há tempos que ensinar era uma arte. Aprendi que ensinando era possível aprender algo de que não sabia ainda ao certo o que e como era. Depois aprendi que ensinar também era ciência. Aprendi algum tempo depois, inclusive, que exemplos ensinam mais que palavras. Aprendi depois de deveria ensinar aos outros a aprender. Mais adiante um pouco aprendi que ensinando eu poderia educar. Depois aprendi que educar é obra coletiva. Mais um pouco pra frente aprendi que ninguém educa ninguém, pois os humanos se educam em comunhão. De tudo isso ficou que tudo que aprendi sobre ensinar e aprender, sobre educar e ser educado tinha tudo a ver com uma coisa chamada experiência. Aprendi portanto, com a minha experiência, que não sabia de muita coisa e que precisaria sempre aprender mais. Tempos depois aprendi que era preciso, que era salutar, que era saudável reconhecer que não sabia e assim abriria as portar do meu aprender. Comecei a ser professor por obra conjunta do acaso e da necessidade. Perguntado hoje se eu mudaria o rumo de minha vida, tendo a opção improvável de poder fazê-lo, eu diria que não. Deixa a vida me levar... vida leva eu... O que começou por obra conjunta do acaso e da necessidade transformou-se em instrumento de edificação de um ser, de caminho para algo próximo da felicidade. É isso mesmo: sou muito feliz com as escolhas que fiz e com a profissão que exerço, para além da remuneração que recebo e que considero, se não ideal, ao menos digna. Consigo dedicar meia hora, uma hora do meu tempo a pensar uma aula e passar 5, 10 ou mais minutos do tempo de aula esquecido do tempo até que o próximo professor bata à porta, ou que algum (a) aluno (a) diga como um terapeuta: seu tempo acabou! Que coisa! Descobri depois de tanto tempo que continuo aprendendo com meus alunos e que muitos podem saber bem mais que eu de umas tantas coisas. Reconhecer isso é mais que prazeroso. Ser professor, como disse Rubem Alves, é ser eternizado nos olhos dos outros. Saber que os profissionais todos somente o são porque estiveram alguns tantos anos de suas vidas com gente como eu, aprendendo... Quer saber de uma coisa? Gosto disso! E pronto!

5 de outubro de 2009

SAUDADES DE MERCEDES SOSA

A voz cortante que nem faca... Milton Nascimento, Pablo Milanes... anos 70-80... luta popular contra as ditaduras na América Latina... são registros que em muito se aproximam na trajetória musical desta que foi (e continuará sendo) trilha sonora obrigatória na vida de tantos quanto acreditam na mudança do mundo e numa sociedade justa. Deixo esta lembrança pra vocês. Um registro emocionante que recebi há poucos dias do amigo-camarada Chico Alves e que nos fez chorar a mim e a Benjamim, lutadores e sonhadores que somos.

A SEMANA COMEÇOU ONTEM

Nunca consegui entender bem como se deu a transformação do início da semana no final de semana. Quem souber ou tiver tempo de pesquisar que me ajude. Em todos os países que adotam o calendário gregoriano, independente da nomenclatura, a semana começa no DOMINGO. Quer dizer, formalmente. Não tenho informação se em algum lugar o trabalho, as coisas ligadas às formas de sobrevivência material, têm a mesma relação que em nosso lado ocidental aqui da América do Sul. Independente de qualquer coisa, fica o registro do meu desconhecimento. Se a semana começa de fato na segunda, por que este dia é "segundo" e não "primeiro"? Com a palavra, o (a) leitor (a)!

3 de outubro de 2009

POR FALTA DE JEITO PRA DIZER OUTRA COISA

Quem nunca escreveu versos de amor? Quem nunca escreveu cartas de amor? Não sei se isso ficou demais demodê, pois não me dou muita conta do passar do tempo. De minha parte posso dizer que não me arrependo de nenhum verso escrito, nenhum dor sentida, nenhuma mágoa chorada, nenhum gozo espalhado... tudo é vida. Versos do poeta Ronaldo Cunha Lima. NÃO MALDIGO OS VERSOS QUE LHE FIZ "Não maldigo os versos que lhe fiz, embora não devesse tê-los feito. São versos que nasceram do meu peito, mas frutos de um amor muito infeliz. São versos que guardam o que não quis guardar daquele nosso amor desfeito. Relendo-os sofro, e sofrendo aceito o que o destino quis como juiz. Não os maldigo, não. Não os maldigo. Vou guardá-los em mim como castigo, para no amor eu escolher direito. Só porque nesse amor não fui feliz, não maldigo os versos que lhe fiz, embora não devesse tê-los feito."

28 de setembro de 2009

MUDANÇAS DENTRO E FORA

Uma amiga me diz que quando uma mulher faz um corte radical, diferente, nos cabelos isso representa o seu desejo de mudar. Ao menos de visual... rsrsrsrsrs Peço a compreensão de todos (nem sei se tantos assim) os que me leem e me visitam me enchendo de alegria. É que tenho experimentado novos visuais para o blog e ainda não achei algo que me desse a certeza de que poderia ficar por um tempo assim. O anterior (de uns tempos) não mostrava todos os itens que eu havia programado e resolvi mudar. Na mudança, experimentação, terminei por deixar uns dias com um visual, noutros dias já muda e assim por diante. Tentarei parar com isso. Não é brincadeira, mas creio que representa também minhas crises (rsrsrsrs) - minha amiga Socorro Dantas que o diga - e talvez eu esteja projetando por aqui esses meus desejos inconfessos de mudança... ai, ai, ai, já confessei! E agora? Beijos e abraços.

25 de setembro de 2009

CHICO PASSEATA, O POETA

Meu amigo Chico Passeata ganhou esse nome ainda nos tempos de juventude. Tempos sombrios em que era proibido pensar e, pior ainda, expressar seu diferente pensar. Em se tratando de política, aí a coisa fica braba.
Pois bem! Meu amigo Chico Monteiro, ou Dr. Francisco das Chagas Dias Monteiro, médico sanitarista, companheiro eterno de Helena Serra Azul (que diziam os linguarudos, apelidavam de Helena Concentração... só pra rimar com passeata), foi vítima da Ditadura Militar junto com Helena. Tiveram até filhos neste período.
Chico e Helena foram presos e torturados. Não perderam o amor pela vida, o sorriso largo, a capacidade de ler o mundo e enfentar as agruras da política de braços e corações abertos. Chico é médico e sindicalista militante. Helena é professora, pesquisadora da UFC e sindicalista militante. Ambos são, além de tudo amantes da vida e boêmios. Lindos boêmios, lá do alto dos seus sessenta e alguma coisa mais.
São dois jovens amantes da vida. Chico Passeata, na verdade, é poeta e vivedor, gozador da vida. Nas horas vagas, dá um tempo pra medicina e, dizem, é sanitarista de respeito. Tive a alegria de conviver com os dois e guardo boas e alegres recordações.
Chico publicou poemas em muitas revistas e livros. Sua poesia é navalha e rosa, cravo e ferradura.
Eis o seu "CORREDOR".
"pela porta do lado esquerdo
na avenida deste sujo corredor
sem tempo ou varanda a recorrer
no contrafluxo por onde vem o andor
caminho trôpego
sou levado a rir apesar da dor
bebo sôfrego a ilusão da vida
morro queimado ao sol do quarador"
... e ainda "NO FUNDO DO POÇO".
"no fundo do poço
tem um osso
e um cachorro
sem dentes
morto de fome
no fundo do poço
tem uma luz
entrando num túnel
obstruído
sem saída
no fundo do poço
tem um vestido
e uma blusa num baú
rasgados
e um corpo nu
no fundo do poço
tem uma hist´ria
escrita na memória
vitória e derrotas
e outras glórias
no fundo do poço
tem um jardim
e uma rara flor
florindo rubro
recomeçando
no fundo do poço
tem você
porta e aconchego
é o que importa
chego..."

24 de setembro de 2009

JÁ NÃO SEI SE TE ESCUTO OU APENAS

Três poemas de Eugénio de Andrade, português, de peso poético que o ombreia com Pessoa em minha opinião sentimental. Do livro "O peso da sombra". "Já não sei se te escuto ou apenas a monotonia dos ralos entra pela casa. Um dia serei eu esse cantar, o corpo desatado e semelhante à música que das cordas se desprende. O ar é o meu elemento, o ar." "Sei de uma pedra onde me sentar à sombra de setembro e vou falar dos girassóis onde ombro a ombro com o sol a flor é quase areia e do peso da sua solidão fazem o ardor e a glória dos grandes dias de verão." "Oiço-te como se ouvisse chegar o verão, seus inumeráveis dedos correr pelos dias ou pelas noites com as águas dentro, oiço essas vozes, esse rumor de luzes subir no escuro, tropeçar nos vidros, com a manhã alta cair nas areias, morder os muros, arder endoidecido."

20 de setembro de 2009

OS PAIS, OS FILHOS E O ESPELHO

Poucas canções populares conseguiram traduzir com poesia e melodia coisas tão bonitas como a relação pai e filho. Em minha humilde opinião, mais sentimental que crítica, Sérgio Bitencourt com seu samba Naquela Mesa, Fábio Júnior (isso mesmo) com Pai, Roberto Carlos com Meu Querido, Meu Velho, Meu Amigo e talvez algumas outras, mas estas três pra mim, são mais que exemplares. Um certo dia ouvi Didi Moraes tocando Espelho, de João Nogueira e Paulo César Pinheiro e seu filho Davi Silvino de Moraes cantando emocionado, ainda lá pelos seus 11 ou 12 anos de idade. Escutada assim, pai e filho interpretando juntos foi algo tocante pra mim. Fiquei com a música no juízo e agora há pouco, quando estive pelo Rio ouvi bastante Diogo Nogueira e fiquei novamente sensibilizado, impressionado com a beleza dos versos e a singela interpretação dele com uma "participação especial" do seu pai. Uma das melhores vozes da música brasileira e um compositor riquíssimo. Nó na Madeira, uma de suas canções, eu cantava desde garoto quando ainda nos meus primeiros passos ao violão. Vejo-me seguindo um pouco os passos do meu pai, Taiguara seguindo os meus ao seu jeito e me imagino dentro da canção. Vida que segue! Vai também como uma homenagem pro Marcos, meu irmão. Achei no youtube e deixo aqui um presentinho pra você, leitor (a), com calma, lendo a letra e viajando por essa balíssima obra do cancioneiro popular brasileiro. Solte o som e abra o coração. Meu abraço domingueiro com o desejo de uma boa semana.

16 de setembro de 2009

AVENTURAS JUVENIS

Revisitando, por motivos nada aprazíveis, o antigo Grupo Escolar Manoel Vital (colégio velho) que rivalizava com o Colégio Municipal Severino Marinheiro (colégio novo), em Juazeirinho, inevitavelmente viajei pela minha infância e adolescência.
Nos tempos em que as provas vinham prontas da secretaria de educação, pois ninguém podia pensar diferente, vivíamos um mundo cheio de repressões e censuras, mas, à época, nada entendíamos daquilo. Cantávamos "Eu te amo meu Brasil, eu te amo / Meu coração é verde-amarelo e branco, azul-anil..." e nem sabíamos do que se tratava, apenas que era uma exaltação às belezas e ao amor que tínhamos por nossa pátria.
Nossas aventuras mais radicais eram umas corridas de patinete no grande corredor do Grupo, as brincadeiras de toca nas muretas de acesso à caixa d'água e nossas peladas de futebol no pequeno intervalo do recreio. Fora da escola alugávamos bicicletas, subíamos em árvores (o que me rendeu algumas sovas) e gostávamos de andar por sobre os muros da escola. Era muita adrenalina. Ainda tinha as disputas com bola de meia, barra-bandeira e bang-bang onde nenhuma arma entrava, a não ser a nossa fantasia. Pra completar, um banho na Barra ou no açude da cidade, onde cheguei a perder um colega que sentava ao meu lado aos 12 anos de idade.
O Grupo Escolar Manoel Vital foi palco de minha primeiras incursões pelo mundo da música, entre os 8 e nove anos, quando compusemos um 'conjunto', chamado pomposamente de "Os Superquentes". Usávamos uma faixa de cartolina na testa com o nome do conjunto e cantávamos, acompanhados de instrumentos improvisados e fabricados por nós mesmos, de "criança feliz" a "parabéns pra você"... Ê, vida boa! Tanto tempo faz... como diria João Nogueira na sua belíssima e triste canção Espelho.
Constatei estarrecido em Juazeirinho que a adrenalina de hoje é fornecida por corridas de moto (sem capacete) e alta velocidade, com hodômetro fotografado pra ser mostrado depois no orkut. Jovens de 14-15 anos se esbaldam na cerveja, pilotam suas motos livremente, dirigem os carros dos seus pais, não usam cinto de segurança e adoram essa mistura: álcool + velocidade + exposição pública, que visa a afirmação.
Numa dessas, cinco garotos viajam ao Junco do Seridó (que Paulo Diniz cantou em uma de suas canções - segundo consta - em homenagem a Gorete de João Galo), tomam umas cervejas, dão uns cavalos-de-pau no Junco, a Polícia Militar manda voltarem pra Juazeirinho (em vez de os segurar e chamar seus pais) e, na viagem de volta, três deles fizeram uma viagem sem volta.
Três vidas interrompidas e dentre elas a de Iuri, meu sobrinho. Um garotão de 1,80m, com 16 anos, que amava o Fluminense e o Palmeiras ao mesmo tempo. Mistura esquisita, mas era assim que era. Ah! Era louco pelo Campinense também!
Pois não tive coragem de ver aquela alegria e energia toda transformada em hematomas, traumatismos e um corpo gelado. Escolhi guardar sua memória enquanto energia pulsando. A dor do seu pai, de sua mãe, de tantos amigos e amigas, avó, tias, tios... é imensurável, mas uma pergunta fica gritando sem querer calar: o Código Brasileiro de Trânsito não tem validade nacional? Não! Em Juazeirinho não vale nada, nem pelo papel pra ser usado como embrulho em bodega.
Pior é saber (in loco) que na maioria das cidades interioranas que conheço ele é letra morta. Enquanto isso, tempos em tempos vidas vão sendo ceifadas pela ignorância, pelo absurdo, pela inoperância do Estado, pela complacência dos pais com seus adolescentes, pela incapacidade de nossas autoridades (inclusive as educacionais) em educar de verdade.
A vida, a vida mesmo, tá valendo bem pouquinho. Uma coisinha assim de nada, uma peinha de nada...
O que falo é saudosismo? Não! Falo mesmo é de dor e de educação. Quanta tristeza...

9 de setembro de 2009

NÃO SOU SENHOR NEM DE MIM

Noutro dia publiquei uma trova, escutada por mim em citação de Alfrânio Brito. Antes atribuída a Rogaciano Leite, o próprio Alfrânio, preocupado, me procurou pra fazer a correção.
A TROVA Não me chames de senhor que não sou tão velho assim, e ao teu lado, meu amor, não sou senhor... nem de mim! A autoria é de Rodrigues Crespo, de Belo Horizonte, Minas Gerais e está publicada no endereço abaixo: http://www.jgaraujo.com.br/trovadores/04_trovas_de_amor.htm Trata-se da página do poeta J.G. de Araújo Jorge e a trova obteve o primeiro lugar num concurso internacional realizado em Nova Friburgo, conforme imagens que você vê a seguir: Coleção “Trovadores Brasileiros” Organização de Luiz Otávio e J.G. de Araujo Jorge Editora Vecchi – 1959 Pra não perder a viagem, seguem outras que achei interessantes. Não te prendas mais à dor nem lembres quem te esqueceu pois quem quer morrer de amor vive do amor que morreu. (Walter Waeny Junior - Santos) Sei que não foge à verdade, você também pode crer; em amor, felicidade é dar mais que receber. (Nice Nascimento - Rio de Janeiro) Feito o registro!

7 de setembro de 2009

TATUAGEM

Passado um final de semana relativamente prolongado e vendo tanta gente com pouca roupa, percebi um detalhe que já me havia dado conta antes com alguns, hippies (eles ainda existem?),artistas e jogadores de futebol: a pessoas estão,a cada dia que passa, aderindo mais à tatuagem. Tenho amigas e amigos que fizeram suas tatuagens com símbolos, marcas, flores, borboletas, bruxas e nenhum que conheço ainda me mostrou frases ou fotos de filhos. Por estes dias vi tantas imagens de crianças tatuadas em braços, costas, pernas... que me veio uma idéia e uma pergunta: o que faz alguém querer tatuar a imagem de um filho no próprio corpo? Comigo aqui fico imaginando o quão redundante seria tatuar Taiguara e Vinícius em meus dois braços, por exemplo. Afinal, se eles são em parte a extensão do meu dna eu estou neles. Se eles são em parte a continuidade do que sou eu estou neles. Se eles absorveram um bocado do meu jeito de ser e fazer eu estou neles. No caminho contrário, deles não herdei nada, mas estão de tal modo tatuados em mim que estão em toda parte. Eles estão em todos os meus poros, estão em meus pensamentos e como eu poderia tatuá-los e meu cérebro? Eles estão dentro de mim e pela extensão de toda minha pele, portanto, não sobraria espaço se fosse tatuar em mim o que tenho em meu corpo de cada um deles e dos dois. Quero dizer com isso que acho um costume estranho tatuar imagens do filhos no próprio corpo. Respeito o gosto por fazê-lo, mas que acho estranho, isso eu acho e não posso deixar de dizê-lo. Os filhos não precisam de tatuagens para que demonstremos nosso amor por eles, não precisam de gravações em nosso corpo porque, de algum modo, estão lá gravados. Os filhos são um pouco do que somos, do que fomos e do que estamos ainda por ser. E nós? Afinal, não somos também o que eles são e o que eles fizeram de nós ao se tornarem filhos? Quanta maravilha reunida em tão pouca coisa. Se tiver de fazer uma tatuagem um dia, que seja de um símbolo qualquer que me interesse, menos de meus filhos quando meninos. Afinal, eles já estão aqui, tatuados em mim, em meu ser por inteiro.

31 de agosto de 2009

HINO NACIONAL

Longe se vai o tempo em que cantávamos o Hino Nacional brasileiro durante a semana da Pátria, todos os dias antes de entrarmos para as aulas do Grupo Escolar Manoel Vital e depois no Colégio Municipal Severino Marinhiro, ambos em Juazeirinho. Formados no pátio do colégio, hasteávamos a bandeira pela manhã e no final da tarde o seu descerramento eram cerimônias que tinham lá sua dose de chatice, quado se tem 9-10 anos de idade. Depois de um tempo, entoar o Hino Nacional Brasileiro passa a ser algo emocionante e, a depender do momento, faz mesmo chorar de emoção. Pessoalmente já experimentei a sensação de engasgo algumas vezes cantando o Hino em solenidades, porém dois momentos foram marcantes e eu segurei a onda direitinho. A primeira foi há uns 12 anos no antigo Clube das Acácias onde acontecia um congresso Estadual do PPS e lá estavam na mesa Hermano Nepomuceno, Roberto Freire e mais um punhado de gente importante da Paraíba. A cena: anunciam pra todo mundo ficar de pé. O CD não roda. Correm pra pegar uma fita cassete (pense num negócio que tem gente nova que não sabe nem o que é e pra que serve) e nada. Pergunto a Vitalziho que estava do meu lado: "se quiserem eu puxo na goela". Algém me perguntou se eu teria coragem. Não deu outra, me passaram o microfone e ficou tudo mais bonito que se fosse com a música pronta. Há um mês, presidindo a solenidade de Colação de Grau dos formandos do período 2009.2 da UEPB, por ordem da reitora Marlene Alves, me deparei com situação semelhante. Teve gente (a oposição de sempre) que até comentou que estava preparado pra dar errado e eu ser o 'puxador' oficial do Hino. A verdade é que por quase um minuto, por ordem da mestre de cerimônias Ana Santos, todos estavam de pé num Spazzio quase lotado e aquele corre-corre junto ao técnico de som. Haviam preparado um vídeo (que conheço) com o Hino Nacional cantado e dançado por muita gente, representando várias regiões brasileiras, da capoeira ao forró, da viola caipira ao fadango gaúcho. Parado no centro da mesa oficial, presidindo a solenidade, não pensei mais que duas vezes: comecei a cantar e todos foram entendendo que era pra cantar e em uníssono entoamos o Hino Nacional com bastante emoção. Fomos bastante aplaudidos, todos, e depois, nos bastidores, muita gente veio me cumprimentar pelo feito. Ainda hoje rende comentários quando encontro gente que estava lá. Na contramão disso tudo, a cantora Vanusa, contratada para cantar o Hino Nacional em evento na capital paulista, recriou a letra, recompôs a melodia e desafinou por completo. Pior é que mesmo lendo, não consguiu cantar o Hino até que o presidente dos trabalhos agradeceu e começaram a falar até que cortaram o som do microfone dela e foi encerrada a vergonhosa interpretação. Não posso siponibilizar aqui porque tiraram a opção de integrar em páginas e blogs, a pedido provavelmente da cantora. Entretanto, o vídeo está lá e vale a pena você assistir. Vale porque dá pra rir e pra chorar. É cômico e trágico ao mesmo tempo. Depois ela falou que estava sob efito de medicamentos. Na dúvida... mas que ela estava grogue é verdade, sob efeito de qual droga é que não dá pra ter certeza. Confira no link: http://www.youtube.com/watch?v=6w9MpztV4gk

30 de agosto de 2009

O SONHO, A UTOPIA E A ESTRADA

Em algum momento Cecília Meireles escreveu que "a vida só é possível reinventada". Servi-me deste mote para produzir um breve texto que apresentei em Guarabira há menos de um mês, na aula inaugural do período letivo no Centro de Humanidades da UEPB.
Pensando em reinvenção fico imaginando como estes temas estão presentes em nossas vidas: reinventar, renascer, retomar, recomeçar. Alguns filósofos contemporâneos começam a tratar do tema infância dando-lhe novo sentido. Algo próximo de como a 'nossa velha infância' foi tratada pelos chamados tribalistas em produção musical recente.
Penso em como estamos permanentemente revisitando a nossa infância, seja pelo simples acesso às memórias ou pelo fato de estarmos, de fato, começando, aprendendo algo novo, iniciando trilhar um caminho desconhecido, buscando recomeçar algo numa espécie de quase retorno ao ponto de partida.
Recorri a Eduardo Galeano, pois acredito que sua maneira poética de falar sobre a utopia nos remete a uma reflexão interessante que, a mim pelo menos, lembra permanentemente a poesia de Cecília Meireles.
Em debate há dois dias na capital, aproveitando um mote dado por um estudante, falei do sonho como mobilizador de nossas ações, para além da simples repetição de movimentos no cotidiano aparentemente maçante. Lembrei que saio de casa todos os dias mobilizado pelos sonhos que carrego e agarrado firmemente na utopia. Os sonhos, de certo modo, romantizam um pouco a vida e diminuem amiúde a crueza das batalhas. A utopia como algo vivenciado interiormente e como mola propulsora de ações éticas e sem ligação direta com a imediatidade dos resultados.
Penso em utopia como algo vivenciado por gente de carne e osso. Afinal, precisamos acreditar que nós somos a utopia possível e devemos lutar tenazmente para que a brutalidade do mundo não nos tire a capacidade de sonhar, sofrer, se emocionar, se indignar e de lutar pela mudança do mundo. Galeano dizia que nós "somos o que fazemos, principalmente o que fazemos para mudar o que somos." Sejamos nós os portadores da mudança.
Ele nos ensinou também, de forma figurativa e poética, mas extremamente rica o seu entendimento sobre a utopia. Por que não nos valermos dele também agora? Para ela "a utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar".
Caminhemos nós com a nossa utopia.

27 de agosto de 2009

AS LUAS E AS MUSAS

Pobres dos poetas se existissem duas luas. Tanto sentimento há pra dividir com o mundo e ainda mais a possibilidade de se dividir entre duas musas? Seria o cúmulo. prefiro uma lua só, assim como o poeta Alfrânio, que escreveu em seu comentário: "Eis a verdade dos fatos: Muito obrigado, Rangel! Querem violar o céu E aos vates impor maus tratos. Você desmente os boatos Que ora surgem nas ruas. De musa eu não quero duas, Maldigo os falsos profetas. Que seria dos poetas Se surgisse um par de luas?" Provocado, respondo: Se surgissem duas luas Seria ruim pros poetas Pois não há tantas diletas Uma há, mas nunca duas Musas podem estar nuas Protegidas nas alcovas Eu não preciso de provas Basta que tu o sustentes Pois tanto faz se crescentes, Minguantes, cheias ou novas. Tenho dito!

A MENTIRA DAS DUAS LUAS

APESAR DE TER DITO QUE ACREDITAVA NA QUASE IMPOSSIBILIDADE DE FICAR DESPERTO PRA VER O TAL FENÔMENO, DESCOBRI A TEMPO QUE O VERDADEIRO FENÔMENO É A CAPACIDADE DA REDE MUNDIAL DE COMPUTADORES PARA DISSEMINAR FOFOCAS, BOATOS, MENTIRAS, QUASE NUNCA COISAS DE FUTURO.

AINDA CHEGUEI A COMENTAR EM POSTAGEM ANTERIOR SOBRE O ASSUNTO. AGORA, PRA NÃO FICAR DEVENDO AOS (ÀS) LEITORES (AS), O DESMENTIDO...

É RISÍVEL!

"Não espere ver "duas Luas" no céu na noite desta quarta-feira (27). Ao contrário do que prega um e-mail falso que circula na internet, Marte estará bem longe da Terra e não vai rivalizar com o satélite pela supremacia do brilho no céu.

O boato pela rede é tão intenso que afetou o índice das notícias mais lidas da Folha Online, colocando uma notícia de 2003 na lista. De acordo com a mensagem, que circula em vários idiomas, Marte "parecerá tão grande quanto a Lua cheia". O e-mail afirma ainda que o planeta estará a cerca de 55,76 milhões de km da Terra.

"É uma notícia falsa e requentada. Na verdade, Marte está agora se afastando da Terra", afirma Roberto Boczko, professor doutor de astronomia do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP (Universidade de São Paulo)."

PRONTO!

FONTE: FOLHA ONLINE

DIA DO PSICÓLOGO

NÃO ME DOU MUITO BEM COM A IDÉIA DE FICAR REFERENCIANDO E HOMENAGEANDO PROFISSIONAIS EM SEU DIA. ENTRETANTO, HOJE É DIA DO PSICÓLOGO. Hoje é o dia do profissional que eu sou, dia dos meus colegas de profissão. Vale a pena o registro. Gostaria de me remeter a um profissional de psicologia que foi (e continua sendo) pra mim um verdadeiro mestre, um exemplo a ser seguido de seriedade, competência, ética e compromisso com a escolha feita. Tive a felicidade de encontrar, na reta final do meu curso de psicologia, lá por volta de 1986, um professor que me abriu e alargou horizontes, que me ensinou de fato o que era ser profissional, que pegou em minha mão e me orientou nos primeiros passos no exercício de tão bela e difícil atividade. Este professor, além de me abrir horizontes do conhecimento, da epistemologia da psicologia, da ética profissional, me abriu também a sua biblioteca e, posteriormente, sua vida, me permitindo ser seu amigo, coisa que muito prezo e tento honrar até hoje, apesar da distância e dos distanciamentos que a vida às vezes impõe. Falo de Israel do Nascimento Silva Filho, um pernambucano batalhador que foi adotado por Campina Grande e fez da cidade sua morada e o lugar de construção de sua vida profissional e pessoal. Pra mim, ele "é o cara"! Parabéns a todos os psicólogos e psicólogas e parabéns a Israel, meu mestre, guru e, pra minha felicidade, AMIGO, desde sempre!
Pra coroar o Dia do Psicólogo, dizem que hoje é o dia das 'duas luas' no céu. Não sei se vou ter tempo nem disposição para vê-las (a lua e marte, me parece), pois nem sei se a memória vai me ajudar pra que mais adiante eu conte pros meus netinhos ou, sei lá, se eles vão dar alguma atenção pro fato de eu ter sido um coincidente privilegiado por ter visto tal fenômeno.
MORAL DA HISTÓRIA: pr'eu sonhar, uma lua me basta!

21 de agosto de 2009

GLOSAS PARA MOTE DE SANTANNA

Recebi de Santanna, O Cantador, este mote com a provocação pra fazer uma glosa.

Segue o resultado, porque amanhã é sabado... mas hoje é dia de Bar do Brito. Afinal, como dizia Da. Neide, deixe isso (a sobriedade plena) pro sino, que é de ferro e a boca é pra baixo.

Fiquem com as glosas.

Foste embora e pra mim tudo morreu!

A viola nunca mais fez cantoria

Foi embora contigo o mundo meu

E o zabumba já não bate de alegria

A sanfona-coração não abre mais

O triângulo ficou mudo, lembra a paz

Que eu tinha te amando de verdade

No silêncio das noites do sertão.

IMAGINE O QUE OS OUVIDOS SENTIRÃO,

QUANDO OUVIREM O BARULHO DA SAUDADE.

Esta vela não tem som, e a fina chama

Ilumina vagamente a noite minha

Grilos cantam embaixo desta cama

Que já foi nossa humilde camarinha

A cantiga do riacho se acabou

O canário morreu, rádio pifou

E a tristeza invadiu toda cidade.

Teu fantasma me faz "buuu" na escuridão

IMAGINE O QUE OS OUVIDOS SENTIRÃO,

QUANDO OUVIREM O BARULHO DA SAUDADE.

O silêncio tomou conta desta casa

Nunca mais houve aquela algazarra

Ta difícil segurar a minha barra

Tudo é cinza onde foi ardente brasa.

Tua ausência tão dorida me arrasa

Morre um sonho de amor, felicidade

O teu lar é agora eternidade

O meu lar é eterna solidão

IMAGINE O QUE OS OUVIDOS SENTIRÃO,

QUANDO OUVIREM O BARULHO DA SAUDADE.