2 de novembro de 2008

A MEMÓRIA E AS COISAS

Houve tempo em que gravava tudo. Por puro prazer! De números de telefones a cenas de filmes bobos, datas, nomes de ruas, o nome das coisas, das pessoas. A memória era meu arrimo e o prodígio me engrandecia só de pensar que era superdotado. Agora acho que cansei. Um espectro anda rodando minha vida e me descobri mudando. Ultimamente dei de guardar coisas estranhas e pouco usuais. Ando querendo guardar sorrisos, palavras, sons, melodias quase imperceptíveis a ouvidos desatentos; ando memorizando beijos e seu sabor de saliva alheia; ando registrando toques sutis de pele, pontas de dedos; ando redescobrindo aromas de pós-infância, mormaço caririzeiro, orvalho, chuva noturna... Ando assim...

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