Palavras e imagens. Impressões e olhares sobre o mundo e as relações. Um pouco de cada coisa: educação, universidade, cultura, arte, política, gente...até poesia e outras formas de escrita.
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ENTREVISTA - DIARIO DA BORBOREMA
Publicada no DB 19/01/2007, resolvi postar aqui a entrevista concedida à Jornalista Oziela Inocêncio.
Está em www.db.onorteonline.com.brRangel Júnior lançará novo CD
A obra, estritamente autoral, deverá ser finalizada até o final de março ou meados de abril
Oziella Inocêncio imprensajornal@gmail.com
O paraibano de Juazeirinho Rangel Júnior já trabalha com música há mais de trinta anos. Desde a mais tenra idade escutava o pai cantando samba e o avô declamando literatura de cordel e promovendo saraus em sua casa. Cresceu, assim, num ambiente que se pode chamar culturalmente rico. Também formado em Psicologia, com mestrado na área de Educação, exercendo a função de pró-reitor de ensino da Universidade Estadual de Campina Grande (UEPB), o músico, nos últimos seis anos, já despontou na cena campinense com três cds e agora se prepara para lançar o próximo, intitulado provisoriamente [como ele próprio salienta] de "Nordestino Brasileiro". O cd, que deverá ser lançado até o final de março ou meados de abril, no Teatro Municipal Severino Cabral, possui apenas composições suas o que diferencia dos demais já executados por ele, posto que costumeiramente apresentava parcerias com outros artistas. Neste caso, Rangel é acompanhado apenas na produção, que tem a participação dos músicos Jorge Ribbas e Lifanco. Entre os projetos para este ano, o cantor e compositor aponta que serão postos em cena dois libretos de cordel e um livro de contos e poemas, assim como uma serenata em homenagem às mães. Este foi um dos pontos que ele abordou no decorrer desta entrevista concedida ao Diário da Borborema.
DB-Quais novidades estarão neste novo CD?
Ranjel Júnior - Acredito que este novo cd é bastante diferente dos que eu já fiz, a começar pelas composições que são todas minhas. Nós iniciamos a gravação em dezembro, mas eu já vinha num processo de seleção de repertório, de concepção do disco há mais de um ano. Nele, eu mostro o meu universo composicional. É curioso, porque sempre me achei mais compositor do que cantor, mas como não tinha ninguém para cantar as minhas músicas eu acabei trazendo para mim esse oficio [risos]. O disco dispõe de uma gama de gêneros musicais. Passeia pelo forró, xote, chorinho, galope, samba, bossa nova, reggae, canção, marchinhas de carnaval, bolero, valsa, coco. É uma produção bem eclética e reflete o meu amadurecimento. Não quis me restringir a ficar fazendo discos apenas de forró, para lançar na época do São João. Acho que, hoje, isso para mim não faz muito sentido. O meu universo estético, as minhas influências são muito mais amplas e resolvi explorar isso. Não quero me prender a nenhum rótulo ou gênero, embora me mantenha fiel às raízes.
Mesmo considerando que o título é provisório, por que "Nordestino Brasileiro"?
Vejo que hoje se convencionou dizer que música brasileira é samba, é bossa nova, mas que o forró, o baião, é música nordestina. Mas o nordeste não é Brasil? Sendo um nordestino, um caririzeiro, posso cantar bossa nova com esse meu sotaque nordestino. O cd procura mostrar que a música não se limita às regiões. É como se o eixo-de produção musical estivesse apenas no Sudeste, uma visão preconceituosa.
Que espécie de música não gravaria?
A música vazia, que sequer considero música. Aquela que ofende as mulheres, que a trata como lixo, como cachorra, que são compostas de baixarias e pornografia. Essa música está para MPB assim como o filme pornô está para o filme erótico, um gênero diferenciado. Há na história da literatura e da música grandes artistas que tratam de erotismo, mas sem recorrer a baixarias. A música de duplo sentido é diferente, para fazê-la com maestria é preciso inteligência e nem todos sabem jogar com as palavras e com o subjetivo.
Qual tema é recorrente em suas composições?
As relações humanas, em especial a que trata da relação homem-mulher. Procuro traduzir sentimentos universais nas minhas composições. Conto histórias minhas, de amigos meus, mas que também se confundem com meus próprios sentimentos. Por exemplo, tenho nesse novo cd um xote que compus para Florbela Espanca e que reflete uma fase que tive.
Se não fosse pró-reitor daria para sobreviver de música?
Daria e viveria melhor [risos]. Eu nunca investi muito na música. Ela sempre foi para mim diversão, prazer, lazer e por isso, o maior retorno da minha produção foi afetivo e as compensações, emocionais. Mas acredito que se eu investisse mais de modo financeiro mesmo, divulgasse com uma boa estrutura, um bom material midiático, daria para sobreviver apenas de música. Acho que seria mais feliz. No meu caso, há um professor que sustenta o artista. Sempre me senti artista a vida inteira, mas num determinado momento percebi que não daria para sobreviver apenas desta maneira, então tomei outros caminhos. Considero que conseguir aliar o prazer a algo que ainda te mantém, do ponto de vista financeiro, é o que chamam de realização.
Considera que a nova safra de músicos de Campina Grande é promissora?
Certamente. Tem muita gente produzindo hoje, grandes instrumentistas. Da cena contemporânea posso citar Toninho Borbo, Pepisho Neto, Aerotrio, Jorge Ribbas, Júnior Cordeiro, Sandra Belê, afora os que estão produzindo agora e ainda não conhecemos. O que falta na cidade é movimentar o fluxo de apresentações artísticas, mostrar o que se produz. A estrutura campinense para isso se restringe quase sempre apenas a bares. Isso associa a cultura ao entretenimento, à bebida, por isso as pessoas não vêem a arte como espetáculo que pode ser contemplado independentemente. O que vejo aqui é que temos um equipamento cultural muito bom, boas salas de espetáculo, mas falta a efervescência artística que há em João Pessoa, por exemplo.
A que se pode atribuir isso?
Há uma grande lacuna em Campina no que se refere a produtores culturais que tenham a coragem de investir no novo, no que é produzido aqui. Existe um círculo vicioso que os faz investir apenas no que dá lucro e temer os novos talentos. De certa feita, mostrei um trabalho meu para um produtor daqui. Ele gostou muito, mas disse que não podia trabalhar com ele porque o povo aprecia um trabalho de nível cultural mais baixo. Mas quem disse isso? Onde está postulado isso? Dizem que os cães gostam de osso, mas se dermos carne o que ele preferirá? Esse é um bom exemplo. Penso que essa visão é preconceituosa e rotula as pessoas.
Qual o sentido de ouvir e produzir música, de dedicar-se ao cultivo da arte?
Eu respiro música e literatura desde a infância. Apanhava da minha mãe para parar de ler, porque deixava queimar a comida nas panelas [só tinha homens em casa e também cuidávamos da cozinha] porque estava entretido nas minhas leituras. E sempre ouvia dela "você vai ficar doido de tanto ler". A arte e, principalmente, a música faz parte da minha vida muito mais do que qualquer coisa. Eu deixaria tudo menos a música. Viver sem música para mim é como viver sem água.