18 de junho de 2010

O POETA E A PALAVRA

O poeta e a palavra são farinha do mesmo saco.
A palavra está para o poeta,
assim como a chuva está para o arco-íris.


A palavra na cabeça do poeta,
A palavra na caneta do poeta,
A palavra tinta no pincel do poeta,
A palavra vida no coração do poeta,
A palavra punhal, palavra-dor,
palavra comida, palavra vinho no bucho do poeta.


A palavra nomeia.
O poeta passeia com a palavra.
O poeta namora a palavra.
O poeta come a palavra,
transa com ela, goza e... morre.


Morre o poeta com a palavra.
O poeta da palavra não morre.
A palavra do poeta não morre.
O poeta não morre,
... vira pura palavra!

15 de junho de 2010

ARCO-ÍRIS COLOSSAL

O Colosso já foi palco de memoráveis confraternizações. Algumas de aniversário de Agenor, seu feliz proprietário. Agenor, pra quem não sabe, é irmão de Nego Toca, de Averaldo e Aurora.

Família de excelentes músicos, herdaram de Seu Bola 7 (até hoje não sei o nome do seu pai. Mas isso não vem ao caso, pois até mesmo ele chama o pai assim) o gosto pelo refinamento musical e o espírito brincalhão e gozador. Agenor, no caso, me parece que pegou a maior fatia da herança. Herdou ainda a verve empresarial no ramo de planos pós-vida.

Pois não é que o sujeito tomou gosto pelo negócio? E, se nos tempos de antigamente lá em Juazeirinho, o carpinteiro fúnebre só construía o ataúde após o sujeito ser passado e diplomado para morar na cidade de pés-juntos, hoje tudo está muito mudado: tem catálogo, tem sala bonita com os "envelopes de madeira" dispostos pro sujeito escolher com que roupa quer ir pra sua morada infinita.

Mas a postagem nem era pra falar deste assunto. É que Agenor, o velho Agenor de Guerra, que traz como única sequela de um AVC o fato de ter ficado mais "carregado" que antes e, além de estar preparando interessante livro sobre a história e personagens da pequenina Juazeirinho, resolveu entrar pro time de caçadores de arco-íris. Capturou este aqui na porta de sua casa, no Sítio Colosso, ex-vizinho do velho Cazuza, pai de Zé do Tango e Adauto "Rampa".

O impressionante na foto é que o arco-íris parece sair do poste, como se uma enorme onda de energia o projetasse pelo céu. Deixo-o pra vocês.

7 de junho de 2010

SÓCRATES NO SHOPPING CENTER


O amigo Eli Brandão me enviou e, mesmo não publicando na íntegra, selecionei em seu final algo que gostaria de ter escrito. Essa é boa inveja...
O texto é de Frei Betto.
" (...) Há uma lógica religiosa no consumismo pós-moderno. Na Idade Média, as cidades adquiriam status construindo uma catedral; hoje, no Brasil, constrói-se um Shopping Center. É curioso: a maioria dos Shoppings Centers tem linhas arquitetônicas de catedrais estilizadas; neles, não se pode ir de qualquer maneira, é preciso vestir roupa de "missa de domingo". E ali dentro se sente uma sensação paradisíaca: não há mendigos, não há crianças de rua, não se vê sujeira pelas calçadas...
Entra-se naqueles claustros ao som do gregoriano pós-moderno: aquela musiquinha de esperar dentista. Observam-se vários nichos: capelas com os veneráveis objetos de consumo, acolitados por belas sacerdotisas. Quem pode comprar à vista, sente-se no reino dos céus. Mas, aquele que só pode comprar passando cheque pré-datado, ou a crédito, ou, ainda, entrando no "cheque especial", se sente no purgatório.
E pior: aquele que não pode comprar, certamente vai se sentir no inferno... Felizmente, terminam todos na eucaristia pós-moderna, irmanados na mesma mesa, com o mesmo suco e o mesmo hambúrguer do McDonald... Por tudo isto, costumo dizer aos balconistas que me cercam à porta das lojas, que estou, apenas, fazendo um "passeio socrático". E, diante de seus olhares espantados, explico: "Sócrates, filósofo grego, também gostava de descansar a cabeça percorrendo o centro comercial de Atenas. Quando vendedores como vocês o assediavam, ele respondia:
- Estou, apenas, observando quantas coisas existem e das quais não preciso 
para ser feliz!"