26 de novembro de 2006

GLÓRIA TRICOLOR

Que me perdõe o filósofo Biu Gomes, meu pensador preferido, mas gostei de ver o tricolor crescer pra cima da "cobrinha coral". Cobrinha aqui não é pejorativo não, até porque nutro um simpatia grande pelo Santa Cruz.

Entretanto, torcer contra o Fluminense aí já era pedir demais.

Voamos baixinho, pertinho do chão pro 'Mundão do Arruda' e deu tempo de ainda ver o tricolor entrar em campo. Mesmo com um time medíocre (e um futebol idem) ainda conseguiu fazer dois a um. Se Evandro, Tuta e Alex não tivessem perdido três gols incríveis a história descambava pra goleada.

Salvou-se o pó-de-arroz do rebaixamento e fez-se a alegria da torcida numerosa e, ao menos na arquibancada, maior que a do time da casa.

Ver de perto o clube do coração, vibrar com os gols do Goiás (contra a Ponte Preta) e ainda 'empurrar' o time no grito todo o tempo valeu-me uma rouquidão que deve durar uns dois ou três dias. Reclamar, eu? Meu time ganhou! Finalmente!

Como disse Gonzaguinha "(...) hoje eu só quero saber da comemoração / e nem quero pensar / se meu time não fosse campeão / - sorrindo ele me segredou: / - nós faria uma revolução."

A empáfia do título nega o texto, mas com paixão é assim. Comemoramos o fato de sermos um time 'de primeira'. Ufa! Por pouco!

24 de novembro de 2006

GENTILEZA

Depois de um tempo vivendo e prestando atenção às coisas e pessoas a gente aprende algumas noções fundamentais praquilo que dizem ser e viver melhor. Uns mais cedo, outros nem tanto. Diria que ainda em tenra idade aprendi que sabedoria não rima com arrogância; que conhecimento verdadeiro não convive com autoritarismo. As pessoas com maior bagagem de conhecimento que conheci até hoje, as que unem informação com capacidade de transmitir ensinamentos pelo exemplo, as que trazem consigo aquilo que alguns chamam Sabedoria, todas, inevitavelmente traziam agregada a si a marca da humildade. Com o tempo descobri também algumas expressões quase mágicas como 'por favor', 'muito obrigado' e 'desculpe-me'. Essas sim, me ensinaram que é sempre possível abrir pesadas portas, extrair sorrisos simpáticos de faces tensas e mesmo conter acessos de ira nascente em corações magoados. Descobri a enorme satisfação de parar o carro antes da faixa de pedestres e receber sorrisos maravilhosos de agradecimento por ter feito quase nada, apenas contido um pouco a ansiedade de chegar nalgum lugar. Descobri o quanto é possível dar ordens, comandar ações, determinar atitudes dizendo a um subordinado hierárquico, 'por favor, faça tal coisa pra mim'. Ele sabe que está recebendo uma ordem, mas o 'por favor' colocado naturalmente antes tem um poder incrível de desarmar espíritos e até diminuir níveis de mau humor. Aprendi que a expressão 'muito obrigado', muitas vezes dita apenas por formalidade, tem uma força incrível quando verdadeira, olho no olho, sinceramente dita. Nessas idas e vindas da vida, aprendi que a força quase indescritível do perdão. Não da expressão 'perdoe-me' ou 'desculpe-me'. Falo do perdão mesmo. Aquele que você consegue dar com tranqüilidade a um sujeito que se acha o dono da rua e das leis e lhe fecha no trânsito crente que está certo e ainda rosna um palavrão. O perdão, e nem sei até que ponto isso vem de minha formação cristã, tem a força impressionante de fazer o bem muito mais a quem dá do que a quem recebe. Mas é muito gostoso sentir o alívio de não existir raiva dentro da gente. A ira entorpece e estraga o humor. Acho até mesmo que abaixa o tesão. Tenho descoberto algumas coisas ultimamente e isso me tem feito um bem enorme. Uma delas foi não brigar comigo mesmo. Começo a sentir uma paz enorme em aceitar-me como sou e, sendo assim, desse jeito, não bastar-me a mim mesmo, mas ser feliz assim. A gentileza não faz mal a ninguém. Como o presente dado, creio fazer quantidade de bem maior a quem dá do que a quem recebe. A lua minguante nos céus da Borborema, a exuberância primaveral dos Ipês, a brincadeira de Vinícius no seu sorrisão desprovido de malícia, encostando a cara no vidro, ainda sem dizer uma palavra são, pra mim, a prova de que existem mais detalhes pra serem observados na vida que aquilo que a gente simplesmente vê "a olho nu". A lente pra ver mais e melhor está dentro da gente. Certamente o Dr. Sabino, meu oftalmologista preferido, concordará comigo!

22 de novembro de 2006

"TE REGALO UNA ROSA"

"Te regalo una rosa / la encontré en el camino

no sé si esta desnuda / o tiene un solo vestido (...)

Mi amor, eres la rosa que me da calor / eres el sueño de mi soledad,

un letargo de azul, un eclipse de mar..."

A canção de J. L. Guerra é por demais conhecida e como tantas outras do cancioneiro popular, destacam a rosa como simbolo da formosura, além do perfume, claro.

A rosa também é uma imagem recorrente quando se quer lembrar que na vida as coisas boas também têm seu lado dolorido, seus espinhos.

Pois então? E não é assim com quase tudo? A vida bem poderia ser um 'mar de margaridas', boninas, tantas outras flores, mas alguém inventou logo cedo de cunhar a frase "a vida não é um mar de rosas". Agora não tem mais jeito.

Diz a sabedoria popular que quando você não tiver nada pra dizer permaneça em silêncio.

Entretanto, gostaria hoje, sem ter o que dizer, vitimado por uma espécie de quase completa prostração intelectual... e mesmo afetiva (aquilo que no passado chamavam banzo), deixar pros meus visitantes uma ou duas rosas-meninas de presente.

Não têm utilidade aparente, mas podem alegrar o dia de alguém. Com uma clara vantagem sobre as rosas originais, essas não espinharão os que as tocarem.

Na falta de um ipê-roxo ou amarelo, transformado em plenitude floral na primavera campinense, de um buquê de flores silvestres, lírios, jasmins... duas rosinhas singelas pra enfeitarem o seu dia.

Plantei dois desses ipês num jardim imaginário, um rôxo e outro amarelo. Ano que vem eles me darão milhares de flores ou, na verdade, se transformarão em flores, pois com minha imaginação também acelero sua maturidade.

Caro amigo! Querida amiga! Precisamos olhar mais e tocar mais as flores. Por enquanto, como dizia Juan Luis Guerra, "te regalo una rosa".

Somente isso e minha vontade imensa de deitar numa rede que gostaria de também dividir com você.

P.S. O pé de rosa-menina vive muito bem na casa do "Tio Nato" em Alagoa Grande.

18 de novembro de 2006

UM SUJEITO AFORTUNADO

Não tenho os créditos da foto. O sinistro aconteceu na BR 324, em Feira de Santana (BA). Qualquer pessoa há de se perguntar se o sujeito dono deste carro achou que teve prejuízo ou lucro. Você acha o quê? Pode parecer com aquela velha história da "Lei de Murphy", se existe uma possibilidade de dar errado, prepare-se, pois vai dar errado. Sei não, mas acho que isso é o alimento dos pessimistas. O cara pode raciocinar de duas formas: 1) como sou azarado! Perdi meu carro! 2) Que sorte! Que maravilha! Tô vivo! Escapei fedendo! (Essa é de Juazeirinho!). Eu, quando menino, tinha uma mania esquisita de desafiar alguns tabus e o azar. Diziam que se a gente revirasse a pálpebra superior dos olhos e, naquele instante, o galo cantasse ficaria daquele jeito pra sempre. Pois não é que eu fazia e ficava ali, esperando... pra ver ser o galo cantava e o que aconteceria. A esta altura não lembro mais se o galo cantou alguma vez, coincidindo com aquela bizarrice. Outra coisa desafiante era passar por baixo de escadas na rua. Encontrar um gato preto e ficar torcendo pr'ele cruzar pela frente... nunca entendi bem porque fazia aquilo, mas era muito engraçado. Psicólogos, psicanalistas talvez ajudem-me a entender. Afinal, há um adágio antigo que diz que quem cospe pra cima tem grande chance de levar na cara. Depois de um tempo, ao menos pro tabu da escada encontrei explicação. Se ela escorregar na hora em que você vai passando... ai! Tive sorte até hoje e depois de um tempo larguei de fazer esses desafios. Hoje, quando vi a foto, enviada por meu irmão Gilberto, pensei comigo mesmo: sou um cara muito afortunado! Quantas vezes não escapei (simbolicamente)como o cara do carro? Fechei os 44 esta semana e perdi a conta de apertos de mão, abraços, sorrisos, votos, telefonemas, presentes antecipados e atrasados... muitos de amigos de perto e de longe. Algo me inquietou profundamente e me fez mudar um conceito. Sempre achei que presente é pra fazer a felicidade de quem o dá. A alegria de dar presentes deve ser sempre maior que a de receber. Fico todo sem graça ao receber um presente (os amigos já conhecem e não sei se é um defeito), quando deveria demonstrar contentamento. Mas, o bom mesmo é dar presentes. Agora tenho pensado em inverter a lógica. Penso que no nosso aniversário deveríamos comprar um montão de presentes pra dar. Se isso não fosse possível, uns cartões, uns telefonemas, uns emails, uns scraps uma série de visitas... a todos os nossos amigos. Você chegar no dia do seu aniversário e nunca mais o amigo passar aquele 'aperto' de arrumar uma desculpa pro esquecimento. Você liga logo cedo e diz: "valeu, cara! Hoje é meu aniversário e estou ligando pra lhe agradecer por ser meu amigo, por me dar este fantástico presente." Imagine você chegar prum amigo que não vê há um bom tempo, levar-lhe um mimo, um regalo e dizer: "hoje é meu aniversário e lembrei de você, amigo! Vim aqui só pra dizer que, mesmo distante, mesmo sem nos vermos ou nos falarmos durante tanto tempo, você continua meu amigo. Por isso vim lhe dar um presentinho, pra que você saiba o quanto agradeço por você existir e me presentear com sua amizade." A vida em si é um presente. Aliás, é o presente. Ter amigos que fazem com que nos sintamos importantes, gostados, amados, aí já é presente borbulhando como champanhe em fina taça. Acho que, como o cara do carro azul da foto, sou um sujeito extremamente afortunado.

16 de novembro de 2006

NO FUNDO DOS OLHOS

Por favor, não diga que são olhos de ressaca. Essas pequenas bolsas, ou são hereditárias, ou são resultado da vigília maior que o repouso. Com a devida vênia, a boêmia tem um pouquinho de participação também, mas minoritária.
Sentado, quieto estava, quieto fiquei. Meus olhos foram penetrados por uma luz que, mesmo sabendo de onde vinha, assustou levemente. É assim que acontece, mas nem sempre. Às vezes tudo é muito superficial já me disseram amigos mais experimentados.
Nunca meus olhos foram olhados com tamanha curiosidade e penetração. Ângulos diferentes, comandos os mais variados, algumas perguntas breves, secas, quase monossilábicas a que eu respondia tentando uma formulação mais sofisticada, mas percebi pela situação que o ideal seria oferecer também respostas no mesmo padrão.
Aos poucos fui relaxando e um sutil contentamento foi tomando conta de mim. Já havia experimentado sensações parecidas antes, mas no dia em que se está completando 44 novembros é muito diferente. Lacrimejei um pouco, foi-me oferecido um suave lenço, enxuguei as lágrimas e deixei prosseguir aquela espécie de prospecção por um terreno até então só investigado por outros interesses mais sutis.
Antigamente tinha gente que dizia que eu possuía olhos cor-de-mel e, apesar de ficar lisonjeado com o sutil conceito e um certo conteúdo poético daí, sei que na prática eles eram furta-cor. Todo mundo tinha olhos de uma cor e o meu, ah, o meu mudava (e ainda muda) de cor conforme certas circunstâncias climáticas e biopsíquicas minhas. É assim! Por santo nenhum, porém juro!
Mas, deixa pra lá esse detalhe. O importante é como me senti depois de um tempo e o Dr. Sabino Rolim, craque da oftalmologia, companheiro dileto de algumas esparsas degustações cachaçais, regadas a um papo endless, amante da boa música e abraços sorridentes da vida me diz no final: você está muito bem! Não vai usar óculos, se não quiser. Ao menos por enquanto não! Vamos marcar a pequena cirurgia, também se você quiser fazer agora. Eu quero pra tirar o ardor e aquela imagem de "olhos-de-fogo", de quem já chega na festa de "cabeça feita".
Feliz pela garantia estendida dos meus olhos, fiquei todo ancho com aquilo que soou pra mim com um dos melhores elogios que recebi até os 44 (tirando aquele dos "olhos cor-de-mel", claro).
Agora é comemorar e preparar pra tentar chegar aos 45, se não com olhos de lince, ao menos com olhos de caçador. No meu caso, caçador de mim, que é o que mais tenho sido nos últimos anos. Quem me conhece bem o sabe!

14 de novembro de 2006

UM CASARÃO RODEADO DE JANELAS

Ontem vi no roda-viva uma entrevista da escritora norteamericana Laura Kipnis falando de um livro seu que ficou famoso sobre uma suposta morte do amor no seu formato mais conhecido, intitulado "Contra o Amor". Ela argumenta que "o amor é uma invenção moderna, não traz toda a felicidade que promete, cria ansiedade e provoca estresse e depressão." A escritora questiona o fato da sociedade "continuar idealizando relacionamentos duradouros e monogâmicos, quando a realidade mostra que isso é cada vez menos possível". Seria uma espéecie de decretação da infalivel arapuca em que se meteram o seres humanos com a fórmula do amor romântico nos moldes que temos conhecido. Falava dos norteamericanos, mas o livro vem rodando o mundo e sendo lido e bem vendido. Fiquei matutando se não deveria escrever um livro desses. Há alguns anos até escrevi uma sinopse do que seria tal livro e tenho guardado, mas isso é empreendimento de fôlego e não sou gato. Eu, hein? Pense num assunto onde quem mais fala parece ser porque não compreende de jeito algum e está tentando dizer. Aqui talvez seja o caso. Uma foto tirada há poucos dias do interior de uma casa me deu um mote. Busco uma imagem que me ajude a entender o amor. Não o amor em geral, mas o amor romântico, ou romantizado, erotizado e culturalmente adotado e praticado por boa parte de nós, seres humanos brasileiros. Falo brasileiros por serem os que conheço um pouquinho. Imaginei um casarão sem nenhuma porta, mas repleto de janelas. Janelas como essa, donde se pode divisar o mundo de ângulos completamente diferentes e até inusitados, de onde se pode respirar, sonhar o mundo de dentro e de fora. Esta janela poderia ser de qualquer cidade e qualquer casarão. Daqui vejo uma arvore perto, uma rua calçada, um muro, arvores outras, casinhas ao longe e bem longe formações rochosas, serras se entrecruzando... depois o azul, o infinito. O infinito eu não vejo necessariamente, mas imagino. Penso assim o amor. Esse amor de que falo. Duas pessoas escolhem o casarão, mandam vedar as portas e ficam lá dentro com suas enormes janelas abertas pro mundo. Um dia, por acaso, os dois não estão juntos na janela, até e porque estar sempre juntos estraga o amor, e um, mesmo adorando o casarão e a vida dentro, vê coisas acontecendo lá fora, movimento, vida pulsando diferente e sua respiração muda de ritmo. Pensa numa porta, mas porta não existe. E agora, José?, como diria Drummond! Quer morrer no mar, mas o mar secou. Tranca as janelas e volta pra dentro do casarão. Um breu sem tamanho toma conta do dia. Fica ali, em estado de quietude quase total. Numa espécie de quase-catatonia, olha ao seu redor e descobre que o mundo não há de compreender o amor a não ser por metáforas. Com efeito, talvez somente os poetas possam nos revelar algumas verdades, mesmo fugazes. Os poetas e o tempo. O tempo! Salvem-nos os poetas! E os lunáticos! Tenho dito!

13 de novembro de 2006

IMAGEM DA DESTRUIçÃO

PROMETI E ESTOU PAGANDO; EIS O DESASTRE PROVOCADO PELAS FORMIGAS NA MINHA ACEROLA. Tem um monte de coisas pra postar, mas acho que precisam maturar. Hoje ainda, quem sabe... Por equanto, a foto que prometi. Tenho boas novas. Bastante cuidado, carinho e regas e alguns olhinhos ja começaram a brotar. A vida se renova.

12 de novembro de 2006

BRASIL: PRESIDENTE COMUNISTA!

Estou devendo uma foto da minha acerola "comida" pelas formigas roçadeiras, mas antes disso não resisti e resolvi publicar parte da matéria do G1, o portal da gobo que pretende ser o centro das notícias do mundo, sobre o fato de um comunista assumir por 24 horas a presidência do Brasil. Aldo, Presidente! Taí, uma boa campanha! O preconceito, a desinformação e o ranço anticomunista revelados na forma quase jocosa de apresentar a informação é reveladora do conteúdo de classe com que a chamada 'grande imprensa' trata a notícia no Brasil. Veja você mesmo. Os negritos e comentários entre parênteses são por minha conta. É hilário! Vale a pena ler! "Um dos últimos partidos stalinistas do planeta, o PC do B chega à Presidência do Brasil 17 anos depois da queda do Muro de Berlim, que marcou simbolicamente o fim do chamado "socialismo real" no dia 9 de novembro de 1989. Deputado desde 1991, Rebelo elegeu-se graças ao apoio de Lula (detalhe: Aldo já é deputado federal há pelo menos umas quatro legislaturas, por que só agora elegeu-se "com o apoio de Lula"?) e ao diálogo que sempre soube manter com outros políticos, inclusive conservadores (quanta sutileza!), mesmo atuando debaixo do "centralismo democrático" (aspas no original), a rigorosa disciplina partidária do PC do B. (num país de partidos tão frágeis isso é um elogio do car...!) O primeiro presidente comunista do Brasil é jornalista por formação e foi presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), então uma entidade clandestina. Torcedor do Palmeiras, futebol e história são suas paixões. No gabinete pessoal, Rebelo tem retratos dos comunistas Vladimir Lenin, Josef Stalin e Mao Tse-tung. Para a sala de presidente da Câmara, levou bustos de outros ídolos políticos: Simon Bolívar e Abraham Lincoln." (OBS: Estes 'detalhes' são extremamente relevantes para o leitor assimilar a informação. Esse é o 'padrão' globo de competência.)

8 de novembro de 2006

FORMIGAS... ESTOU COM RAIVA DELAS!

Definitivamente... estou com raiva das formigas. Elas existem aos milhões, já foram estrela de cinema, mas fazem questão de nos lembrar sempre de sua existência. Só no Brasil as denominações para suas variedades devem somar algumas dezenas ou bem mais. Alguns dizem até que formigas e ervas daninhas são como a consciência, aqui ou ali somem um pouco, mas depois voltam sempre. Ocupam o seu lugar pra nos dizerem, estou aqui! Eu bem que não deveria reclamar pelo tanto que me fartei de tanajuras nos tempos de menino. "Cai, cai, tanajura / que é tempo de gordura...!" Alguém aí já cantou esse pregão popular? Não entendia muito bem a relação da chegada das tanajuras com a meteorologia e as estações do ano. Em Juazeirinho esses assuntos de outono, primavera, verão e inverno não passavam de fantasia literária e formalidade dos livros de geografia, pois ali só existiam duas estações: quando chovia e quando estava seco. Pronto! Simples assim! Entretanto, numa determinada época do ano, me parece que logo depois das primeiras chuvas, alguém dava o sinal, "chegou a tanajura!", e era aquele corre-corre. Meninos com latinhas na mão, outros pegando as coitadinhas, retirando a parte que interessava, a bunda, e comendo logo, outros juntando em saquinhos pra levar pra casa. E os cururus fazendo sua festa. Pareciam que iriam estourar. Segundo o amigo Eduardo, doutor em entomologia, aquela parte a que chamamos bunda (e não poderia ter outro nome melhor) é uma fortuna em proteínas. Era uma festa! Tinha meninos, inclusive, que comiam a tanajura inteira, retirando somente a cabeça com os ferrões. Se fosse frita na manteiga, espalhada numa farofa, até que dava pra descer com tudo, mas crua era barra. Tinha que ser muito destemido ou ter estômago de tamanduá. Alguns o faziam com a maior naturalidade. Eu, hein! Somente sei que fazíamos uma farra danada. Tudo bem, mas desde esse tempo e ele passado, nunca morri de amores por formigas. Até mesmo porque quando no meio de uma brincadeira num monturo qualquer ou mesmo numa caçada, dávamos de cara com um formigueiro da famosa formiga-preta (uma miudinha) o desmantelo era grande. Aquilo é coisa de louco. Na vida do citadino tornou-se algo comum a convivência com formigas. Elas estão por toda parte. Há as galeguinhas miúdas que adoram de açúcar a biscoitos e até mesmo (pasmem!) água e outras pretas que têm ferrão rápido e uma peçonha especialmente dolorosa. Existem também umas formigas comuns amareladas que estão em toda parte, mas não fedem nem cheiram, não incomodam muito. Tem também aquelas de asas que aparecem quando chove e outras amarelas graúdas, açucareiras, que vez por outra resolvem alugar um aparelho eletro-eletrônico e fazer dele sua morada até que o dono descubra o prejuízo. Meu conflito com as formigas não passou por nada disso. Depois de quatro dias fora de casa, chego no domingo à noite e sou chamado às pressas pr’uma inspeção, pois um grave problema havia ocorrido. Meu pé de acerola, ainda brotinho de uns 8O cm, foi vítima das roçadeiras. As famosas formigas-de-roça, fizeram a festa na minha ausência e quando cheguei ainda concluíam sua obra. Haviam comido noventa por cento das folhinhas mais tenras e cuidadosamente tratadas. Foram no topo, deixaram as folhas velhas e garantiram sua nutrição por um bom período com aquilo de mais pujante e renovador que existia na aceroleira. Quando vi o desastre elas ainda viajavam em filas confusas carregando o resultado de sua labuta e meu desgosto pro escuro dos seus formigueiros. Tudo bem, elas fizeram a sua parte, mas tinha que ser logo aqui? Logo com meu pé de acerola? Dona Neide me presenteou e há uns bons meses venho cuidando carinhosamente pra um mói de formigas chegarem assim, donas do ‘pedaço’ e mandarem ver na minha plantinha. Ah, não! A guerra foi declarada. Pisamos na fila de formigas, elas correram desesperadas, umas fugiram largando suas cargas, outras morreram ali mesmo sob nossos sapatos cansados de viagem, mas lutamos bravamente pra proteger nosso futuro arbusto, que bem poderá nos fornecer alguns dos melhores acompanhamentos pr’umas boas doses de cachaça com alguns amigos. Tudo bem e você pode até dizer que as formigas são importantes pro equilíbrio ecológico, que eu não deveria ter trucidado as bichinhas, que elas estavam no seu papel... ao que eu replico imediatamente: mas tinham que fazer o seu papel logo com minha acerolazinha? Definitivamente, acho que as formigas têm lá a sua importância no ecossistema, sua parte na cadeia e lugar no equilíbrio da natureza. Mas, dá licença, elas que vão comer a acerola de quem quiser. Elas que procurem... afinal, mato tem em todo canto, inclusive umas belas carrapateiras num monturo de cinco lotes rodeando minha casa. Por que escolher logo a minha? Não me conformo e pronto! Tenho dito!

DESPERTO NO FIM DA MADRUGADA

Desperto no fim da madrugada E procuro divisar o firmamento Por uma greta na janela Como um nostálgico contador de estrelas. O lusco-fusco anuncia a aurora E não há tempo para brincar de poesia. O cheiro do café que vem de outra casa E alguns motores que rugem Avisam-me que a vida urge E não há tempo pra sonhar de novo. Tento emendar o sono E colar pedaços do mesmo sonho, Como se um ‘durex’ imaginário pudesse Fazer continuar a fantasia trincada. Agora a água fria sobre a cabeça Informa que a roda-viva engrenou Como num moto-contínuo E este aprendiz da vida é apenas um dos dentes.

6 de novembro de 2006

NÃO HÁ BOM SEM DEFEITO

O amigo me encontra depois de varios anos, eu devidamente paramentado com as cores do pavilhão tricolor, e me cumprimenta efusivamente. De fato, a amizade é antiga, dos tempos áureos do movimento estudantil onde partilhávamos bandeiras. Mulher e sogra o acompanhando no bar à beira mar, juntamente com o filho de uns 12 anos, ele faz a festa do reencontro, fala dos velhos tempos, da politica, de nossas opções historicas e, batendo em meu peito, bem do lado esquerdo, alfineta na saida: «não há bom sem defeito». Na verdade meu amigo batia na minha camisa sobre o escudo do fluminense, o tricolor carioca, o glorioso pó-de-arroz. E eu me fazendo de desentendido respondi que o que era defeito pra uns poderia ser virtude para outros. Fiquei matutando depois sobre essa breve prosa futebolística de contrornos morais. Logo eu que sou casado com uma flamenguista, peguei a imaginar o que seria de mim se uma apaixonada tricolor tivesse por acaso pousado em meu ninho, vibrando, sofrendo e curtindo a paixão pelo mesmo time numa aventura sem fim. Um verdadeira epopéia tricolor a dois sem medidas. Êita desmantelo! Paixão é assim, não tem razão, não carece explicação, apenas existe e se manifesta. Preferencialmente, da maneira mais estapafúrdia possível. Talvez por isso alguns apaixonados jogam pétalas de rosas de helicópteros sobre as casas de suas paixões feminis, picham muros com o nome de suas musas, põem música nas difusoras de parques de diversão – 'de um alguém para outro alguém' -, escrevem poemas, tornam-se inteligentemente bobos. Pois pra mim encontra-se nesse nivel a paixão pelo futebol. Afinal, como explicar o fato de torcer por um time que tem como mascote um urubu? Ou por outro que traz no nome a história de um tabu, do preconceito, da superstição que envolve os números e o azar? Não se explica. Não tente, por favor, amigo ou amiga que me lê, explicar racionalmente suas paixões. Em qualquer que seja o terreno humano. Afinal, paixões são invenção humana. Use seu precioso tempo com exercicios intelectuais mais requintados. Sobre a preferência apaixonada pela combinação verde-branco-grená posso apenas dizer que não escolhi, pois nasci tricolor. Meu pai o era. Meus irmãos todos o são. Todos os meus sobrinhos idem. Meus dois filhos tambem trazem essa marca indelével. Há quem arrsique dizer que é genético, mas eu, por não entender muito do assunto, fico apenas com minha paixão. Você pode até duvidar sobre Vinícius, que tem pouco mais de um ano de vida, mas sou capaz de jurar por tudo que de mais sagrado (lá vou eu por um terreno pantanoso) que mostrei a ele várias camisas, de cores diferentes, uma totalmente branca, outra mais ou menos branca (ou seria marfim?), outra esverdeada, uma outra misturada de vermelho com amarelo, mas confesso que percebi uma espécie de sorriso de cumplicidade quando mostrei-lhe o pavilhão tricolor. Juro que ele esboçou uma reação diferente, uma especie de contração facial parecida com alegria. Explico: Camilla, barriga dilatada com aquele mundão de vida dentro, por mais flamenguista que seja, sabendo da importância que tal escolha teria na vida do seu futuro rebento, escolheu por própria conta e risco e acertou comigo de bordar uma camisetinha branca com um belo escudo e a inscrição: Sou - tricolor – Vinícius! Se a sua cria não pôde vestir a indumentária no hospital é uma outra história, mas você não é capaz de acreditar que ele fez um arzinho de riso quando lhe mostrei a camisa tricolor. Ah, fez sim! Não duvide, caro interlocutor, por favor, de minha honestidade paterna! Sinceramente, você não é capaz de imaginar a cara de satisfação do meu cotoquinho de gente quando pus a camisa por sobre seu bercinho de maternidade todas as vezes que a enfermeira o trazia pro apartamento pra ser amamentado e ficar um pouco por perto. Imagine a alegria: a mãe, peito de flamenguista, mas leite tricolor! Comida tricolor, sentimento tricolor, uma nova paixão tricolor! Fico a imaginar como deu-se a transmissão genética da paixão tricolor do velho Tonito pros seus filhos todos! Como foi eu não sei, porém, tenho provas que foi assim que aconteceu, como dizia João Grilo, «só sei que foi assim». Por conta da provocação do meu amigo fico me perguntando, como de fato pode tanta gente viver um mundo de paixão pelo futebol e especialmente por determinado cordão? Uns podem ter se apaixonado por uma vitória magistral em uma partida específica. Outros poderão ter desenvolvido sua paixão pela combinação de cores, outros tantos pelas relações familiares, outros quiçá pela ‘plástica’ de um ou outro jogador. Diziam antigamente que Leão, aquele chato de galocha, quando jogador do Palmeiras foi escolhido por uma dessas revistas que não tem assunto como o « homem das pernas mais bonitas do Brasil ». Vôti ! E eu lá tenho tempo nem jeito pra ficar reparando nesses detalhes, hômi !. Deixa isso pra sensibilidade feminina. O mais bonito na história da paixão pelo futebol é que ninguem deve buscar explicação por ela e foi isso que tentei dizer pro meu amigo. O que ele via em mim como defeito eu destacava como perfeição. Neste caso, qual a distância entre virtude e vício? Claro que é a medida da paixão. Assisti muitos jogos do Fluminense pelo radio, um ABC «a voz de ouro» que Seo Tonito comprou pra 'assistirmos' a copa de 70. Da mesma forma assisti junto com meus irmãos muitas vitórias de Emerson Fittipaldi na Formula 1, e quem diz que precisávamos de imagem pra termos emoção de sobra? Num canto de parede ouvíamos o ronco dos motores passando pelo rádio, como se fossem sair de dentro dele, e viajávamos juntos naquele universo de fantasias, assim como eu delirava com as histórias de Machado, de Alencar, de Jose Lins, com a poesia de Castro Alves, Raimundo Correia, Vinícius e Bilac... assim como sonhava com as histórias de caçadas incríveis e viagens fantásticas de Seo João Gonçalves, o maior contados de ‘estórias’ que já conheci. Agora o Fluminense deu pra passar vexame e tentar nos matar do coração. Acho até que sangue bem que poderia ser tricolor. Já imaginou algo assim parecido com aquele creme dental que sai com duas faixas de cores diferentes? Imagine, vermelho com listras verdes e brancas. Sinceramente, respeito muito suas preferências, mas sangue tricolor seria bem mais bonito.

1 de novembro de 2006

PERMITO-ME AO MUNDO

Permito-me ao mundo

E nele toco.

Virtudes e vícios.

Menino, quero dele apropriar-me

Pelos sentidos

E nessa aventura

Já tive dedos queimados,

Pequenos choques elétricos,

Provei do gosto amargo,

De coisas que não queria

E sabores inesquecíveis.

Toquei em flores, espinhos,

Rostos de crianças, pele macia.

Escutei a maravilhosa música do mundo.

E o mundo sorri pra mim.

Às vezes escancara numa gargalhada...

Afinal, ao me permitir pra ele

Recebo de volta generosamente

Sua contrapartida.

Em parceria com ele

Sigo arriscando.

Vivo o mundo como se fosse meu,

Penetro cada brecha aberta

E quando ela não existe eu a faço.

Melhor que falar mal do mundo

É tocar nele

Como gente,

Como parte dele,

Como menino

Brincando de gente grande.