8 de março de 2010

AH, ESSAS MULHERES... OU, SOBRE COMO UM SIMPLES GERIMUM FAZ LEMBRAR UMA GRANDE MULHER

O gerimum é também chamado de abóbora em alguns lugares, assim como a macaxeira é chamada de mandioca, de aipim. Nem sei se é assim mesmo...

A verdade é que eu queria falar do gerimum que comprei na feira central de Campina Grande, no último sábado. Olhos marejados e aquela sensação de que ela estava por perto. Sou freguês de Seo Chico há uns 6 anos, desde que voltei de Fortaleza. Dona Neide me indicou o lugar exato onde eu poderia encontrar um gerimum caboclo toda semana, sequinho, daqueles que ao serem cozinhados ficam com a consistência de um bom inhame... sem derreter. É como se comprasse uma coca-cola. Explico: você sabe que encontrará tal sabor sempre... onde estiver.

Pois bem! Desde dezembro que eu me boicotava todos os sábados evitando inconscientemente a ida à feira central.  Esta rotina semanal me traz recordações ainda muito caras e, de certo modo, lacrimejantes. Camilla desvendou o mistério quando cheguei com a xepa e não deu outra, me derramei em saudades assumidamente dolorosas de minha mãe.

Tudo por causa do gerimum. Olhei praquele balaio de sempre, bonito... e a moça ainda perguntou: vai levar gerimum hoje, professor? Não resisti! Inevitável a lembrança de Dona Neide, o seu alimento mais sólido na refeição do meio dia pelos últimos anos, vez que quase nada estava liberado por conta de suas dificuldades de saúde.

Revejo suas imagens, algumas no hospital, outras em nossas sempre animadas festas, outras simplesmente no cotidiano caseiro... em tudo me faz lembrar uma grande mulher. Em tudo Dona Neide me faz acreditar na força e na coragem das mulheres quando têm um sonho, um projeto de vida, um algo por que lutar. E ela só tinha um projeto de vida: os filhos! Pode parecer pouco para alguns, mas era tudo pra ela. O orgulho de criar, educar, transformar em gente de bem aqueles molequinhos danados dos remotos tempos de Juazeirinho.

Hoje, Dia Internacional da Mulher, eu bem que poderia fazer algum proselitismo aqui e listar um bocado de mulheres inteligentes, bacanas, guerreiras que conheço, mas não. Resolvi concentrar tudo numa imagem só de mulher, miúda, frágil no andar dos últimos anos, frágil na emotividade em que se derretia vez em quando nos últimos tempos e tão forte em sua simplicidade, em seu projeto de vida singelo e arrebatador.

É pra ela que rendo todas as minhas homenagens hoje. E o gerimum está lá, à espera que eu crie coragem de pô-lo ao fogo pra acompanhar  e degustar o primeiro pedaço com um pouco de azeite, orégano, algumas gotas de shoyo e uma boa dose de cachaça. Hummmmmm!

Salve, salve! Essas mulheres...

7 comentários:

Marcantonio disse...

Bela homenagem.Eu creio que as mais belas imagens surgem da capacidade de fazer com que vibrem as coisas simples da vida pelo poder de evocação que elas possuem. No final das contas, o arco-íris se prende à terra, não é?
E ainda ganhamos uma receita de gerimum! Em tempo: aqui no sudeste é a macaxeira que é chamada de aipim. Mas acho macaxeira mais poético, sonoridade de raiz-flor.
Realmente,um salve para as mulheres, muito mais fortes do que nós!

Um abraço.

RANGEL JUNIOR disse...

Beleza, amigo!
Que a vida nos seja sempre leve... ao lado delas!

Ana Maria disse...

Obrigada! Amo você sem medidas e sou desde julho a sua fã número um,ocupando temporariamente o posto da nossa "imortal" Dona Neide.

Ana Maria

Débhora Melo disse...

Salve, salve! Nós mulheres...

Belíssimo texto, com emocionadas lembranças.

Obrigada, Rangel... que do seu jeito, com sua inspiração e sensibilidade , transforma, nós mulheres um ser mais do que especiais... e é o que somos!

Beijo-te no coração, poeta.

Divanira Arcoverde disse...

Meu querido Júnior

Não sei por que (e sei)sabia que escreverias um belo texto para Dona Neide... Visitei teu blog... Não tinhas escrito ainda! Hoje encontro essa homengem tão linda e revejo minha santa mãe(as nossas mães sempre são santas) representada em teu texto. Quantsa qualidades, virtudes e abnegação se igualam e se parecem com as de minha mãe! Fiquei feliz, pois ao ler teu texto, senti, em muitos recortes dele, um discurso que parecia meu. (Quanta pretensão, hein?). Mas, me desculpe amigo, pela "carona" que peguei. Um beijo maternal. Você é demais. Lindo! Eu te agradeço enternecida.
Diva

Ginha disse...

Olá Jr... bela e justa homenagem à D. Neide neste dia!!! Sou testemunha desta sua admiração pela mulher que ela foi, sem, certamente, a pretenção de o ser!! Pelo que conheci dela, através de vc... apenas viveu com muita simplicidade e ralou prá caramba!!!

Bela homenagem à nós mulheres e. prá mim, uma lição: a forma de viver é o que fica, não o que fazemos!!!Queira Deus que minhas flhas tenham lembranças assim...

O seu BLOG sempre me alegra!!! me sinto bem perto de vc mesmo estanndo tão longe!!!
bjos

Anônimo disse...

Poisé e eu fiquei aqui lendo e sem palavras. Valeu...Abraço. Gilberto Rangel