27 de fevereiro de 2008

LUTA E PRAZER

Sem consultar, resolvi fazer parceria com o amigo J. Benjamim, que me mandou alguns comentários, e publicar o que segue. Tempo desses circulava uma revista “de Psicologia” (sic) que se chamava Luta e Prazer, encerrando esta verdade: viver é carregar as "duas caixas", a de ferramentas e a de brinquedos (uma referência direta ao texto do prof. Rubem Alves, publicado aqui há uns tempos). Cabe a cada um de nós saber fazer o tempero justo. Trabalhar, “dar duro” e gozar a vida, brincar. Tudo isso tá aí - a um palmo das ventas. Danado é que, pros mortais, isto foge ao controle: vivemos numa sociedade (de exploração) de classes que impõe – pela ideologia – que viver é lutar (estar em guerra permanente para conquistar o pão de cada dia...), trabalhar, esforçar-se (parecido com esfolar-se)... Pois bem! Isto quer dizer (até cristãmente) sacrificar-se, imolar-se e, daí, como prêmio, ganha-se a salvação, a felicidade eterna. Nossa sociedade impõe esse critério: ou você se esborracha em atividades estafantes, incessantes e (moto) perpétuas ou você é um fraco, derrotado, um pobre-coitado. Imagina, então, parar para gozar a vida. Neste caso, o sujeito vira (na boca alheia) boêmio, malandro, vagabundo. Quem quer ser? Aí, bons moços, devemos abandonar a caixa de brinquedos. Fugir dela como Zebedeu foge da cruz. O sacrifício (a estafa) é o caminho da eterna bondade-felicidade. Esquecemos que não somos eternos (espaço reservado aos poetas e profetas), caímos na armadilha e não balizamos, equilibramos, as duas caixas. Cumprindo os desígnios do sistema hoje formatado, a maioria caminha rumo ao poente-ocaso esbaforida no fogaréu da insensatez laboriosa com carga-horária exasperante (acreditando cumprir uma sina) para, alguns, “arruinarem” sua existência na orgia. Eis uma expectativa que cria uma espécie de "honra" diferenciadora para os que estão "no sacrifício". Balizar caixa de ferramenta (trabalho) com caixa de brinquedo (lazer) eis a questão. Como assumi, quase i in totum, a reflexão do amigo Benjamim, acrescento um excerto de um texto enviado a mim por uma amiga psicóloga, sobre as pulsões e o pensamento do Dr. Freud, que sabia das coisas. "(...) Freud considera a vida em sociedade como um compromisso imposto que gera mal estar. As instituições, desenvolvidas para proteger a sobrevivência da humanidade, têm como tarefa o controle e repressão dos impulsos considerados nocivos para a civilização. Assim, a teoria freudiana mostra-nos que a civilização é incompatível com as pulsões e com o princípio de prazer. É necessário que haja repressão para que os impulsos animais convertam-se em impulsos humanos e é através de uma transformação fundamental de sua natureza que o homem animal converte-se em ser humano. Ele deve abandonar o princípio do prazer e se submeter ao princípio da realidade o que implica em abandonar a livre satisfação das pulsões e se submeter às restrições da civilização. Deve aprender a renunciar ao prazer momentâneo, fugaz, incerto, substituindo-o por um prazer adiado, restringido, mas certo e seguro. Com efeito, a satisfação imediata torna-se satisfação adiada e, dessa forma, o prazer converte-se em restrição do prazer e a receptividade torna-se produtividade. Se tivesse a liberdade de perseguir seus objetivos naturais, seria impossível a existência da sociedade civilizada pois, sob o jugo do princípio do prazer e o homem seria apenas um animal com impulsos cegos. Para Freud, a civilização contém duas características: inclui todo conhecimento e capacidades intelectuais e técnicas que o homem adquiriu com a finalidade de controlar as forças da natureza e extrair dela toda riqueza para a satisfação das necessidades pulsionais; e inclui todos os regulamentos necessários para pacificar a luta entre os homens, ajustando suas relações. Essas duas tendências da civilização estão interligadas, em parte porque as relações humanas dependem da satisfação pulsional que a riqueza existente torna possível. Por outro lado, um indivíduo pode servir como um meio de obter riqueza em relação a outro (como objeto de trabalho ou objeto sexual)." (A autoria é de Cladismari Zambon de Moraes e está disponível no endereço a seguir:) http://br.monografias.com/trabalhos/psicanalise-poesia-processo-criacao/psicanalise-poesia-processo-criacao2.shtml Fico com as duas opiniões, com o fito de continuar pensando sobre o assunto. Vamos pensar juntos!

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