Alberto (Pessoa) Caeiro assentou poeticamente que "há metafísica bastante em não pensar em nada. (...) O mistério das coisas? Sei lá o que é mistério!O único mistério é haver quem pense no mistério." Se é verdade que o grande mistério do mundo é que não há mistério algum, como disse, não é menos verdade também que não há nada que nos impeça de nos perguntarmos sobre coisas e respostas que não temos pra entender o mundo.
Algumas religiões resolveram isso de forma simples. Tudo a que não nos é dada a compreensão palpável ou explicação minimamente plausível, a resposta é o 'mistério'. Ou seja, não nos é dado, humanos que somos, compreender o 'mistério'. As palavras, às vezes, guardam segredos interessantes que se assemelham a estas situações. Palavras são traiçoeiras também, a depender da forma de você abeirar-se dela.
E eu misturo alhos com bugalhos. Há aquela situação real que virou anedota, do jogador de futebol que vai saindo do campo após o jogo e o repórter pergunta-lhe o que achou do jogo. Ele solta o verbo ofegante: "É! A gente lutou, lutou, mas não ganhou! Futebol é assim: você perde num dia e ganha no outro!". O repórter provocativo, querendo fazer piada, pergunta em tom jocoso: "Por que vocês jogadores falam sempre a mesma coisa?" O 'boleiro', na bucha, responde pra ele: "É que vocês fazem sempre a mesma pergunta!".
Dados os devidos descontos, a cena nos obriga a refletir: será que certas perguntas levam sempre ou, tendem a levar a certas respostas? A resposta não é simples, mas creio que é preciso perguntar.
O que move o pesquisador é a pergunta. O que move o jornalista é a pergunta. Claro que temos casos de entrevistadores que fazem a pergunta com a resposta no gatilho. O que move o aluno é a pergunta. O que move o professor também é a pergunta, a do aluno e a dele mesmo. Afinal, já vai longe o tempo em que o professor era o verdadeiro habitáculo onde o saber havia sentado praça e se deixava empoeirar. Se os tempos se encarregaram de enterrar o professor sabe-tudo, ainda não deram conta de apresentar o professor-perguntador. Ele está em gestação. Caso não nasça e renasça para as enormes transformações no mundo do conhecimento, com a tecnologia e a cultura digital, caminha para virar algo parecido com aqueles bichos de museu de história natural onde na aparência o bicho está lá, mas o que existe é apenas uma carcaça empalhada de um ex-animal.
O professor-educador sabe que não sabe tudo, ou que sabe muito pouco ante o conhecimento universal e o pouco que sabe tem que ser posto em contato e à prova com o outro e com a realidade todo o tempo. Uma das grandes mudanças desse novo tempo é que o professor deixa de ser o centro das atenções e o conhecimento em processo, em desenvolvimento, em construção social passa ao papel principal. O professor é necessariamente um professor-pesquisador, que desenvolve com seus alunos a arte de perguntar em vez do professor-sabe-tudo que era o dono de todas as respostas. Se isso não é um processo de revolução permanente então, quem souber, me diga do que se trata.
Uma propaganda do Canal Futura chama a atenção quando afirma que "não são as respostas que movem o mundo, são as perguntas." Talvez pareça clichê, mas acredito firmemente que impossível é apenas aquilo que o ser humano ainda vai conseguir fazer. Mistério, ou é fantasia ou apenas o que ainda não foi descoberto. Se forem justas as palavras de Marx quando diz que a humanidade jamais se coloca um problema que não seja capaz de solucionar, estejamos certos de que as perguntas todas sempre receberão respostas e que estas serão sempre provisórias verdades sobre as quais precisamos nos agarrar no tempo presente, com a certeza de que elas se desmancharão no ar tão logo surja uma nova pergunta.
A arte de perguntar, portanto, está em alta. Bem mais que a arte de responder. Aprendamos a perguntar e teremos percorrido um bom caminho para termos mais e melhores respostas.
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