Palavras e imagens. Impressões e olhares sobre o mundo e as relações. Um pouco de cada coisa: educação, universidade, cultura, arte, política, gente...até poesia e outras formas de escrita.
20 de junho de 2009
ECOLOGISMO BARATO E DE OCASIÃO
Não me considero um ecologista. Economizo água, energia, não jogo lixo na rua, reutilizo tudo que posso, em minha casa reusamos água do banho na descarga e da máquina de lavar em outras ações, não queimo quase nada, não mato animais (menos ratos) nem insetos (a não ser moscas, baratas, algumas abelhas e mais uns outros que insistem em morar com os humanos), não atiro pedras na lua... como carne, peixe, frango e outros bichos depois de mortos.
Entretanto, confesso que já fui um sujeito muito mau. Matei pássaros e outros bichos, acendi fogueiras pra São João e São Pedro, ajudei a brocar mato e fazer coivaras enormes, com fogo de verdade, tomei banhos demorados, lavei carro e calçada com água potável...
Creio que os tempos atuais apregoam uma nova consciência na relação do ser humano com o ambiente, permitindo inaugurar uma nova era de verdade, quiçá, daqui a alguns anos. Vejo nas crianças e jovens de hoje uma atitude muito diferente daquela das crianças e jovens (mais jovens que eu, né!) de uns 30, 40 anos atrás. Trabalha-se muito a formação de uma consciência ecológica e creio que isso é tão batido e repisado que, às vezes, cria também pessoas chatas e sem noção de como estão sendo manipuladas pela propaganda (enganosa de um certo ecologismo hipócrita).
Falam em evitar o consumo de sacolas plásticas, mas não se fazem leis proibindo seu consumo e obrigando sua substituição por outros materiais; repetem cotidianamente notas e 'chamadas' em rádio e TV sobre desperdício de água, mas não se criam leis que coibam tais abusos nem incentivos e alternativas técnicas para seu reaproveitamento; proibem que se acendam fogueiras no dia de São João, mas não impedem que milhares de padarias, pizzarias e churrascarias queimem madeira pura e carvão vegetal diariamente, os 365 dias do ano; reclamam do excesso de carros circulando, mas não criam alternativas de transportes públicos com qualidade e presteza no atendimento às pessoas, nem ciclovias para estimular o uso de bicicletas; esbravejam contra o consumo exagerado (consumismo), mas o próprio sistema e os próprios meios de comunicação têm uns 20% a 30% do seu tempo dedicado a propagandas com o objetivo exclusivo de estimular o consumo, como seu mecanismo de sobrevivência.
Em meio ao fogo cruzado, baratinado entre agir de acordo com certos princípios ou virar um 'chato de galocha' dando uma de ecologista radical. A última que li num jornal aqui do Rio dava conta que 28% dos gases responsáveis pela camada de ozônio e o aquecimento global era proveniente do arroto de bois e vacas. Como o Brasil tem hoje o maior rebanho do mundo, a lógica seria diminuir, até acabar, com os "q uadrúpedes ruminantes cavicórneos, tipo da família dos bovídeos" e, por tabela, deixarmos também de comer sua carne. O Brasil, por esse argumento, seria um dos maiores responsáveis pelo desmantelo da terra. Noutro dia, já virou até piada, um estudioso falando no assunto dizia o mesmo referindo-se ao rebanho de caprinos e ovinos. Quase vira piada o fato de que os pobres animais flatulentos (e dizia um tal conhecedor que eles o fazem com certo exagêro, creio que até mesmo devido à enorme liberdade de têm), também estariam colaborando com o desastre do planeta. É como se apenas aproveitassem o mote e a rima, afinal efeito 'estufa' rima bem com uma palavrinha bem nossa e motivo eterno de piadinhas maldosas.
Ora, humanos ruminam pensamentos, vacas ruminam comida. Os primeiros, vez por outra arrotam besteiras, enquanto os bovinos arrotam gases. Ora, ora. Não me venham dizer que os humanos também não o fazemos, inclusive em alto e bom som, principalmente se não tiver ninguém por perto. Tirando o politicamente correto, talvez tenhamos tanta responsabilidade quanto os citados animais. Todavia, colocando o politicamente correto no centro da questão o mundo vira uma chatice só. Já chego até a ter pena dos pobres fumantes que a cada dia vão sendo empurrados prum canto nos restaurantes e bares e daqui a uns tempos talvez precisem se esconder de fato pra dar umas baforadas e ferrarem seus pulmões.
Daqui de onde vejo o mundo, que é exatamente o chão do meu país, o meu lugar de mais um em meio ao povaréu, não entro nesse engodo de 'ecologista 24hs'. Não me sinto nem um pouco culpado pelas desgraças climáticas, não tenho remorso pelas rolinhas, nambus, codornizes, preás (menos pelo último) e outros tantos animais do mato. Matei quase todos com o intuito exclusivo de complementar a dieta de proteinas da família, lá num passado que cada dia vai ficando mais distante no calendário e mais próximo em minhas retinas.
Acredito que precisamos dar nossa contribuição cotidiana para melhorar o planeta e, essencialmente, o mundo humano em derredor de nós mesmos. Ainda penso que o maior problema da humanidade está no consumo movido pela sede de lucro dos que detêm o poder de reproduzir suas riquezas e suas idéias na sociedade. Precisamos entender melhor tal mecanismo perverso que sustenta a sociedade capitalista e seu modo de produzir mercadorias até nos transformar nelas. Quem sabe assim evitamos que entremos no jogo como meros joguetes. Quem sabe mexemos também com a consciência alheia no sentido de lutarmos todos pra mudar a lógica, também perversa, que responsabiliza o indivíduo isolado e tangencia o debate quando se trata de discutir as responsabilidades coletivas, institucionais, empresariais, das corporações, dos estados.
Estivesse em Campina Grande semana que vem, prepararia uma fogueirinha de São João com uns restos de troncos de árvores e madeiras velhas que estão lá no meu quintal esperando há mais de um ano pra serem queimados. Sem traumas, sem peso na consciência, sem medo de ser feliz, apenas para me aproximar mais dos meus ancestrais, tão humanos quanto eu.
Vamos ruminando!
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