Palavras e imagens. Impressões e olhares sobre o mundo e as relações. Um pouco de cada coisa: educação, universidade, cultura, arte, política, gente...até poesia e outras formas de escrita.
28 de dezembro de 2006
REFLEXÕES DE FIM-DE-ANO
19 de dezembro de 2006
VIDA QUE SE RENOVA
"Olha que coisa mais linda, mais cheia de graça..."
Meu pé de acerola verdejando, brotando folhas por todos os poros
e renascendo depois da tempestade.
Vida que se renova.
O regador tem dado grande ajuda. Eu supervisiono.
Vida, vida, vida!!!
Natal não é assim? A idéia de nascer e renascer?
Minha aceroleira comemora o natal em paz.
Até quando, não sei.
Tou parecido com ela... só que um pouquinho mais surrado.
Nada que uns 10 ou 15 dias de férias não resolvam.
Como prometi, esta semana publicarei tudo que está guardado.
Quer dizer, tudo do que foi produzido por estes dias de 'estaleiro'.
Enquanto isso vamos regando minha plantinha.
Obrigado pela solidariedade!
12 de dezembro de 2006
FENG SHUI PARA FAVELADOS
ENCONTREI ESTA MATÉRIA HÁ TEMPOS NA INTERNET E GUARDEI.
Na impossibilidade de escrever algo agora, procurando o que postar resolvi mostrar pra você. Acho um barato!
A autoria está exposta como também detalhes de sua localização.
por MrManson. Original em Cocadaboa Para quem não sabe:Feng Shui - Prática oriental que busca estabelecer o equilíbrio energético de um local através da arquitetura e do posicionamento estratégico dos móveis. A arte do Feng Shui começou a ocupar um importante espaço em minha vida. Desempregado e sem ter o que fazer, fui obrigado a me matricular em um curso profissionalizante do IUB (Instituto Universal Brasileiro). Finalmente os 4 anos que estudei economia em uma universidade pública foram de alguma serventia. A base teórica que adquiri com o auxílio de meus mestres foi muito útil para escolher um curso que tenha um mercado em expansão. Qualquer outra pessoa, desprovida do arcabouço teórico extraído de milhares de páginas de Marx, Keynes e Smith, teria optado por outras opções pouco rentáveis, como Silk Screen ou Datilografia.Abro parênteses - Os anúncios do IUB estão estrategicamente posicionados nas revisitas em quadrinhos da Turma da Mônica e da Marvel, pois qualquer adulto que possua tempo para desperdiçar em uma forma de entretenimento tão escrota, com certeza está precisando desesperadamente de uma ocupação profissional. Bato palmas para esta genial jogada de marketing - fecho parênteses. Como todos os cursos do IUB, o de Feng Shui também exige que seus alunos apresentem um projeto final antes de ganhar o diploma. Sempre fui uma pessoa muito preocupada com as causas sociais e o Cocadaboa é uma das minhas humildes ferramentas de ação. Resolvi então apresentar um projeto que equilibre os fluxos energéticos dentro de um barraco de favela. Os motivos da escolha são simples: além de grande parte dos brasileiros morarem em um barraco, este segmento da população é visivelmente prejudicado pela falta de um equilíbrio energético em sua moradia. Com certeza este é o principal motivo das desgraças em suas vidas miseráveis.Para simplificar o projeto esbocei a planta baixa de um barraco médio, que pode ser encontrado em qualquer esquina de nosso país. No desenho foram marcados 7 pontos que representam os erros que são mais freqüentemente cometidos pelos favelados. Vou tentar explicar de maneira clara e concisa cada um deles, além de apresentar a solução para os mesmos. No ponto 1 já notamos um erro fatal. O barraco está posicionado de frente para uma vala. A primeira lição do Feng Shui explica que o fluxo de água é um grande canalizador de energia, mesmo que ela seja podre. A vala está desviando a energia que deveria estar entrando pela porta, o que provoca uma descomunal falta de ânimo para os membros da residência. Provavelmente é por isso que eles sentem fome, pois estão impedidos de absorver a energia do cosmos. A solução mais simples é construir uma nova entrada, de frente para o fluxo de água, assim a energia da corrente flui naturalmente para o interior do ambiente, principalmente durante as enchentes. No ponto 2 vemos outro erro grave. O "gato", que puxa ilegalmente energia da rede elétrica, está localizado ao sudeste da residência. Como todos sabemos, a energia elétrica deve vir do leste, pois é lá que o sol nasce. Nosso astro rei exerce poder sobre todas as coisas, inclusive sobre os quilowatts. Uma simples mudança no ângulo do "gato" permitiria que esta família economizasse 20% de seu consumo total. Prestem atenção no ítem 3. A pia está ao lado do fogão, ou seja, o elemento água está convivendo muito próximo do elemento fogo. A água e o fogo são os pilares de nosso universo, logo devem estar localizados em pontos opostos do barraco, proporcionando uma base de sustentação mais sólida para o ambiente. O ítem 4 é fácil de ser corrigido. O sofá, quebrado e fedorento, está posicionado de costas para a entrada principal. As pessoas que sentam nele recebem os fluxos energéticos pelo "canal reverso", o que na linguagem leiga é conhecido como "penetração energética pelo ânus". Devido a esse erro, os filhos do meio estão expostos a uma homossexualidade latente.O número 5 deve ser analisado em conjunto com o número 6. A televisão (5) é a única conexão que esta família de favelados possui com o universo. É através dela que chegam as informações e os sonhos do "mundo exterior". A forma de agrupamento das crianças em frente ao aparelho é muito irregular (6). Um simples adestramento faria com que elas posicionassem os seus corpos paralelamente uns aos outros. As energias e as mensagens educacionais dos programas de TV seriam recebidas de forma adequada, e não de uma maneira distorcida. Esta distorção certamente encoraja estes pivetes a praticarem atos ilícitos.
AINDA NO ESTALEIRO
8 de dezembro de 2006
BOAS NOVAS
2 de dezembro de 2006
QUANDO TUDO ESTÁ DENTRO
Abraço mais intenso
Somente o do ar ou água.
A geografia invisível
Do teu corpo me delimitam os braços
E posso tatear no escuro
Ou na rua em pleno ar te abraçando.
E eu ainda abraço-te na rua.
Invisível. Como abraço meu pai
Pois não é saudade que sinto
Quando tudo está dentro.
Se há melancolia
É de não ser pleno, mas tudo está aqui.
Tudo que me presenteaste
E carrego comigo agora e adiante.
Tudo que fui ainda sou… maturado.
Doravante posso desenhar-te
À minha maneira tosca e inábil de criança
Como garatuja apenas
E ninguém te verá nestes traços
Mas sei que és tu sem medidas.
Do livro "Os Sapatos Apaixonados"
1 de dezembro de 2006
NA VOLTA NINGUÉM SE PERDE
26 de novembro de 2006
GLÓRIA TRICOLOR
Que me perdõe o filósofo Biu Gomes, meu pensador preferido, mas gostei de ver o tricolor crescer pra cima da "cobrinha coral". Cobrinha aqui não é pejorativo não, até porque nutro um simpatia grande pelo Santa Cruz.
Entretanto, torcer contra o Fluminense aí já era pedir demais.
Voamos baixinho, pertinho do chão pro 'Mundão do Arruda' e deu tempo de ainda ver o tricolor entrar em campo. Mesmo com um time medíocre (e um futebol idem) ainda conseguiu fazer dois a um. Se Evandro, Tuta e Alex não tivessem perdido três gols incríveis a história descambava pra goleada.
Salvou-se o pó-de-arroz do rebaixamento e fez-se a alegria da torcida numerosa e, ao menos na arquibancada, maior que a do time da casa.
Ver de perto o clube do coração, vibrar com os gols do Goiás (contra a Ponte Preta) e ainda 'empurrar' o time no grito todo o tempo valeu-me uma rouquidão que deve durar uns dois ou três dias. Reclamar, eu? Meu time ganhou! Finalmente!
Como disse Gonzaguinha "(...) hoje eu só quero saber da comemoração / e nem quero pensar / se meu time não fosse campeão / - sorrindo ele me segredou: / - nós faria uma revolução."
A empáfia do título nega o texto, mas com paixão é assim. Comemoramos o fato de sermos um time 'de primeira'. Ufa! Por pouco!
24 de novembro de 2006
GENTILEZA
Depois de um tempo vivendo e prestando atenção às coisas e pessoas a gente aprende algumas noções fundamentais praquilo que dizem ser e viver melhor. Uns mais cedo, outros nem tanto.
Diria que ainda em tenra idade aprendi que sabedoria não rima com arrogância; que conhecimento verdadeiro não convive com autoritarismo.
As pessoas com maior bagagem de conhecimento que conheci até hoje, as que unem informação com capacidade de transmitir ensinamentos pelo exemplo, as que trazem consigo aquilo que alguns chamam Sabedoria, todas, inevitavelmente traziam agregada a si a marca da humildade.
Com o tempo descobri também algumas expressões quase mágicas como 'por favor', 'muito obrigado' e 'desculpe-me'. Essas sim, me ensinaram que é sempre possível abrir pesadas portas, extrair sorrisos simpáticos de faces tensas e mesmo conter acessos de ira nascente em corações magoados.
Descobri a enorme satisfação de parar o carro antes da faixa de pedestres e receber sorrisos maravilhosos de agradecimento por ter feito quase nada, apenas contido um pouco a ansiedade de chegar nalgum lugar.
Descobri o quanto é possível dar ordens, comandar ações, determinar atitudes dizendo a um subordinado hierárquico, 'por favor, faça tal coisa pra mim'. Ele sabe que está recebendo uma ordem, mas o 'por favor' colocado naturalmente antes tem um poder incrível de desarmar espíritos e até diminuir níveis de mau humor.
Aprendi que a expressão 'muito obrigado', muitas vezes dita apenas por formalidade, tem uma força incrível quando verdadeira, olho no olho, sinceramente dita.
Nessas idas e vindas da vida, aprendi que a força quase indescritível do perdão. Não da expressão 'perdoe-me' ou 'desculpe-me'. Falo do perdão mesmo. Aquele que você consegue dar com tranqüilidade a um sujeito que se acha o dono da rua e das leis e lhe fecha no trânsito crente que está certo e ainda rosna um palavrão.
O perdão, e nem sei até que ponto isso vem de minha formação cristã, tem a força impressionante de fazer o bem muito mais a quem dá do que a quem recebe. Mas é muito gostoso sentir o alívio de não existir raiva dentro da gente. A ira entorpece e estraga o humor. Acho até mesmo que abaixa o tesão.
Tenho descoberto algumas coisas ultimamente e isso me tem feito um bem enorme. Uma delas foi não brigar comigo mesmo. Começo a sentir uma paz enorme em aceitar-me como sou e, sendo assim, desse jeito, não bastar-me a mim mesmo, mas ser feliz assim.
A gentileza não faz mal a ninguém. Como o presente dado, creio fazer quantidade de bem maior a quem dá do que a quem recebe.
A lua minguante nos céus da Borborema, a exuberância primaveral dos Ipês, a brincadeira de Vinícius no seu sorrisão desprovido de malícia, encostando a cara no vidro, ainda sem dizer uma palavra são, pra mim, a prova de que existem mais detalhes pra serem observados na vida que aquilo que a gente simplesmente vê "a olho nu".
A lente pra ver mais e melhor está dentro da gente. Certamente o Dr. Sabino, meu oftalmologista preferido, concordará comigo!
22 de novembro de 2006
"TE REGALO UNA ROSA"
"Te regalo una rosa / la encontré en el camino
no sé si esta desnuda / o tiene un solo vestido (...)
Mi amor, eres la rosa que me da calor / eres el sueño de mi soledad,
un letargo de azul, un eclipse de mar..."
A canção de J. L. Guerra é por demais conhecida e como tantas outras do cancioneiro popular, destacam a rosa como simbolo da formosura, além do perfume, claro.
A rosa também é uma imagem recorrente quando se quer lembrar que na vida as coisas boas também têm seu lado dolorido, seus espinhos.
Pois então? E não é assim com quase tudo? A vida bem poderia ser um 'mar de margaridas', boninas, tantas outras flores, mas alguém inventou logo cedo de cunhar a frase "a vida não é um mar de rosas". Agora não tem mais jeito.
Diz a sabedoria popular que quando você não tiver nada pra dizer permaneça em silêncio.
Entretanto, gostaria hoje, sem ter o que dizer, vitimado por uma espécie de quase completa prostração intelectual... e mesmo afetiva (aquilo que no passado chamavam banzo), deixar pros meus visitantes uma ou duas rosas-meninas de presente.
Não têm utilidade aparente, mas podem alegrar o dia de alguém. Com uma clara vantagem sobre as rosas originais, essas não espinharão os que as tocarem.
Na falta de um ipê-roxo ou amarelo, transformado em plenitude floral na primavera campinense, de um buquê de flores silvestres, lírios, jasmins... duas rosinhas singelas pra enfeitarem o seu dia.
Plantei dois desses ipês num jardim imaginário, um rôxo e outro amarelo. Ano que vem eles me darão milhares de flores ou, na verdade, se transformarão em flores, pois com minha imaginação também acelero sua maturidade.
Caro amigo! Querida amiga! Precisamos olhar mais e tocar mais as flores. Por enquanto, como dizia Juan Luis Guerra, "te regalo una rosa".
Somente isso e minha vontade imensa de deitar numa rede que gostaria de também dividir com você.
P.S. O pé de rosa-menina vive muito bem na casa do "Tio Nato" em Alagoa Grande.
18 de novembro de 2006
UM SUJEITO AFORTUNADO
Não tenho os créditos da foto. O sinistro aconteceu na BR 324, em Feira de Santana (BA).
Qualquer pessoa há de se perguntar se o sujeito dono deste carro achou que teve prejuízo ou lucro. Você acha o quê?
Pode parecer com aquela velha história da "Lei de Murphy", se existe uma possibilidade de dar errado, prepare-se, pois vai dar errado. Sei não, mas acho que isso é o alimento dos pessimistas.
O cara pode raciocinar de duas formas: 1) como sou azarado! Perdi meu carro! 2) Que sorte! Que maravilha! Tô vivo! Escapei fedendo! (Essa é de Juazeirinho!).
Eu, quando menino, tinha uma mania esquisita de desafiar alguns tabus e o azar. Diziam que se a gente revirasse a pálpebra superior dos olhos e, naquele instante, o galo cantasse ficaria daquele jeito pra sempre. Pois não é que eu fazia e ficava ali, esperando... pra ver ser o galo cantava e o que aconteceria. A esta altura não lembro mais se o galo cantou alguma vez, coincidindo com aquela bizarrice.
Outra coisa desafiante era passar por baixo de escadas na rua. Encontrar um gato preto e ficar torcendo pr'ele cruzar pela frente... nunca entendi bem porque fazia aquilo, mas era muito engraçado. Psicólogos, psicanalistas talvez ajudem-me a entender. Afinal, há um adágio antigo que diz que quem cospe pra cima tem grande chance de levar na cara.
Depois de um tempo, ao menos pro tabu da escada encontrei explicação. Se ela escorregar na hora em que você vai passando... ai! Tive sorte até hoje e depois de um tempo larguei de fazer esses desafios.
Hoje, quando vi a foto, enviada por meu irmão Gilberto, pensei comigo mesmo: sou um cara muito afortunado! Quantas vezes não escapei (simbolicamente)como o cara do carro?
Fechei os 44 esta semana e perdi a conta de apertos de mão, abraços, sorrisos, votos, telefonemas, presentes antecipados e atrasados... muitos de amigos de perto e de longe.
Algo me inquietou profundamente e me fez mudar um conceito. Sempre achei que presente é pra fazer a felicidade de quem o dá. A alegria de dar presentes deve ser sempre maior que a de receber. Fico todo sem graça ao receber um presente (os amigos já conhecem e não sei se é um defeito), quando deveria demonstrar contentamento. Mas, o bom mesmo é dar presentes.
Agora tenho pensado em inverter a lógica. Penso que no nosso aniversário deveríamos comprar um montão de presentes pra dar. Se isso não fosse possível, uns cartões, uns telefonemas, uns emails, uns scraps uma série de visitas... a todos os nossos amigos.
Você chegar no dia do seu aniversário e nunca mais o amigo passar aquele 'aperto' de arrumar uma desculpa pro esquecimento. Você liga logo cedo e diz: "valeu, cara! Hoje é meu aniversário e estou ligando pra lhe agradecer por ser meu amigo, por me dar este fantástico presente."
Imagine você chegar prum amigo que não vê há um bom tempo, levar-lhe um mimo, um regalo e dizer: "hoje é meu aniversário e lembrei de você, amigo! Vim aqui só pra dizer que, mesmo distante, mesmo sem nos vermos ou nos falarmos durante tanto tempo, você continua meu amigo. Por isso vim lhe dar um presentinho, pra que você saiba o quanto agradeço por você existir e me presentear com sua amizade."
A vida em si é um presente. Aliás, é o presente. Ter amigos que fazem com que nos sintamos importantes, gostados, amados, aí já é presente borbulhando como champanhe em fina taça.
Acho que, como o cara do carro azul da foto, sou um sujeito extremamente afortunado.
16 de novembro de 2006
NO FUNDO DOS OLHOS
Por favor, não diga que são olhos de ressaca. Essas pequenas bolsas, ou são hereditárias, ou são resultado da vigília maior que o repouso. Com a devida vênia, a boêmia tem um pouquinho de participação também, mas minoritária.
14 de novembro de 2006
UM CASARÃO RODEADO DE JANELAS
Ontem vi no roda-viva uma entrevista da escritora norteamericana Laura Kipnis falando de um livro seu que ficou famoso sobre uma suposta morte do amor no seu formato mais conhecido, intitulado "Contra o Amor".
Ela argumenta que "o amor é uma invenção moderna, não traz toda a felicidade que promete, cria ansiedade e provoca estresse e depressão." A escritora questiona o fato da sociedade "continuar idealizando relacionamentos duradouros e monogâmicos, quando a realidade mostra que isso é cada vez menos possível".
Seria uma espéecie de decretação da infalivel arapuca em que se meteram o seres humanos com a fórmula do amor romântico nos moldes que temos conhecido. Falava dos norteamericanos, mas o livro vem rodando o mundo e sendo lido e bem vendido.
Fiquei matutando se não deveria escrever um livro desses. Há alguns anos até escrevi uma sinopse do que seria tal livro e tenho guardado, mas isso é empreendimento de fôlego e não sou gato.
Eu, hein? Pense num assunto onde quem mais fala parece ser porque não compreende de jeito algum e está tentando dizer.
Aqui talvez seja o caso.
Uma foto tirada há poucos dias do interior de uma casa me deu um mote. Busco uma imagem que me ajude a entender o amor. Não o amor em geral, mas o amor romântico, ou romantizado, erotizado e culturalmente adotado e praticado por boa parte de nós, seres humanos brasileiros. Falo brasileiros por serem os que conheço um pouquinho.
Imaginei um casarão sem nenhuma porta, mas repleto de janelas. Janelas como essa, donde se pode divisar o mundo de ângulos completamente diferentes e até inusitados, de onde se pode respirar, sonhar o mundo de dentro e de fora.
Esta janela poderia ser de qualquer cidade e qualquer casarão. Daqui vejo uma arvore perto, uma rua calçada, um muro, arvores outras, casinhas ao longe e bem longe formações rochosas, serras se entrecruzando... depois o azul, o infinito.
O infinito eu não vejo necessariamente, mas imagino.
Penso assim o amor. Esse amor de que falo.
Duas pessoas escolhem o casarão, mandam vedar as portas e ficam lá dentro com suas enormes janelas abertas pro mundo.
Um dia, por acaso, os dois não estão juntos na janela, até e porque estar sempre juntos estraga o amor, e um, mesmo adorando o casarão e a vida dentro, vê coisas acontecendo lá fora, movimento, vida pulsando diferente e sua respiração muda de ritmo. Pensa numa porta, mas porta não existe. E agora, José?, como diria Drummond! Quer morrer no mar, mas o mar secou.
Tranca as janelas e volta pra dentro do casarão. Um breu sem tamanho toma conta do dia. Fica ali, em estado de quietude quase total. Numa espécie de quase-catatonia, olha ao seu redor e descobre que o mundo não há de compreender o amor a não ser por metáforas.
Com efeito, talvez somente os poetas possam nos revelar algumas verdades, mesmo fugazes. Os poetas e o tempo. O tempo!
Salvem-nos os poetas! E os lunáticos! Tenho dito!
13 de novembro de 2006
IMAGEM DA DESTRUIçÃO
PROMETI E ESTOU PAGANDO;
EIS O DESASTRE PROVOCADO PELAS FORMIGAS NA MINHA ACEROLA.
Tem um monte de coisas pra postar, mas acho que precisam maturar. Hoje ainda, quem sabe...
Por equanto, a foto que prometi.
Tenho boas novas. Bastante cuidado, carinho e regas e alguns olhinhos ja começaram a brotar. A vida se renova.
12 de novembro de 2006
BRASIL: PRESIDENTE COMUNISTA!
8 de novembro de 2006
FORMIGAS... ESTOU COM RAIVA DELAS!
DESPERTO NO FIM DA MADRUGADA
6 de novembro de 2006
NÃO HÁ BOM SEM DEFEITO
1 de novembro de 2006
PERMITO-ME AO MUNDO
Permito-me ao mundo
E nele toco.
Virtudes e vícios.
Menino, quero dele apropriar-me
Pelos sentidos
E nessa aventura
Já tive dedos queimados,
Pequenos choques elétricos,
Provei do gosto amargo,
De coisas que não queria
E sabores inesquecíveis.
Toquei em flores, espinhos,
Rostos de crianças, pele macia.
Escutei a maravilhosa música do mundo.
E o mundo sorri pra mim.
Às vezes escancara numa gargalhada...
Afinal, ao me permitir pra ele
Recebo de volta generosamente
Sua contrapartida.
Em parceria com ele
Sigo arriscando.
Vivo o mundo como se fosse meu,
Penetro cada brecha aberta
E quando ela não existe eu a faço.
Melhor que falar mal do mundo
É tocar nele
Como gente,
Como parte dele,
Como menino
Brincando de gente grande.
27 de outubro de 2006
PREJUÍZO INCOLOSSAL
Resisti muito em comentar aqui no blog algo sobre as eleições estaduais. Acabou!
Assisti mais uma vez ao debate entre os candidatos ao governo da Paraíba. Insosso! Fraco que só sopa de bila.
Não sei porquê insistem nesses debates às vésperas das eleições. Deveriam fazer debates de dois em dois meses, o ano todo, todo o tempo. Com os partidos e não com os candidatos somente, como se fosse um duelo. Tem até preparação, treinamento... vôti! O que menos se tem são esclarecimentos, propostas... que possam levar o eleitor que não se envolve diretamente com as questões partidárias a decidir votar neste ou noutro por achá-lo melhor em suas propostas e convicções. Cada dia me convenço mais que o eleitor decide seu voto pelas vísceras: estômago, intestinos, fígado, rins, bofe (É o novo!) e coração.
Contam-se nos dedos os eleitores que votam pelo partido, pela consciência, pela racional escolha e esperança que, assim fazendo, melhores dias virão pro conjunto da sociedade e não tão somente pra ele e seus parentes, agregados e aderentes. Quando afirmo isto, não me excluo por completo, nem aos que de mim estão mais próximos.
Em se tratando de eleição, a paixão determina quase que completamente e sempre mais que a razão. E quando assim acontece, como ademais em quase tudo na vida, os resultados não são os melhores. Estamos falando de política, portanto, o que guia o mundo nas relações humanas coletivas.
Acredito que as elites de Pindorama não criam uma legislação partidária e eleitoral melhor porque é exatamente assim que querem deva permanecer. Cláusula de barreira é mais importante que fidelidade partidária. Voto distrital é mais importante que financiamento público de campanhas.
Eu, hein! "Me engana, que eu gosto!"
Tenho minha decisão tomada e não vou publicá-la. Atende a um conjunto de critérios combinados dentre os que citei antes, um deles e o mais importante, a consciência.
Não resisti, entretanto, em fazer um comentário sobre fatos de um passado recente:
Fui vítima da "arrogância, prepotência e autoritarismo" de um destes dos dois candidatos há alguns anos. Estava indicado por um coletivo político e acadêmico como pré-candidato à reitoria da Universidade Estadual da Paraíba. Diziam alguns colegas que ele, por conta do perfil acima descrito, "... jamais aceitaria um comunista (o que sou, com muita honra!) na condição de reitor da UEPB". Diziam ainda mais: que "... se fosse candidato não seria eleito (pois seus seguidores golpistas tramavam autoritariamente contra nós) e se eleito não seria nomeado...”
Pronto! É o rei!
A dois meses da eleição a autoridade fez publicar um DECRETO mudando as regras do jogo, uma verdadeira intervenção na instituição e um golpe na sua incipiente tradição democrática. O processo foi todo modificado e foram instituídas novas regras, verdadeiramente draconianas, para o deleite dos seguidores daquela autoridade.
Resultado: a candidatura foi derrotada. Natimorta! Abortada!
Seis anos depois eu continuo aqui, entrincheirado, combatendo o bom combate, fiel às minhas escolhas ideológicas, tentando fazer o bem que me cabe e a minha consciência determina. Muitos (a grande maioria) companheiros daquela batalha continuam com a mesma opinião acerca daquela autoridade. Ela não mudou!
Mas voltemos ao debate. Assisti ao debate e se não fizer meus comentários aqui, ao menos aqui que é meu espaço privado-público, vou estourar feito cururu (êita! Essa é de Juazeirinho!) com sal no espinhaço.
Mesmo com toda a falta de sal e tempero do debate, algumas coisas não escaparam aos ouvidos mais atentos. Além da grande dúvida que paira: se os dois dizem e provam que o outro é mentiroso, quase dá pra interpretar que o melhor pra Paraíba é que um dos dois esteja errado.
Muitos colegas, dentro e fora da universidade, tiram o maior sarro da cara de um dos contendores pela sua notória dificuldade com o vernáculo.
Digo quase sempre: não sejamos cruéis nem preconceituosos com o 'pobrezinho', pois na maioria nas vezes isso é apenas recurso lingüístico e deve ser aceitável, respeitado. É parte da riqueza imensurável da brasilidade. Alguns deslizes, com um pouco de humildade e fonoaudiologia, seriam perfeitamente corrigidos.
Entretanto, pra não “passar em branco”, deixo algumas observações. Neste sentido, confesso de me diverti com o debate.
Acho que o bom mesmo da "contribuição" de um dos candidatos para a língua portuguesa, em minha humilde opinião, se deu em dois momentos:
1. Quando afirmou peremptoriamente, com pompa e circunstância, que determinada ação do adversário havia "(...) causado um prejuízo incolossal à Paraíba (...)".
ESSA FOI BOA! QUER DIZER, BOAZINHA! O MELHOR AINDA ESTARIA POR VIR!
2. Quando se referiu ao episódio conhecido como "apagar o último candeeiro" afirmando que aquilo era uma espécie de consigna, de chamamento, uma proposta, uma meta... portanto, e por essa razão, "...o verbo estava no infinito...
ESSA FOI DEMAIS!
Grande contribuição para uma compreensão mais dinâmica, flexível e vivificada da língua portuguesa. O VERBO QUE NÃO ACABA! Parece a coisa do 'gênese' invertida no livro do apocalipse. “No final (princípio) será (era) o verbo...”
Pobre Machado de Assis! E pobre de mim que deverei em breve ser chamado a algum “Tribunal da San...” cala-te boca!
Meu silêncio quase episcopal tem sido acompanhado por poucos. Testemunhas amigas de um sofrimento psicológico de não poder (ou seria dever) dizer o que manda o desejo e a consciência.
Que eu mesmo me apiede de minha alma! Deus deve estar muito ocupado cuidando das eleições. Afinal, os dois candidatos agem em nome dele e se acham escolhidos por ele. Assim mesmo, sem maiúscula. Ai! Vou ser castigado!
26 de outubro de 2006
SOU UM POÇO DE SAUDADE
"Sou um poço de saudade - sou a vida -
Tão cuidadosamente represada
Em parede circular - bem rejuntada -
E a saudade lá no fundo, ali... contida.
Meio dia - sol a pino - iluminada,
Evapora-se a saudade ante a lida.
Faz de conta que se foi - é tão fingida
Que retorna quando é alta madrugada.
Feito orvalho, ela volta, se condensa.
Mas engana-se quem vendo-a, 'inda pensa
Que ela em mim é passado - coisa rara.
Sou o único quem sabe - quem assume -
Que ela aumenta e abaixa o seu volume,
Pois no fundo há uma fonte que não pára."
D'Os Sapatos Apaixonados'
22 de outubro de 2006
A MORTE BATE À NOSSA PORTA
Amigo e amiga que me lê: você já pensou em quando poderá ser o dia de sua morte?
Já pensou que poderá ser exatamente agora, no momento exato em que você lê este pequeno e despretensioso escrito?
Não se assuste, por favor! Não pretendo causar pavor, apenas provocar.
Imagino o que pode pensar da morte um garoto de 14 anos.
Eu, quando tinha essa idade, tinha três registros marcantes sobre a cuja.
Minha avó Paulina na cama, um ronco esquisito, o movimento angustiado de pessoas entrando e saindo, os netos retirados do quarto às pressas, Seu Zé Braz `voando` pra Soledade no Opala de Dona Alzira em busca do Dr. Teodomiro, o retorno, o inevitável e definitivo diagnóstico.
Josebel era um garoto loirinho, meio tímido e sentava ao meu lado no colégio, naquelas carteira duplas, boas pra fazer amizade ou rixa. A correria na hora da entrada do colégio, o burburinho, a notícia da fatalidade: ia pro colégio e deu uma fugidinha pra tomar um banho na ponte, uma mergulho, a cabeça numa pedra, uma vida verdinha ainda indo embora, o vazio na minha carteira escolar, o assombro por muitos dias, o costume da ausência.
Aos 14 anos, eu ajudava nas tarefas domésticas e Dona Neide estava em Campina acompanhando Seu Tonito, meu pai, que estava internado na Casa de Saúde Dr. Brasileiro, vítima de infarto. Dona Maria de Jaime bate à porta, estou varrendo a sala, ela me diz que não traz boas notícias. Um calafrio, uma `marretada no juízo`, uma voz dentro de mim ecoando... papai morreu! Tive que arrumar a casa toda pra receber as `visitas` fúnebres.
Hoje, estou pra completar 44 e já vi muito desmantelo. Como dizia meu mapa astral, eu deveria ser marcado por Plutão, o planeta da morte, o `deus do inferno`. Não sei agora, que baixaram a patente do meu astro, se ainda está valendo. Continuo o processo de me avezar com a morte, mas sempre me deparo com um choque entre a aceitação e o estranhamento, a relativa naturalidade e o processamento do luto.
A professora Eliane Pinto, fisioterapeuta, trazia sempre no rosto um largo e permanente sorriso. Tinha um jeito peculiar de sorrir, claro, sempre que abordada. Um sorriso de aparência tímida, mas sempre sorriso, sempre anunciando alegria, abertura pro mundo. Não fui seu aluno, convivi pouco com ela, mas tenho dela essa afável relembrança.
Pois a professora foi visitar a mãe e, ao sair da casa materna, foi abordada por um garoto de 14 anos que, em vez de pedir-lhe ajuda, de revólver em punho, disparou-lhe um tiro que entrou-lhe pelo nariz quase sem deixar marca. O marido estava sendo assaltado e ela, ao que parece, não entendeu. Não havia reagido senão com o habitual espanto de quem se vê numa situação estranha. Morreu rapidamente, pois o projétil atravessou-lhe o cérebro.
O garoto, sabe-se agora, já tinha outros feitos dessa ordem em seu currículo, ou pelo menos participou de outros.
Fico imaginando o que poderia se passar na cabeça de um garoto de 14 anos acerca da morte, do que seria a morte. O que seria pra ele morrer ou matar?
Eu, um incorrigível defensor da vida, fico me perguntando: o que poderia se passar na cabeça de um garoto de 14 anos ao ter em suas mãos a possibilidade de tirar uma vida?
Talvez se tivesse a possibilidade de dar vida a alguém não fizesse diferença.
Um pensamento incômodo me assalta cotidianamente. Questiono sempre onde vamos parar com essa história de tão pouco valor dado à vida humana. Mata-se gente na rua como antigamente a gente matava passarinho no mato, às vezes pra testar a pontaria, pra ver a queda.
Já escapei de dois assaltos e me sinto mais ou menos treinado para reagir (ou melhor, não reagir) com certa e dosada tranqüilidade numa situação dessas pra que o indivíduo nem tenha medo de mim, nem me ache seguro demais e pense que vou reagir, leve tudo e me deixe a vida, a única que tenho.
Em meu primeiro assalto (não sei se é assim que devo dizer!) o sujeito me deixou deitado no chão, submetido como a mais vil criatura, um clic seco de um revólver sendo engatilhado, o frio do metal encostado em meu pescoço, próximo à nuca, um pedido desesperado de calma de “não faça isso”! Pelo atrevimento tomei um chute nas costelas que deixou o solado do tênis desenhado em minha camiseta branca, Dona Neide levou aquele tradicional insulto e eu carreguei no corpo alguns dias de dor. O primeiro a gente não esquece.
Na segunda vez em que fui assaltado, no interior de um ônibus de viagem, em plena madrugada, acordei sobressaltado com o carro dentro do mato e o burburinho dos passageiros: calma, não reaja, é um assalto! Meia dúzia de sujeitos mascarados nos ameaçando a todos com seus revólveres e um deles, se engraçou de mim e resolveu encostar o 38 em meu estômago. Como não conseguia abrir minha mochila foi ficando irritado (não sei se devo dizer assim!) e ante minha tranqüila oferta para ajudá-lo, deu-me uma pancada na chamada “boca do estômago” que não contive o grito de dor e pavor. Ele me levou um velho celular, algum dinheiro, documentos e quase tudo que eu tinha. Fiquei feliz, pois o tal me deixou o principal, a vida.
Chego em casa um pouco assustado pra abrir o portão à noite.
Saio do banco tenso com medo de um sujeito pensar que vim de lá com grana.
Paro numa barreira policial desconfiado pensando que podem ser bandidos disfarçados.
Não ando mais à noite, pois o sossego foi embora e não é mais possível como antigamente que você poderia voltar da casa da namorada feliz, relaxado e a pé. E ainda caminhando com um sapato cavalo de aço.
A vida está valendo bem pouquinho mesmo. Por isso, me parece, ela deve ser mais valorizada ainda. Ah, se aquele garoto tivesse a chance de aprender. Será?
Saudades de Cazuza. “Ah, que tempo mais vagabundo é esse que escolheram pra gente viver?"Como dizia o poeta Chico Passeata, “se a vida / é uma só / por pior que seja / é a melhor.” Viva, meu amigo! Viva intensamente! Viva e sorva com calma, saboreando, cada gole de vida de que disponha. Amanhã ainda não é