21 de abril de 2010

AS CORES DE ABRIL

É difícil falar de singeleza quando se trata de Vinícius de Moraes e Toquinho, em forma de letra, música e poesia. Praticamente tudo que eles produziram revela este traço fundamental.

As cores de abril,
Os ares de anil,
O mundo se abriu em flor.
E pássaros mil,
Nas flores de abril,
Voando e fazendo amor.

O canto gentil
De quem bem te viu
Num pranto desolador.
Não chora, me ouviu,
Que as cores de abril
Não querem saber de dor.

Olha quanta beleza,
Tudo é pura visão
E a natureza transforma a vida em canção.
Sou eu o poeta quem diz:
Vai e canta, meu irmão,
Ser feliz é viver morto de paixão.

Abril começou com o Dia da Mentira. Já tivemos a Semana Santa, agora amanheço estudando ao som do Hino Nacional Brasileiro, do Hino à Bandeira e do Hino da Independência... dobrados e marchinhas. É o meu vizinho, 'Seu' Lourival, morador duma edícula e promotor de alvoradas dominicais ao som, ora de Luiz Gonzaga, ora de seresteiros memoriais. Alguns que nem sei o nome.

Pois Seu Lourival tem um hábito interessante de "abrir a sua programação musical" de conformidade com o período do ano, a data comemorativa e por aí vai. Com tantos hinos executados me dei conta que era 21 de Abril. Tiradentes, Brasília, Tancredo Neves, Seu Tonito...

Tiradentes! Eis um excerto do texto de sua condenação que foi lida durante 18 horas, sob o maior escarcéu.

"Portanto condenam o réu Joaquim José da Silva Xavier, por alcunha o Tiradentes, alferes que foi do Regimento pago da Capitania de Minas, a que, com baraço e pregão seja conduzido pelas ruas públicas ao lugar da forca, e nela morra morte natural para sempre, e que depois de morto lhe seja cortada a cabeça e levada a Vila Rica, onde no lugar mais público dela, será pregada em um poste alto, até que o tempo a consuma, e o seu corpo será dividido em quatro quartos, e pregados em postes, pelo caminho de Minas, no sítio da Varginha e das Cebolas, onde o réu teve as suas infames práticas, e os mais nos sítios das maiores povoações, até que o tempo também os consuma, declaram o réu infame, e seus filhos e netos tendo-os, e os seus bens aplicam para o Fisco e Câmara Real, e a casa em que vivia em Vila Rica será arrasada e salgada, para que nunca mais no chão se edifique, e não sendo própria será avaliada e paga a seu dono pelos bens confiscados, e mesmo chão se levantará um padrão pelo qual se conserve em memória a infâmia deste abominável réu; [...]"

Deu no que deu: quem e Dona Maria I para a história brasileira?

Brasília foi construída, por decisão de JK, sob ferrenhas críticas. Dizem até que a dívida brasileira provém de lá. Creio que é um exagero, se não uma mentira mesmo. O resultado é que o Rio de Janeiro continua lindo, com toda sua pujança e poder, enquanto Brasília já é patrimônio cultural da humanidade. Obra de políticos, urbanistas, arquitetos, engenheiros e milhões de trabalhadores, homens e mulheres comuns. Brasília provoca certo estranhamento em quem a vê de perto pela primeira vez. Dizem até que se estabelece uma relação de amor ou ódio em relação a ela e os sujeitos humanos que vêm de fora. Ela está lá, pujante, 50 anos de rapinagem e de história como epicentro dos acontecimentos políticos do país. Muito do que aparece por lá, entretanto, é gestado na periferia dos Estados federados.

Tancredo teve o dia 21 de Abril escolhido (eu acredito nisto pelo que acompanhei à época) para ser o dia de sua morte. Algo que os bastidores da história talvez um dia contem. Tancredo é o Presidente que não foi e que o Brasil não sabe. O troco foi Sarney que aí ainda está a fazer das suas estripulias políticas.

Seu Tonito era um homem simples, nascido no sítio Aroeiras de Juazeirinho e que viveu entre 1927 e 1977. Faria hoje 83 anos se vivo fosse. Era meu pai e continua sendo uma espécie de guia pela vida afora.

2 comentários:

Marcantonio disse...

Olá Rangel. Abril, sim, com um céu belíssimo.
Admiro muito o fato de você não deixar passar uma oportunidade de homenagear os seus pais. Eu também tenho referências pessoais ao dia 21; meus pais se casaram no dia da inauguração de Brasília. Não puderam comemorar os cinquenta anos de união porque meu pai faleceu há quase um ano e meio. Também ele é um guia para mim, e uma referência do que seja integridade pessoal.
Com relação ao Tancredo, não sei, é possível... Como é possível que a morte o tenha salvaguardado de vir a se tornar uma decepção diante do tanto que se esperava dele.

Um abraço.

RANGEL JUNIOR disse...

É isso, meu prezado!
Vida que segue e a história nos fazendo e nós... ah, a gente bem que tenta...
Meu abraço!