30 de setembro de 2008

SECRETÁRIAS

Estereotipadas ao longo dos anos, as secretárias (isso mesmo, no feminino) foram conquistando status e provaram, na prática, que são imprescindíveis. Discretas, até silenciosas; pacientes, geralmente; prestativas, muitas vezes sem disposição; compreensivas, quase sempre; educadas, idem (rsrsrsrsrs!)... elas são, na verdade, pessoas importantíssimas na organização das empresas e instituições. Tem até gente 'chique' que tem uma particular. Tem gente simples em instituições que tem uma pra dois chefes ou mais. Secretárias do lar, um eufemismo para redenominar a tradicional 'empregada doméstica'. Acho elegante, mas politicamente incorreto, a não ser quando ela assume de fato a função, para além das atividades de arrumadeira, babá, cozinheira... às vezes a secretária 'do lar' é também a 'ouvideira' geral e comentadora geral também. Personal Trainer, Personal stile, personal isto ou aquilo... na prática, secretários epeciais para cuidar de detalhes, coisas especiais de cada um que tem grana suficiente para tanto. Parei algumas horas hoje para acompanhar as homenagens ao dia da secretária na UEPB. Elas são o máximo: Socorro, Derina, Neusele, aquelas com quem trabalhei (ou seria a quem dei trabalho?). Merecem nossa reverência. Elas e todas as outras. Ah, pra não ser politicamente incorreto, vale registrar que em nosso meio há inúmeros 'secretários' que, sem demérito, rivalizam em todos os sentidos do trabalho com as 'secretárias'. Por isso a profissão (ou função) já não é tão somente feminina. Modernidades...

NOTÍCIAS DO MUNDO

1. Bancos quebram nos EUA e provocam um verdadeiro pandemônio na economia mundial. DÚVIDA: Como e por que um banco quebra se eles são os maiores beneficiados com o verdadeiro cassino montado no centro do capitalismo? 2. Tufão atinge a China. Outro atinge os Estados Unidos da América. COMENTÁRIO: Apenas o primeiro é um fenômeno da natureza. 3. Coro em Canto realiza Recital da Primavera no Teatro Municipal Severino Cabral - dia 03/10. CERTEZA: (1) O espetáculo será maravilhoso, repetindo o êxito de anos anteriores com algumas surpresas. (2) O inverno, em pleno 30 de setembro, ainda briga com a primavera da Serra da Borborema. 4. Fluminense e Vasco assumem "lanterna" e "vice-lanterna" do Brasileirão-A. COMENTÁRIO RANCOROSO: Estão descendo ao inferno solidariamente abraçados. Não entendo o porquê de "lanterna", já que, no escuro, a lanterna deveria estar à frente de todos iluminando o caminho.

28 de setembro de 2008

PAIXÃO RAPOSEIRA

Dizem que as paixões são fogo de palha, no que acredito. Toda paixão tem seu começo (explosão), meio (aprofundamento, auge) e fim. O final de toda paixão verdadeira é, ou a transformação em amor (algo mais calmo, sereno, comedido, duradouro) ou o ocaso em explosão de força somente comparável à do início.
Entretanto, há um tipo de paixão que, inexplicavelmente, não segue esse roteiro: a paixão do brasileiro pelo futebol, mais precisamente por um time de futebol. Eu que o diga. Já tomei chuva, já adoeci, já chorei, já rasguei camisa voltando do estádio de carona em cima de um caminhão... já viajei, já fiquei rouco (muitas vezes)... e já tive muitas alegrias. Eu até diria que muito mais alegrias.
Hoje, por exemplo, foi um dia de muita expectativa, muita tensão e uma explosão de alegria com a vitória da minha raposa querida, lá em Arapiraca-AL, contra o ASA (a mesma equipe que venceu o Campinense aqui no amigão por 5 X 1). O Campinense havia quebrado um tabu antes, vencendo o Salgueiro pela primeira vez no Brasileirão da série C em sua cidade. Fez o mesmo agora com o Asa de Arapiraca e assegurou a presença no octogonal decisivo e ainda a chance de disputar uma vaga para a série B em 2009.
A gloriosa Raposa da Serra está classificada entre os 8 melhores clubes da série C do Campeonato Brasileiro e eu tô feliz da vida. Parecei estar antecipando quando na última quarta feira ganhei um abraço e a simpatia fantástica do "professor" Freitas Nascimento, treinador do Campinense (e responsável maior pelo sucesso da equipe em 2008), no Hotel Garden.
Aqui está o registro do encontro e da minha alegria. Vou pra rua agora, desfilar orgulhoso com a mesma camisa (já suada) e a bandeira da raposa pela cidade. Que me perdoem os amigos 'galistas', mas amanhã tem churrasquinho de asa... de galinha (já que encontrar asa de galo a esta altura está difícil!).
Salve a poderosa Raposa!

26 de setembro de 2008

ODE TRIUNFAL

"(...) A maravilhosa beleza das corrupções políticas, Deliciosos escândalos financeiros e diplomáticos, Agressões políticas nas ruas, E de vez em quando o cometa dum regicídio Que ilumina de Prodígio e Fanfarra os céus Usuais e lúcidos da Civilização quotidiana! (...) Ah, e a gente ordinária e suja, que parece sempre a mesma, Que emprega palavões como palavras usuais, Cujos filhos roubam às portas das mercearias (...) A gentalha que anda pelos andaimes e que vai para casa Por vielas quase irreais de estreiteza e podridão. Maravilhosa gente humana que vive como os cães, Que está abaixo de todos os sistemas morais, Para quem nenhuma religião foi feita, Nenhuma arte criada, Nenhuma política destinada para êles! Como eu vos amo a todos, porque sois assim, Nem imorais de tão baixos que sois, nem bons nem maus, Inatingíveis por todos os progressos, Fauna maravilhosa do fundo do mar da vida! (...)" Quem diria! Foi escrito em Londres e datado de junho de 1914 por Álvaro de Campos, heterônimo de Fernando Pessoa. Em tempos de eleições e outras tantas coisas episódicas e intrigantes...

24 de setembro de 2008

FULÔ DE ARAÇÁ

Grande mestre Dominguinhos, em parceria com Guadalupe, embalou muitos dos meus sonhos (e dores) juvenis com esta canção-toada.  A palhoça de Mazinho (em Juazeirinho), 1980, 1981... muitas noitadas, serenatas, roedeira... e o velho LP de Dominguinhos era uma de minhas trilhas sonoras.

Vou postá-la depois no youtube e deixar aqui o link para que vocês possam ouvi-la, sentir sua beleza, mas por enquanto publico somente o poema (se é que se pode chamar assim uma letra de canção).

"Andei léguas a fio pra te ouvir cantar

o canto primeiro de todo lugar

meu cavalo montei, o sol quente encarei

até sonhar, sonhei pensando em te ver, ô!

pensando em te ver!

De saia branca rendada

nos cabelos duas tranças

na boca um batom vermelho

na mão, fulô de araçá oi, fulô de araçá...

Tudo na vida pensei

pensando em te encontrar

pra tristeza do meu coração

não soubeste me esperar

foste embora não sei a razão

deixaste esse vazio em teu lugar

e esta saudade para eu chorar, ô!

para eu chorar! humm ô ô ô!"

21 de setembro de 2008

assalta-me vaga ausência

assalta-me vaga ausência enquanto o dia desvanece claudicando, pé ante pé enovelando palavras tartamudeando pequenos sonhos balanço de rede sandália frouxa sombra água fresca... domingo.

18 de setembro de 2008

TRÊS ANOS

O que poderia ser mais um dia, parecido com outro qualquer, caminhada, café da manhã, trabalho, problemas, conflitos a solucionar, aula, processos, processos, reuniões, atendimentos, telefonemas, telefonemas... tem um detalhe importante pra mim. E olhe o tamanho do detalhe que quase rouba a cena do resto do dia. Há três anos nascia meu novo "bruguelim", meu "carreguim", que desde a barriga materna onde se aninhou era chamado de "catombim". Pois não é que o sujeito é por demais carregado? Nem posso dizer nada porque acredito que, como Taiguara, vai cescer e terminar dizendo que se parece em tudo com a mãe e 'puxou a mim' só na ruindade. Como os filhos dão sentido ao que fazemos! É impressionante como mudamos por eles. Digo isso avaliando uma trajetória em movimento, pois se Taiguara mudou o rumo de minha vida há 20 anos, esse catoquinho de gente transformou uma casa e uma família. De minha parte eu diria que ele transformou um homem. Aprendi muita coisa nestes três anos e estou em franco processo de crescimento no sentido de, por ele, aprender mais e mais, principalmente a ser mais tolerante, mais paciente, mais amoroso, mais atencioso e, não menos importante, a perdoar mais. Espero continuar aprendendo. Só queria uma coluna vertebral nova (se tivesse pra reposição!) pra aguentar numa boa seus quase vinte quilos e suas peripécias que a cada dia vão ficando mais 'carregadas'. Fazer o quê? Amar e amar! Ave, Vini!

14 de setembro de 2008

MAIS QUE PALAVRAS

Num final de semana de quase reclusão ouvi de tudo, de Luiz Gonzaga a Elvis Presley. Toquei violão, martelei o piano, li sobre forró e indústria cultural, retornei ao BdoB (com roda de violão, onde uma turma de garotos insistiam em cantar músicas de 'coroas') degustei umas destiladas com Loiola e Dimas Xavier, curti ao "pé-do-rádio" a vitória da Raposa em Salgueiro... e curti o final da catapora de Vinícius. Quanto às viagens musicais, se você quiser 'viajar' um pouco comigo, faça uma visita rápida ao endereço indicado no link: http://www.youtube.com/watch?v=iXzITP6THzU&feature=related Vale a pena! A segunda-feira se aproxima...

13 de setembro de 2008

SOBRE FLORBELA E OUTRAS FLORES

Quem há de dizer que Florbela não existe?
Depois de algus comentários 'garrei a maginar' se não é uma grande verdade essa história. Ou estória?
Florbela é viagem, é pura divagação poética, mas bem que poderia ser real, como a mulher descrita nos versos "só de escutar a tua voz /o meu coração muda de tom /sinto um arrepio minha pele/ e na boca o gosto do batom / É! Eu não sabia que seria assim/ quando te vi tão leve, tão faceira / uma fogueira se acendeu em mim/ pensei que era são joão /  e fosse brincadeira/..."
Melhor é concordar com a velha idéia proclamada por Hipólito Lucena, aqui parafraseada: "se fica guardado é puro gozo pessoal, diletantismo. Se é mostrado e provoca alguém, seus sentimentos... pode se chamar de arte".
Se você achou que foi pra você, aí nem se fala... seja Florbela!

12 de setembro de 2008

AUSÊNCIA

Vai que o final de semana seja monótono... caldo de chuchu ou coisa que o valha. Na dúvida, um poema de Drummond. Grande!

Por muito tempo achei que a ausência é falta. E lastimava, ignorante, a falta. Hoje não a lastimo. Não há falta na ausência. A ausência é um estar em mim. E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços, que rio e danço e invento exclamações alegres, porque a ausência, essa ausência assimilada, ninguém a rouba mais de mim.

PROPAGANDA 4

Está se transformando numa série de fotos e comentários sobre o tema propaganda popular. Esta do "Salon Flash da Beleza" foi demais. Os detalhes e as dúvidas: 1) isso do início é oferta variada de modalidades de tratamento para o cabelo ou um verdadeiro cardápio de lanchonete? 2) Se existe 'escova progressiva definida', como seria a 'indefinida'? 3) 'Mechas Trifásicas' tem alguma coisa a ver com rede de transmissão de energia? Já me recomendaram instalar uma rede trifásica em minha casa. 4) Cauterização dói? O que sei do assunto é no que diz respeito a procedimento cirúrgico. O Aurélio diz o seguinte: "[Do lat. cauterizare.] Verbo transitivo direto. 1.Aplicar cautério a: cauterizar um ferimento. 2.Destruir, extirpar. 3.Corrigir, sanear, empregando meios enérgicos. 4. Afligir ou penalizar ao extremo." Você faria isto em seus cabelos? 5) Depois de tudo isso, o que será ETC? Semana que vem tem mais!

11 de setembro de 2008

PROPAGANDA 3

Com a expressão "Última flor do Lácio, inculta e bela" o poeta brasileiro Olavo Bilac inicia o seu poema Língua Portuguesa.
O soneto traz em seu primeiro terceto essa bela declaração de amor à língua de Camões e Pessoa:
"Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo! Amo-te, ó rude e doloroso idioma".
A despeito da língua portuguesa, martelada, sofrida, mas sempre sonoramente e poeticamente bela, mostro aqui uma das boas 'marteladas' na lígua inglesa. Bem feito!
Trata-se de mais um pouquinho de propaganda popular, pro seu deleite.
Vale destacar que quando o pintor (ou o marqueteiro) escreve em português tudo ocorre às mil maravilhas.
Já no inglês...
É nisso que dá achar que a língua estrangeira é mais chique que a nossa "inculta e bela".

10 de setembro de 2008

PROPAGANDA 2

Noutro dia publiquei aqui uma imagem comentada de um anúncio de venda de carro, como propaganda às avessas. No mínimo, como alguém que não entende do assunto , mas apenas vê e comenta (como disse um amigo outro dia, eu bem que poderia ser considerado um 'comentarista').
Esta 'propaganda' (que recebi do meu irmão Gilberto Rangel, mas não sei de onde) não deixa dúvidas sobre o que está sendo oferecido. Na verdade, a semente do guaraná desidratada em forno e transformada em pó, depois misturada a algum suco de fruta. Entretanto, oferecida como 'suco natural do pó do guaraná' é, no míimo, hilário.
Por outro lado, o detalhe sutil da propaganda, que tenta levar o potecial consumidor a acreditar que o 'suco natural do pó do guaraná' é, de fato, um "a flôr de zíaco" do amazonas é algo que extrapola as fronteiras da mensagem subliminar, da intertextualidade (os amigos das letras que me perdõem).
O mais importante é que a mensagem foi transmitida, pois não?

7 de setembro de 2008

DEMOCRACIA??????????

VALE A PENA PUBLICAR PARA PROVOCAR ALGUMA REFLEXÃO. AO MENOS DO PROPRIETÁRIO DO BLOG. O DONO DOS TROÇOS.
VEJA QUE INTERESSANTE. NOTE QUE MEUS COMENTÁRIOS ESTÃO EM CAIXA ALTA. A NOTÍCIA ORIGINAL É DO SAITE GLOBO.COM. INQUESTIONÁVEL! ESTÁ EM http://globoesporte.globo.com/Esportes/Noticias/Futebol/0,,MUL751184-9842,00-AMERICANOS+FICAM+IMPRESSIONADOS+COM+BOA+RECEPCAO+EM+CUBA+APOS+ANOS.html
"Pela primeira vez em 61 anos, a seleção de futebol dos Estados Unidos viajou a Havana para enfrentar Cuba no sábado. Os americanos, que venceram por 1 a 0, admitiram que temiam a reação dos cubanos, mas após o jogo mostraram-se impressionados com a receptividade do público.  De acordo com o “New York Times”, a torcida aplaudiu muito os atletas dos EUA, principalmente o atacante Donovan, que atua com David Beckham no Los Angeles Galaxy. No intervalo, houve até um show com dançarinas para animar o estádio.  - Nunca passei por algo assim. Parecia até que estávamos jogando em casa – disse Clint Dempsey.  O jornal, que enviou um repórter a Havana para cobrir a partida, dá destaque ao confronto pelas eliminatórias. E mostra ainda que cinco torcedores americanos ignoraram a possibilidade de serem presos nos EUA e foram a Cuba ver o jogo. Segundo o “NY Times”, uma lei americana proíbe viagens ao país de Fidel Castro à maioria da população. 
FOSSE EM CUBA A PROIBIÇÃO DIRIAM ALGUNS QUE O PROBLEMA É QUE CUBA NÃO VIVE UMA DEMOCRACIA, ESSA INVENÇÃO MARAVILHOSA DA BURGUESIA. MAS O QUE É MESMO ESSA TAL DEMOCRACIA?
QUER DIZER QUE SE UM NORTEAMERICANO, UM CIDADÃO LIVRE, QUE VIVE NA 'MAIOR DEMOCRACIA DO MUNDO', O MODELO DE SOCIEDADE LIVRE PARA TODOS OS POVOS DA TERRA, PODE SER PUNIDO SE VIAJAR A UM PAÍS VIZINHO, O QUE É MESMO ESSA TAL DE DEMOCRACIA?
- Isso aqui não é questão política. Queremos que nosso time saiba que sempre haverá torcedores onde eles estiverem – afirmou um torcedor, que não teve o nome revelado para evitar problemas com as autoridades na volta para casa.
QUER DIZER QUE CUBA É QUE VIVE NUMA DITADURA? SE UM ATLETA CUBANO QUISER DESERTAR (ABANDONAR SEU PAÍS PARA VIVER EM OUTRO) NÃO PODE? AH, MAS E NO BRASIL, PODE? SE PARTIR DE GOV. VALADARES PROS ISTEITES PODE? E ONDE É QUE PODE?
MAS, QUER DIZER QUE NA "MAIOR DEMOCRACIA DO MUNDO" UM CIDADÃO LIVRE PODE IR PRA QUALQUER LUGAR DO MUNDO (SE TIVER DINHEIRO, CLARO!) MENOS PRA CUBA?
VIVA A DEMOCRACIA! VIVA A HIPOCRISIA! SANTA IGNORÂNCIA!

5 de setembro de 2008

O VESTIDINHO DE FLOR BELA

Noutro dia fiz aqui alguns comentários sobre uma noite boêmia no bar do Brito na companhia poética do jornalista Flávio Petrônio.
Pois não é que o dito cujo deu na telha de publicar, em sua coluna semanal no jornal A União, uma crônica falando de uma Flor Bela sua e eu tomei a liberdade de republicar aqui no blog. Não sem uma pontinha de orgulho pelos seus comentários.
o mesmo tempo imaginando se mais gente nesse mundão sem porteira também não tem (ou gostaria de ter) a sua Florbela?
Eis o texto:         Em tempo de computador com realidade óptica buscando, até para o abstrato, solução aritmética, indicando as realizações pessoais residentes no estereótipo, periférico, encontrar amigos para divagações legítimas passou a ser algo valioso. Recentemente, estive com o cantor e compositor Rangel Júnior, autor da música Florbela, gravada por Santana em trabalho atual. Nosso momento de boêmia distanciou qualquer ameaça tecnocrata. 
     Rangel, em conduta lírica, disse-me que Florbela habita as proibições provocadas pelo sonho que, quando de intenso desejo, mescla fantasia e realidade em um só processo de criação. Simpático ao sonho deste poeta, e cúmplice do surgimento de Florbela, falo de um vestido que encobre uma outra Flor, que em desfile urbano tem feito de passarela eventual o meu enfunado momento de contemplação. Vendo-me despido.       A trajetória diária da minha Flor Bela margeia entre o divino e o profano, com o seu vestidinho verde de aquarela em rosas, enfeitiçando o inusitado jardim de sua passagem que permanece. Observando-lhe, cai-me uma angústia tropeçando na satisfação. Não por ser um indivíduo simples ou complexo, mas pelo fato de ser mortal. O meu sonho se confunde com desejo secret o numa proibição de primeira necessidade afetiva. E, recuso-me a entender qualquer auto-indagação aparentemente confusa. Só me proponho a sentir a plenitude que é a loucura de te olhar. Nunca vistes os meus olhos te olhando. Jamais usastes o teu vestido em apreço ao meu desejo. Sei que sou um estranho para você, sendo estrangeiro em mim mesmo, sem tua pátria.       O teu vestido, Flor Bela, é flâmula sinalizando a maior manifestação socialista, sendo barulho lúdico no próprio silêncio da passeata, onde o teu costureiro libertário, contrariando a ditadura do jeans, ladeia teu ventre de perpétua sedução e convencimento. Nesta tua indumentária de eterna menina, guardo o meu poema derradeiro, dizendo as coisas mais simples e menos intencionais.       Convenço-me de não querer escutar sua voz . O teu silêncio diz mais sem pronúncia, do que qualquer grito pretensioso. Tua voz seria ameaça comunicativa atribuindo realidade ao meu sonho clandestino. Este sonho, que é absurdo, como é absurdo o ciúme dos colibris pelos prados em estações perfumadas. O sonho por si só é equivalente.       Assim como Rangel que diz em Florbela: - Eu não pensei que fosse proibido /Amar de longe e de perto/ Com o mesmo coração/ Formosa Flor meu sonho adormecido/ Verso perdido, minha inspiração (...) Eu digo em estrofe do poema Síndrome Sherlokiana: "E assim te persigo ao longe / Catando os signos seus, / Tentando enxergar seus olhos / Também enxergando os meus".E proíbo este amor de não ser proibido como sinto ser liberto quando aprisionado por ele. Não te quero próxima a mim. Já te tenho riscando as minhas retinas diariamente, onde até a mais esclarecedora luz não revela esta louca travessia íntima.