27 de janeiro de 2009

A VIDA QUE PEDI A DEUS

Bem que poderia ser uma frase para epitáfio. Ao mesmo tempo poderia servir para um suicida. "Tenho a vida que pedi. Adeus!" Fico me perguntando às vezes porque há gente que se preocupa tanto com o que não tem, mas creio que isso é algo parecido com os fundamentos do que dizia o velho barbudo de charuto entre os dedos. As pessoas sofrem porque não têm certas coisas, e fazem disso uma espécie de calvário. Lutam, trabalham, sofrem, muitas vezes destroem relações e sonhos até que conquistam certos objetivos. Depois começam outro tipo de sofrimento que é lutar pra não perder o que conquistaram. Isso acontece muito com o poder, a fama, o patrimônio material. Não me lembro de ter pedido a deus uma vida especial, um tipo de vida, um conjunto de coisas materiais. Nas minhas andanças por tempos quase imemoriais cheguei a fazer peregrinações, a estabelecer contato com o divino e aquilo era uma sensação muito bacana, mas com o tempo fui substituindo por outras coisas e aí quebraram-se todas as linhas de comunicação direta que eu tinha com o "o hômi lá de cima". Não sinto falta disto hoje, salvo em situações de sofrimento psíquico onde tais articulações seriam de grande valia em forma de consolo. Mesmo assim, não lembro de nenhuma vez, naqueles tempos, ter parado em genuflexão para pedir tais coisas ou em profunda contrição por algo de muito errado que tivesse feito, ou ainda um mal causado a outrem. Vez por outra alguém me dizia: "eita! Tá na vidinha que pediu a deus, hein?" E eu, cá comigo ficava encasquetado com aquilo: por que só acham o estado de preguiça como "a vida que se pediu a deus"? Prefiro a intercalação, pois não creio no ócio eterno como alternativa ou mesmo capacidade de vida. Por estes dias, estando em pleno e, modestamente, merecido descanso,ouvi novamente a frase de há tanto tempo rara e me perguntei: será que essa é mesmo "a vida que pedi a deus"? Se foi eu deveria estar levemente sensibilizado por algumas generosas doses da famosa "eau de vie", que é assim que chamam lá pela França o equivalente da nossa aguardente. Pensando bem creio que a "vida que pedi a deus" é mais ou mesnos parecida com esta que tenho, primeira e única que precisa ser bem gozada. Inclusive fazendo isto que faço agora. Mas, peraí... é hora de cair na real. O trabalho me chama!

Um comentário:

Anônimo disse...

Carissimo Rangel!

Seu texto fêz-me refletir( o que não é novidade).
E fêz-me também lembrar de uma passagem biblica, em que o profeta Habacuque dizia:

"Por-me-ei na minha torre de vigia, colocar-me-ei sobre a fortaleza, e vigiarei para ver o que Deus me dirá, e que resposta eu terei à minha queixa" (Hc 2:1).


"Ter a vida que pediu a Deus", para mim seria uma hora tranquila, em que eu pudesse no meio de tanta correria que vivencio, tranquilizar o meu espirito e saudar a vida olhando para o horizonte num momento de PAZ.
E que eu possa construir uma fortaleza ao redor desta "hora tranqüila", reservando-a, a qualquer custo um momento para ele, Deus.
Assim acredito, assim executarei!

Palavras e delirios de uma mulher estafada... rs, rs!

Um abraço,

Débhora Melo.