Um dia,
atendendo ao apelo de uma vizinha, comecei a dar aulas particulares de violão.
Era o ano de 1980 e eu trabalhava o dia inteiro na fábrica de Ibrahim Hamad,
tirava do Açude Velho pro Gigantão da Prata a pé e voltava pra casa da mesma
forma. As aulas de violão aconteciam nos sábados em que não viajava pra
Juazeirinho ou alguma noite em que as aulas não preenchiam todos os horários.
Atendendo a outro
apelo de uma amiga, sendo estudante do Estadual da Prata, fui dar aulas
particulares de Física, como reforço, pois a mesma estava com dificuldades na
matéria. Detalhe: ela estudava no CEPUC, que era “o Motiva” de então em Campina
Grande.
Um outro dia, em
1982, já estudante de Psicologia na URNe, atendi ao apelo de um amigo e fui em
seu lugar ministrar aulas de Biologia em Fagundes. Isso também aos sábados,
pois estudava à noite e trabalhava o dia inteiro no Balcão da Economia.
Em 1984 a
empresa fechou a filial na cidade e minha opção seria ir pra João Pessoa.
Escolhi ficar desempregado pra tentar terminar o curso que estava atrasando.
Desta forma, atendendo a mais um apelo, desta feita da necessidade, fui ganhar
um salário mínimo e ministrar aulas de Português, Moral e Civismo e OSPB no Colégio
Municipal de Juazeirinho. Depois ainda lecionei Educação Artística. Afinal, eu
sabia tocar violão... (rsrs)
Quando dei por
mim já era professor de verdade. Estudava os assuntos, preparava aulas,
corrigia provas (coisa difícil até hoje!), viajava cinco dias por semana os 80
km que separam Juazeirinho de Campina Grande, na maioria das vezes de carona
pra ganhar o dinheiro da passagem. Assistia aulas todos os dias pela manhã e em
alguns à noite.
Em 1988, já
psicólogo (também licenciado), conquistei uma vaga de professor pro tempore no departamento de
psicologia da UEPB, onde havia estudado. Coincidência, pois o Colégio de
Juazeirinho onde comecei também havia sido meu espaço educativo da quarta série
ao 2º ano do médio.
Acontece que
me descobri professor e descobri que queria fazer aquilo pro resto de minha
vida. Em 1989 conquistei vaga de professor efetivo e daí em diante é uma longa
história que não dá pra contar num post
para um blog. Ficaria por demais maçante.
Passados 27
anos tenho alguns registros importantes a fazer, mas destacarei alguns muito
curtos.
- Nunca tive problema com
estudante em sala de aula. Não registro nenhum conflito que não tenha sido
devidamente resolvido com diálogo;
- Nunca tive envolvimento afetivo
algum com alunas/os que pudesse comprometer meu trabalho e seus objetivos;
- Nunca precisei tratar com terceiros
– diretoria, coordenação, supervisão – quaisquer assuntos conflituosos
envolvendo a relação professor/estudantes em que tenha me envolvido;
- Nunca tive nenhum problema
trabalhista ou conflito direto envolvendo relações de trabalho com colegas,
mesmo tendo sempre assumido posições firmes, com opinião defendida – muitas vezes
apaixonadamente – nos espaços coletivos;
- Nunca tive uma avaliação (e
nota atribuída) contestada por estudante ou com pedido de revisão de prova;
Registro
também algumas coisas que fiz e algumas quase certezas que tenho hoje. Podendo mudar amanhã!
Amigos
por onde passei e passo. Respeito conquistado, mesmo da parte dos que em vários momentos
se transformaram em adversários políticos. Respeito por parte dos estudantes
por quem sempre tive uma atitude democrática, respeitosa e firme.
Em
27 anos de profissão aprendi mais que ensinei.
Depois
de uma especialização inconclusa, um mestrado concluído há 14 anos e um
doutorado em andamento, constato muito à vontade que sei muito pouco e que uma
vida só não basta pra aprender as coisas que tenho vontade, ler os livros que
gostaria, assistir aos filmes que anoto, compor as canções que tenho em mente,
escrever os livros que fiz sinopses esperando um dia ter tempo...ufa!
Aprendi
também a não pedir respostas de estudantes para as quais eu já tenho uma que
seria a certa. Quando faço uma pergunta numa avaliação é porque quero saber o
que cada um pensa a respeito de determinado tema trabalhado em sala de aula.
Descobri
que a aula funciona pra mim como uma espécie de catarse. Sempre as encerro com um “gostinho de quero mais”, uma vontade de não sair, uma certeza de
que aquele momento jamais se repetirá.
Termino
minhas aulas feliz da vida porque tenho ali a certeza de que faço uma coisa de
que gosto imensamente e o regozijo, o quase arrebatamento que toma conta de
mim, me dizem que escolhi a profissão certa e que sou um sujeito feliz por
isso.
Amo
o meu ofício e as descobertas que ele me oferece cotidianamente não me seriam ofertadas por nenhum outro tipo de trabalho.
Ser professor é algo que me orgulha e honra. Busco honrar todos os dias a
remuneração que o povo da Paraíba me paga e tenho a consciência muitíssimo tranquila
de que os esforços têm dado certo.
Um comentário:
Declarações como esta me atesta cada vez mais o sentimento de orgulho, admiração e respeito pelo senhor, meu sempre Tio Júnior!
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