Mesmo longe e com encontros sazonais, sempre deixei clara a minha admiração pelo amante da boemia. A última de nossas grandes serestas foi em maio de 2008, nos setenta anos de Dona Neide, com Pedro Mago, Alisson, Givanildo, Almir e Abidoral. A enfermeira fura a ponta do seu dedo de duas em duas horas. Precisa de uma gota de sangue pro teste de glicemia. Depois de uma semana não há dedo que aguente. Afinal são apenas dez. Às oito da noite o eterno boêmio, um dos últimos seresteiros da velha guarda, reclama pra sua amada: "desse jeito não vou conseguir tocar meu violão nem tão cedo". Às cinco da manhã um infarto muda o rumo das coisas e silencia seu pinho e sua bela voz. Fui a Timbaúba (terra de minha mãe) vê-lo e me despedir. Não teve abraço, nem sorrisos, nem seu vozeirão solto no ar. Apenas uma face hirta, quase de cera e a dor da última despedida. Setenta e dois anos de vida e uns cinquenta de poucos de sereno, seresta e paixão pela música e pela vida... ah, e pela cerveja! Uma bela história. Um sorriso solto, largo, farto, que se apaga pra vida real e se eterniza na nossa memória. Evoé, Firmino!
4 comentários:
Lamento. Palavras sinceras em sensível homenagem, Rangel.
Um abraço.
Não gosto de morte. Não sei lidar com mudança. Não sei lidar com saudade. Ainda assim é impossível não ver beleza nas despedidas, no carinho, no respeito latente em cada palavra que descreve uma lembrança. Mais uma despedida a longo prazo meu amigo. Acho que está na hora de darmos pelo menos mais uma boa vinda! Xêro. Ana
Acredito que seja o resumo de tantas palavras que tinhas a proferir... Mas, o que se pode dizer de um amigo nessas horas? É difícil, velho poeta!
Um trágico texto bonito... Parabéns!
Abraços.
Sou de Timbaúba, e de lá estou afastado há mais de 40 anos. Me fala mais do seresteiro.
Postar um comentário