16 de novembro de 2006

NO FUNDO DOS OLHOS

Por favor, não diga que são olhos de ressaca. Essas pequenas bolsas, ou são hereditárias, ou são resultado da vigília maior que o repouso. Com a devida vênia, a boêmia tem um pouquinho de participação também, mas minoritária.
Sentado, quieto estava, quieto fiquei. Meus olhos foram penetrados por uma luz que, mesmo sabendo de onde vinha, assustou levemente. É assim que acontece, mas nem sempre. Às vezes tudo é muito superficial já me disseram amigos mais experimentados.
Nunca meus olhos foram olhados com tamanha curiosidade e penetração. Ângulos diferentes, comandos os mais variados, algumas perguntas breves, secas, quase monossilábicas a que eu respondia tentando uma formulação mais sofisticada, mas percebi pela situação que o ideal seria oferecer também respostas no mesmo padrão.
Aos poucos fui relaxando e um sutil contentamento foi tomando conta de mim. Já havia experimentado sensações parecidas antes, mas no dia em que se está completando 44 novembros é muito diferente. Lacrimejei um pouco, foi-me oferecido um suave lenço, enxuguei as lágrimas e deixei prosseguir aquela espécie de prospecção por um terreno até então só investigado por outros interesses mais sutis.
Antigamente tinha gente que dizia que eu possuía olhos cor-de-mel e, apesar de ficar lisonjeado com o sutil conceito e um certo conteúdo poético daí, sei que na prática eles eram furta-cor. Todo mundo tinha olhos de uma cor e o meu, ah, o meu mudava (e ainda muda) de cor conforme certas circunstâncias climáticas e biopsíquicas minhas. É assim! Por santo nenhum, porém juro!
Mas, deixa pra lá esse detalhe. O importante é como me senti depois de um tempo e o Dr. Sabino Rolim, craque da oftalmologia, companheiro dileto de algumas esparsas degustações cachaçais, regadas a um papo endless, amante da boa música e abraços sorridentes da vida me diz no final: você está muito bem! Não vai usar óculos, se não quiser. Ao menos por enquanto não! Vamos marcar a pequena cirurgia, também se você quiser fazer agora. Eu quero pra tirar o ardor e aquela imagem de "olhos-de-fogo", de quem já chega na festa de "cabeça feita".
Feliz pela garantia estendida dos meus olhos, fiquei todo ancho com aquilo que soou pra mim com um dos melhores elogios que recebi até os 44 (tirando aquele dos "olhos cor-de-mel", claro).
Agora é comemorar e preparar pra tentar chegar aos 45, se não com olhos de lince, ao menos com olhos de caçador. No meu caso, caçador de mim, que é o que mais tenho sido nos últimos anos. Quem me conhece bem o sabe!

4 comentários:

Anônimo disse...

Quando comecei ler "No fundo dos olhos", pensei cá comigo - esse santo tá querendo reza! - mas não, ele só queria honrar e festejar a saúde que tem.
Que teus olhos continuem limpos e vivos. Preparados ao sabor da vida. Voltados para o sol do mundo. Vigilante nas veredas que passarem. Grande abraço.

RANGEL JUNIOR disse...

Êita, cangaceiro dos poemas!
Você é um mandacaru sem espinhos!
Uma pé de coroa-de-frade cheinho de frutinhas aguadas, mas que matam nossa sede de provar o gosto do nordeste agreste.
Um beijo grande!

Anônimo disse...

Vixe Maria,

Por isso que num deixo de passar para dar uma olhadinha no seus 'escritos'...vale a pena. Só você para fazer tanta poesia com uma consulta ao oftalmologista! E o que é poesia a não ser transformar o cotidiano em imagens e sensações...em metáforas. Confesso que olhando bem, a pessoa que um dia disse que vc. tinha 'olhos cor de mel', talvez repetisse ainda hoje, é dessa cor que vejo nessa foto.
Assim como o Marco comentou, até pensei que 'esse santo tava querendo reza'.
Isso é a verdadeira delicia de sair lendo e sentindo a 'construção da poesia' junto com o poeta.
Fiquei só imaginando quando você for ao cardiologista...e viva a poesia!!!!

RANGEL JUNIOR disse...

Há coisas que só os olhos mesmo (ou como dizem uns, o olhar) podem ver. Outras são vistas por uma espécie de olho interno que possuímos. Alguns dizem que o coração tem olhos. Pode um negócio desse?
Eu começo a acreditar que sim. Feliz por ter interlocutores que de alguma forma são "tocados" por meus sentimentos aqui traduzidos, metaforizados e digitados.