15 de janeiro de 2009

SOBRE MOINHOS E ÁGUAS

Desde menino ouvia minha mãe dizer uma frase de efeito que, à época, fazia muito sentido pra mim: "águas passadas não movem moinhos". Era esse um dos seus 'ditos' preferidos. Tinha outro muito engraçado que ainda hoje ela pronuncia, que é mais ou menos assim: "só ligo quem me liga. Se liga num me liga eu também num ligo liga". Mas é sobre as águas passadas que quero comentar. Tenho feito um esforço hercúleo para não verter e desperdiçar lágrimas novas com tristezas antigas. Feliz ou infelizmente (o tempo dirá!), sou um sujeito preso ao presente das coisas, dos fatos, mas com os olhos permanentemente dirigidos ao horizonte. Quando se tratam de coisas é tudo muito mais simples. Como não dá pra coisificar sentimentos nem apagar a memória afetiva - como se fosse um simples comando shift+del - sou eterno refém do meu próprio passado, pois é ele que me forja amiude e me referencia para o presente. Porém, o sentimento pretérito não me paralisa nem mobiliza, apenas retém. Uma vez que, quando penso e sinto uso o corpo inteiro, não dá pra ser de outro jeito. Parece confuso e/ou contraditório? Mas quem não é? Vez por outra sou vitimado por certo sentimento, emprenhado de reminiscências, como quando da abertura de um velho e mofado baú entupido de alfarrábios... e quedo taciturno, sorumbático, de tal sorte que não há canção para tal desencanto momentâneo. Aprendi a conviver com este movimento (estas idas e vindas) e sinto que ele sempre me faz bem, pois nele me reconheço por inteiro, nele sou exatamente o que sou, sem subtefúrgios, sem máscaras. Acho uma grande besteira viver o presente como se fôssemos resultado de um certo moto contínuo sem história, sem origem, sem sulcos deixados na estrada que construímos. Da mesma forma, abomino a idéia de viver correndo eternamente atrás de coisas que nunca teremos, de um futuro que muito mais que porvir é representado por uma expectativa de patrimônio material. O "meu primeiro milhão", por exemplo! Vou continuar perseguindo sonhos e vez por outra viajando ao passado, sem exagerar nem acreditar, como dizia o poeta Jessier Quirino, que "no passado tem muito mais futuro". Enfim, creio que, neste caso, não aprendi muito as lições de Dona Neide, minha mãe. A esta altura do campeonato... fazer o quê?

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