27 de maio de 2025

A Sinfonia das Pequenas Coisas


O dia começou envolto em névoa, um véu delicado que escondia os telhados e transformava a paisagem em algo quase etéreo. Enquanto a neblina dissipava lentamente, a água da fonte no quintal jorrava em um ritmo sereno, convidando-me a uma pausa. Após uma boa noite de sono, dez minutos de meditação bastaram para que eu sentisse a energia renovada, como se a quietude daquele instante tivesse o poder de recarregar a bateria da alma. Era um lembrete singelo de que a tranquilidade não está nos grandes eventos, mas nos intervalos silenciosos entre eles.  


No jardim, as carpas coloridas deslizavam pela água com graça hipnótica, seus movimentos sinuosos pintando traços de beleza efêmera. Os lírios vermelhos, que cuidamos como uma homenagem à minha mãe, estavam em plena floração, espalhando pelo ar não apenas seu perfume, mas também memórias afetivas que resistem ao tempo. Cada pétala parecia sussurrar que a vida, por mais breve que seja, é repleta de delicadezas que merecem ser notadas. Quantas dessas pequenas maravilhas passam despercebidas na correria do cotidiano?  


O café quente trouxe consigo um aconchego, além do paladar — um verdadeiro abraço por dentro, um ritual diário que aquece corpo e espírito. Do lado de fora, a cidade despertava em uma cacofonia de sons: motores, buzinas, latidos, o canto alegre dos pássaros. Até os pardais, em sua algazarra despretensiosa, contribuíam para a sinfonia urbana, sempre única e cambiante. Era como se cada dia fosse uma nova apresentação, com músicos diferentes e partituras improvisadas.  


Os quarenta minutos de exercícios, o banho revigorante, a cama arrumada com cuidado—tudo isso compunha um ritual de autoconhecimento e gratidão. Não eram gestos grandiosos, mas tinham o poder de estruturar o dia com sentido. E, no fim, era isso que ficava: a certeza de que a felicidade não está nos holofotes, mas nos detalhes que muitas vezes ignoramos.  


Viver plenamente é saber que cada instante é irrepetível. A névoa vai se dissipar, as flores murchar, o café esfriar — mas enquanto duraram, foram perfeitos. E é nessa fugacidade que reside a beleza da existência: na capacidade de encontrar alegria no efêmero, de celebrar o aqui e agora como se fosse a única coisa que realmente importa.


Rangel Junior 


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