Palavras e imagens. Impressões e olhares sobre o mundo e as relações. Um pouco de cada coisa: educação, universidade, cultura, arte, política, gente...até poesia e outras formas de escrita.
14 de novembro de 2006
UM CASARÃO RODEADO DE JANELAS
Ontem vi no roda-viva uma entrevista da escritora norteamericana Laura Kipnis falando de um livro seu que ficou famoso sobre uma suposta morte do amor no seu formato mais conhecido, intitulado "Contra o Amor".
Ela argumenta que "o amor é uma invenção moderna, não traz toda a felicidade que promete, cria ansiedade e provoca estresse e depressão." A escritora questiona o fato da sociedade "continuar idealizando relacionamentos duradouros e monogâmicos, quando a realidade mostra que isso é cada vez menos possível".
Seria uma espéecie de decretação da infalivel arapuca em que se meteram o seres humanos com a fórmula do amor romântico nos moldes que temos conhecido. Falava dos norteamericanos, mas o livro vem rodando o mundo e sendo lido e bem vendido.
Fiquei matutando se não deveria escrever um livro desses. Há alguns anos até escrevi uma sinopse do que seria tal livro e tenho guardado, mas isso é empreendimento de fôlego e não sou gato.
Eu, hein? Pense num assunto onde quem mais fala parece ser porque não compreende de jeito algum e está tentando dizer.
Aqui talvez seja o caso.
Uma foto tirada há poucos dias do interior de uma casa me deu um mote. Busco uma imagem que me ajude a entender o amor. Não o amor em geral, mas o amor romântico, ou romantizado, erotizado e culturalmente adotado e praticado por boa parte de nós, seres humanos brasileiros. Falo brasileiros por serem os que conheço um pouquinho.
Imaginei um casarão sem nenhuma porta, mas repleto de janelas. Janelas como essa, donde se pode divisar o mundo de ângulos completamente diferentes e até inusitados, de onde se pode respirar, sonhar o mundo de dentro e de fora.
Esta janela poderia ser de qualquer cidade e qualquer casarão. Daqui vejo uma arvore perto, uma rua calçada, um muro, arvores outras, casinhas ao longe e bem longe formações rochosas, serras se entrecruzando... depois o azul, o infinito.
O infinito eu não vejo necessariamente, mas imagino.
Penso assim o amor. Esse amor de que falo.
Duas pessoas escolhem o casarão, mandam vedar as portas e ficam lá dentro com suas enormes janelas abertas pro mundo.
Um dia, por acaso, os dois não estão juntos na janela, até e porque estar sempre juntos estraga o amor, e um, mesmo adorando o casarão e a vida dentro, vê coisas acontecendo lá fora, movimento, vida pulsando diferente e sua respiração muda de ritmo. Pensa numa porta, mas porta não existe. E agora, José?, como diria Drummond! Quer morrer no mar, mas o mar secou.
Tranca as janelas e volta pra dentro do casarão. Um breu sem tamanho toma conta do dia. Fica ali, em estado de quietude quase total. Numa espécie de quase-catatonia, olha ao seu redor e descobre que o mundo não há de compreender o amor a não ser por metáforas.
Com efeito, talvez somente os poetas possam nos revelar algumas verdades, mesmo fugazes. Os poetas e o tempo. O tempo!
Salvem-nos os poetas! E os lunáticos! Tenho dito!
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