24 de novembro de 2006

GENTILEZA

Depois de um tempo vivendo e prestando atenção às coisas e pessoas a gente aprende algumas noções fundamentais praquilo que dizem ser e viver melhor. Uns mais cedo, outros nem tanto. Diria que ainda em tenra idade aprendi que sabedoria não rima com arrogância; que conhecimento verdadeiro não convive com autoritarismo. As pessoas com maior bagagem de conhecimento que conheci até hoje, as que unem informação com capacidade de transmitir ensinamentos pelo exemplo, as que trazem consigo aquilo que alguns chamam Sabedoria, todas, inevitavelmente traziam agregada a si a marca da humildade. Com o tempo descobri também algumas expressões quase mágicas como 'por favor', 'muito obrigado' e 'desculpe-me'. Essas sim, me ensinaram que é sempre possível abrir pesadas portas, extrair sorrisos simpáticos de faces tensas e mesmo conter acessos de ira nascente em corações magoados. Descobri a enorme satisfação de parar o carro antes da faixa de pedestres e receber sorrisos maravilhosos de agradecimento por ter feito quase nada, apenas contido um pouco a ansiedade de chegar nalgum lugar. Descobri o quanto é possível dar ordens, comandar ações, determinar atitudes dizendo a um subordinado hierárquico, 'por favor, faça tal coisa pra mim'. Ele sabe que está recebendo uma ordem, mas o 'por favor' colocado naturalmente antes tem um poder incrível de desarmar espíritos e até diminuir níveis de mau humor. Aprendi que a expressão 'muito obrigado', muitas vezes dita apenas por formalidade, tem uma força incrível quando verdadeira, olho no olho, sinceramente dita. Nessas idas e vindas da vida, aprendi que a força quase indescritível do perdão. Não da expressão 'perdoe-me' ou 'desculpe-me'. Falo do perdão mesmo. Aquele que você consegue dar com tranqüilidade a um sujeito que se acha o dono da rua e das leis e lhe fecha no trânsito crente que está certo e ainda rosna um palavrão. O perdão, e nem sei até que ponto isso vem de minha formação cristã, tem a força impressionante de fazer o bem muito mais a quem dá do que a quem recebe. Mas é muito gostoso sentir o alívio de não existir raiva dentro da gente. A ira entorpece e estraga o humor. Acho até mesmo que abaixa o tesão. Tenho descoberto algumas coisas ultimamente e isso me tem feito um bem enorme. Uma delas foi não brigar comigo mesmo. Começo a sentir uma paz enorme em aceitar-me como sou e, sendo assim, desse jeito, não bastar-me a mim mesmo, mas ser feliz assim. A gentileza não faz mal a ninguém. Como o presente dado, creio fazer quantidade de bem maior a quem dá do que a quem recebe. A lua minguante nos céus da Borborema, a exuberância primaveral dos Ipês, a brincadeira de Vinícius no seu sorrisão desprovido de malícia, encostando a cara no vidro, ainda sem dizer uma palavra são, pra mim, a prova de que existem mais detalhes pra serem observados na vida que aquilo que a gente simplesmente vê "a olho nu". A lente pra ver mais e melhor está dentro da gente. Certamente o Dr. Sabino, meu oftalmologista preferido, concordará comigo!

2 comentários:

Anônimo disse...

A vida é tão simples,tão bela, tão gostosa; o difícil mesmo é usar a lente certa e limpar o pó das lentes mais usadas. Mas bola pra frente, vamos tentando, buscando o jeito certo e caminhando sempre,sem pressa que (acho) e´bem melhor. Xero pra tu.

Anônimo disse...

ô e bem em tempo, existe coisa mais gostosa que essa cara achatada no vidro?!