16 de setembro de 2012

CRIANÇA DIZ CADA UMA...II

Depois de uma tarde de atividades bem legais no colégio, a mãe pergunta pro moleque se ele está gostando mais da escola agora.
- É! Agora eu tô gostando sim. Mas ainda gosto muito da outra minha escolinha.
Tentando colocá-lo em dificuldade eu pergunto:
- Então, quer voltar pra estudar na outra?
A resposta não poderia ser mais curiosa.
- Eu queria fazer dois clones. Um estudaria no Rosa Mística e o outro no Motiva.
- Mas com dois clones ainda sobraria um, não?
- Sim! E eu ficaria em casa só vadiando...
O jeito foi rir muito.

14 de setembro de 2012

CRIANÇA DIZ CADA UMA...

Hora do almoço. O menino impertinente solta a pergunta entre uma colher e um garfo, assim sem mais nem menos:
- Papai, deus existe?
Surpreso o pai vai rodeando, rodeando...
- Filho, essa não é uma pergunta pra se responder apenas SIM ou NÃO. Precisamos conversar sobre o assunto.
- Eu acho que ele não existe - solta o moleque, na bucha.
O pai, a esta altura, sem querer abrir um grande debate diz:
- Não, filho, não é bem assim. É que... Bem! Se a pessoa acreditar que ele existe, então ele existe. Se a pessoa não acreditar, então ele não existe.
O guri solta o verbo com uma segurança de aviador:
- Pra mim ele não existe!
- Vamos fazer o seguinte: depois a gente conversa sobre isso, com mais calma, tá certo? Assevera o pai tentando encerrar o assunto.
E o almoço continua...

7 de setembro de 2012

RETRATO


...pois, estar ali tomado de uma lassidão espartana, esparramado na velha poltrona, a preguiça dominando completamente o corpo depois de me fartar de carne de bode guisada, fava verde com farinha, e um arrozinho branco, lavado, tudo antecedido por duas ou três doses de caçhaça boa, boas risadas, sutis reminiscências, a prévia gastronômica regada à boa prosa maneira, aquele clima de quase ficção, as ventas entranhadas dos odores todos de minha infância espalhados no ar da cozinha, o vento fresco que vinha da porta da frente amainando o calor do verão, aquela mão miúda, calejada da lida e enrugada dos 70 dezembros a afagar-me os cabelos me deixando mais criança do que já era... Quisera eu saber naquele momento que tudo era cena que se tornaria apenas lembrança, sentimento vago e doloroso, cicatriz no peito, lágrima salgada, dessa bruta saudade daquela velhinha danada que sabia como ninguém sobre as veredas da vida. Não congelaria o tempo em respeito à vida, mas teria prestado mais atenção aos detalhes pra que o tempo e sua fama de varredor de memórias não danificasse nada daquele retrato singelo de um começo de tarde qualquer. Em meio ao vendaval, aqui e agora, cadê? Cadê? Eita, Dona Neide! Bons tempos! Bons tempos!