5 de setembro de 2008

O VESTIDINHO DE FLOR BELA

Noutro dia fiz aqui alguns comentários sobre uma noite boêmia no bar do Brito na companhia poética do jornalista Flávio Petrônio.
Pois não é que o dito cujo deu na telha de publicar, em sua coluna semanal no jornal A União, uma crônica falando de uma Flor Bela sua e eu tomei a liberdade de republicar aqui no blog. Não sem uma pontinha de orgulho pelos seus comentários.
o mesmo tempo imaginando se mais gente nesse mundão sem porteira também não tem (ou gostaria de ter) a sua Florbela?
Eis o texto:         Em tempo de computador com realidade óptica buscando, até para o abstrato, solução aritmética, indicando as realizações pessoais residentes no estereótipo, periférico, encontrar amigos para divagações legítimas passou a ser algo valioso. Recentemente, estive com o cantor e compositor Rangel Júnior, autor da música Florbela, gravada por Santana em trabalho atual. Nosso momento de boêmia distanciou qualquer ameaça tecnocrata. 
     Rangel, em conduta lírica, disse-me que Florbela habita as proibições provocadas pelo sonho que, quando de intenso desejo, mescla fantasia e realidade em um só processo de criação. Simpático ao sonho deste poeta, e cúmplice do surgimento de Florbela, falo de um vestido que encobre uma outra Flor, que em desfile urbano tem feito de passarela eventual o meu enfunado momento de contemplação. Vendo-me despido.       A trajetória diária da minha Flor Bela margeia entre o divino e o profano, com o seu vestidinho verde de aquarela em rosas, enfeitiçando o inusitado jardim de sua passagem que permanece. Observando-lhe, cai-me uma angústia tropeçando na satisfação. Não por ser um indivíduo simples ou complexo, mas pelo fato de ser mortal. O meu sonho se confunde com desejo secret o numa proibição de primeira necessidade afetiva. E, recuso-me a entender qualquer auto-indagação aparentemente confusa. Só me proponho a sentir a plenitude que é a loucura de te olhar. Nunca vistes os meus olhos te olhando. Jamais usastes o teu vestido em apreço ao meu desejo. Sei que sou um estranho para você, sendo estrangeiro em mim mesmo, sem tua pátria.       O teu vestido, Flor Bela, é flâmula sinalizando a maior manifestação socialista, sendo barulho lúdico no próprio silêncio da passeata, onde o teu costureiro libertário, contrariando a ditadura do jeans, ladeia teu ventre de perpétua sedução e convencimento. Nesta tua indumentária de eterna menina, guardo o meu poema derradeiro, dizendo as coisas mais simples e menos intencionais.       Convenço-me de não querer escutar sua voz . O teu silêncio diz mais sem pronúncia, do que qualquer grito pretensioso. Tua voz seria ameaça comunicativa atribuindo realidade ao meu sonho clandestino. Este sonho, que é absurdo, como é absurdo o ciúme dos colibris pelos prados em estações perfumadas. O sonho por si só é equivalente.       Assim como Rangel que diz em Florbela: - Eu não pensei que fosse proibido /Amar de longe e de perto/ Com o mesmo coração/ Formosa Flor meu sonho adormecido/ Verso perdido, minha inspiração (...) Eu digo em estrofe do poema Síndrome Sherlokiana: "E assim te persigo ao longe / Catando os signos seus, / Tentando enxergar seus olhos / Também enxergando os meus".E proíbo este amor de não ser proibido como sinto ser liberto quando aprisionado por ele. Não te quero próxima a mim. Já te tenho riscando as minhas retinas diariamente, onde até a mais esclarecedora luz não revela esta louca travessia íntima.

5 comentários:

Cecília de Queiroz disse...

Olá Rangel ! Tenho o grande orgulho de ser amiga do Poeta Flávio Petrônio e dias desses me deparei com o "Vestidinho de Flor Bela" em meus emails. Surpresa eu não tive, visto que já conheço os maravilhosos "malassombros" deste cabra, mas o lirismo deste texto encantador, meu abriu a curiosidade de também poder ler a letra de sua música de mesmo nome. Falei com o Poeta e ele me indicou a te falar desta minha vontade !
Se você puder, mande para meu email: cecilianeruda@yahoo.com.br
Ah ! Sou estudante de Jornalismo e escrevo algumas coisinhas, que segundo Flávio são boas, então tô começando a acreditar ( risos ).
Inté mais !
Cecília de Queiroz

RANGEL JUNIOR disse...

Olá, Cecília.Prazer enorme. Não sei se vc viu a canção e baixou da internet onde está disponível: no site www.palcomp3.com.br/rangeljunior
Ainda fiquei de mandar a letra. Segue em email pro teu endereço.
Abraço grande. Outro pro poeta Flávio, quando você o ver novamente.

Anônimo disse...

Essa música é mesmo muito massa, e as interpretações que partem dela também. Já pensou que texto mais bonito esse do Petrônio?! Dá até vontade de ser Florbela, acho que tudo quanto é mulher, depois que escuta essa música fica querendo ser Florbela de alguém rsrsrsr Beijos. Aninha

Anônimo disse...

Caro Rangel.

Sendo leitora assídua da coluna do poeta e escritor Flávio Petrônio, deparei-me com O Vestidinho de Flor Bela e fiquei a me perguntar: Qual mais belo e majestoso dos dois, o texto poético ou a poesia musicalizada? Não, não há respostas nem comparações para tão oponentes obras de dois mestres da poesia,da música e da sensibilidade.
Parabenizo o poeta e o músico que com a riqueza de palavras fêz-me extasiada e profundamente agradecida pela oportunidade de ler e ouvir dois grandes trabalhos de dois grandes homens.

Um forte abraço.
Débhora Cunha Melo.

tiago pereira disse...

oi rangel.
tambem tenho a satisfacao de ter flavio petronio como meu amigo,e sempre tento nao me surpeender com seus ``malassombros``,mais nao tem jeito,esse cabra do pajeu `e uma piada.

tiago pereira batista

tiagovista@hotmail.com