7 de junho de 2010

SÓCRATES NO SHOPPING CENTER


O amigo Eli Brandão me enviou e, mesmo não publicando na íntegra, selecionei em seu final algo que gostaria de ter escrito. Essa é boa inveja...
O texto é de Frei Betto.
" (...) Há uma lógica religiosa no consumismo pós-moderno. Na Idade Média, as cidades adquiriam status construindo uma catedral; hoje, no Brasil, constrói-se um Shopping Center. É curioso: a maioria dos Shoppings Centers tem linhas arquitetônicas de catedrais estilizadas; neles, não se pode ir de qualquer maneira, é preciso vestir roupa de "missa de domingo". E ali dentro se sente uma sensação paradisíaca: não há mendigos, não há crianças de rua, não se vê sujeira pelas calçadas...
Entra-se naqueles claustros ao som do gregoriano pós-moderno: aquela musiquinha de esperar dentista. Observam-se vários nichos: capelas com os veneráveis objetos de consumo, acolitados por belas sacerdotisas. Quem pode comprar à vista, sente-se no reino dos céus. Mas, aquele que só pode comprar passando cheque pré-datado, ou a crédito, ou, ainda, entrando no "cheque especial", se sente no purgatório.
E pior: aquele que não pode comprar, certamente vai se sentir no inferno... Felizmente, terminam todos na eucaristia pós-moderna, irmanados na mesma mesa, com o mesmo suco e o mesmo hambúrguer do McDonald... Por tudo isto, costumo dizer aos balconistas que me cercam à porta das lojas, que estou, apenas, fazendo um "passeio socrático". E, diante de seus olhares espantados, explico: "Sócrates, filósofo grego, também gostava de descansar a cabeça percorrendo o centro comercial de Atenas. Quando vendedores como vocês o assediavam, ele respondia:
- Estou, apenas, observando quantas coisas existem e das quais não preciso 
para ser feliz!"

2 comentários:

Marcantonio disse...

Rangel,

Eu já conhecia esse texto. E todos aqueles inconformados, como nós, que opõem algum humanismo à superficial e padronizada lógica consumista, gostariam de tê-lo escrito. As analogias são tristemente perfeitas. Faltou dizer que as catedrais medievais possuíam o chamados deambulatórios por onde circulavam chusmas de romeiros. São feitas romarias diárias aos shoppings, até par incensar o que não se pode comprar e e que, por isso, torna a vida vazia e amarga para essas pessoas. Creio que eu e você somos socráticos e colocamos a razão de existirmos em outras coisas que não podem ser compradas. Não?

Abraços.

Ana Paula Porto disse...

super interessante seu texto Rangel. Parabéns!!