30 de agosto de 2009

O SONHO, A UTOPIA E A ESTRADA

Em algum momento Cecília Meireles escreveu que "a vida só é possível reinventada". Servi-me deste mote para produzir um breve texto que apresentei em Guarabira há menos de um mês, na aula inaugural do período letivo no Centro de Humanidades da UEPB.
Pensando em reinvenção fico imaginando como estes temas estão presentes em nossas vidas: reinventar, renascer, retomar, recomeçar. Alguns filósofos contemporâneos começam a tratar do tema infância dando-lhe novo sentido. Algo próximo de como a 'nossa velha infância' foi tratada pelos chamados tribalistas em produção musical recente.
Penso em como estamos permanentemente revisitando a nossa infância, seja pelo simples acesso às memórias ou pelo fato de estarmos, de fato, começando, aprendendo algo novo, iniciando trilhar um caminho desconhecido, buscando recomeçar algo numa espécie de quase retorno ao ponto de partida.
Recorri a Eduardo Galeano, pois acredito que sua maneira poética de falar sobre a utopia nos remete a uma reflexão interessante que, a mim pelo menos, lembra permanentemente a poesia de Cecília Meireles.
Em debate há dois dias na capital, aproveitando um mote dado por um estudante, falei do sonho como mobilizador de nossas ações, para além da simples repetição de movimentos no cotidiano aparentemente maçante. Lembrei que saio de casa todos os dias mobilizado pelos sonhos que carrego e agarrado firmemente na utopia. Os sonhos, de certo modo, romantizam um pouco a vida e diminuem amiúde a crueza das batalhas. A utopia como algo vivenciado interiormente e como mola propulsora de ações éticas e sem ligação direta com a imediatidade dos resultados.
Penso em utopia como algo vivenciado por gente de carne e osso. Afinal, precisamos acreditar que nós somos a utopia possível e devemos lutar tenazmente para que a brutalidade do mundo não nos tire a capacidade de sonhar, sofrer, se emocionar, se indignar e de lutar pela mudança do mundo. Galeano dizia que nós "somos o que fazemos, principalmente o que fazemos para mudar o que somos." Sejamos nós os portadores da mudança.
Ele nos ensinou também, de forma figurativa e poética, mas extremamente rica o seu entendimento sobre a utopia. Por que não nos valermos dele também agora? Para ela "a utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar".
Caminhemos nós com a nossa utopia.

4 comentários:

Divanira Arcoverde disse...

Olá meu caro poeta

Depois de "musas e luas", o tema "sonhos e utopia" cai muito bem. Feliz quem sonha! Sonhar é ter a possibilidade de realização. Acredito que sonhar faz parte da idiocrassia dos poetas e das pessoas sensíveis, que fazem da esperança seu porto seguro. É acreditar no amanhã, porque o sol renascerá e um novo dia será sempre uma renovação...
Um beijo maternal.
Divanira

Divanira Arcoverde disse...

Meu caro Júnior

Desculpe a nossa falha... Leia-se: Idiossincrasia.
São próprias do uso digital...
Bjus
Divanira

Anônimo disse...

Ops, gastei todas as letras na postagem anterior. Como faço agora com essa vontade chorar?

RANGEL JUNIOR disse...

Que bom!
Que o nosso sentimento possa se espalhar por sobre os muros...
Um grande dia a todas (os).