Dia dos Mortos ou Dia de Finados? Dá no mesmo. Mas, como sempre, não vou visitar cemitérios. Respeito e admiro que vai. Entretanto, fiz esta escolha divergente já há alguns anos e dela não me arrependo. Mesmo porque posso um dia mudar.
Passar 364 dias do ano e escolher um dia para vivificar a memória daqueles e daquelas que nos valeram muito em vida não tem me parecido muito justo com todas aquelas pessoas.
Resolvi, então, que as homenagearia ou visitaria suas "eternas moradas" a qualquer momento, em qualquer dia do ano, desde que me desse na telha, que surgisse uma oportunidade ou, na falta dela, eu mesmo resolvesse criá-la.
Cada pessoa querida que se foi, porque seu tempo chegou, de alguma maneira continua comigo. Cada amigo ou amiga que partiu antes do combinado (isto porque, principalmente depois dos 50, sempre entendemos como prematura a morte de quem não passou, ainda, dos 80) deixou um pouco de si aqui comigo.
Deste modo, cada uma dessa pessoas que se foi está plenamente presente em vários momentos da minha vida, seja numa leitura de livro, numa memória resgatada, num souvenir qualquer, numa mesa de bar, numa canção entoada ou em simples toques e acordes do meu violão.
Aprendi a amá-las de longe em recolhido e reverente silêncio. Vez por outra faço questão de que outras pessoas saibam de suas existências e de como foram importantes, ao seu modo, em minha existência e na construção e transformação humana do que hoje sou.
Acho que tenho uma espécie de departamento aqui em meu coração e guardo-as em espécies de casinhas sem chaves. Dai, quando menos espero, uma ou outra delas sai e me ativa um registro importante, emocionante, singelo, único... e então acontece o inesperado. Sem convidá-las, sem acionar qualquer mecanismo consciente, elas despertam, saem de suas casinhas e ficam comigo por um tempo até que depois se recolhem novamente.
É assim que as amo. É assim que continuo com elas me relacionando. Trezentos e sessenta e cinco dias por ano. Neste caso de 2016, bissexto, trezentos e sessenta e seis.