30 de junho de 2009

UMA CHAMA QUE SE APAGA, VIDA QUE SEGUE...

Dona Neide, como eu costumo chamar minha mãezinha, já foi Maria Eneide Ferreira Freire, de batismo e registro e Maria Eneide Freire Rangel de herança de Seu Tonito, meu Pai, com quem casou, gerou oito filhos, criou e educou sete. Essa era a sua alegria numa das incontáveis 'altas' da Clínica Santa Clara, de onde era cliente quase especial, pois já havia se 'hospedado' em todas as suas alas e em quase todos os seus apartamentos, sem exageros, ao longo de uns 20 anos. Pois então, hoje, por volta das 18:50h, a vida achou de cansar de dar-lhe chances e mais chances. Depois de ter aposentado com grave cardiopatia desde os 49 anos - problema que surgiu aos 45 -, a convivência com o diabetes por mais de 20 anos, o coração enorme de sentimento e grande também em sua anatomia, como anomalia, os problemas renais e pulmonares que se acumularam com a combinação diabetes-cardiopatia, as dificuldades com a circulação sanguínea nos membros inferiores, as complicações todas derivadas de um quadro clínico extremamente complexo, um marca-passo que mantinha seu motor em ritmo regular já há alguns anos... Foi assim que Dona Neide nos deixou. Ainda me ouviu ontem dizendo-lhe algumas palavras ao celular, quase sem falar pelas dificuldades pulmonares. Hoje, 30 de junho de 2009, à tarde, seu quadro clínico complicou-se e seguiu pra UTI. Não deu mais... foi embora aquele soprinho leve de vida que lhe restava e que pôde aproveitar, com todos os seus percalços, da forma que a própria vida e suas contingências permitiram. Moral da história, que ela nem sabia: escapou de um enorme sofrimento por um câncer que já se alastrava em 60% do seu intestino. Foi poupada, prefiro pensar assim. Eis nossa despedida, Ela, eu e meus irmãos Marcos e Bosco, devidamente 'fardados' com o manto tricolor, marca de nossa última chama de unidade familiar.
Com Dona Neide, aos 71 anos e mais uns 50 dias, vai junto um sonho de família unida ainda por laços de sangue como algo maior que qualquer outra coisa. Agora é esperar e viver o suficiente pra ver o que cada um e todos conseguirão fazer com a herança moral que ela deixou. Aliás, a única!

27 de junho de 2009

AQUELE ABRAÇO

Aquele abraço pro Rio de Janeiro e pra Gilberto Gil. Conheci a música de Gil bem antes da cidade, mas a cidade veio a mim por intermédio do artista, apesar de ter morado por uma pequena temporada na baixada fluminense quando tinha apenas dois anos de idade, juntamente com meu pai, minha mãe, Gilberto e Zé Neto, os dois irmãos mais velhos. O Rio me lembra Gil, me lembra Vinícius, Toquinho, Chico Buarque, Tom Jobim, Noel Rosa, Luís Melodia... mas é Gilberto Gil que está na pauta. Um dos maiores artistas brasileiros, tanto na composição quanto na interpretação e ainda um dos mais corajosos no sentido da sua assumirança de vida, seja nos riscos que sempre correu inovando sempre ou na coragem dos riscos da vida pública na política há muitos anos como Vereador em Salvador e pouco tempo atrás como Ministro da Cultura do Brasil. Você já sabe que falo de Gilberto Gil. Pois bem! GG é um grande instrumentista, na mesma linha de João Bosco, Geraldo Azevedo e Zé Ramalho; tem uma voz invejável, mesmo depois dos 60 anos e de todos os abusos cometidos em falsetes e outras coisas mais; tem enorme faro empresarial, pois, mesmo antes de ser artista famoso já havia sido executivo de grande empresa; é um dos artistas populares brasileiros que iniciaram a ter sua própria produtora e seu próprio selo, mesmo lançando discos por grandes gravadoras; é um dos compositores mais versáteis, criativos e profícuos da 'safra' que apareceu nos anos 60. Gil vai do reagae ao samba, do forró ao maracatu, do axé, da toada romântica à canção de protesto, sem nunca ser panfletário - "Mesmo depois de abolida a escravidão / Negra é a mão / De quem faz a limpeza..." - ou na moderníssima parceria com os Paralamas do Sucesso - "Ó, mundo tão desigual / Tudo é tão desigual / Ó, de um lado este carnaval / Do outro a fome total". Enfim, Gilberto Gil sempre correu todos os riscos quando se trata de ousar não se repetir como tantos outros na chamada MPB. A sua música tem pra mim uma característica fundamental, é toda 'pra cima'. Pegue todo o cancioneiro do artista e mesmo quando escreve coisas como "seu eu quiser falar com deus / tenho que aceitar a dor / tenho que comer o pão / que o diabo amassou...", não é melancólico ou mesmo pessimista. Em sua vasta produção tem parcerias que vão de Dominguinhos a Caetano Veloso, além de grandes poetas parceiros como Capinam, Wally Salomão, Cacaso, Torquato Neto, Arnaldo Antunes, Jorge Mautner... "É a sua vida que eu quero bordar na minha /Como se eu fosse o pano e você fosse a linha" A lembrança de Gil e sua obra de tão profunda riqueza me veio à memória quando resolvi, nos últimos dias da 'temporada carioca' (ou seria Fluminense?) do doutorado, conhecer um pouco mais a cidade e fizemos (eu, Camilla e Vinícius) um pequeno giro turístico por alguns lugares da 'cidade maravilhosa' durante alguns dias. Não chegamos a 10%, creio eu, mas em todos os lugares da cidade por onde andamos com tais propósitos a conclusão é uma só, mesmo sabendo que existe o 'outro lado da opulência' e que o desmantelo corre solto em certas zonas onde o tráfico assumiu o papel do Estado: o Rio de Janeiro continua lindo! E, desta forma, a música poderia ser esticada para "O Rio de Janeiro, fevereiro e março... abril, maio, junho, julho... Já preparando a despedida, fazendo uma espécie de périplo turístico, a música de Gil me veio à caebça em praticamente todas as ocasiões. Não sei como ele era antes, mas posso afirmar que 'O Rio de Janeiro continua lindo...'Da mesma forma, asseguro que minha impressão da cidade como um todo é completamente distinta da que tinha antes, resultado do que é passado pela TV e o noticiário insistente, que tenta dar a impressão de que isto aqui é a ante-sala do inferno. Pode-se até alegar o meu relativo desconhecimento dos verdadeiros problemas da cidade, por ter quase sempre circulado entre a zona sul e o Maracanã/UERJ, começo da zona norte, quase sempre de metrô. É que meu objetivo não era fazer uma análise sociológica do Rio de Janeiro, mas uma breve crônica de minha passagem pelo lado da beleza, da história, co bucolismo ainda possível em certos lugares. Realmente, posso arriscar um palpite no sentido de que, provavelmente, nenhuma cidade brasileira foi dotada de tanta beleza, diretamente pela natureza. Mais ainda que a cidade, vou levando no matulão as melhores impressões e lembranças das pessoas. Estou sendo extremamente feliz por onde passei até agora e creio que também o serei no por vir. Amigos e amigas de primeira, pessoas de uma simpatia extrema e prestimosidade fora do comum, gente no sentido mais puro e profundo da acepção da palavra, calor humano, alegria de viver, paixão pelo que fazem e uma disponibilidade incrível para se deixarem levar por um bom papo, uma boa risada, uma prosa solta e sem maiores compromissos ou, da mesma forma, uma conversa séria e profissional. São essas as maiores e melhores lembranças e as que ficarão marcadas apenas na memória, independentemente de fotografias e paisagens. Por enquanto vou cantando... aquele abraço! Gil é lindo e o Rio e o espírito de sua gente também!

24 de junho de 2009

NOITE DE SÃO JOÃO

Um breve poema de Alberto (Pessoa) Caeiro.

"Noite de S. João para além do muro do meu quintal.

Do lado de cá, eu sem noite de S. João.

Porque há S. João onde o festejam.

Para mim há uma sombra de luz de fogueiras na noite,

Um ruído de gargalhadas, os baques dos saltos.

E um grito casual de quem não sabe que eu existo."

SÃO JOÃO

Não sei se tem algo a ver com a festa, com o forró, a quadrilha, o forró, mas de todos os santos que já ouvi falar o que mais gosto é São João, apesar de ter forte simpatia por Padim Ciço do Juazeiro e São Jorge. Santo Antonio nunca sempre me ajudou, acredito, mesmo sem eu lhe ter pedido nada. São Pedro me reaviva a lembrança de uma festa memorável no Mercado Público de Juazeirinho, ao som da sanfona de Lourenço que tinha em seu repertório central uma música que mais nos remetia às cantigas de roda da infância: "Ôxente, Camaleão! As 'calça' caiu no chão! Ôxente, Camaleão! As 'calça' caiu no chão! (...) Camaleão foi se casar / Com a filha do capitão..." Pois aquela festa, com as mesas da feira erguidas, servindo de anteparo pra separar a parte transformada em clube de dança. Se não me falha a memória, foi no ano de 1979. Tínhamos o hábito de circular entre o Mota Som e o Mercado Municipal, fazendo um movimento interessante na noite de festa que, especialmente naquele ano, acontecia no São Pedro. Enfim, gosto de São João porque de todos os santos juninos ele é o mais famoso e a coroação da festa de junho em nossa região é, de fato, o São João, principalmente a noite de 23 de junho. Ontem, pra não perder a tradição, participei de uma grande festa junina, com direito a muito forró de Luiz Gonzaga e uma exceção aberta prum tal de Rangel Junior. A festa foi em Olaria, no Rio, com primas e tias da minha consorte (a palavra é assim mesmo. Se é com sorte, aí já é uma outra história). Festa junina no sábado, na Freguesia, de Jacarepaguá; festa junina no domingo, em Vila Isabel, casa da professora Rita Ribes; festa junina na noite de São João, casa de Marié, em Olaria. Nada faltou! Fogueira gigante, pamonha, canjica (aqui é curau), milho cozido, mungunzá (que aqui é canjuca), bolo de macaxeira (que aqui é aipim), cachaça e outras tantas coisas de uma festa de verdade. Foi minha chance de me sentir um pouquinho perto de minha terrinha e curtir um pouco a maior festa de nossa tradição cultural, tão espezinhada pelos donos do poder associados quase criminalmente a uma meia dúzia de empresários inescrupulosos. Mas a festa resiste e a tradição ninguém conseguirá enterrar. Ela ressurgirá e todos ainda verão. Amanhã coloco aqui algumas fotos pra provar o que digo. Prometo também um breve roteiro fotográfico do Rio de Janeiro turístico que andei visitando. No mais, vou a uma sessão de filmes de curta metragem que começa daqui a cinco minutos a cem metros de meu esconderijo, aqui mesmo em copacabana. Comento também depois.

22 de junho de 2009

A ARTE DA PERGUNTA

Alberto (Pessoa) Caeiro assentou poeticamente que "há metafísica bastante em não pensar em nada. (...) O mistério das coisas? Sei lá o que é mistério!O único mistério é haver quem pense no mistério." Se é verdade que o grande mistério do mundo é que não há mistério algum, como disse, não é menos verdade também que não há nada que nos impeça de nos perguntarmos sobre coisas e respostas que não temos pra entender o mundo. Algumas religiões resolveram isso de forma simples. Tudo a que não nos é dada a compreensão palpável ou explicação minimamente plausível, a resposta é o 'mistério'. Ou seja, não nos é dado, humanos que somos, compreender o 'mistério'. As palavras, às vezes, guardam segredos interessantes que se assemelham a estas situações. Palavras são traiçoeiras também, a depender da forma de você abeirar-se dela. E eu misturo alhos com bugalhos. Há aquela situação real que virou anedota, do jogador de futebol que vai saindo do campo após o jogo e o repórter pergunta-lhe o que achou do jogo. Ele solta o verbo ofegante: "É! A gente lutou, lutou, mas não ganhou! Futebol é assim: você perde num dia e ganha no outro!". O repórter provocativo, querendo fazer piada, pergunta em tom jocoso: "Por que vocês jogadores falam sempre a mesma coisa?" O 'boleiro', na bucha, responde pra ele: "É que vocês fazem sempre a mesma pergunta!". Dados os devidos descontos, a cena nos obriga a refletir: será que certas perguntas levam sempre ou, tendem a levar a certas respostas? A resposta não é simples, mas creio que é preciso perguntar. O que move o pesquisador é a pergunta. O que move o jornalista é a pergunta. Claro que temos casos de entrevistadores que fazem a pergunta com a resposta no gatilho. O que move o aluno é a pergunta. O que move o professor também é a pergunta, a do aluno e a dele mesmo. Afinal, já vai longe o tempo em que o professor era o verdadeiro habitáculo onde o saber havia sentado praça e se deixava empoeirar. Se os tempos se encarregaram de enterrar o professor sabe-tudo, ainda não deram conta de apresentar o professor-perguntador. Ele está em gestação. Caso não nasça e renasça para as enormes transformações no mundo do conhecimento, com a tecnologia e a cultura digital, caminha para virar algo parecido com aqueles bichos de museu de história natural onde na aparência o bicho está lá, mas o que existe é apenas uma carcaça empalhada de um ex-animal. O professor-educador sabe que não sabe tudo, ou que sabe muito pouco ante o conhecimento universal e o pouco que sabe tem que ser posto em contato e à prova com o outro e com a realidade todo o tempo. Uma das grandes mudanças desse novo tempo é que o professor deixa de ser o centro das atenções e o conhecimento em processo, em desenvolvimento, em construção social passa ao papel principal. O professor é necessariamente um professor-pesquisador, que desenvolve com seus alunos a arte de perguntar em vez do professor-sabe-tudo que era o dono de todas as respostas. Se isso não é um processo de revolução permanente então, quem souber, me diga do que se trata. Uma propaganda do Canal Futura chama a atenção quando afirma que "não são as respostas que movem o mundo, são as perguntas." Talvez pareça clichê, mas acredito firmemente que impossível é apenas aquilo que o ser humano ainda vai conseguir fazer. Mistério, ou é fantasia ou apenas o que ainda não foi descoberto. Se forem justas as palavras de Marx quando diz que a humanidade jamais se coloca um problema que não seja capaz de solucionar, estejamos certos de que as perguntas todas sempre receberão respostas e que estas serão sempre provisórias verdades sobre as quais precisamos nos agarrar no tempo presente, com a certeza de que elas se desmancharão no ar tão logo surja uma nova pergunta. A arte de perguntar, portanto, está em alta. Bem mais que a arte de responder. Aprendamos a perguntar e teremos percorrido um bom caminho para termos mais e melhores respostas.

21 de junho de 2009

UMA INSTALAÇÃO: O ARCO-ÍRIS

NÃO É POR PREGUIÇA, MAS A CRÔNICA DE BRÁULIO TAVARES É FANTÁSTICA E MERECE PUBLICAÇÃO EM TODOS OS LUGARES. ESTÁ NO JORNAL DA PARAÍBA E, SOMENTE PELA RELAÇÃO COM O TEMA JÁ MERECERIA ESTAR AQUI E AINDA MAIS PELA BELEZA DE TEXTO. ACOMPANHO O TRABALHO DE BRÁULIO E SUA PRODUÇÃO DESDE OS ANOS 80 E AFIRMO, SEM DÚVIDAS: É UM DOS MAIS DESTACADOS INTELECTUAIS BRASILEIROS DAS ÚLTIMAS DÉCADAS. COMPOSITOR, CONTISTA, ESCRITOR, ROTEIRISTA, CRONISTA E MAIS UM MONTE DE COISAS... AINDA VAI MUITO LONGE. O TEXTO: Listar as obras contemporâneas da “optical art” ou da “chromo-art” influenciadas por este clássico da instalação conceitual seria uma tarefa exaustiva. O uso de fenômenos ópticos para produzir efeitos estéticos tem uma longa tradição, e a instalação (de âmbito planetário) conhecida como Arco-Íris tem sido apontada por historiadores da Arte como matriz de muitas tendências atuais. O artista anônimo soube se cercar de precauções para garantir que haveria em sua obra um grau acentuado de (im)previsibilidade. De fato, todos sabemos em que circunstâncias será mais provável o avistamento de um Arco-Íris; mas nunca sabemos o momento exato em que ocorrerá, nem em que ponto deveremos nos postar por antecipação, na expectativa de vê-lo. Esta hesitação entre o certo e o incerto traz uma imprevisibilidade quântica à Instalação. Faz-nos retroagir à descoberta da decomposição da luz solar através do prisma, por Isaac Newton. Leva-nos em seguida a refletir sobre o conflito entre a teoria corpuscular da Luz e a teoria ondulatória. E no espaço de alguns segundos, através daquela refração colorida, o que se desdobra aos nossos olhos, mais do que um simples leque de vibrações coloridas, é a rarefação do conceito de matéria e energia ao longo dos últimos 500 anos. O artista também preparou um cuidadoso “mix” de mídias que nos remete também à tradição grega dos Quatro Elementos. Fogo: o sol. Ar: o espaço onde a Instalação se projeta. Água: as gotículas de chuva que agem como prisma. Terra: o posto de observação de onde a Obra é fruída. Esta tendência de aproveitar o material em-bruto da própria Natureza demonstra a crescente integração entre a Arte Contemporânea e o mundo físico, calando os protestos daqueles para quem a Arte de hoje seria fechada em si mesma, inacessível às massas. E não há como negar a habilidade do artista ao fazer diante dos nossos olhos um verdadeiro malabarismo conceitual entre contemplação versus interatividade, experiência coletiva versus experiência única. Amparada pelas descobertas científicas no campo de Óptica, a crítica mundial já fez correr muita tinta em torno da ambiguidade da experiência do Arco-Íris. Coletivismo: no instante da produção de um Arco-Íris no espaço, centenas, talvez milhares de pessoas, agrupadas, podem afirmar que estão diante de um mesmo fenômeno, que se dá em coordenadas precisas do Espaço e do Tempo. Trata-se de uma fruição coletiva semelhante à de um filme, uma peça de teatro, um espetáculo musical. Por outro lado, sabemos que quem define a visão do Arco-Íris é o ângulo preciso de onde cada observador individual percebe a Obra. A luz refratada na umidade do ar incide de forma única e irrepetível em cada par de retinas. O Arco-Íris de um não é (cientificamente falando) o mesmo Arco-Íris avistado por cada um de seus vizinhos mais próximos. Tendências da Estética contemporânea: interatividade, unicidade da experiência, Obra personalizada, múltipla e única.

20 de junho de 2009

ECOLOGISMO BARATO E DE OCASIÃO

Não me considero um ecologista. Economizo água, energia, não jogo lixo na rua, reutilizo tudo que posso, em minha casa reusamos água do banho na descarga e da máquina de lavar em outras ações, não queimo quase nada, não mato animais (menos ratos) nem insetos (a não ser moscas, baratas, algumas abelhas e mais uns outros que insistem em morar com os humanos), não atiro pedras na lua... como carne, peixe, frango e outros bichos depois de mortos. Entretanto, confesso que já fui um sujeito muito mau. Matei pássaros e outros bichos, acendi fogueiras pra São João e São Pedro, ajudei a brocar mato e fazer coivaras enormes, com fogo de verdade, tomei banhos demorados, lavei carro e calçada com água potável... Creio que os tempos atuais apregoam uma nova consciência na relação do ser humano com o ambiente, permitindo inaugurar uma nova era de verdade, quiçá, daqui a alguns anos. Vejo nas crianças e jovens de hoje uma atitude muito diferente daquela das crianças e jovens (mais jovens que eu, né!) de uns 30, 40 anos atrás. Trabalha-se muito a formação de uma consciência ecológica e creio que isso é tão batido e repisado que, às vezes, cria também pessoas chatas e sem noção de como estão sendo manipuladas pela propaganda (enganosa de um certo ecologismo hipócrita). Falam em evitar o consumo de sacolas plásticas, mas não se fazem leis proibindo seu consumo e obrigando sua substituição por outros materiais; repetem cotidianamente notas e 'chamadas' em rádio e TV sobre desperdício de água, mas não se criam leis que coibam tais abusos nem incentivos e alternativas técnicas para seu reaproveitamento; proibem que se acendam fogueiras no dia de São João, mas não impedem que milhares de padarias, pizzarias e churrascarias queimem madeira pura e carvão vegetal diariamente, os 365 dias do ano; reclamam do excesso de carros circulando, mas não criam alternativas de transportes públicos com qualidade e presteza no atendimento às pessoas, nem ciclovias para estimular o uso de bicicletas; esbravejam contra o consumo exagerado (consumismo), mas o próprio sistema e os próprios meios de comunicação têm uns 20% a 30% do seu tempo dedicado a propagandas com o objetivo exclusivo de estimular o consumo, como seu mecanismo de sobrevivência. Em meio ao fogo cruzado, baratinado entre agir de acordo com certos princípios ou virar um 'chato de galocha' dando uma de ecologista radical. A última que li num jornal aqui do Rio dava conta que 28% dos gases responsáveis pela camada de ozônio e o aquecimento global era proveniente do arroto de bois e vacas. Como o Brasil tem hoje o maior rebanho do mundo, a lógica seria diminuir, até acabar, com os "quadrúpedes ruminantes cavicórneos, tipo da família dos bovídeos" e, por tabela, deixarmos também de comer sua carne. O Brasil, por esse argumento, seria um dos maiores responsáveis pelo desmantelo da terra. Noutro dia, já virou até piada, um estudioso falando no assunto dizia o mesmo referindo-se ao rebanho de caprinos e ovinos. Quase vira piada o fato de que os pobres animais flatulentos (e dizia um tal conhecedor que eles o fazem com certo exagêro, creio que até mesmo devido à enorme liberdade de têm), também estariam colaborando com o desastre do planeta. É como se apenas aproveitassem o mote e a rima, afinal efeito 'estufa' rima bem com uma palavrinha bem nossa e motivo eterno de piadinhas maldosas. Ora, humanos ruminam pensamentos, vacas ruminam comida. Os primeiros, vez por outra arrotam besteiras, enquanto os bovinos arrotam gases. Ora, ora. Não me venham dizer que os humanos também não o fazemos, inclusive em alto e bom som, principalmente se não tiver ninguém por perto. Tirando o politicamente correto, talvez tenhamos tanta responsabilidade quanto os citados animais. Todavia, colocando o politicamente correto no centro da questão o mundo vira uma chatice só. Já chego até a ter pena dos pobres fumantes que a cada dia vão sendo empurrados prum canto nos restaurantes e bares e daqui a uns tempos talvez precisem se esconder de fato pra dar umas baforadas e ferrarem seus pulmões. Daqui de onde vejo o mundo, que é exatamente o chão do meu país, o meu lugar de mais um em meio ao povaréu, não entro nesse engodo de 'ecologista 24hs'. Não me sinto nem um pouco culpado pelas desgraças climáticas, não tenho remorso pelas rolinhas, nambus, codornizes, preás (menos pelo último) e outros tantos animais do mato. Matei quase todos com o intuito exclusivo de complementar a dieta de proteinas da família, lá num passado que cada dia vai ficando mais distante no calendário e mais próximo em minhas retinas. Acredito que precisamos dar nossa contribuição cotidiana para melhorar o planeta e, essencialmente, o mundo humano em derredor de nós mesmos. Ainda penso que o maior problema da humanidade está no consumo movido pela sede de lucro dos que detêm o poder de reproduzir suas riquezas e suas idéias na sociedade. Precisamos entender melhor tal mecanismo perverso que sustenta a sociedade capitalista e seu modo de produzir mercadorias até nos transformar nelas. Quem sabe assim evitamos que entremos no jogo como meros joguetes. Quem sabe mexemos também com a consciência alheia no sentido de lutarmos todos pra mudar a lógica, também perversa, que responsabiliza o indivíduo isolado e tangencia o debate quando se trata de discutir as responsabilidades coletivas, institucionais, empresariais, das corporações, dos estados. Estivesse em Campina Grande semana que vem, prepararia uma fogueirinha de São João com uns restos de troncos de árvores e madeiras velhas que estão lá no meu quintal esperando há mais de um ano pra serem queimados. Sem traumas, sem peso na consciência, sem medo de ser feliz, apenas para me aproximar mais dos meus ancestrais, tão humanos quanto eu. Vamos ruminando!

17 de junho de 2009

BOMBA NA PARADA

Gente 'bombada' era o que não faltava na Parada da Diversidade em São Paulo, no domingo passado, 14 de junho. Não faltaram também as piadinhas de sempre dos 'machos' daqui, aqui e acolá tentando tirar um sarro da cara de alguém, principalmente indagando sobre sua suposta proximidade e sobrevivência à bomba atirada na festa que, no popular, recebeu mesmo o nome de Parada Gay. Se a bomba fosse daquele tipo chamado lá em Juazeirinho antigamente com o nome preconceituoso de 'peido-de-veia' (veia, aqui, pronunciado mesmo como se tivesse um acento agudo no 'e'), ou uns que chamávamos 'fósforo-de-tiro', que apenas davam aquele sustozinho, um tremilique qualquer e tudo estaria em paz. Porém, a barra pesou por lá e o que se viu foi a velha ação nazi-fascista da intolerância, da violência indiscriminada, de uma bomba atirada da janela de um apartamento, aparentemente por gente de classe média (pois era no Largo do Arouche) contra gente indefesa. Outras agressões foram registradas durante o percurso da 'parada' que funciona como um desfile ou um 'carnaval abaianado', com trios elétricos e a massa gay (e simpatizantes) indo atrás... O que se vê ultimamente é um crescimento vertiginoso da liberdade de expressão, o que tem permitido aos que têm orientação sexual diferenciada das duas opções mais tradicionais o façam publicamente e até façam questão de expressar essa diferença como uma forma de descontar o tempo perdido ou apenas pela repressão histórica de que foram vítimas até mesmo outros tantos que nem vivos estão mais. A tentativa de institucionalização do chamado 'terceiro sexo' é algo verdadeiramente questionável, creio eu, mas que os gays estão ganhando cada dia mais espaço é também muito verdadeiro, o que não pode ser visto como agressão, ofensa, ou mesmo uma nova'guerra dos sexos', desta feita, com uma 'categoria' a mais. Não se sabe exatamente contra quem ou o quê, mas algo é certo, o que se quer (os gays e seus aliados) é apenas assegurar direitos civis que os 'machos' e 'fêmeas' que optaram ou têm orientação sexual pelo convencional - o que consideram 'natural' - já possuem há tempos. Onde isso vai dar (sem duplo sentido) é impossível imaginar agora. Porém o que dá pra afirmar com toda certeza é que a intolerância é intolerável e inaceitável. Além de humanamente condenável, socialmente deve ser efetivamente reprimida e punida como manda a lei. Por outro lado, precisamos sim falar mais sobre o assunto. Falando mais teremos a oportunidade de discutir abertamente, o que nos ajudará também a compreender a questão e, para além disto, nos livramos também do preconceito nosso de cada dia sobre este e outros temas delicados. Tenho amigos gays (uns assumidos outros nem tanto, apesar de eu ter ciência do fato) e os respeito não por serem amigos. O respeito que eles merecem é pelo fato de serem gente e isto por si só já é suficiente. Os que conheço e não são meus amigos têm meu respeito da mesma forma. Se moralmente um ou outro não age da melhor forma é outra questão. Porém, posso afirmar com convicção que conheço mais 'machos masculinos' e 'fêmeas femininas' desviados moralmente que gays com tal padrão de conduta. Qual a diferença? OBS.: As tantas aspas postas no texto como forma de explicitar os sentidos das palavras tem o objetivo claro de ressalvar os duplos de cada uma das palavras, a começar pelo título.

16 de junho de 2009

AS PALAVRAS E O TEMPO

Lamento, mas preciso informar aos meus poucos, mas importantíssimos (as) leitores (as) que por estes dias talvez ou publique apenas um ou outro pequeno texto, pois o tempo me está raro e caro. Assuntos não faltam, aliás o juízo está fervilhando deles, mas a responsabilidade de outras tarefas estão impondo prioridades e um texto, às vezes, leva tempo de ruminação desprendida, mesmo que não seja diante da tela do computador. Quantas e quantas vezes nós não escrevemos algo somente depois de uma quase gestação? Às vezes o texto fica lá domitando nalgum lugar de nossas consciências, à espreita, sendo de fato maturado e quando vem à superfície já chega prontinho sendo necessário apenas que lhe seja dado acabamento. Como eu dizia no post anterior, tem o outro na jogada. Ao escrever, sendo autor-criador, muitas vezes (na imensa maioria delas) o outro invisível para quem escrevo está à espreita, nos meus cós dizendo: cuidado, rapaz! Ei, quéquéisso? Noutras, apenas diz mineiramente "pres'tenção, moço!" E vamos por aí conversando. Esse encontro tem se tornado muito profícuo pra mim e não quero abrir mão dele de nenhum modo. Agora, por exemplo, são 6:30h da manhã e já estou cá no laptop, com luzinha direcional, desde as 5h tentando queimar pestanas pra resolver um imbróglio de uma resenha crítica sobre uma tese. Como talvez diria Drummond (ih, recebi uma foto bacana onde estou batebdo um papo noturno com ele, no calçadão de Copacabana... fico devendo!), as palavras, a gente precisa quase que lutar com elas no mais das vezes. Mas não posso lutar com elas, preciso me aproximar, namorá-las, num jogo que parece sedução às vezes. Veja o próprio CDA como fecha o poema. "Repara: ermas de melodia e conceito elas se refugiaram na noite, as palavras. Ainda úmidas e impregnadas de sono, rolam num rio difícil e se transformam em desprezo." E cada vez que elas se aproximam de mim é como se eu perguntasse, trouxeste a chave? Porém, não quero a palavra vazia de mundo ou a palavra pela palavra. Quero a palavra emprenhada de realidade, quero a palavra ressignificada como o meu mundo cotidiano, irrepetido e estranhamente novo a cada segundo. É isso!

14 de junho de 2009

OS OUTROS

A música de Leoni, docemente cantada pela Paula Toller diz, melodiosamente, "depois de você os outros são os outros", como forma de dizer que 'o outro' é tão importante que além dele (a) ninguém mais importa. É exatamente aí que reside a diferença quando se trata do outro. Pra não deixar de registrar que o outro é tão importante pra nós, pois é ele que nos referencia de fato. Não aquele outro do romantismo, mas o outro existente de modo geral. No caso da parceria amorosa (e a palavra parceria já deveria significar tudo), o outro deveria ser sempre a medida, mas infelizmente a coisa nem sempre anda nesse rumo. Há gente que tem no próprio umbigo o centro do universo e aí só tem duas alternativas quando se trata de relacionamento: ou submete o (a) outro (a) e a própria relação aos seus ditames e desejos e é aceito (a) ou a relação vai pras cucuias. Onde será esse lugar, hein? Longe de mim querer dar lição sobre relacionamento amoroso, pois nesta matéria já tirei de zero a dez algumas vezes, não sendo pessoa indicada. Falo aqui das relações em geral, pois assim me comprometo mais e não fico aqui dando uma de entendido sobre coisas do amor, o que não sou. Enfim, queria mesmo destacar que, em qualquer circunstância, quando o outro (e outro aqui eu destaco de forma geral mesmo) diz que sente algo, que tal atitude não foi legal, que está sentindo isto ou aquilo em relação a você, é sempre bom desconfiar que 'o outro' tem razão. Não que o outro seja a nossa medida, mas é bem verdade que é a única possibilidade de verdade em relação ao que somos, ou estamos sendo. Isto porque, o que vemos, sabemos ou sentimos de nós mesmo, por mais proximidade que tenhamos com o real do que somos, sempre será uma visão desfocada, ou refratada desa realidade, como se vista tal imagem num espelho. Ou outros serão sempre os outros e esse é um dos lados bons da vida, da experiência de ser humano. Essa possibilidade de sermos sempre alguém, mas essencialmente, alguém 'para' o outro e 'com' o outro. Quem se basta a si mesmo, ou ao menos acha que assim é que é, pode ir logo tirando o jumento do sereno que por este rumo termina a vaca indo pro brejo. No caso, o brejo é a completa solidão interior, pois a perda do contato real com o outro fatalmente levará a tal lugar. Ainda bem que os outros são e serão sempre os outros, depois de você e depois de mim. Isso nos permite estabelecer contato e dar à experiência humana sua possibilidade de realização plena. Se isto é perigoso? Ora se é, como dizia Riobaldo, citado por Socorro Dantas. Mas é exatamente aí que mora também, ao lado do perigo, a graça e a possibilidade de testar limites e possibilidades, ou seja, realidade, história e contingência. Como dizia o mesmo Riobaldo/Rosa, também é pra testar nossa coragem. Quem descobre a medida certa entre a temeridade plena e a covardia absoluta, nem uma, nem outra, encontra o ponto. Talvez, aquilo que chamam de sabedoria. Vamos aprendendo! Vamos aprendendo! P.S. Quanto ao Dia dos Namorados, já que cai em junho, na véspera do dia do 'santo casamenteiro', uma boa pedida também é ouvir Elba Ramalho, cantando com Cezinha do Acordeon, a belíssima canção de Nando Cordel É SÓ VOCÊ QUERER. Uma palhinha! O meu amor é seu É só você querer Eu faço qualquer coisa pra ficar com você Te dou o meu coração e o que você sonhar Você não sabe como é grande essa vontade de te amar Você tem o perfume da manhã Eu fico doidinho pra cheirar A tua boca é uma romã Eu fico doidinho pra beijar Você é minha luz e eu vou seguir Porque sei que posso me dar bem O meu coração me diz igual a tu não tem ninguem

12 de junho de 2009

INTERAGINDO COM OS COMENTÁRIOS... E OS SONHOS

A leitora Kátia Lima questiona e dá uma dica sobre o tema "FELICIDADE, O QUE É FELICIDADE? DE ONDE ELA VEM, QUEM É MAIS FELIZ ESTE OU AQUELE? O SÁBIO OU O IGNORANTE? É AMIGO... TEM COMO SABER NÃO, O NEGOCIO É IR VIVENDO,"(...) - De fato, as agruras e percalços no caminho são tantos que a melhor alternativa é 'ir vivendo', pois é dessa forma também que, estando ligado nos acontecimentos e abertos pro mundo e pras experiências é que desenvolvemos nossa capacidade de conhecer mais a vida e, por consequência, viverrmos melhor. Débhora Melo dá uma pista interessante quando afirma que o gosto da vida é "um gosto agridoce. Nela, vivenciamos prazeres e dores, emoções e decepções, alegrias e tristezas... e por aí vai! Essas misturas só nos fazem ser um SER sem receita, mas com diferenciados sabores." - Creio que alguém já falou isso, mas não custa repetir que provavelmente o mais belo da vida seja exatamente a diversidade. Tanto a diversidade de experiências quanto o seu resultado que é também uma individualidade completamente distinta para cada um. Ningúem se repete nem é repetido, por mais que possa pensar em uma ou outra circunstância. Aninha (Ana Santos), além de assegurar que tem nesses dois conceitos, "Felicidade e Simplicidade", seus objetivos, levanta um questionamento sobre como ser simples num mundo cada vez mais complexificado. Ela diz: "Tenho a impressão que a cada dia ser simples torna-se mais complicado. E a tal felicidade depende tanto de descobrir o que queremos afinal. Essa é uma pergunta que espero responder algum dia. Qual é a minha simplicidade? Qual o caminho para ser feliz?" Logo depois afirma que é, naquele momento, "melhor ir assistir Curtindo a Vida Adoidado. É mais seguro!". - Sem dúvidas (rsrsrs) assistir Curtindo a Vida Adoidado é bem mais seguro do que pôr em prática a idéia do título. Os que tentaram por muito tempo tal façanha dificilmente atingiram a terceira idade, se bem que alguns sortudos conseguiram. Porém, concordo com a idéia de descobrir o que se quer pra vida e transformar tal (ou tais) escolha (s) em projetos, planos e lutar criteriosamente para sua consecução pode ser um bom caminho. Ou seja, o caminho não existe, mas está pra ser construído, a partir e de conformidade com aqueles objetivos e projetos. Eis o aprendizado da ciência, só que os sábios da antiguidade já falavam disso. A ciência moderna adaptou. A leitora Divanira Arcoverde, além de comentários muito lisonjeiros sobre o blogueiro e suas notas, dá um toque de mestra (que é na vida real) dizendo que "o bom mesmo é sermos sujeitos das nossas histórias, mesmo nas incompletudes ocasionadas por nossas limitações (históricas, sociais,culturais, políticas, econômicas, etc) e procurarmos ser felizes, entre 'sucessos' ou 'êxitos' que nós tenhamos, ou não, conseguido. 'O abismo aberto entre o homem e o mundo' que muitos não conseguiram superar..." - Além de me alinhar às suas teses, registro meu contentamento pela referência à história e a capacidade do ser humano de ser sujeito dela. Sejamos nós, onde nos coubermos, sujeitos de nossas histórias! Rafaela Damiani, de quem lembro sim e muito bem, manda carinhosamente uma mensagem de saudades do "meu tio mesmo depois de muito tempo..." e ainda faz referências às músicas do meu CD que escuta, gosta e com referência especial ao xote "Do céu ao paraíso". Ainda completa dizendo que "queria ouvir outras". - Rafaela! Um prazer enorme saber de você e que você me 'achou' por aqui. Continue acompanhando, na medida do que lhe for possível. Quanto às músicas, no portal PALCOMP3 , você pode baixar algumas e mais adiante ainda disponibilizarei outras. Pretendo gravar CD com inéditas antes do final do ano. Aguarde! Por fim, minha queridíssima professora-orientadora (a simpatia e disponibilidade pra vida em pessoa), Maria Luiza, que faz comentário e deixa um reforço especial de Guimarães Rosa sobre o tema. "O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem!" (Riobaldo Tartarana/Guimarães Rosa). É o fraco! Pra não ficar 'de graça' o complemento dos comentários, uma reflexão interessante de V. I. Lênin sobre os sonhos. Reforça o pensamento desenvolvido por todas. Apesar de muitos atribuírem as frases ao próprio Lênin, sempre deixei bem claro que ele faz referência a uma reflexão de outro camarada seu, no livro "Que Fazer?". O tema surgiu num debate acerca da criação de um jornal [de toda a Rússia], pelo Partido Bolchevique. Por esta razão publico a longa reflexão onde se vê claramente que é uma citação. Afinal, um dirigente revolucionário como ele não poderia deixar de registrar o respeito a uma criação de outrem, pois não? Lênin afirma inicialmente: "É preciso sonhar!" Daí assume que fica meio 'cabreiro' quando fala nesse assunto. Depois, questionado por outros camaradas no debate, ele segue: À simples idéia dessas questões ameaçadoras sinto um calafrio, e penso apenas em uma coisa: onde me esconder. Tentemos nos esconder atrás de Pissarev. “Há desacordos e desacordos", escrevia Pissarev sobre o desacordo entre o sonho e a realidade. “Meu sonho pode ultrapassar o curso natural dos acontecimentos, ou desviar-se para uma direção onde o curso natural dos acontecimentos jamais poderá conduzir. No primeiro caso, o sonho não produz nenhum mal; pode até sustentar e reforçar a energia do trabalhador... Em tais sonhos, nada pode corromper ou paralisar a força de trabalho. Ao contrário. Se; o homem fosse, completamente desprovido da faculdade de sonhar assim, se não pudesse de vez em quando adiantar o presente e contemplar em imaginação o quadro lógico e inteiramente acabado da obra que apenas se esboça em suas mãos, eu não poderia decididamente compreender o que levaria o homem a empreender e realizar vastos e fatigantes trabalhos na arte, na ciência e na vida prática... O desacordo entre o sonho e a realidade nada tem de nocivo se, cada vez que sonha, o homem acredita seriamente em seu sonho, se observa atentamente a vida, compara suas observações com seus castelos no ar e, de uma forma geral, trabalha conscientemente para a realização de seu sonho. Quando existe contato entre o sonho e a vida, tudo vai bem”. (o texto em negrito é transcrição na íntegra e as aspas são do original. A tese original, portanto, é de Dimitri Ivanovitch Pissarev). Bom final de semana!

NAMORADAS E NAMORADOS

Eis uma data do calendário em que o sujeito, querendo ou não, termina por se enquadrar. Afinal, o clima de romantismo (ou a tentativa de...), a lógica de ter um dia especial para homenagear namorados e namoradas. Flores, presentes, alianças e anéis, cartões com declarações de amor, cartas, a declaração (que eu, com todo respeito, acho patética) de amor sob encomenda a uma loja especializada no tipo de serviço, por telefone ou ao vivo, com direito a carro de som, serenata ao vivo (aí já é melhorzinho!), pétalas de rosas jogadas de helicóptero, outdoors espalhados, pichação de muros... tudo vale quando se quer demonstrar pro outro que se ama, ou pelo menos que se gosta, até porque estar apaixonado é uma outra história e isso (quem não sabe?) queima quase tanto quanto um paiol de pólvora, quente, explosivo, passageiro e, às vezes, destruidor. Talvez eu publicasse aqui uma das tantas declarações de amor que já fiz na vida, porém, elas foram dirigidas a quem de direito e não teria sentido eu publicá-las. Quem recebeu em algum momento é que teria este direito. Afinal, as que fiz foram todas muito verdadeiras e vinculadas a cada momento de minha atribulada vida sentimental. Neste sentido, desprendi a fazer declarações de amor e paixão e passe a ser mais exigente em termos de experiência efetiva em substituição às fáceis palavras, já que o tempo me ensinou a usá-las até com relativa facilidade. Escolhi uma outra forma, daquelas de 'viajar' devagar, divagar... assim como de se alugar quatro mosaicos (lembranças do "Motta Som" lá em Juazeirinho) pra dançar coladinho, deixando a vida seguir seu curso agitado e que a linguagem não verbal falasse por si, como diriam Pierre Weil e Roland Tompakow. ONLY YOU Só você CAN DO MAKE ALL THIS WORLD SEEM RIGHT Pode realmente fazer todo este mundo parecer certo ONLY YOU Somente você CAN DO MAKE THE DARKNESS BRIGHT Pode realmente fazer a escuridão brilhar ONLY YOU, AND YOU ALONE Só você e somente você CAN FEEL ME LIKE YOU DO Pode me sentir como você sente AND DO FILL MY HEART WITH LOVE E assim preencher o meu coração com amor FOR ONLY YOU. Porque só você ONLY YOU Somente você CAN DO MAKE ALL THIS CHANGE IN ME, Pode realmente fazer toda esta mudança em mim FOR IT'S TRUE Porque é verdade YOU ARE MY DESTINY. Você é o meu destino WHEN YOU HOLD MY HAND, I UNDERSTAND Quando você segura a minha mão, eu entendo THE MAGIC THAT YOU DO, A magia que você realiza YOU'RE MY DREAM COME TRUE, Você é o meu sonho realizado MY ONE AND ONLY YOU. Meu amor , e só você. ONLY YOU Somente você CAN DO MAKE ALL THIS CHANGE IN ME, Pode sim fazer toda esta mudança em mim FOR IT'S TRUE Porque é verdade YOU ARE MY DESTINY. Você é o meu destino WHEN YOU HOLD MY HAND, I UNDERSTAND Quando você segura a minha mão, eu entendo THE MAGIC THAT YOU DO, A magia que você realiza YOU'RE MY DREAM COME TRUE, Você é o meu sonho realizado MY ONE AND ONLY YOU. Meu amor, e somente você. P.S. Continuo achando que, prum dia assim, cheio de nuvens, ameaça de chuva, friagem se instalando... flores e cafunés valem mais que qualquer presente outro, com todo o respeito à diversidade de opiniões.

11 de junho de 2009

A HISTÓRIA DOS NOSSOS FRACASSOS

(Ou, A Epopéia 'Fracassal' de Fulano de tal até Chegar Aonde Chegou). Estive há uns dias matutando sobre a utilização da palavra sucesso em nossa língua. Sucesso, utilizada principalmente no linguajar artístico, virou sinônimo de popularidade extrema de uma música, de um artista. Ou seja, artista de sucesso é aquele que vende milhares de discos, que leva milhares de pessoas a shows, que tem músicas executadas (ao menos uma) à exaustão nas rádios, que aparece nos programas de televisão do sudeste (Rio e São Paulo). Nos países de língua espanhola, a palavra mais usual para significar o equivalente da nossa 'sucesso' é éxito. Como não sou entendido destes assuntos, fiquei imaginando que a palavra êxito tem uma outra significação, bem mais objetiva e forte pra nós. Dito de outro modo, êxito é sinônimo de acerto, resultado positivo, aquilo que deu certo. Assim é na prática, independente do que diga o dicionário. Obter êxito representa dar conta de uma meta, atingir um objetivo. Sucesso também tem este sentido de resultado esperado. Entretanto, na prática, a palavra é mais usada naquela acepção, voltada para a lógica do sucesso mercadológico. Pegue qualquer CD de coletânea brasileira com este tipo de seleção e vai sempre encontrar a expressão "grandes sucessos" de Fulano de Tal. A pergunta é: e os que obtem êxito (no sentido de resultado positivo) na carreira sem fazer o tal sucesso? Ou seja, os que tem resultados positivos, bancam suas vidas materialmente, são realizados, satisfeitos, felizes, a partir do seu trabalho artístico sem, todavia, alcançarem o tal estrelato ou o 'sucesso midiático'. Aliás, muitas vezes, longe dos holofotes e clics das câmeras dos paparazzi. O trabalho tem como sentido maior, original, a realização humana (da ontologia do ser), para além da garantia da sobrevivência material, mas não deixa de ser verdadeiro também que na sociedade regida pelo capital, a necessidade material é a razão primeira do trabalho. Então, mitificar o trabalho artístico como dependente do chamado sucesso é, de certo modo, criar uma expectativa falsa de que aquele que não atinge tal lugar não pode se realizar profissionalmente, artiticamente. Eis o caminho garantido para a frustração. Dito de outro modo, eis aí um artista de fracasso, o verdadeiro antônimo de artista de sucesso. Na vida em geral acredito que nascemos para o êxito, mas nunca como 'cavalos de corrida' olhando sempre à frente, ensandecidamente em busca do primeiro lugar. Nossos êxitos deveriam ser contados também com o papel coadjuvante dos nossos acúmulos de fracassos, as tentativas e erros até chegarmos ao lugar em que estamos. Já disseram à exaustão que aprendemos mais com os fracassos do que com os acertos. Porém, a história que contamos, regra geral, é a história dos triunfos. Prum artista que sonha em se tornar famoso, alcançar êxito profissional (ou sucesso midiático) é sempre recomendável ler as histórias de vida de tantos artistas que vieram antes e se tornaram exemplos de sucesso, muitos deles apenas na arte e não na vida pessoal. Nestas biografias vamos sempre encontrar a história dos fracassos, se elas forem honestas e bem contadas. Precisamos mostrar sempre essa capacidade de realização, bem como a natureza da falibilidade humana, pois não me restam dúvidas de que entender os nossos fracassos, insucessos, nos levam necessariamente a compreender nossa fragilidade e nossa fortaleza e, essencialmente, criar as condições para não incorrer em novoso tropeços e, desse modo, chegar mais próximo da vitória, que nunca será final, pois que nessa história o fim é sempre o indicativo de um novo começo. Na carreira acadêmica (veja só a ironia inevitável, pois é assim mesmo que é chamada: "carreira") vimos a mesma lógica sendo adaptada. Primeiro é preciso ser mestre, depois doutor, depois pós-doutor, depois o fim. Nesse ínterim é preciso produzir, produzir, publicar, publicar, orientar, orientar, publicar... até atingir os 'píncaros da glória', uma espécie de equivalente ao estrelato na carrreira artística. Dentre tantos poréns e todavias (à semelhança do espanhol que, segundo constatei em Cuba, parece que em tudo hay un pero), entretanto, é preciso lembrar que em meio a tudo isso existe a vida. Afinal, se o sentido maior de tudo é a vida e vida em plenitude, é preciso repensar mesmo e sempre qual o sentido da nossa existência. Mas aí já é uma outra discussão. O célebre verso do poeta 'tudo vale a pena / se a alma não é pequena' é bastante utilizado em relação a "fazer a coisa certa, desde que se faça pensando em fazer bem, ou fazer o bem, ou mesmo com grandeza de espírito". O poema trata essencialmente das verdadeiras epopéias dos portugueses em busca do domínio dos mares e da conquista de outras terras e povos. Ou seja, a história do sucesso do reinado de Portugal e do sofrimento do povo português. Afinal, a história dos êxitos de conquista dos portugueses estão contadas e decantadas em versos e prosas, por Pessoa e principalmente por Camões. Mas, e a história dos fracassos? Os versos de 'Mar Português' indicam um pouco sobre esta outra rota. "Ó mar salgado, quanto do teu sal São lágrimas de Portugal! Por te cruzarmos, quantas mães choraram, Quantos filhos em vão rezaram! Quantas noivas ficaram por casar Para que fosses nosso, ó mar! Valeu a pena? Tudo vale a pena Se a alma não é pequena. Quem quere passar além do Bojador Tem que passar além da dor. Deus ao mar o perigo e o abismo deu, Mas nele é que espelhou o céu." A propósito, com indicação da professora Maria Luiza Oswald, minha orientadora, busquei um texto do filósofo Leandro Konder sobre carreira e currículo e, impressionado com a profundidade de suas análises, resolvi publicá-lo na íntegra. Está no post anterior, qua aparece aqui como o seguinte.

O CURRICULUM MORTIS E A REABILITAÇÃO DA AUTOCRÍTICA

Por LEANDRO KONDER* A sociedade, modernizada, precisa de organização, eficiência. Para obter um emprego, para conseguir uma promoção, fazer carreira, o sujeito precisa exibir suas qualidades, ostentar seus êxitos. Já existem até manuais que ensinam o cidadão a preparar seu curriculum vitae. A trajetória ascensional de cada um depende dessa peça de literatura, que lembra as antigas epopéias, porque nelas o protagonista – o herói – só enfrenta as dificuldades para poder acumular vitórias. Os obstáculos servem apenas para realçar seu valor. O passado é reconstituído a partir de uma ótica descaradamente “triunfalista”.

Evidentemente, trata-se de uma imagem que não corresponde à realidade. Em sua imensa maioria os seres humanos não são campeões invictos, não são heróis ou semideuses. Se nos examinarmos com suficiente rigor e bastante franqueza, não poderemos deixar de constatar que somos todos marcados por graves derrotas e amargas frustrações. Vivemos uma vida precária e finita, nossas forças são limitadas, o medo e a insegurança nos freqüentam; e nada disso aparece no curriculum vitae de cada um de nós.

O curriculum vitae é a ponta do iceberg: ele é o elemento mais ostensivo de uma ideologia que nos envolve e nos educa nos princípios do mercado capitalista; é a expressão de uma ideologia que inculca nas nossas cabeças aquela “mentalidade de cavalo de corrida” a que se refere a escritora Dóris Lessing. Não devemos confessar o elevado coeficiente de fracasso de nossas existências, porque devemos ser “competitivos”. Camões, o genial Camões, autor de tantos poemas líricos maravilhosos, não poderia colocar em seu curriculum vitae o verso famoso: “Errei todo o discurso dos meus anos”.

A ideologia que se manifesta no curriculum vitae, afinal, aumenta as nossas tensões internas, porque nos dificulta a lucidez e a coragem de assumir o que efetivamente somos; nos obriga a vestir o uniforme do “super-homem”, a afetar superioridades artificiais. Além disso, ela incita à mentira, gera hipocrisia. Por sua monstruosa unilateralidade, a imagem do vitorioso, que ela nos obriga exibir, empobrece o nosso conhecimento de nós mesmos, prejudica gravemente a sinceridade da nossa auto-análise.

É uma ideologia capaz de explorar tanto a burrice como a inteligência; capaz de influir tanto sobre as vaidades primitivas como sobre as culturas refinadas. Para os indivíduos intelectualizados, ela se reveste de máscaras altamente sofisticadas. No caso dos artistas, ela usa a mitologia da genialidade e induz freqüentemente a pessoa a se alimentar de ambições desmesuradas. No caso dos intelectuais em geral, ela se apóia nos mecanismos seletivos da carreira universitária, aproveita as exigências de “publicidade” que se tornaram tão fortes na vida moderna e instiga uns a se afirmarem contra os outros: diminui a simpatia espontânea pelos colegas, a disposição real para aprender com eles, e se fortalece a desconfiança, cresce o impulso no sentido de demonstrar sua própria competência através da denúncia da incompetência alheia.

Claro que não teria sentido imaginarmos que o quadro deveria ser idílico e sonharmos com uma situação na qual os indivíduos jamais colidissem uns com os outros. Sabemos que as contradições nunca vão ser inteiramente suprimidas, que a existência delas é uma dimensão essencial da própria realidade. Sabemos também que o apreço por si mesmo é importante para todo ser humano: se não gostar de si mesma, nenhuma pessoa conseguirá gostar saudavelmente de outra; se não acreditar de fato em suas convicções, não conseguirá comunicá-las a outras pessoas, não conseguirá intervir no mundo, contribuindo para melhorá-lo. A partir de um determinado nível, contudo, a auto-estima fica sobrecarregada de narcisismo e acarreta uma atrofia conservadora da autocrítica.

Podemos então deixar de lado as condenações moralista – inócuas – do narcisismo. Elas são antigas e apresentam escasso interesse teórico. O problema que merece a nossa preocupação é outro: é aquele que se manifesta no efeito conservador da autocomplacência, que coagula o movimento auto-renovador da consciência, enrijecendo-lhe o ímpeto criativo e a abertura para o novo.

É provável que a estrutura da mente humana seja muito mais conservadora do que costumamos reconhecer. Renovar-se, reformular suas idéias, modificar seus valores, é operação dolorosa e arriscada. Quem parece realizá-la com alegre desenvoltura é o espírito frívolo, superficial e sem raízes, que está sempre disposto a acolher as novidades porque na realidade não as assimila (já que não assimila profundamente coisa alguma). Quando a vida obriga o ser humano a mudar os critérios e valores a que ele já tinha se acostumado e nos quais fundara a sua segurança, é natural que ele se angustie. Os próprios neuróticos, embora sofram, se agarram à neurose, porque têm medo de cair em um sofrimento ainda maior.

Nossas sociedades fragmentadas, divididas em grupos, em classes, em nações, em blocos de Estados, tornam muitíssimo mais difícil uma tarefa que por si mesma já é extremamente espinhosa: a de conhecermos as camadas mais profundas da realidade em que vivemos, penetrando gradualmente na essência mais significativa dos fenômenos, enxergando as coisas de um ângulo verdadeiramente universal, quer dizer, comum à humanidade como um todo. A humanidade está dilacerada, os indivíduos não sabem como agir para se tornarem uma encarnação dela. Não sabem o que há de mais universal neles. E isso contribui para que eles desistam da universalidade e se resignem a ser facciosos, unilaterais.

Sofremos todos a brutal pressão decorrente desse quadro, dessas condições. No entanto, volta e meia, no esforço para mudar o mundo, sentimos necessidade de nos unir a outros seres humanos em torno de princípios, que, por definição, precisam ser universais. Como superar o estreitamento dos nossos horizontes, provocado pelo mercado hipercompetitivo, que nos joga constantemente uns contra os outros? Os mecanismos do mercado forçam as pessoas a buscar lucros cada vez maiores, a disputar um lugar de trabalho melhor remunerado, ameçam-nas com o desemprego e a miséria, intimidam-nas com a falência; além disso, disseminam a insegurança e produzem a cristalização não só dos interesses materiais como dos modos de sentir e de pensar. Fortalece-se, nas criaturas, a exigência de forjar álibis.

Marx e Freud descobriram aspectos decisivos da ação das forças que atuam subterraneamente em nós e mostraram que, sob uma capa de “racionalidade”, elas impõem limites aos movimentos da nossa consciência. Mostraram como esquemas explicativos são elaborados e reelaborados em nossas cabeças com a finalidade de nos proporcionar a “boa consciência”, com o objetivo de amenizar nossas dúvidas, atenuar nossas inquietações e evitar a vertigem das nossas inseguranças.

Forjamos para nós imagens que nos ajudem a viver; e nos apegamos a elas. O autoritário se apresenta como “enérgico” e “corajoso”; o oportunista como “prudente” ou “realista”; o covarde com “sensato”; o irresponsável como “livre”. Não existe nenhuma tomada de posição no plano político ou filosófico que, por si mesma, imunize a consciência contra a ação desses mecanismos. Somos todos divididos, contraditórios. Por isso mesmo, precisamos promover discussões, examinar e reexaminar a função interna das nossas racionalizações. Quer dizer: precisamos realizar permanentemente um vigoroso esforço crítico e autocrítico.

A autocrítica é de uma importância decisiva. É por ela que passa o teste da superação do conservadorismo dentro de nós. Um conservador – é claro – pode fazer autocrítica; mas, se a autocrítica for feita mesmo para valer, ele seguramente não estará sendo conservador no momento em que a fizer.

Desde que consiga se instalar solidamente na consciência de alguém, o conservadorismo pode administrar uma grande flexibilidade: pode suportar com tolerância liberal as opiniões divergentes, até as provocações e irreverências alheias. Mas não pode se permitir o autoquestionamento radical.

George Bernard Shaw, que conhecia a significação da autocrítica, disse uma vez que o erudito era um homem que se valia de seus conhecimentos para criticar os outros, ao passo que o sábio era um homem que se criticava a si mesmo. No sentido que Shaw atribuiu à palavra, Marx era um sábio, porque não se limitou a criticar os outros, mas também cultivava – e como! – a autocrítica. Embora suas idéias sirvam de base para as certezas de milhões de militantes que invocam seu nome, Marx declarou a sua filha que, se tivesse de adotar um lema, seria a frase latina que recomendava duvidar de tudo: de omnia dubitandum. Ao completar cinqüenta anos de idade, numa situação de extrema pobreza, Marx escreveu para Engels uma carta (30.04.1868) na qual ria de sua própria incompetência para ganhar dinheiro: “Como minha mãe tinha razão quando dizia o Karl defia saper kanharr o capital (enfez de eskreferr sopre ele)...” (Marx imita jocosamente na carta a pronúncia de sua mãe). Em outra carta para o mesmo amigo de sempre concordava com uma observação de sua mulher, Jenny, que assegurava que, embora vivessem muito mal, após a vitória da revolução o casal passaria a viver pior, porque “teria o prazer de ver todos os charlatães comemorarem o triunfo deles.“ (11.12.1858). Marx não excluía a priori a hipótese de estar fazendo, em determinadas situações, papel de bobo.

Esse espírito autocrítico está presente também em Engels e em alguns marxistas de épocas posteriores, com Gramsci e Walter Benjamin. Ele assume traços de ascetismo nos anos “heróicos” do leninismo “puro”, mas se deteriora na ação dos partidos comunistas colocados sob a liderança de Stálin. A autocrítica se desmoraliza, deixa de ser um ajuste de contas do indivíduo consigo mesmo e é delegada à mecânica das agremiações: o militante faz a autocrítica que a direção do partido lhe impõe.

Agora, com os impasses com que se defronta o movimento comunista, com a ampla exigência de uma renovação do marxismo (no espírito de Marx), estão sendo criadas condições para que também os comunistas reaprendam o sentido da genuína autocrítica.

A verdadeira autocrítica exige uma espécie de “complementação negativa” para o curriculum vitae: depois de apregoar seus êxitos e seus méritos, a pessoa enfrenta o desafio de reconhecer suas frustrações, suas deficiências, seus fracassos, suas fraquezas. Talvez possamos chamar essa reconstituição dolorosa e necessária de curriculum mortis. Os indivíduos mais gravemente contaminados pela ideologia “triunfalista” que se manifesta no curriculum vitae carecem de sensibilidade, de madura lucidez e de coragem intelectual para a elaboração desse curriculum mortis. Eles agem como aquele político conservador que, numa entrevista, respondendo a uma pergunta sobre o maior erro que admitia ter cometido, explicou à estarrecida jornalista: “Meu maior erro tem sido o de dizer as coisas antes de todo mundo, cedo demais, quando os espíritos ainda não estão preparados para compreendê-las; isso desencadeia uma reação muito forte contra o meu pioneirismo.” Num passe de mágica, a autocrítica se transforma em auto-elogio.

Em nossos tempos de desconfiança, esses lances de prestidigitação tendem a surtir cada vez menos efeito. E, mesmo quando ainda conseguem iludir alguns incautos, eles trazem para os mistificadores talentosos vantagens precárias, pelas quais o mágico, afinal, acaba pagando, humanamente, um preço mais elevado do que supõe. Querendo ou não, cada um de nós caminha inexoravelmente para a morte (e o prestidigitador não escapa a esse destino). Reconhecendo francamente nossos fracassos, elaborando nosso curriculum mortis, assumindo autocriticamente os momentos “noturnos” em que vamos morrendo aos poucos, aumentamos as nossas possibilidades de nos conhecermos e de nos aperfeiçoarmos espiritualmente; e, de certo modo, esse talvez seja o único caminho possível de preparação para o fim pessoal inevitável. Quem insiste em se iludir, na realidade, está optando por enfrentar despreparado todas as dores que lhe vão desabar em cima, na hora da desilusão. Os indivíduos que conseguem se elevar a um ângulo mais universal e conseguem discernir com clareza as limitações do ser particular deles, em princípio, devem estar em condições menos ruins para se defrontar com a morte (já que são capazes de reconhecer algo – a humanidade, Deus – acima de suas individualidades; e esse algo não morre).

A abordagem do tema da morte, aqui, pode parecer surpreendente; os marxistas não costumam escrever a respeito desse assunto (e há quem alegue, com alguma ligeireza, que a omissão se deve ao fato de eles se ocuparem preferencialmente dos problemas da vida). Na verdade, a compreensão de alguns dos problemas da vida só pode se aprofundar se nos dispusermos a refleti também sobre a morte, E há um precedente da maior importância na reflexão dialética sobre a morte; ele se encontra na Fenomenologia do Espírito, de Hegel.

Nesse livro, Hegel estuda – num nível notoriamente muito abstrato – o movimento da consciência, que parte da percepção sensível, imediata, e caminha para o que ele chama de saber absoluto. Em sua trajetória, a consciência assume diferentes figuras, A quarta figura desse itinerário é a autoconsciência e a quinta é a razão. Pois bem: para passar da autoconsciência à razão, é preciso pensar a fundo a questão da morte.

Para Hegel, a autoconsciência é uma figura na qual a consciência analisa as coisas, vai completando seu campo de entendimento, mas tende inevitavelmente a se encerrar em si mesma, a excluir o novo, a deixar de fora o negativo; ela tende então a se encastelar numa positividade enrijecida. Na medida em que sente necessidade de avançar, a consciência precisa, por conseguinte, superar essa figura; precisa se desembaraçar da sua segurança artificial, vencer seu medo, encarar o negativo. E a forma universal do negativo é, precisamente, a morte.

A conquista da razão, portanto, depende – segundo Hegel – da capacidade que a consciência venha a adquirir de olhar a morte de frente, aproximar-se dela, permanecer junto dela, conviver com sua presença assustadora (em vez de contorná-la e fingir que ela não existe). Só assim a consciência consegue se enriquecer, assumindo seriamente seus limites, incorporando – dolorosamente – a dimensão do negativo à sua compreensão do mundo e de si mesma. “O Espírito” – lê-se na Fenomenologia do Espírito – “só conquista a sua verdade quando é capaz de se encontrar a si mesmo na mais absoluta dilaceração.”

Essa indicação preciosa se perdeu, na história das lutas travadas pelos herdeiros da dialética hegeliana. A consciência dos marxistas, com o tempo, começou a apresentar sintomas daquela positividade enrijecida a que se referia o autor da Fenomenologia do Espírito. Difundiu-se uma concepção simplificadora, maniqueísta, da revolução: em rígida contraposição à “corrupção” burguesa, as organizações revolucionárias eram levadas forçosamente a exagerar sua “autenticidade nuclear”, sua “justeza fundamental” (minimizando conseqüentemente todas as deformações internas, todas as graves anomalias que se verificavam em seu interior). A genuína autocrítica definhou, o “triunfalismo” se impôs. Os revolucionários foram envolvidos por uma ideologia que não lhes cobrava maior empenho em crescerem porque os convencia de que já eram bastante grandes; uma ideologia que não os pressionava no sentido de indagarem mais a respeito das coisas e deles mesmos, porque lhes sugeria que eles já tinham as respostas essenciais.

Mas a história se rebelou contra os que proclamavam seus direitos sobre ela. A prática desmoralizou a teoria que se considerava sua carcereira e fugiu por todas as janelas. E o revolucionário foi obrigado a constatar, como qualquer homem comum, que a morte o está devorando a cada momento. Volta a se colocar, então, em nome da vida, a necessidade de incorporar o negativo à consciência. Através da autocrítica. Ou – se a expressão em latim não lhes parecer muito rebarbativa – através do curriculum mortis.

* Leandro Konder é filósofo e professor.

Publicado originalmente na Revista Presença, no 1, Novembro de 1983 (p. 125-130).

8 de junho de 2009

O VOO 447 NOSSO DE CADA DIA

Acredito sinceramente que todos os dias escapamos de uma tragédia. Não! Não quero com isso tentar me mostrar fatalista ou dar uma idéia de derrotismo, daquelas que falam que viver não vale a pena, pois é exatamente o contrário que pretendo comentar e tentar me convencer. Ora, se saímos à rua, certamente sabemos dos riscos que corremos: um desvairado ao volante, drogado, embriagado ou simplesmente envenenado pela ignorância; um raio, dizem, não cai duas vezes no mesmo lugar. Portanto, se nunca caiu nenhum sobre sua cabeça, fique ciente que este dia ainda pode chegar; um adolescente de 16 ou 17 anos, numa 'fissura' de se acabar pela falta de uma pedrinha de crack, pela falta de 5 ou 10 reais, pode se aproximar e, a depender de sua reação, ele pode disparar nervoso sua pistola e a bala, aquela única, encontrar o endereço certo, aliás, errado e se alojar extamente num órgão vital; e o que dizer de uma marquise que ameaça cair há meses, achar de desabar extamente naquele segundo em que você passa por debaixo dela; ou então, tomadas todas as precauções, você simplesmente caminhava em direção ao trabalho e 'pimba'!, caiu feito um saco vazio e, levado pelo SAMU, que chegou poucos minutos depois, chamado por transeuntes desconhecidos, chega ao hospital já pronto pra ser 'envelopado' e ir pra 'cidade-de-pés-juntos'. Não se assombre com todas essas conjecturas acerca das possibilidades de passar 'dessa pra pior' assim de repente, de um segundo pra outro. Sem assombro, mas precisamos nos conscientizar que é certo que isto pode acontecer com qualquer um de nós. Entretanto, se pensarmos que um avião, que é feito pra voar firme, um troço pesado daqueles, que reúne o que existe de mais avançado em termos de tecnologia, que é feito para não falhar, repentinamente desliga no ar e cai como um passarinho acertado por uma pedrada certeira da balinheira de um menino caçador, como é possível confiar em que o próximo não cairá? Dizem que, nessas horas, o melhor é confiar nas estatísticas. Ou seja, caem menos aviões do que a gente pensa se utilizarmos de uma escala, se fizermos um cálculo de probabilidades e proporcionalidade entre o número de aviões que decolam e aterrissam no mundo a cada segundo e apenas um cai assim, uma vezinha perdida, isso seria uma besteira. Dito de outro modo, é mais ou menos o seguinte: esse avião que caiu não foi o primeiro nem será o último. Agora vem a pergunta: por que a gente continua voando neles sabendo que eles podem cair? Arrisco uma resposta: pelos mesmos motivos que saímos de casa todos os dias pra fazer alguma coisa. Pelas mesmas razões que viajamos de ônibus, em nossos carros, muitas vezes em estradas esburacadas, pistas molhadas, cheias de curvas sinuosas e, por que não dizer, muitas vezes também acima da velocidade permitida ou recomendada pela temperança e o bom senso. Não tenho explicações para a queda do avião da Air France que fazia o agora famoso voo 447. Quem as tem? Duvi-de-o-dó que daqui a alguns meses os técnicos da empresa aérea, os peritos, os experts em avião tenham alguma resposta convincente para os familiares dos 228 sujeitos que estavam no interior daquele avião na fatídica noite de domingo pra segunda-feira, passagem de maio pra junho. Um detalhe: no site brasileiro da empresa consta apenas uma faixa com referência ao voo 447, com um link que remete o usuário a uma nota oficial onde a empresa se defende em relação à acusação de possível responsabilidade por não haver trocado a tal "sonda Pitot", recomendada pelo fabricante da aeronave. Certo mesmo é que esta mais nova tragédia da aviação nos deixa com uma pulga gigante atrás da orelha e aquela sensação esquisita ao entrar num avião, como um jogador de futebol, que se benze ao entrar em campo, que o faz pra pedir inspiração pra fazer um gol ou proteção ra não quebrar uma perna e assim por diante. Não vou desistir de viajar de avião (mesmo com a friezinha na barriga na hora da aterrissagem ou em alguma turbulência mais forte); não vou parar de viajar de carro; não vou deixar de sair à rua todos os dias; não vou ficar com medo de morrer por uma bala perdida (ou achada!); não vou me trancar em casa com medo de assaltos; não vou deixar de tomar uma dose de cachaça com medo de cirrose ou porque ela poderia conter metanol... (só tomo de boa procedência!); não vou deixar de dar minhas boas gargalhadas por medo de morrer a qualquer momento de uma emoção mais forte, uma 'turica', uma síncope, um passamento, um chilique ou um faniquito qualquer que me ameace de passar dessa pra pior. Se podemos morrer mesmo a qualquer hora, até no segundo após o término deste post. Se eu postar é porque não aconteceu... (hehehehe!), se tudo pode acontecer, então por que não viver em plenitude cada segundo que pode nos restar e que pode ser tanto uma sucessão de milhões, bilhões de segundos ou apenas um, umzinho... (?) Sei não, viu, mas viver ainda é o mais gostoso de toda essa história. Se a vida não é exatamente como a gente sonhou, ah!, palmas pra vida, porque seria uma chatice se tudo que a gente sonhasse estivesse ao alcance da mão. Deixa como está e vamos ver como fica! (P.S. Vai publicado sem revisão, pelo adiantado da hora. Vinícius não dormiu ainda - já passa da meia noite - e amanhã cedo preciso estar esperto pra enfrentar o metrô e a rampa da UERJ... para um dia inteirinho de aulas).

5 de junho de 2009

IGNORÂNCIA E SOFRIMENTO

É como se fosse proporcional: quanto mais o sujeito toma consiência da realidade, busca uma aproximação maior com o real das coisas, da forma como elas são, sem subtefúrgios, sem o véu da crença ou da fé (da religião), sem a fumaça nos olhos... mais sofrimento pela compreensão de certas coisas do mundo humano. Daqui de onde vejo o mundo é um local muito plano, do chão, pés descalços, talvez no nível do mar ou um pouco abaixo. Daqui de onde vejo o mundo é o meu lugar, pois o meu lugar é sempre quando. O meu tempo é sempre o aqui e agora. Esse um aprendizado, como tantos outros, em permanente atualização. Costumo correr riscos sempre, apesar de ter assumido a direção defensiva como prática cotidiana. Nunca quis fazer uso de substâncias químicas que me tirassem por demais do sério ou me dessem sensações de irrealidade para além do que eu poderia controlar. Oportunidades não me faltaram. Se isso for caretice é porque é isso que sou. Resolvi mergulhar na realidade e ser eterno sonhador de olhos abertos. Tomo boa parte dos cuidados pra ter o que chamam de vida saudável, menos abrir mão de uma boa noitada de boemia. Não fosse um filho miúdo, que reclama presença sempre, seria bem mais. Ou seja, os filhos nos tiram um pouco de boemia. Ao menos quando em tenra idade. Minha experiência diz que depois de certo tempo eles até nos levam à boemia. Taiguara que o diga. Tenho planos pra daqui a 20 anos, quando estarei naquele lugar que chamam de 'terceira idade', que com um novo eufemismo virou 'melhor idade'. Envelhecer deveria ser sempre prêmio, nunca castigo. Dizem que Ariano Suassuna, perguntado sobre como que fazer para envelhecer tão bem, respondeu: "É simples! É só não morrer!". Simples assim! A cada dia me convenço sobre a necessidade da busca permanente da simplicidade. A simplicidade como meta. Eis uma orientação. A verdade, nada mais que a verdade e a maior quantidade de verdade possível. Isto, invariavelmente, sempre há de trazer dor. Entre a ignorância, que oferece ao sujeito uma visão 'suavizada', ingênua ou inebriante, do mundo, e a consciência da realidade, que oferece o mel e o fel lado a lado, ainda prefiro a segunda. Mesmo com toda dor que ela possa trazer. Quanto à vida em geral, continuo acreditando que a experiência é a maior professora, haja o que houver. Dela já recebi presentes que vão do mais doce mel ao mais amargo fel. Aprendi mais com o amargo da vida do que com a parte mais açucarada. E, pra ser sincero, continuo torcendo mais pela parte doce e sempre preparado para o amargo. Afinal, nem sempre um é antônimo de outro. De qualquer forma, começo a acreditar que a tal felicidade dos ignorantes é mesmo alienação. Ou será que felicidade também tem outros nomes?

CONSCIÊNCIA E FELICIDADE

Segundo algumas avaliações, quando mais se toma consciência das coisas do mundo, quanto mais o sujeito conhece, mais sofrimento obtem em proporção diametralmente oposta. Isto nos levaria a crer que só os ignorantes são felizes de fato, ou ao menos potencialmente seriam mais felizes. Volto ao assunto mais tarde.

3 de junho de 2009

NOTÍCIAS DA SEMANA

"MAICON FAZ PÊNALTI NO FIM, E FLU DEIXA VITÓRIA ESCAPAR".
- Não caberia na manchete, mas quem assistiu ao jogo percebeu o Pênalti cometido e não marcado em Alan e a entrada de Fred na cara do goleiro, evitada pelo juiz não dando a famosa 'lei da vantagem'. Ah, deve ter visto também a expulsão do capitão do Fluminense: vista na internet, de outro ângulo, a cena é clara: o juiz expulsa os dois, levanta o braço com o cartão vermelho na mão e gesticula duas vezes, uma em direção ao jogador do Náutico, outra em direção ao jogador do Tricolor. Nenhum deles tinha ainda recebido cartão amarelo nem haviam se envolvido em qualquer atrito. Pela falta cometida - um 'arranca-rabo' entre os dois - mereceriam, no máximo o cartão amarelo. Porém, o fluminense perdendo seu capitão e principal defensor ficou com sua defesa fragilizada. Gol pro Náutico. Coisas do futebol brasileiro.
"POLICIAIS SÃO RESPONSÁVEIS POR 25% DOS ASSASSINATOS, DIZ ESTUDO".
- Sob o manto da lei está nesse nível... Imagine a letalidade se eles passassem pro 'outro lado'.
"METADE DA POPULAÇÃO APOIA 3º MANDATO DE LULA, DIZ DATAFOLHA".
- De tanto Lula negar e a imprensa insistir na tese, apesar do crescimento de Dilma nas pesquisas, tou vendo a hora de emplacar a tese do terceiro mandato. E olha se não sobrar uma vice pra ministra! Resultado: Lula pode ser tri e ainda deixar Dilma mais pronta ainda pra ser eleita em 2014. Acho que a direita brasileira é mais burra do que parece.
"SUSANE: PROMOTOR COMETEU ASSÉDIO". (Susane Richthofen).
- É assim no Brasil. Matou o pai e a mãe em conluio com um namorado e um outro sócio daquele, foi condenada e agora dá uma declaração deste tipo e a imprensa publica já como verdade. Resultado: o ônus da prova agora caberá ao acusado. E quem pode provar que houve de fato? A palavra de Susane!
"PESQUISA DATA-FOLHA: LULA ATINGE NOVO RECORDE DE POPULARIDADE".
- Do jeito que vai, não precisará, de fato, realizar pesquisa ou eleição. Ou Lula - o povo - elege Dilma e Lula volta pra mais 8 anos em 2014 ou política é realmente como nuvem.

2 de junho de 2009

MAIS FÁCIL SER DOUTOR

Daniel Munduruku foi o conferencista da abertura do V Seminário Internacional AS REDES DE CONHECIMENTOS E AS TECNOLOGIAS, realizado na UERJ entre os dias 01 e 04 de junho de 2009, com organização do PROPEd. Nada demais se o cidadão não fosse originário do Norte brasileiro, do 'povo munduruku', como ele mesmo frisou, oposição à idéia generalista e disseminada no mundo de que todos são índios, indiscriminadamente. Lá pelas tantas, o 'índio Daniel' cunhou uma frase que talvez não tenha lá 100% de originalidade, por ser provavelmente uma paráfrase de algum autor famoso, ou um sábio que tenha marcado a história com suas idéias. Sendo doutorando na UNICAMP, Daniel Munduruku, soltou a pérola: "ser gente é mais difícil do que ser doutor", arrancando efusivos aplausos da platéia que lotava o Teatro Noel Rosa. Ortega y Gasset, referindo-se ao trabalho intelectual e o seu papel de crítico humanista, há muito tempo havia dito que "é mais fácil compreender o universo do que o nosso ofício". Na verdade, sempre será mais fácil compreender o mundo da técnica, das invenções, da ciência do que o mundo dos humanos, ou a sua humanidade. De todos os 12 trabalhos de Hércules, talvez nenhum se tenha comparado à tarefa de realizar em cada um a sua humanidade ou pelo menos a sua possibilidade infinita de humanidade. Nascemos para sermos humanos e a sociabilidade a que somos verdadeiramente sumetidos, a vida real, nos remete cada vez mais para uma forma de desumanidade. A luta para ter mais e, portanto, consumir mais, poder mais, isso nas menores coisas da vida, leva gente e mais gente a desperdiçar parte importante de suas vidas correndo atrás de coisas em vez de ser. Matam, submetem, exploram, jogam sujo, traem amigos, jogam valore fundamentais na lata do lixo, enterram princípios... Não quero advogar a idéia de um ascetismo moderno, da vida simples ao extremo, do abandono pleno da vida urbana moderna, como se pudéssemos voltar no tempo, abandonar as conquistas humanas do desenvolvimento, deixar pra trás as enormes vantagens dos avanços tecnológicos e levar uma vida de eremita. Todavia, a bem da verdade comigo mesmo, confesso que sinto-me cada dia mais tentado a abrir mão de certas 'vantagens' da vida moderna em troca de uma vida mais lenta, mais leve, mais clean ou slow, como dizem por aí, que nada mais é do que uma opção de vida em quase câmera lenta, em contraposição com a vida corrida e louca dos grandes centros urbanos e sob a pressão do trabalho, do trânsito, do ritmo dos outros, dos coletivos, das metas a serem cumpridas. Sinceramente, vez por outra me pego pensando se vale mesmo a pena essa loucura toda que é a correria urbana da vida moderna, a luta incessante pelos tais 'objetivos', os 'leões' reais e imaginários que têm que ser mortos todos os dias para que se sobreviva mais ou menos bem na selva de pedra. O que vale mais mesmo? Até que ponto temos coragem de fazer tal pergunta a nós mesmos e, de acordo com a sinceridade da resposta, a subsequente coragem de tomar decisões que venham ao encontro da realização de nossos sonhos e desejos. No geral, sonhamos com uma vida que tenha tudo aquilo que sonhamos do ponto de vista material e todas as benesses de uma vida saudável, light, longa e leve. Até que ponto acreditamos de fato nisto? Só resolvi escrever algo sobre o assunto porque concordei 'na bucha' com o 'índio' Daniel Munduruku: realmente, é bem mais difícil ser gente. Que nosso desafio contidiano seja também neste sentido. Compreender a diferença entre o que queremos ter e o que quereos ser talvez seja um trabalho equivalente a um daqueles de Hércules. Vamos em frente!

1 de junho de 2009

NOTÍCIAS DO DIA

"MAICON FAZ PÊNALTI NO FIM, E FLU DEIXA VITÓRIA ESCAPAR".
- Não caberia na manchete, mas quem assistiu ao jogo percebeu o Pênalti cometido e não marcado em Alan e a entrada de Fred na cara do goleiro, evitada pelo juiz não dando a famosa 'lei da vantagem'. Ah, deve ter visto também a expulsão do capitão do Fluminense: vista na internet, de outro ângulo, a cena é clara: o juiz expulsa os dois, levanta o braço com o cartão vermelho na mão e gesticula duas vezes, uma em direção ao jogador do Náutico, outra em direção ao jogador do Tricolor. Nenhum deles tinha ainda recebido cartão amarelo nem haviam se envolvido em qualquer atrito. Pela falta cometida - um 'arranca-rabo' entre os dois - mereceriam, no máximo o cartão amarelo. Porém, o fluminense perdendo seu capitão e principal defensor ficou com sua defesa fragilizada. Gol pro Náutico. Coisas do futebol brasileiro.
"POLICIAIS SÃO RESPONSÁVEIS POR 25% DOS ASSASSINATOS, DIZ ESTUDO".
- Sob o manto da lei está nesse nível... Imagine a letalidade se eles passassem pro 'outro lado'.
"METADE DA POPULAÇÃO APOIA 3º MANDATO DE LULA, DIZ DATAFOLHA".
- De tanto Lula negar e a imprensa insistir na tese, apesar do crescimento de Dilma nas pesquisas, tou vendo a hora de emplacar a tese do terceiro mandato. E olha se não sobrar uma vice pra ministra! Resultado: Lula pode ser tri e ainda deixar Dilma mais pronta ainda pra ser eleita em 2014. Acho que a direita brasileira é mais burra do que parece.
"SUSANE: PROMOTOR COMETEU ASSÉDIO". (Susane Richthofen).
- É assim no Brasil. Matou o pai e a mãe em conluio com um namorado e um outro sócio daquele, foi condenada e agora dá uma declaração deste tipo e a imprensa publica já como verdade. Resultado: o ônus da prova agora caberá ao acusado. E quem pode provar que houve de fato? A palavra de Susane!
"PESQUISA DATA-FOLHA: LULA ATINGE NOVO RECORDE DE POPULARIDADE".
- Do jeito que vai, não precisará, de fato, realizar pesquisa ou eleição. Ou Lula - o povo - elege Dilma e Lula volta pra mais 8 anos em 2014 ou política é realmente como nuvem.