1 de abril de 2010

SEMANA SANTA

Uma polêmica tomou conta de uma cidadezinha paraibana por conta de um pequeno empresário de shows que marcou uma festa para a noite da sexta-feira. Ora, logo na sexta da paixão?
Fosse em Campina Grande não seria de estranhar. Aqui o carnaval - que é a festa da gandaia, da fuleiragem, do desmantelo autorizado - foi transformado pelos cristãos de todas as ordens num grande retiro espiritual e momento de louvação. Claro que também há espaço pras brigas entre correntes religiosas e disputas com todos os matizes perversos imagináveis.
Em meu retiro voluntário, que de santo não tem nada, fico aqui com meus botões pequeninos lembrando dos velhos tempos de Juazeirinho e todos os rituais de um cristianismo católico ainda guardador de tradições tão arcaicas quanto não tomar banho na quarta-feira de trevas, não comer carne antes do sábado de aleluia, toda aquela pantomima silenciosa.
Na semana santa era quase proibido pisar no chão pra não fazer barulho. Imagino que os mais velhos ficavam se lambendo de vontade, pois nem enxerimento podia ser feito nesse período.
Chegava a sexta-feira e a turma mais velha e menos reprimida varava a noite roubando galinhas gordas nos muros alheios pra guisar na cabidela no sábado. Aí o bicho pegava, pois à noite já tinha o judas e a turma fazia a malhação com o quengo cheio de goró.
Por aquela época o sucesso era coca-cola com Pitu, Casa Grande ou Caranguejo, as mais famosas e baratas.
Ainda ia esquecendo do começo de tudo com a bonita festa do Domingo de Ramos, que simbolizava (ainda é assim) a chegada/retorno de Jesus antes do martírio. Aquele povo todo com seus galhinhos de mato, palhas de coqueiro... era muito bacana!
O tempo passando e levando a ingenuidade, que se transformou em inquietação, ceticismo e rigor em busca de outras expressões de 'verdade'. Restou em mim uma lembrança gostosa e mesmo saudosa de tudo aquilo, além de muita coisa da ética cristã que, lamentavelmente, grande parte dos seguidores que conheço não tiram nem um fino no agir cotidiano.
Confesso também uma certa decepção com o projeto evangelizador/civilizador/dominador do cristianismo Seja em quaisquer de suas vertentes) na sua ânsia de domar os desejos de homens e mulheres deste mundo, estes em sua infinita luta entre serem animais ou humanos.
Com todo respeito, mas você confiaria um filho (ou filha) seu aos cuidados de algum religioso, entre quatro paredes, para que este lhe desse orientação sobre a vida? Tá difícil!

2 comentários:

Anônimo disse...

pois é amigo!se roubava as galinhas e muitas vezes se chamava o dono pra farra,como vc comentou se varava a madruga.no outro dia era a gozação comeu da tua galinha roubada.na minha época tinha uns amigos que exageravam, levaram a àte peru,isso deu um fuzué dos diabos,sim tanbém um Bode, esse sim foi que foi Fuzuékkkkkkkkkkk mais era um tempo bom!era uma Riqueza.

Marcantonio disse...

E eu não posso deixar de crer que a Igreja representa um obscurantismo nos nossos dias, não só pelos deslizes morais de muitos de seus membros, mas mesmo do ponto de vista doutrinário e teológico. Seu arcaísmo formalista oprime o sentimento religioso íntimo e pessoal. E, entretanto,ela está na base de tantas manifestações culturais que nos comovem.Não é uma contradição? Mas talvez o que permaneça nessas tradições tenha menos a ver com a fé do que com um sentido poético que maneja essas formas aparentemente já vazias de sentido.