10 de julho de 2006

HOMENAGEM PRA DEPOIS

O CONSELHO UNIVERSITÁRIO DA UEPB APROVOU EM SUA ÚLTIMA REUNIÃO A INDICAÇÃO DESTE ESCRIBA PARA SER O PARANINFO GERAL DAS TURMAS CONCLUINTES DO PERIODO 2005.2, DAQUELA INSTITUIÇÃO. SINCERAMENTE, CÁ PRA NÓS E O POVO DA RUA, ACHO QUE NÃO TENHO IDADE PRA RECEBER ESSE TIPO DE HOMENAGEM, MAS MINHA RENÚNCIA SE DEU POR OUTRAS RAZÕES, APESAR DE TER-ME SENTIDO PROFUNDAMENTE LISONJEADO. EIS A CARTA QUE ENVIEI À REITORA E CONSELHEIROS COMUNICANDO MINHA RENÚNCIA. Prezada Presidente do CONSUNI. Senhores (as) Conselheiros (as). Considero-me uma pessoa extremamente comum, mas dotado de características peculiares, como de resto todos os seres humanos, que me fazem diferente. Não é de meu feitio esperar que nas relações de alteridade meus vícios sejam destacados. Percebo, no entanto, como virtudes que tento cultivar a firmeza de princípios, a simplicidade, a lealdade, a coragem e uma perseverança infinda, mas perseverança tranqüila, a que alguns costumeiramente chamam paciência. Assaltou-me uma enorme e agradável surpresa quando neste dia, informalmente, tomei ciência da indicação do meu nome pelos insignes membros do Conselho Universitário da Universidade Estadual da Paraíba, para receber uma das mais distintas honrarias da UEPB, o Paraninfo Geral das turmas concluintes do período letivo 2005.5, quando de sua Colação de Grau neste mês de julho. Automaticamente, acorreu-me a lembrança do governador Cássio Cunha Lima, dos professores Lynaldo Cavalcante, Simão Arruda, Itan Pereira, dos poetas José Gonçalves e Ronaldo Cunha Lima, dentre tantos outros governadores, ministros, intelectuais, professores, cientistas… que receberam em épocas diversas tal distinção. Seria dissimulação ou fingimento dizer que não me senti profundamente tocado e demasiadamente honrado com a indicação. Tal e qual seria tentar disfarçar uma pontinha de orgulho e o ego sensibilizado pela lembrança dentre tantos homens e mulheres de muito maior importância e destaque para a vida desta amada quarentona que nos motiva e apaixona cada dia mais. Entretanto, magnífica reitora, digna presidente deste egrégio Conselho e prezados membros, rogo-lhes a compreensão dos grandes líderes e comunico-lhes que tenho razões suficientes de foro íntimo para, sem menosprezar a decisão tomada nem o seu fulcro, renunciar a esta condecoração, abrir mão de tão importante honraria. A vida certamente me será generosa concedendo ainda muito tempo de vida para que possa realizar mais idéias, para construir mais sonhos, para edificar, na prática, na vida simples e real, com os tijolos e a argamassa do cotidiano, nossas eternas utopias. As mesmas utopias das quais vossa magnificência é parceira solidária, juntamente com tantos outros companheiros e companheiras de luta e ventura. Fui representante discente neste egrégio Conselho ainda nos meus mais verdes anos de acadêmico de psicologia e militante do movimento estudantil. Tive a honra de atuar como membro representante do corpo docente e posteriormente, na condição de vice-reitor, ser seu vice-presidente no ocaso do século XX. Tomo esta decisão fazendo um apelo no sentido de que seja aprovada, ad referendum do CONSUNI, resolução indicando para aquela honraria, in memoriam, a professora Áurea Santos Ramos. A justificativa não está nos livros, nas manchetes de jornais, nas placas de inauguração. Está na memória viva dos que lutaram pela democratização do país no período recente mais obscuro da história republicana, o governo militar imposto ao povo entre os anos 64 e 85 do século passado. A Professora Áurea Santos Ramos, além de competente e respeitada docente desta instituição, foi uma incansável militante identificada com a causa socialista e dirigente do sindicato dos professores, mesmo quando o tempo e as agruras já lhe deixavam marcas e a idade avançada lhe cobrava repouso. É, pois, ilustre presidente, dignos (as) membros do CONSUNI, exemplos como o da Professora Áurea que nos dão arrimo e o fato de não gozarmos mais do seu convívio é, em vez de argumento contrário, razão de sobra para que se faça justiça e registre-se para a história que não foi em vão a sua luta e que nós nos lembramos, mesmo quando o tempo e a urgência do massacrante cotidiano nos empurram para a desmemória. Sinceramente sensibilizado, peço-lhe a devida vênia ao tempo em que agradeço penhoradamente a distinção e a lembrança. Afetuosamente. Prof. Antonio Guedes Rangel Junior

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