27 de novembro de 2010

MUDANÇA DOS TEMPOS NO AR

“Os produtos deste menu são sujeitos a disponibilidade. É proibida a venda de bebidas alcoólicas para menores de 18 anos, assim como o consumo de bebidas alcoólicas trazidas a bordo”.

Nada de novo no anúncio não fosse o local onde eu o encontrei. Num cardápio em voo da Gol, que agora é Gol-Varig. Aliás, estou num avião com a saudosa estampa da Varig, mas tudo dentro só lembra a Gol. Principalmente a barrinha de cereal, o refri ou suco, a dupla de rosquinhas num envelope.

Coisas modernas com jeito de coisas antigas. Já vai longe o tempo em que nos voos da Varig eram servidos verdadeiros almoços e jantares, em tavessinhas de porcelana, talheres de inox personalizados e à escolha do freguês, uísque, cerveja, vinho, vodca, campari... e até água! Tinto ou branco, senhor?Lencinhos umedecidos e perfumados para as mãos, balinha de chocolate com menta pra tirar o bafo de onça quando da chegada ao destino... huummm!

Nunca gostei da expressão antiga aeromoça e àquelas moças elegantes e de sorriso colgate, costumava chamar de garçonetes de avião. Afinal, tirando um quebra-galho aqui ou ali, na prática, elas não eram verdadeiras garçonetes que trabalhavam no ar? Depois que os passageiros passaram a ser tratados a pão e água, sua função havia mudado. Agora chamavam-nas comissárias de bordo. Pelo que estou vendo, mais que nunca elas voltaram a ser garçonetes de avião.

Foi um deus-nos-acuda quando anunciaram, depois do lanchinho, que serviriam lanches a la carte, de acordo com o gosto do freguês e a disponibilidade a bordo. Até cerveja e vinho, quem diria? As moças correram tanto neste corredor de avião que cheguei a imaginar que iriam ter um troço. E na hora do troco? Nossa!

Não gostei da observação (entre aspas lá no começo deste texto) no cardápio que, salvo engano, contraria o direito do consumidor. Ora, se eu paguei a passagem e estou sentado em minha poltrona, o que me impede de tomar minha Serra Limpa, já que não sou chegado a cerveja?

Próxima vez arriscarei minha garrafinha de inox, personalizada, já que mesmo levando uma Serra Limpa e uma Rainha a bordo, elas já têm dono certo e ansiosamente esperando para tê-las nas mãos. O medo também seria abrir aqui e com o bouquet enchendo todo o espaço aéreo não sobrasse nenhuma gota pra mim.

Minha vingança será maligna!

7 de novembro de 2010

POESIA TRANSBORDANTE

Há um poeta de quem acompanho a fértil produção há algum tempo. Creio que precisaria estar em livro urgentemente.
Vi há pouco uma publicação sua e desisti de escrever algo hoje, profundamente comovido com o que li! Seu Tonito, meu pai, recebeu meu carinho e minha lágrima incontida por intermédio de seus versos magníficos.
Sugiro que você vá a este endereço indicado abaixo e descubra por conta própria.
Um bom domingo!

http://diarioextrovertido.blogspot.com/2010/10/referenciais.html

5 de novembro de 2010

REINVENTAÇÃO

Fico me reinventando cotidianamente pra não morrer de tédio.
Componho a cada dia uma nova forma não sei de que.
Se os caminhos não existem, e daí? Faço sulcos na estrada com minha velha carroça...
E saio por aí soltando bufa pro cão, como dizia minha mãe.
Se posso ter todos os deuses comigo, por que ficar com um apenas?

4 de novembro de 2010

ATOS FALHOS

Poema de Sérgio de Castro Pinto. Diz muito em tão pouco!


sequer os ensaio.

mas os meus atos
falhos
encenam-se assim:

eles já no palco
e eu ainda
          no camarim.

3 de novembro de 2010

DIA DOS MORTOS

Em vez de pensar sobre o Dia dos Mortos, ontem eu preferi dar uma chance ao que existe de mais próximo da vida em plenitude.

Cedo alimentei as galinhas que fizeram enorme algazarra e vinham algumas mais afoitas, a comer em minha mão o milho que lhes disponibilizava generosamente. Encontrei um ninho com cinco ovos, mas especialmente ontem não quis retirá-los.

As plantas, duas delas principalmente - a pitangueira e a aceroleira -, me remetem diretamente à Dona Neide, que foi embora ano passado. Estão safrejando com alegria e exuberância.

Reguei todas as plantas com mais paciência do que o habitual, água em abundância, mas ao ponto de não abrejar-lhes a vida. Até o pau Brasil, que andava meio desistente da vida, deu sinais de recuperação e mostra três brotinhos saindo do seu tronco.

Leituras diversas, de jornal a psicologia, juventude e cultura, Clarice Lispector e viagens na rede mundial.

Muitas brincadeiras com Vinícius que terminaram por ensinar-lhe à noite a usar o computador pra gravar sua voz, no que ele diz ser uma composição de sua autoria. Além, é claro, da primeira parte do Hino do Fluminense que ele treina no assobio há umas três semanas.

Comida caseira, cafunés caseiros, uma garrafa de vinho branco degustada a longo do dia, a pequenos goles, violão por algumas vezes... eis uma vidinha simplesinha e muito mais do que pra lá de boa. No fim da noite, um filme curioso e instigante: A vida de Eli. Não sou dado a estas temáticas, mas fiquei curioso pra ver, pois gosto mais do cinema em si. Bom!

Abdiquei de visitar meus mortos pra me dedicar aos meus vivos mais próximos. Fiz uma escolha, pois é assim que o mundo é feito. Abracei a vida que me cercava por perto e pensei muito naqueles que já a deixaram.

Afinal, ficar alguns momentos consigo mesmo é algo tão diferente nos dias atuais... Assim, inverti a lógica e dediquei aos vivos o Dia dos Mortos. O carro não saiu da garagem. Ponto.