31 de agosto de 2010

CONFESSIONÁRIO - TROCANDO PENAS

Ando trocando penas ultimamente. A coluna vertebral se queixa. O joelho esquerdo reclama. Os olhos lastimam e choram, mesmo sendo a tela de pouca luz. Encurujado, feito passarinho que virou brinquedo de menino, sonho com colo e colchão aquecido em vez de ter que botar a cara todas as horas num papel digital em branco e ter que debulhar ideias, desentortar reminiscências e olhar para manifestações juvenis com olhos de curioso, de estrangeiro, de alienígena. Ando feito água parada, mais para açude sem chuva nova que riacho em movimento, mais para remanso que mar revolto, praia deserta. Há dias que não me faço noite por inteiro e noites que se vão aos meus olhos como orvalho escorrendo por entre os dedos. Poeira no deserto, sol de dezembro no sertão paraibano, secura do ar em Brasília. Não ando fazendo falta a não ser a mim que não consigo saber ao certo onde estou, mesmo tendo a certeza de pra onde quero ir, onde quero chegar e com quem. A vida e seus labirintos, sem minotauros. Estou rodeado de uma multidão mesmo quando estou só. E não são fantasmas sorumbáticos em altas horas. Já passei desta fase. É dia claro! Luz! Luz! Por favor... fechem as cortinas!

13 de agosto de 2010

SEXTA-FEIRA

Foi proposital a omissão quanto ao número, a data de hoje, dizem que dá má sorte. Não falo az... (aquela palavra... você sabe!) porque o recomendável é não usar o nome, entende? Sei não, mas na dúvida é melhor não confiar muito. Se eu sair de roupa branca dizem que que é melhor, que evita atrair energias negativas e protege, por exemplo, de urucubacas, macumbas, catimbós, quizilas más e essas coisas do gênero. Pena que não crio coelhos em vez de galinhas, pois um deles poderia ficar perneta hoje. Uma  atroz inquietação filosófica me assalta: Será que quando empalham o pé-de-coelho para botar em chaveiros estão sendo honestos e botando mesmo "o pé" ou "a mão"? E será que faz o mesmo efeito sendo um ou o outro? Já em relação a ferradura, aqui em Campina Grande, no meio do Serra da Borborema, os cavalos, burros, jericos, jegues e assemelhados não têm esse hábito saudável, pois trotam em seu potoqueado de cascos desprotegidos por sobre o asfalto. Talvez seja exatamente essa a razão de sua pouca sorte. E da minha, quem sabe. Quase todos os dias um deles caga em minha porta. Não entendo como é que um vegetariano típico consegue produzir material reciclado tão mal cheiroso. Por tabela, perfumam minha casa e o universo ao seu redor. Mas sou um cara de sorte: quando não é um burro, uma égua, vem um cachorro desses que andam pelas calçadas puxados por um sujeitão marombado (era assim que chamávamos lá em Juazeirinho nos tempos de antigamente) e elege exatamente a minha calçada. Todavia, tenho mais sorte ainda quando ele não deixa seus rastros fecais exatamente no lugar por onde passam as rodas do carro na saída da garagem. Pobre cão e seu dono finamente educado. Voltando ao tema, acho que sou um cara de sorte, por isso não preciso seguir esses roteiros esotéricos todos para que o dia de hoje não seja nada mais que mais um dia tão normal quanto os demais. Afinal, há um mês eu estava num cruzamento, inocentemente parado, esperando aliviar o movimento dos carros para atravessar na minha vez, uma motorista fez uma lambança, um outro tentou desviar dela, fez uma frenagem radical e lá vem o seu carro pra cima de mim.... CRASH! Fosse uma sexta-feira que nem a de hoje... Quer dizer, ainda não fui à calçada olhar como estão as coisas. Desde cedinho que estudo e escrevo e respondo mensagens eletrônicas e faço alongamentos e bebo água e agora, creio, que minha fome já provoca certos devaneios que me obrigam a correr pra cozinha em busca de algo pra mitigá-la. Fosse sexta-feira 'raposa' até que eu escreveria lá em cima no título, mas com esse número, aqui em Campina, acho melhor eu parar de falar nesse assunto. Bom final de semana, pois tudo de bom ainda pode lhe acontecer. Acredite! Se não ajudar, atrapalhar é que não vai.

11 de agosto de 2010

ESCOVANDO SENTIMENTOS

Ando escovando sentimentos a contrapelo. Cicatrizes haverão de deixar suas protuberâncias, ou mesmo reentrâncias de quando profundo for o corte. Ando arrepiando o sangue vez por outra porque certa neblina ou cerração se atravessa no caminho, mesmo quando refaço outra estrada, sendo esta mais longa. Ando querendo descobrir o que tem por baixo dessa epiderme e, confesso, até já senti os músculos pulsando como se dissecados fossem, pois é disso que sou feito, por enquanto. Por enquanto... Depois virão as cinzas. Mas isto 'inda demora. Sei lá!

8 de agosto de 2010

O ARQUEIRO, O ARCO, A FLECHA E A VIDA

Meu dia dos pais começou cedo. Zero hora de hoje estava com Taiguara, minha primeira razão de ser pai, comemorando e bebemorando no Bar do Brito. Aliás, o grande dia de lançamento do livro de "Histórias vividas e contadas no Bar do Brito", do qual tive a honra de participar.

Na minha adolescência li de tudo. De bolsilivros de faroeste, CIA, FBI e tantos outros de 128 páginas a clássicos da literatura brasileira e do mundo afora, em prosa e poesia. Li também Neimar de Barros, João Mohana, Kalil Gibran, e já na segunda parte pro final da adolescência, Krishnamurti, Herman Hesse, Rajneesh e tantos outros nesta linha, nas minhas buscas de entender certas coisas da subjetividade humana, ao menos da minha.

De Gibran há um passagem n'O Profeta que considero muito interessante e deixo aqui hoje como registro de minhas breves mas intensas "viagens espirituais".


"Vossos filhos não são vossos filhos.
São os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma.
Vêm através de vós, mas não de vós.
E embora vivam convosco, não vos pertencem.
Podeis outorgar-lhes vosso amor, mas não vossos pensamentos,
Porque eles têm seus próprios pensamentos.
Podeis abrigar seus corpos, mas não suas almas;
Pois suas almas moram na mansão do amanhã,
Que vós não podeis visitar nem mesmo em sonho.
Podeis esforçar-vos por ser como eles, mas não procureis fazê-los como vós,
Porque a vida não anda para trás e não se demora com os dias passados.
Vós sois os arcos dos quais vossos filhos são arremessados como flechas vivas.
O arqueiro mira o alvo na senda do infinito e vos estica com toda a sua força
Para que suas flechas se projetem rápidas e para longe.
Que vosso encurvamento na mão do arqueiro seja vossa alegria:
Pois assim como ele ama a flecha que voa,
Ama também o arco que permanece estável."