24 de agosto de 2014

NA VOLTA NINGUÉM SE PERDE

Meus pensamentos dispersos
Randomizam na memória
Tecendo os fios da história
E garimpando alguns versos.

A pequenina e simplória

Vida de sonhos, que imersos
Em atropelos diversos
Jamais buscou qualquer glória.

E assim, no mundo em que ando

Bem pouco ou nada comando
E mesmo que eu nada herde

Deixo de herança uma lida

Pois se deu certo na ida
Na volta ninguém se perde.

18 de agosto de 2014

AOS FORMANDOS 2014-1

Autoridades presentes.
Minhas Senhoras!
Meu Senhores!
Meus caríssimos e minhas caríssimas concluintes.
Mais um dia de júbilo vive a UEPB. Mais um momento marcante na vida institucional. Mais uma exposição pública de parte fundamental do nosso trabalho, um registro público do resultado da nossa labuta cotidiana.
Hoje aqui, vocês, jovens formandos e formandas, representam a nossa colheita, nossa safra, parte fundamental como produto do nosso labor, uma das essências do nosso mister.
A Universidade existe porque lá no meio da Idade Média, há mais de 800 anos, grupos de jovens como vocês se juntavam para aprender e desvendar aparentes mistérios, identificar regularidades em fenômenos, conhecer o mundo, a vida, sem as amarras dos dogmas e do obscurantismo.
Nasciam as Universidades sob a égide da laicidade, do pluralismo, da ânsia pelo conhecimento livre, autônomo e capaz de compreender o mundo, a natureza, as pessoas, as coisas e transformar a história com base neste conhecimento.
Se bem que a educação sempre foi instrumento também da luta das classes pelo poder nas mais diversas sociedades, é bem verdade também que aqueles que se apropriaram do saber universal, socialmente produzido, em sua maioria não fizeram desta apropriação de saber um instrumento de libertação desta sociedade que produz coletivamente, tanto o saber como a própria transformação da natureza e a geração de riqueza.
O problema não está na criação, na produção, mas essencialmente na forma como o saber é apropriado privadamente e utilizado como instrumento de dominação e não de libertação.
Avançamos muito em nosso país nos últimos anos. Porém, é inegável que ainda há muito a edificar, a vencer, a superar, principalmente no terreno da educação, que é a base de tudo e sua ausência causadora de tantas outras mazelas sociais.
Gostaria de compartilhar com vocês, rapidamente, um episódio que presenciei hoje pela manhã quando fazia a minha feira, escolhia e comprava o alimento mais perecível para o consumo da família durante a próxima semana.
Por trás de um balcão de carnes, dois muito jovens açougueiros dialogavam. Captei um trecho que dispensa explicações.
O primeiro dizia:
“Cara, eu vou arriscar e vou fazer, porque quem não estuda não vale nada.”
“Sei não...” respondeu o outro enquanto empacotava uns pedaços de frango congelado.
“Rapaz!” Voltou à carga o primeiro jovem. “Se não estudar não tem uma porta que se abra pra você. É tudo fechada mesmo...”
O segundo foi afrouxando: “É...eu gosto de História. Se for fazer é pra História”.
Então o provocador fecha: “Meu! A gente tem que correr atrás. Isso aqui resolve hoje, mas pra vida toda não vale. Eu quero é mais, quero crescer...”
Fiquei tentado, muito tentado, a intervir. Mania de professor. Quase emitia uma opinião, mas me contive porque achei que eles já haviam dito tudo.
Agradeci pelo atendimento, sorri e ainda disse: “É isso! O caminho é por aí...!”
Falei apenas por acreditar que eles poderiam ver em mim um sujeito maduro, que pode ter passado por experiências parecidas com as deles e que reforçando o seu diálogo positivamente eu apenas estava dizendo: “concordo com vocês!” Afinal, ali eu era apenas um cliente a mais.
Quando estava escrevendo estas palavras para me dirigir a vocês hoje, veio logo à memória esta cena da manhã de hoje.
O que aqueles jovens queriam? Pensem! Reflitam de verdade!
Acho que eles estavam sonhando em estar daqui a alguns anos no lugar de vocês. Eles sonhavam.
Entre um pacote e outro de peixe ou salsicha, entre um corte cuidadoso de um bife, uma medida quase perfeita de um quilo de carne na balança, uma faca afiada com esmero e a queixa de algum freguês abusado, sonhavam com um futuro parecido com ESTE PRESENTE DE VOCÊS.
Afinal, quem de vocês, ao menos uma vez, não sonhou com este momento?
Qual pai, qual mãe não esperou ansiosamente por este momento, não fantasiou, não acreditou em vocês, desde tenra idade, desde os anos em que vocês se recusavam a fazer a tarefa de casa, a melhorar a caligrafia, a passar mais uma hora estudando pra avaliação bimestral, a trocar o videogame por uma revisão de assunto?
E tenho certeza de que valeu a pena. E se não foram em vão, não foram perdidas as horas de namoro, as tantas horas de festas, de brincadeiras, de orações... Muito menos foram perdidas as longas e às vezes penosas horas e dias e noites que vocês queimaram pestanas, amassaram os glúteos numa cadeira em busca de melhores resultados, de cumprimento de metas de consecução de objetivos, que hoje se revelam em seu conjunto nesta colação de grau.
Esta Universidade, que prima pelo conhecimento científico, também vem investindo na transferência deste conhecimento por meio da extensão, na qualificação dos seus docentes e técnicos, na formação pluridimensional dos jovens, no lazer através do esporte e da arte e na preservação e difusão da cultura.
A presença hoje aqui do nosso querido artista popular BILIU DE CAMPINA representa, sem nenhuma dúvida, a leitura que esta instituição faz da importância da arte popular, da cultura regional, das manifestações mais diversas do imaginário e da criação humana através das artes, como forma de conhecimento e de encantamento do mundo.
Precisamos trabalhar para que a aridez do mundo e das relações de luta por sobrevivência não transformem nosso cotidiano em sofrimento. A arte nos é fundamental, imprescindível.
A escolha de Biliu de Campina como Paraninfo Geral das turmas concluintes deste período letivo 2014.1, a mim especialmente, honra presidir esta solenidade pela identificação que tenho com a sua arte, pelo respeito que nutro pelo ser humano, pela admiração que sinto pelo seu trabalho de preservação e difusão da cultura, lutando como um verdadeiro Cavaleiro Andante, Um Don Quixote da Borborema, um visionário que faz da sua arte trincheira em defesa de valores em transformação permanente, mas também como forma de alertar aos contemporâneos para o fato de que criar, mudar, inovar, transformar não é destruir o passado, mas nele se inspirar para reconstruir o novo.
Afinal, novos que somos, indubitavelmente, somos resultado desse amálgama fantástico que é a operação sobre nosso passado, nossos antepassados, nosso mais longínquo humano que nos antecedeu e que vem continuadamente criando e inscrevendo com sua própria vida esta fantástica aventura humana que é a próprio desafio da vida sobre a terra.
Agradeço, a cada professor e professora, cada técnico, cada trabalhador desta Universidade, que colaborou para que este momento fosse possível de acontecer.
Recebam o abraço e os parabéns de todos nós que fazemos o corpo docente e técnico da Universidade, do vigilante ao pesquisador, do reitor ao pedreiro ou encanador, da professora ou professor que esteve no primeiro dia de aula com vocês ao que fechou a avaliação do TCC, do diretor ou diretora ao coordenador de curso ou chefe do departamento.
Todos estamos muito felizes com a vitória de vocês.
Aos pais e mães, parentes próximos ou distantes, amigos e amiga, todos enfim que compartilham da alegria de vocês por este momento e pela conquista tão importante que celebramos neste dia de hoje.
Que vocês possam levar bem longe o nome desta Universidade e honrar os conhecimentos e experiência adquiridos. Aprender é um desafio infinito. Aqui, este momento, muito mais que um ponto final é uma parada, ponto de chegada e também de partida.
Se vocês não tiveram a Universidade em seus melhores dias, certamente nós que aqui ficaremos, que já vimos de tudo e ainda temos muito a descobrir, temos a certeza de que melhores tempos ainda virão, pois que sem essa esperança viva, sem essa crença num futuro construído pelas mãos de cada um de nós, não teríamos a força necessária para enfrentarmos todas as batalhas do cotidiano.
Somos movidos pela esperança. Somos guiados pela razão e embalados pelo sonho, pela utopia de um mundo melhor.
Vamos em paz! Celebrem junto aos seus que vocês são vencedores! Vivam o presente com atenção, não desprezem o passado e mirem bem longe a estrada do futuro que desejam construir.
Sejam felizes! Boa Noite.
Muito Obrigado.

(Publicado sem revisão)

15 de agosto de 2014

NÃO APRESSE O RIO

Na metade dos anos 80, estudante de Psicologia, fiz um razoável mergulho na teoria da Gestalt e no Zen-budismo de J. Krishnamurti. O livro Não Apresse o Rio (Ele Corre Sozinho) eu guardo até hoje como boa referência do trabalho do Gestalt Terapeuta Barry Stevens.

Ontem, durante uma caminhada, me ocorreu um acesso a determinada gaveta da memória e lá estava ele em forma de quadra.

Meu avô já me já dizia/
Pra não apressar o rio/
Pois sozinho noite e dia/
Ele corre em desafio.

(Parafraseando Barry Stevens)

13 de agosto de 2014

ESTUPIDEZ NÃO TEM LIMITES 2

Realmente, a estupidez humana não tem limites. Aliás, estupidez humana - na verdade - é uma redundância, pois não? Afinal ninguém nunca, jamais, em tempo algum, ouviu falar em estupidez de um jegue, de um leão ou um jabuti.

Pois bem. O Brasil inteiro (e mesmo no planeta em geral, quem acompanha a política brasileira) ficou chocado com a noticia da trágica morte de Eduardo Campos, ex-governador do Estado do Pernambuco e candidato à Presidência da República em 2014. O Brasil inteiro? Menos uns milhares de seres estúpidos que, em vez de consternados com a perda, de se mostrarem solidários com as famílias de Eduardo e dos outros tripulantes da aeronave que caiu, correm pra tentar transformar o fatídico episódio em tema político.

Pura estupidez! No momento em que escrevo este texto, menos de 4 horas após a noticia do acidente, 24.728 pessoas publicaram no Twitter com a expressão "Foi a Dilma". Enquanto isso, apenas 21.875 fizeram referência direta a Eduardo Campos. O interesse daquelas pessoas é claro: vincular a queda do avião onde estava o candidato a uma suposta culpabilização da Presidente Dilma, candidata à reeleição.


Definitivamente, como registrou o pensador Einstein, assim como o universo, a estupidez é infinita. Neste caso, as manifestações desta natureza, mais que uma opinião política, uma manifestação que possa alterar a análise de outrem ou mesmo o seu voto, revelam a insensatez, a ignorância e extrema estupidez e mesmo a índole, a fragilidade da formação moral e da educação de quem escreve.

Uma lástima!

11 de agosto de 2014

PAIS E FILHOS

Dentre as incontáveis lições que aprendi com meus filhos, talvez a mais importante tenha sido a libertação de uma certa mania de querer aprisionar o tempo.

Explico: muitas vezes, quando eu experimentava um momento de muita felicidade, ternura, uma sensação muito boa, ficava racionalmente tentando congelar aquele momento, tentando registrar para arquivo nalguma zona específica do cérebro para que aquele instante jamais se desgrudasse da minha memória.

Eis que a vida, cruelmente, me ensinou que as memórias mais dolorosas ficam gravadas de uma maneira tão aleatória e tão autônoma que são aquelas que, de maneira mais recorrente, voltam mais vivas ao nosso cotidiano. Precisamos aprender a mudar essa lógica.

Pois então. Meus filhos me ajudaram a desfazer aquela crença banal que eu tinha. Os momentos singelos e tão fugazes que vivenciei e vivencio até hoje com eles se encarregaram de jogar por terra a minha tese. Aprendi a deixar acontecer, a olhar, experienciar e curtir cada momento com a emoção que lhe convém nesse sistema aleatório de escolhas que nosso inconsciente vai fazendo e formatando como método individualizado ao longo dos anos.

Ou seja, depois de tanto tempo, acredito que estou aprendendo a me guiar por aquela máxima, de "viver cada momento como se fosse único" - o que eles são, em verdade - e deixar que a parte do organismo responsável pelo registro se encarregue de fazer seu trabalho independente de vãos comandos racionais.

Os resultados têm sido fantásticos. Aprendi a me emocionar mais, a chorar mais, a gargalhar mais - às vezes feito um perfeito idiota - e tenho notado que estou me transformando num ser humano melhor, por estas razões. Se não melhor para os outros, ao menos me sentindo como uma pessoa melhor e mais condescendente consigo mesma.

Meus filhos são o maior barato. Meus filhos são o máximo e me enchem de uma espécie de orgulho besta, de uma empáfia estranha ao meu habitual jeito meio contido de ser, de uma alegria incomum por tê-los como filhos e poder desfrutar, vez por outra, de raros momentos que somente eles são capazes de oferecer.

Por estas e outras tantas razões que não caberiam neste pequeno texto, o Dia dos Pais pra mim sempre foi e continuará sendo quase todo dia, quase toda semana, quase todo mês. Basta que um momento mágico seja criado, um gesto, um sorriso, um abraço, um afago qualquer seja ofertado e lá vou eu feliz da vida, radiante, o peito cheio de regozijo por estar vivo e ter essa fortuna que a vida me presenteou.

8 de agosto de 2014

Estupidez não tem limites

Se descobrisse uma fórmula para limitar a estupidez humana, eu juro, pode crer, não patentearia. Não quereria nem registro de autoria, (™)  ®... Nada!-
Código aberto pra quem quisesse replicar, aperfeiçoar, desenvolver, redistribuir, reinventar...
Ah, como seria bom!