27 de maio de 2009

É BONITA, É BONITA E É BONITA

O movimento da vida, do nascer, crescer, desenvolver, morrer deveria ser entendido, ao meu ver, não um fim em si, mas simplesmente como parte do processo. Uns se agarram à idéia de vida eterna, vida depois da vida, moto contínuo, eterno retorno, outros tentam inultilmente eternizar a juventude, outros gastam as burras de dinheiro com um sonho de congelamento do corpo carcomido pelo tempo na esperança de avanços científicos no futuro poderem trazê-lo de volta. Mas é preciso perguntar, de volta pra onde se o tempo já será outro? De volta pro futuro, pois ele, o futuro, pode ser o 'bom presente' que ganhamos quando construímos um bom presente. Longe dessas idéias de eternidade, prefiro ser eterno (enquanto dure na lembrança de alguém) em alguma canção, nalguma besteira que disser e provocar uma livre e sonora gargalhada em alguém, num momento de pleno gozo. Eterno também pela possibilidade de ser tudo que puder ser agora. Meu pai morreu num dia exatamente como hoje, há 32 anos. Amanhã João Bosco, meu irmão mais novo, faz aniversário. Hoje, minha amiga Socorro Dantas também faz aniversário. Quantos no mundo se regozijam pelo simples prazer de estarem vivos, junto aos seus, e quantos outros não se lamuriam pelo desgosto de não terem o que inventaram de desejar sem que a vida lhes permitisse? É nisso que dá desejar o inatingível. Desejo e sonho não são a mesma coisa. Pro primeiro eu creio que há sempre limite, mas, será que há limite pros sonhos? Esta semana Vinícius acordou angustiado dizendo que "um pescador bem grandão queria me pegar e estava zangado porque eu havia colocado um monte de argolas nele". Descobri depois que eram algemas. E ele, do alto de sua inocência disse: "mas papai é fortão e fez 'bum' no caçador e derrubou ele...". Ainda bem que o pai terminou como herói! Pior foi num sonho meu em que eu estava sendo acusado de ter assassinado nada mais nada menos que Che Guevara. Pode? Por essas e outras que ando preferindo sonhar com os olhos abertos e em plena rua. Quanto ao desejo de continuar eternizando a juventude, não corro atrás dessas coisas, mas também não tenho de que reclamar. Um amigo que fiz há poucos dias jurou que eu o estava enganando, aumentando a minha idade. É o novo! Isso é coisa de jogador de futebol. Mas na vida é assim: a gente tem 17 e sonha em ser mais velho. Depois tem trinta e poucos e está satisfeito. Depois tem quarenta e uns e fica sonhando ter uns vinte e poucos, mas com a cabeça e a estrutura material que conseguiu até agora. Delírios! Não tenho essa vocação, nem pra delírio recalcado em relação ao tempo vivido e /ou por viver, muito menos de vocação pra Lobo mau. Aliás, pra lobo nenhum. Daqui de onde vejo o mundo e depois de umas coisas que ando aprendendo, acho que o melhor mesmo é tentar eternizar a infância. Ou, de outro modo, buscar sempre a infância das coisas e essa maravilhosa sensação de estar sempre começando, sem medo, sem vergonha de demonstrar ignorância, sem pejo ou censura pra 'certas infantilidades' que nos vêm ao juízo quando em vez.

2 comentários:

Socorro Dantas disse...

Cantar...e cantar...e cantar a beleza de ser um(a) eterno(a) aprendiz!
Meu aniversário é hoje sim! Acabei sendo citada no teu texto, êbaaaaaa. (Noutro blog, tb. hoje. O Asa da Palavra, lindo texto produzido por Vaneide Delmiro)
Feliz...pelos amigos...pela familia...pelas lembranças...pelo presente, pelas construções...pelo trabalho...por tudo!

"Se procurar bem você acaba encontrando.
Não a explicação (duvidosa) da vida,
Mas a poesia (inexplicável) da vida."

Carlos Drummond de Andrade

KÁTIA LIMA disse...

VALEU A ESPERA... TEXTO GOSTOSO DE LER.
VAMOS SONHANDO, SONHANDO... E ASSIM , NESSES MOMENTOS, SEREMOS TOTALMENTE FELIZES.

BESOS, BESOS... A TODOS.