Pequenas historinhas e algumas reflexões sem dor, como diria Millôr.
Ando meio invernoso por dentro e por fora. Campina me recebeu com chuva fina e uma briga boba entre o mormaço e a friagem noturna de sempre, mas de outros tempos. Saudades do inverno caririzeiro, saudades da meninice, saudades de mim mesmo e de tudo que deixamos de fazer quando o tempo deixou de ser generoso conosco nos dizendo, como diria Chico e Ruy Guerra na sua Ópera, "vai trabalhar, vagabundo". E não parou mais...
Conheci um candidato a boêmio e artista que teve que ouvir as vozes da razão, teve que dar razão às vozes da vida, teve que viver com a voz engasgada, mas buscando ser feliz da mesma forma, mas de outro jeito. "Canta, canta, minha gente, deixa a tristeza pra lá. Canta forte, canta alto, que a vida vai melhorar..."
A mãe alerta a filha preocupada: "Minha filha, não se chegue com tocador de violão que 'isso' não tem futuro pra ninguém..." e o tocador indignado pensou caladinho... "he, he, he... ela nem sabe o que é futuro!" E ganhou o mundo e não calou a voz e não silenciou as cordas e nem desafinou, salvo exceções de praxe, pois como dizia Dona Neide, "deixa isso pro sino, que só não toma umas porque é de ferro e a boca é pra baixo!"
E o então garoto virou professor por acaso, apaixonou-se pelo pó-de-giz. Ou seria paixão pelo outro?, pelo contato?, pela emoção de aprender junto? E daí o salário de fome virou instrumento de luta. E aí as dificuldades viraram bandeira. E aí o pouco de massa cinzenta, posta à prova, deu algumas respostas e a vida sorriu de novo como quem diz: "vai, menino! Não há caminho, pois ele se constrói ao caminhar". E Paulo Freire deu umas dicas, Galeano deu outras, o velho, grande e tão difamado Karl M. ofereceu régua e compasso, Vladimir I. L. foi mostrando como de traçam planos e como se organizam lutas... e a camaradagem aprendida na prática foi forjando um outro homem, redivivo. Viva o som de todas as coisas! Viva o cordão encarnado!
Hoje as lutas parece que só começaram e o tal sujeito acorda pra caminhada sonhando que o inverno alimente seus sonhos tanto quanto os meus. Que prepare a terra e a deixe prenhe de sementes, pois a natureza já faz a sua parte. Na vida, só não aprende quem não quer, dizia um pensador meu amigo. Aprende-se até a perdoar que é serviço pesado. Aprende-se a ser paciente que é desafio dos grandes. Aprende-se a ser tolerante que é terefa pro tempo. Aprende-se a reconhecer no outro a possibilidade de lhe dar acabamento, de ser quase por inteiro na sua eterna incompletude.
Esse cara que conheço se parece muito comigo, mas não sou eu, pois esse que era aquilo já não é, sendo a mesma pessoa. É um, é dois, é muitos, sendo múltiplo num só. Vive e prepara o amanhecer. Há uma aurora a caminho e quando se faz noite é preciso lembrar que o mundo e a vida estão em movimento. Auroras e ocasos, movimentos da mesma coisa sendo o que parece e sendo o que não parece ser, mas apenas sendo, aqui e algures. Nós apenas interpretamos e lhes damos nomes.
Por hoje sou inverno. Amanhã, quem sabe?
8 comentários:
Rangel,
Quanta sensibilidade aflorada neste teu ser.
...E há uma nova aurora a brilhar dentro de mim.
Um abraço,
Débhora Melo.
OLÁ...
INVERNO...TEMPO DE PENSAR, DE SE ACOLHER... DE ALMEJAR NOVAS AURORAS...
BELEZA !!!!
BESOS ,BESOS EM TODOS...
(A mãe alerta a filha preocupada: "Minha filha, não se chegue com tocador de violão que 'isso' não tem futuro pra ninguém..." e o tocador indignado pensou caladinho... "he, he, he... ela nem sabe o que é futuro!" E ganhou o mundo e não calou a voz e não silenciou as cordas e nem desafinou...).
"CANTA, CANTA CANTADOR
QUE TEU DESTINO É CANTAR!"
Abraço.
Alfrânio.
Parabéns, velho Poeta, pelo texto que, assim como os outros tantos, sempre trazem uma boa dose de poesia e saudosismo. Mas, quero, também, reportar-me ao blog de Taiguara, uma de suas mais belas criações.
Rapaz, visitei-o hoje (por pura curiosidade). PTQP - RIU? Esse menino tá cum a gôta serena pra escrever. Santo Cristo! Esse cara vai longe! Virei fã do teu rebento!
Tá vendo aí? Quem me mandou ser curioso!? Dizem que a curiosidade matou o gato - morri na mão desse muleque (no bom sentido, é claro!). Ah, se todos poetas tivessem filhos assim! Podia ser que sobrasse um rimadozim pra mim...
Agora, não passarei por lá somente por mera curiosidade... Já sei o que vou buscar lá! FAZ TEMPO QUE NÃO SEI O QUE É ISSO.
Um abraço.
Alfrânio.
Caro Júnior
Teus sentimentos afloram neste texto. E como aprendemos com tuas palavras, que de tão sinceras, mesmo camuflada pelas imagens criadas, nos fazem refletir... Os ensinamentos "do berço" são cristalizados e o mundo "o velho Professor', como dizia minha Mãe, se encarrega do resto. Belas metáforas... Talvez um novo homem esteja se formando... A dor também ensina, e como...
Um beijo maternal.
Diva
LÁ VEM EU COBRANDOOOO...
KD TU HOMI?????
LÁ VEM EU COBRANDOOOO...
KD TU HOMI?????
Junior...Adorei.
Sensibilidade à flor da pele...
Sou sua fã!! kkkkkkkkkk
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