3 de novembro de 2010

DIA DOS MORTOS

Em vez de pensar sobre o Dia dos Mortos, ontem eu preferi dar uma chance ao que existe de mais próximo da vida em plenitude.

Cedo alimentei as galinhas que fizeram enorme algazarra e vinham algumas mais afoitas, a comer em minha mão o milho que lhes disponibilizava generosamente. Encontrei um ninho com cinco ovos, mas especialmente ontem não quis retirá-los.

As plantas, duas delas principalmente - a pitangueira e a aceroleira -, me remetem diretamente à Dona Neide, que foi embora ano passado. Estão safrejando com alegria e exuberância.

Reguei todas as plantas com mais paciência do que o habitual, água em abundância, mas ao ponto de não abrejar-lhes a vida. Até o pau Brasil, que andava meio desistente da vida, deu sinais de recuperação e mostra três brotinhos saindo do seu tronco.

Leituras diversas, de jornal a psicologia, juventude e cultura, Clarice Lispector e viagens na rede mundial.

Muitas brincadeiras com Vinícius que terminaram por ensinar-lhe à noite a usar o computador pra gravar sua voz, no que ele diz ser uma composição de sua autoria. Além, é claro, da primeira parte do Hino do Fluminense que ele treina no assobio há umas três semanas.

Comida caseira, cafunés caseiros, uma garrafa de vinho branco degustada a longo do dia, a pequenos goles, violão por algumas vezes... eis uma vidinha simplesinha e muito mais do que pra lá de boa. No fim da noite, um filme curioso e instigante: A vida de Eli. Não sou dado a estas temáticas, mas fiquei curioso pra ver, pois gosto mais do cinema em si. Bom!

Abdiquei de visitar meus mortos pra me dedicar aos meus vivos mais próximos. Fiz uma escolha, pois é assim que o mundo é feito. Abracei a vida que me cercava por perto e pensei muito naqueles que já a deixaram.

Afinal, ficar alguns momentos consigo mesmo é algo tão diferente nos dias atuais... Assim, inverti a lógica e dediquei aos vivos o Dia dos Mortos. O carro não saiu da garagem. Ponto.

Um comentário:

Marcantonio disse...

Uma bela inversão de lógica. Embora, considerando-se a vida como ela é, talvez não seja verdadeiramente uma inversão. Não há melhor forma de homenagear aqueles que se foram do que pensar neles em meio à afirmação do ato de viver.

Abraço.