Às vezes, pra fazer o que é certo, é preciso sermos firmes e desistir daquilo que mais queremos. Até dos nossos sonhos. Dito assim, como frase de efeito pra começar um texto, indica quase que claramente que o autor buscou inspiração num daqueles livros de pensamentos e frases marcantes.
Pode até parecer inusitado, mas a frase foi pronunciada por Tia May a Peter Parker, no meio de um de suas crises entre ser ou não ser o Homem-Aranha. A mesma frase ele repete um dia pro Dr. Octopus, tentando trazer à tona a sua consciência de homem bom. Neste filme, depois de uma sequência fantástica de luta em que ele evita um desastre enorme e salva um trem lotado de passageiros e após ter sua identidade secreta revelada, escuta de um garoto:
- Não vamos contar pra ninguém!
- Eu vou ser sempre o Homem-Aranha, por isso não posso ficar com você, diz Peter a Mary Jane nas entrelinhas. Noutro dia, após a amada desistir do casamento com o filho de seu maior desafeto e perseguidor diante do altar ele escuta de Mary Jane:
- Eu fiz o que tinha que fazer. É errado fazermos as coisas pela metade, não sermos completos...
E desde quando fazemos as coisas assim por inteiro? Eu diria que talvez apenas nossos heróis são capazes de tal feito. E pra que servem os heróis se não pra nos ensinar que as coisas que devem ser feitas têm que ser feitas, mesmo que isso nos custem um enorme sacrifício? O mais complicado dessa história toda é sabermos exatamente quais são as coisas certas e que devem inevitavelmente ser feitas.
A vida inteira passamos tomando decisões sobre isso ou aquilo. Desde a mais tenra idade, quando os juízos morais começam a se formar em nossa consciência, não fazemos outra coisa. O tal do livre arbítrio não passa de um nosso juiz interior que fica o tempo todo batendo aquele martelinho na mesa e proferindo sentenças. Muitas vezes elas são dolorosas, nos trazem sofrimento psíquico, remorsos e mesmo dores físicas, mas o fundamental é termos a clareza de que fizemos "a coisa certa". É isso que dá sustentação aos nossos desígnios e nos dá a exata dimensão de que não devemos ficar culpando o destino pelo que nos acontece ou à nossa volta.
Tirando o fato de que não precisamos ter um dupla identidade como a maioria dos nossos heróis da ficção, para que tomemos sempre a decisão de fazermos o que deve ser feito, custe o que custar, temos no mais íntimo de cada um de nós um pouco desses heróis que nos alimentaram a fantasia desde pequenininhos. Afinal, imagine se não fossem os caçadores da história de Chapeuzinho Vermelho...
Fazendo exercício de viagem interior, me vêm a lembrança Roy Rogers, Tex Willer, Zorro, Super-Homem, Batman e tantos outros... até o Super-Pateta. Mas, e qual o lugar ocupado por Che Guevara, Fidel Castro, Vitor Jara, Lenin, Zumbi dos Palmares, Oswaldão, Lenira, Ghandi, Maurício Grabois, Nelson Mandela, Luther King... e tantos outros que poderia encher uma página inteira.
Temos heróis e Heróis. Todos eles nos fazendo companhia e sendo um pouco do que nosso alter ego nos diz o tempo todo que devemos ser. Os heróis nos servem também para que tenhamos vez por outra a coragem de fazer aquilo que devemos fazer, mesmo que nos doa. Afinal, dentro de cada um de nós habita também um herói invisível que nos faz ser melhores do que seríamos sem ele.