12 de julho de 2009

ALIMENTANDO OS CACHORROS

Tomo a liberdade de ocupar o espaço do Domingo, à noite, prestes a desligar meus motores pro merecido repouso e recarga de baterias, com o intuito de bater o cartão de ponto amanhã, às 8h na UEPB. Li há pouco um artigo que me inquietou e resolvi dividi-lo com vocês, inclusive sem a permissão prévia da autora, mas como já foi publicado, creio que ela não se oporá.

Oziella Inocêncio é de uma nova geração de jornalistas campinenses, formada há uns 3 ou 4 anos pela UEPB. Intelectual de grande capacidade, produziu este texto instigante, publicado em forma de editorial no jornal Diário da Borborema, de Campina Grande.

Além de meter o dedo na ferida, vai muito além da mera crítica genérica como muitos fazem, pondo a culpa no governo ou na falta de segurança, ou então incitando o endurecimento do aparelho repressivo do Estado. Ô motezinho surrado! Aqui não é o caso!

VEJAM O QUE ELA ESCREVE! VALE A PENA!

“Dentro de mim há dois cachorros. Um deles é cruel e mau. O outro é muito bom. Os dois estão sempre brigando. O que ganha a briga é aquele que eu alimento mais freqüentemente." O antigo provérbio dos índios norte americanos reflete bem a natureza do ser humano e poderia servir como ilustração para a chacina ocorrida no bairro do Rangel em João Pessoa. Lá, uma briga de crianças resultou num assassinato brutal, que terminou com a execução de Moisés Soares Filho (36), Raissa Soares dos Santos (02), Raquel Soares dos Santos (10), Rair Soares dos Santos (04), Evanize Soares dos Santos (37) e dois bebês que ela guardava no ventre.

Havia uma mão de criança em cima do guarda roupa. Havia crianças degoladas por um facão. E ficamos, cá, nos perguntando se há limites para a maldade de um indivíduo. Para a nossa própria maldade. Também somos maus. Também, nós, alimentamos nossos cachorros ao sabor do que nos convém. Somos maus quando destratamos alguém por esta pessoa estar abaixo de nós na dita ‘esfera econômica’. Somos maus quando negamos ajuda a quem nos solicita. Somos maus quando olhamos para alguém procurando as cifras que queremos mendigar. Somos maus quando puxamos o tapete do outro, para crescer profissionalmente. Somos maus quando julgamos pelas aparências. Somos maus quando negamos um sorriso, uma gentileza, um bom dia, o perdão. Somos, sobretudo, maus, quando valores como o altruísmo, a generosidade, a compaixão, deixaram de existir para nós - tão contaminados por um mundo que prega a competição, o desamor, o desrespeito. E somos, além de tudo, maus, quando deixamos de enxergar no outro, o que nós mesmos somos.

Porque o outro também sou eu. O outro também teme a morte (e nela pensa todos os dias), teme o frio, a solidão, a pobreza, o desamparo, a velhice, o esquecimento. O outro não gosta de ser destratado, violentado e subjugado naquilo que acredita. É, em suma, meu semelhante nessa estrada de caminhos díspares e tortuosos que é a existência - aquela que tudo ensina aos que estão aptos ao aprendizado. Não é porque o outro é feio eu sou bonito, o outro anda roto e eu possuo grifes nas calças, eu tenho pernas e o outro não, o outro é negro e eu sou branco, o outro aprecia o mesmo sexo e eu prefiro o oposto, que somos diferentes. Somos humanos, em suma, espelhos entre si, oposição e igualdade ao mesmo tempo e sobremodo, símiles quando se trata das nossas necessidades, sonhos, ideais e desejo de bem estar.

A carnificina está aí. A crueldade anda à solta e caminha de mãos dadas com a violência, a mentira e o desejo de estar e se mostrar acima do próximo - que deveria ser visto como irmão, senão religiosamente, ao menos humanamente falando. Carlos José e sua esposa, Edileuza Oliveira, optaram por dar ração aos respectivos cachorros errados. É bom sabermos qual cachorro estamos alimentando. É bom observarmo-nos, diariamente, sobre qual deles queremos alimentar.

DEPOIS DISSO, MELHOR RELFETIRMOS MAIS SOBRE OS BICHOS QUE HABITAM EM NÓS.

18 comentários:

Oziella Inocêncio disse...

Meu querido, rsrsrsr
Obrigada pelos elogios. E, saiba, a recíproca é verdadeira. Para mim, vc é um cara honesto, limpo de coração, um nobre, em suma (e digo isso para todo mundo)! Obrigada por Vini, muito obrigada (nós nos amamos, rsrsrs)... E obrigada pelo amor e o cuidado que tens pela minha amiga de infância (a NOSSA Camilla, figura generosa e doce). Felicidade e mais uma vez o meu obrigada sincero!

Oziella Inocêncio disse...

...e como jornalista da área de cultura, preciso dizer: um artista de verdade, inventivo, sensível, original!

Aninha Santos disse...

Essa Oziella é uma figura. Tive o prazer de conhecê-la e pedir seu autógrafo. Apesar dela não me dar o autógrafo me doou algumas horas de um dos dias mais legais e malucos da minha vida recente. Além de figura Oziella é uma grande jornalista! Parabéns para ela pelo texto e obrigada a você por compartilhá-lo conosco.

Oziella Inocêncio disse...

ahahahah
esse lance do autógrafo foi hilário, Aninha... ahahaha
Aquele, para mim, tb foi um dia especial e foi ótimo conhecê-la. Obrigada!

RANGEL JUNIOR disse...

Oziella, seu texto fala por você. Essa é uma grande qualidade. Há uma pessoa de verdade por trás dele e essa pessoa só o criou porque antes dele vieram outras histórias que a forjaram tal e qual hoje é. Aninha tem razão e não aumenta nada.
Bj pras duas.

Anônimo disse...

Atravessando o arco-íris a flecha lançada por Oziella, transpassando minh'alma me cola e me torna igual aos "outros" da chacina. [vítimas e algozes].
extrema sensibilidade.
paraibinha.

Oziella Inocêncio disse...

Ow, meu bem! Maior rasgação de seda essa nossa(tu, Aninha e eu)... ahahahahahah
Que posso dizer? Reafirmar tuas palavras e agradecer por ter a oportunidade de conhecer pessoas tão especiais!
Obrigadaaaaaaaaaaaaaaaa!

Oziella Inocêncio disse...

Ah, e Desdêmona Macbeth é meu blog, desativado por falta de tempo, mas assim que puder, retornarei.
bjoooooooooo!
Oziella

Oziella Inocêncio disse...

Nossa, esse anônimo está muito chateado com a vida... Felicidades para ele!

Vera Barbosa disse...

Nasce uma escritora. E das boas!
Parabéns Ozzy, pelo texto (belíssimo) e parabéns Rangel por disponibilizá-lo para nós, pobres mortais.
Viva a escritora, como diz o anônimo, paraibinha. Por que não? Ela tem orgulho de sê-lo, como eu tenho orgulho e admiração pelo trabalho desenvolvido por essa jornalista de grande valor literário.

Anônimo disse...

Quanta interlocução!
Seu texto fez sucesso e peguei carona nele.
Reative seu blog que ele tem futuro. Fui lá e as portas estavam fechadas...
bjo.
Jr.

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
RANGEL JUNIOR disse...

Ah! Oziella! Só pra desfazer qualquer confusão de palavras: Quando alguém quer postar um comentário mais rapidamente e não tem uma ID do google, às vezes, manda ver como anônimo e assina no final. Essa tem sido a ação mais comum que observo por aqui.
Então, PARAIBINHA é a assinatura de um leitor. E ainda uma observação: quem pediu pra que você reative o blog fui eu mesmo, mas como postei às pressas de outro PC sem estar 'logado', mandei ver como anônimo e assinei 'Jr' no final.
Seu texto foi o segundo lugar entre os que geraram mais comentários no meu blog até hoje. Neste caso, peguei carona mesmo, mas o crédito é todo seu.
Bjim.

Oziella Inocêncio disse...

Ah, compreendo, meu bem...
Obrigada! Bjooooooo

Anônimo disse...

Vetis, lindaaaaaaaaaaaaaaaa!
Tu sabes que meu coração é teu, não é? Minha mãe, minha filha, minha irmã, minha menina... Te amo, Vetis! Obrigada(por tudo). Ah, e como disse, meu primeiro livro será dedicado a você, meu avô, Mama, minha tia, Rachel e Rarú...

Ana Flor disse...

Kkkkkk... oxe, o segundo de maior comentario, esse texto?
Só tem interlocuções tuas e de Oziela, um conversando com o outro.... kkkk.. paciência...
Comentários reais, de proporções e com conteúdo, só mesmo uns 2.
Não achas?


Ana Flor .

Oziella Inocêncio disse...

ahahahaha

Tem razão, Ana Flor. É que a nossa admiração um pelo outro é muito grande... Abraços!

RANGEL JUNIOR disse...

Como diz o ditado que uma coisa leva a outra coisa, são o movimento de todas as coisas e suas (inter)relações que fazem girar, de fato, não só a roda do mundo, mas essencialmente a da vida.
Quando me referi à quantidade de comentários, não foi pensando em ranking, criatura, mas apenas pra registrar que foi o texto de Oziella que levou um monte de gente a visitar o blog e comentar... um puxou o outro e o outro puxou mais um. Ou seja, a interlocução de meia dúzia de viventes pensantes é mais importante, mesmo no caso de ficarem trocando amabilidades. Deixa pra lá. Sua visita poderia gerar algum comentário, mas o mais importante é que não gerencio os comentários e deixo todos (as) À vontade pra dizerem seus ditos.
Abração!
OBS. Quanto aos números você não deixa de ter razão.