31 de julho de 2007

ABRINDO O BAÚ E CONTANDO HISTÓRIAS - Parte I

Ainda nos primeiros 10 anos de vida, quando acompanhava meu pai em suas longas caminhadas das caçadas e pescarias, me chamava a atenção o seu jeito de assobiar permanentemente. Caminhando e... assobiando! Em casa tínhamos o hábito de cantar um pouco antes de dormir (e de rezar, claro!), nós no quarto ao lado e papai em seu quarto já deitado corrigindo os eventuais erros na letra das músicas e na nossa afinação. Conversávamos de um quarto pro outro, o som por cima da meia-parede. Eram assim nossas primeiras aulas de música e canto popular. Apesar da fama de bom tocador de manola e violão, o "velho" abandonou tudo depois do casamento. Apenas afinava violões que lhe chegavam, a pedido. Já a partir de 1970, quando Seu Tonito comprou um "ABC-A VOZ DE OURO" pra Copa do Mundo, nossa rotina mudou um pouco, pois tínhamos agora algo de música tocada e cantada dentro de casa. Rádio Rural de Caicó e Rádio Caturité de Campina Grande eram as que melhor sintonizavam, na nossa casa em Juazeirinho. Antes disso, minhas lembranças de música ouvida em rádio vêm da marcenaria de Seu Zé Braz. Lá costumavam ouvir rádio em alto volume, por conta do barulho, e o som chegava bem à casa de Vovô Zé de Fontes onde morávamos. Cantorias organizadas por Vovô, algumas cantorias de pé-de-parede quando ia com Dona Neide fazer a feira, um Show de Luiz Gonzaga em cima de um caminhão, na praça em frente À Igreja Matriz, patrocinado pelo "Fumo Dubom". Eis minhas memórias mais gerais daqueles anos. Por esta época Zé de Cazuza era o "mecenas" que garantia a estrutura de um conjunto musical formado por Evandir, Nego Toca (que fabricava as guitarras na funerária de Bola 7, seu pai), Carlinhos e mais alguns. Depois de um "racha", formaram outro grupo e passei a "tocar" algo parecido com uma pandeirola em termos sonoros. Era um círculo de arame com tampinhas de garrafas amassadas em forma de rodelas (platinelas?) e furadas ao meio, espetadas no arame e chacoalhadas para cima e para baixo. Gilberto, meu irmão, tocava uma espécie de reco-reco e Paulo de Dona Bernadete um "surdo", feito com uma lata de mantimentos vazada e uma borracha de câmara de ar cintada com uma tira da mesma matéria. Eis nossos "equipamentos" musicais. Repertório? "Criança feliz / Que vive a cantar...", uma em homenagem às mães (estréia do grupo "OS SUPERQUENTES", com direito à fitinha de cartolina na testa com o nome do grupo). Isto aconteceu por volta de 1970, quanto eu tinha 8 pra 9 anos. Contava já 9 anos quando construíram o Colégio Municipal ao lado de nossa casa e de lá obtive um pedaço de ripa, que junto a uma lata vazia de leite em pó e um arame de caderno, amarrado nas pontas da ripa, sustentado com pregos e esticado com a lata de leite, formou aquilo que eu imaginava ser um berimbau. Tinha visto algo parecido num livro didático ou revista, se não me falha a memória. Sem o saber eu estava fabricando um marimbau. Tocava Noite Feliz, Asa Branca, Parabéns Pra Você. Essas são as música de que lembro. Com um ferro percutia o arame na parte mais curta enquanto com uma pequena faca cega e sem cabo percorria o arame pressionando-o ao longo da parte maior em busca das notas. Foram minha primeiras incursões, de fato, pelo universo musical. A foto mostra parte do resultado dessas viagens. Fico devendo uma dos anos 70.

Um comentário:

Anônimo disse...

Junior, vc tem o dom de escrever! É muito gostoso ler esses textos que nos remetem direitinho ao cenário de tua infância. Continue nos brindando e emocionando com os recortes da tua trajetória pela vida! Beijo enorme da amiga e fã incondicional. Aninha