22 de março de 2009

PALAVRAS AO VENTO

Tomo as palavras de empréstimo ao dicionário. Palavras cubos de gelo.Vou juntando-as lado a lado. Encontro um ponto de fusão e elas viram frases. Blocos de gelo. Com o fogo da imaginação ou da minha boca elas derretem, tomam outra forma. Dou-lhes vida e vão ganhando tons, entonação... agora são enunciados, pois o outro já existe e dialoga. Então eu pego 'triste' e a liberto com uma gargalhada. Minto! Pego 'goool' e expulso da boca com desdém. Perdi o jogo. Escolho agora chuva e ela se chama saudade. Empresto ao sertanejo e em sua boca ela virou esperança. São assim as palavras, a gente brinca com elas e elas ganham vida. No dicionário, mais que cubinhos de gelo elas são letras que se juntaram para criar possibilidades. É em mim que elas germinam. Em mim e em você. Você (o outro) me escuta (me lê!) e descobre que minto ao pronunciar 'estou bem'. Você sorri e o mundo muda em derredor. Você responde e começamos uma viagem. Contingências e possibilidades. Afinal, não é assim que fazemos história?
Um poeminha escrito (há uns quinze anos) para "Os Sapatos Apaixonados". Lavras palavras. Palavras, as inventamos, as vestimos para o sonho,
a matéria. Toda matéria, o movimento o nada, palavra... O sim, o não, não, sim, bem, mal, noite dia, dialética. PALAVRAS! O sexo, o som do sexo, e ao redor palavras, sons ininteligíveis, grunhidos, onomatopéias do sexo linguagem dos sentidos encaixando dentro como luva, a língua a palavra, à parte, a mágoa, a morte à míngua...

2 comentários:

Anônimo disse...

Rangel,

Parola, parola, parola... ela fica entre o céu e o inferno,entre o construir e o destruir.
Portanto, procuro sempre as que posso me valer, como as suas.


As palavras sempre ficam.
Se me disseres que me amas, acreditarei.
Mas se me escreveres que me amas, acreditarei ainda mais.
Se me falares da tua saudade, entenderei.
Mas se escreveres sobre ela, eu a sentirei junto contigo.
Se a tristeza vier a te consumir e me contares, eu saberei.
Mas se a descreveres no papel, o seu peso será menor.
Lembre-se sempre do poder das palavras.
Quem escreve constrói um castelo, e quem lê passa a habitá-lo.

(Silvana Duboc)


Fique bem Rangel, e uma semana promissora
para todos nós.

Um abraço.


Débhora Melo.

RANGEL JUNIOR disse...

Que beleza de texto, Débhora.
Não conheço a autora.
Muito bom.
Abração e uma boa semana pra você tembém.