16 de novembro de 2012

MEUS PRIMEIROS 50 ANOS


 
“O tempo generoso faz oferta

e vejo em pleno outono a descoberta

de nova primavera em minha vida.”[1]

 

O dia já é de manhã e eu acordo com a marca dos meus primeiros 50 anos vividos. Este senhor cinquentão que vos escreve já percorreu uma longa e tortuosa estrada.

Não tem sido fácil. Porém, nem pense que é chata ou triste. A pesada labuta, desde cedo, todavia, muita música e poesia.

Muita surra de cinturão, sandália “currulepe” e cipó de jucá, mas muito banho de açude e estripulias que me renderam um bom e comprometedor apelido.

Sem comida vária, mas muitas goiabas, melancias e umbus comidos lá onde eles nascem.

Algumas tristezas e decepções, mas inumeráveis vivências ricas em amizade verdadeira, solidariedade fraterna, cumplicidade amorosa, camaradagem absoluta, amor incondicional.

Angústias que viraram poemas; dores que pariram canções; amores que geraram filhos maravilhosos; cansaços e tensões premiados por conquistas; alegrias novas e antigas convertidas em fachos embalando e iluminando discretamente este coração cinquentenário. Mais que filmes e retratos eu carrego lembranças.

“Aqui, chora um ocaso sepultado;

Ali, pompeia a luz de branca aurora.”[2]

Aprendi muito e continuo. Quando tento ensinar algo é por acreditar que apenas o exemplo é capaz de tanto. No mais aprendemos juntos.

Do alto deste meio século de existência sinto-me pequeno e ainda menino pra muitas e tantas aventuras. Dentre estas a coragem, nada ingênua, de acreditar nas pessoas e a vontade eterna de descobrir, conhecer, provar e sorrir sempre, mesmo depois dos revezes.

De onde vejo o mundo, o retrovisor revela mais que o largo para-brisa. Do mesmo modo, sinto que as melhores coisas ainda estão adiante, à espera por serem tocadas, experimentadas, vivenciadas. Sou um homem do presente e a ele me agarro com força.

“O canto desse menino talvez tenha sido em vão.

Mas ele fez o que pôde.

Fez sobretudo o que sempre lhe mandava o coração.”[3]

Não digo que valeu a pena, mas que está valendo. Se já vivi praticamente o tempo do meu pai quando se foi, a estrada a ser edificada anima e desafia a seguir caminhando e cantando.

Peço licença ao meu amigo Chico Passeata numa paráfrase: A minha vida é a melhor do mundo, pois única. Vida (boa!) que segue! Afinal, são apenas meus primeiros cinquenta anos! Evoé!



[1] Ronaldo Cunha Lima, 47, Livro dos Tercetos.
[2] Augusto dos Anjos, Insânia, Eu & Outras Poesias.
[3] Thiago de Mello, Cantiga quase de roda, Faz escuro mas eu canto: porque a manhã vai chegar.