...pois, estar ali tomado de uma
lassidão espartana, esparramado na velha poltrona, a preguiça dominando
completamente o corpo depois de me fartar de carne de bode guisada, fava verde com
farinha, e um arrozinho branco, lavado, tudo antecedido por duas ou três doses
de caçhaça boa, boas risadas, sutis reminiscências, a prévia gastronômica regada
à boa prosa maneira, aquele clima de quase ficção, as ventas entranhadas dos
odores todos de minha infância espalhados no ar da cozinha, o vento fresco que
vinha da porta da frente amainando o calor do verão, aquela mão miúda, calejada
da lida e enrugada dos 70 dezembros a afagar-me os cabelos me deixando mais criança
do que já era... Quisera eu saber naquele momento que tudo era cena que se
tornaria apenas lembrança, sentimento vago e doloroso, cicatriz no peito, lágrima
salgada, dessa bruta saudade daquela velhinha danada que sabia como ninguém
sobre as veredas da vida. Não congelaria o tempo em respeito à vida, mas teria
prestado mais atenção aos detalhes pra que o tempo e sua fama de varredor de
memórias não danificasse nada daquele retrato singelo de um começo de tarde
qualquer. Em meio ao vendaval, aqui e agora, cadê? Cadê? Eita, Dona Neide! Bons
tempos! Bons tempos!
Um comentário:
Cadê? cadê?
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