26 de outubro de 2006

SOU UM POÇO DE SAUDADE

"Sou um poço de saudade - sou a vida - Tão cuidadosamente represada Em parede circular - bem rejuntada - E a saudade lá no fundo, ali... contida. Meio dia - sol a pino - iluminada, Evapora-se a saudade ante a lida. Faz de conta que se foi - é tão fingida Que retorna quando é alta madrugada. Feito orvalho, ela volta, se condensa. Mas engana-se quem vendo-a, 'inda pensa Que ela em mim é passado - coisa rara. Sou o único quem sabe - quem assume - Que ela aumenta e abaixa o seu volume, Pois no fundo há uma fonte que não pára." D'Os Sapatos Apaixonados'

2 comentários:

Anônimo disse...

Belo o seu texto. Dá uma sensação de movimento e trás muita imagem. A 'parede circular bem rejuntada' dá a sensação de aprisionamento, e paradoxalmente, de segurança e infinitude. Consegui sentir o cheiro do barro fresco...que lembra o cheiro de chuva...que molha e faz renascer. A 'fonte que não pára', dá a idéia de algo que não tem fim e independe de nós, (e isso é inquietante)e ao mesmo tempo de algo que brota suavemente da terra e faz jorrar a própria vida...E essa é a grande busca.
No contexto, é um escrito que remete a alguma perda, dor ou frustração. Se lido com vagar, repetidas vezes, é movimento e lembra a própria energia da vida.
Parabéns, mais uma vez.

RANGEL JUNIOR disse...

Nossa! Fiquei encabulecido. Mas é só da minha matutice mesmo. Que beleza descobrir coisas que fiz meio instintivamente. A idéia motriz é exatamente essa, mas a carga de melancolia é verdadeira também. C'est la vie!