10 de agosto de 2009

PAIS E FILHOS

Li O Profeta de Gibran por volta dos 14 anos e o carrego comigo em sentimentos. Vejo meus filhos como o arqueiro de Gibran, como o profeta sugeriu que os víssemos. Olho em volta e percebo que o tempo de fato passa muito rápido, pois parece que foi ontem. Olho aquele menino de olhinhos inquietos e curiosidade extrema e vejo um cabrão do meu tamanho, barba crescida, mas que teima em não encher, cabeça no lugar, ponderações e mais ponderações, boemia herdada com legitimidade, bom gosto forjado nas lides cotidianas, mas a partir de casa, um homem feito. No mesmo olhar diviso um bruguelinho pra lá de traquino e de olhar ainda mais inquieto que saiu, num sopro de tempo, direto dos braços da enfermeira numa manhã de setembro pra virar um moleque falador, perguntador de tudo e teimoso até dizer basta. Daqui a pouco faz quatro anos e a gente quase não percebe. É assim com o tempo. É assim com os filhos. É preciso estar por perto para vê-los crescer e cada dia a mais irem-se saindo de nós, sendo cada dia mais autônomos até o ponto de um dia não quererem mais que a gente cuide, mas que apenas lhes acompanhem. Filhos, filhos... se não tê-los não há como saber, diria o poeta, do fel e do mel. As preocupações, os medos, as podas às vezes necessárias... e as enormes alegrias, afagos sem fim e a fantástica arte de acarinhar. Creio que são os filhos que nos ensinam mais do que nós a eles. Eles não sabem, mas são nossos educadores na arte de ser. Pensar em educar como pensou Freire, educar como obra coletiva, comunhão. Aqui, principalmente, comunhão de afetos. Por aqui vou agradecendo à vida pelos maravilhosos presentes que me deu, tão valiosos que até nomes tive que ajudar a escolher, responsabilidade extrema que muitos relegam ou o exercitam como um capricho exótico. E quem foi que disse que Dia dos Pais não tem glamour? O meu, pelo menos, teve sim, sem nada de homenagens falsificadas ou mesmo coisas materiais pra marcar a data e aquecer a economia. Ganhei de presente um dia de presença. Por agora sou só agradecimentos, pois radiante e pleno de contentamento pelas obras que ajudei a gerar e tento ajudar a formar, sem enformar. E como o arqueiro, estico bem o braço e reteso com força o arco sonhando que a flecha alcance o seu possível num mundo de impossibilidades. Que a vida lhes seja bela e leve. A minha? Essa eu vou literalmente tocando em frente.

4 comentários:

Aninha Santos disse...

Bom ter gente por perto, você é um paizão mesmo, que bom ter suas crias por perto neste dia que, mesmo tendo fundo comercial, acaba sendo significativo. Belo texto de volta! Grande abraço!

Flavio Lucio disse...

Júnior (deixe-me chamá-lo assim desde sempre), mais uma vez, parabéns por esse texto sensível e que procura descrever o que é verdadeiramente impossível, porque as palavras, muitas vezes - e essa certamente é uma delas - não tem o alcance que nós gostaríamos que elas tivessem. Mas quem é pai sabe bem do que se trata e só quem é pai pode, como você, escrever o que você escreveu.
Abraços,
Flávio

KÁTIA LIMA disse...

MEU QUERIDO RANGEL, VOCÊ VOLTOU!!!
QUER DIZER... SEI NÃO... PARACE ELÁSTICO, VAI E VOLTA... KKKKK.

BELO TEXTO, DE MUITA TERNURA COM SEUS FILHOS.

VER SE NÃO SOME, POIS DESCONECTA NOSSAS "PARCERIAS" KKKKK...

XAUUUUUU

BESOS, BESOS, BESOS

Anônimo disse...

Poeta, perdão ao invadir essa pagina, é que estou tentando ha meses seu contato, estou escrevendo um livro e nele faço citação de uma letra sua ( Florbela) e gostaria de saber se o poeta autoriza a mesma citação.
Trata-se de um livro de contos ( Os Contos de Ciço de Luzia), ambientado em uma fazenda no município de Zabelê, Cariri da Paraiba.
Após conseguir seu e-mail, envio-lhe copia do conto em que FLORBELA é citada.

Por favor, abrace por mim, NETO RANGEL.

atenciosamente,
EFIGENIO MOURA
(efigenio65@hotmail.com)