28 de setembro de 2009

MUDANÇAS DENTRO E FORA

Uma amiga me diz que quando uma mulher faz um corte radical, diferente, nos cabelos isso representa o seu desejo de mudar. Ao menos de visual... rsrsrsrsrs Peço a compreensão de todos (nem sei se tantos assim) os que me leem e me visitam me enchendo de alegria. É que tenho experimentado novos visuais para o blog e ainda não achei algo que me desse a certeza de que poderia ficar por um tempo assim. O anterior (de uns tempos) não mostrava todos os itens que eu havia programado e resolvi mudar. Na mudança, experimentação, terminei por deixar uns dias com um visual, noutros dias já muda e assim por diante. Tentarei parar com isso. Não é brincadeira, mas creio que representa também minhas crises (rsrsrsrs) - minha amiga Socorro Dantas que o diga - e talvez eu esteja projetando por aqui esses meus desejos inconfessos de mudança... ai, ai, ai, já confessei! E agora? Beijos e abraços.

25 de setembro de 2009

CHICO PASSEATA, O POETA

Meu amigo Chico Passeata ganhou esse nome ainda nos tempos de juventude. Tempos sombrios em que era proibido pensar e, pior ainda, expressar seu diferente pensar. Em se tratando de política, aí a coisa fica braba.
Pois bem! Meu amigo Chico Monteiro, ou Dr. Francisco das Chagas Dias Monteiro, médico sanitarista, companheiro eterno de Helena Serra Azul (que diziam os linguarudos, apelidavam de Helena Concentração... só pra rimar com passeata), foi vítima da Ditadura Militar junto com Helena. Tiveram até filhos neste período.
Chico e Helena foram presos e torturados. Não perderam o amor pela vida, o sorriso largo, a capacidade de ler o mundo e enfentar as agruras da política de braços e corações abertos. Chico é médico e sindicalista militante. Helena é professora, pesquisadora da UFC e sindicalista militante. Ambos são, além de tudo amantes da vida e boêmios. Lindos boêmios, lá do alto dos seus sessenta e alguma coisa mais.
São dois jovens amantes da vida. Chico Passeata, na verdade, é poeta e vivedor, gozador da vida. Nas horas vagas, dá um tempo pra medicina e, dizem, é sanitarista de respeito. Tive a alegria de conviver com os dois e guardo boas e alegres recordações.
Chico publicou poemas em muitas revistas e livros. Sua poesia é navalha e rosa, cravo e ferradura.
Eis o seu "CORREDOR".
"pela porta do lado esquerdo
na avenida deste sujo corredor
sem tempo ou varanda a recorrer
no contrafluxo por onde vem o andor
caminho trôpego
sou levado a rir apesar da dor
bebo sôfrego a ilusão da vida
morro queimado ao sol do quarador"
... e ainda "NO FUNDO DO POÇO".
"no fundo do poço
tem um osso
e um cachorro
sem dentes
morto de fome
no fundo do poço
tem uma luz
entrando num túnel
obstruído
sem saída
no fundo do poço
tem um vestido
e uma blusa num baú
rasgados
e um corpo nu
no fundo do poço
tem uma hist´ria
escrita na memória
vitória e derrotas
e outras glórias
no fundo do poço
tem um jardim
e uma rara flor
florindo rubro
recomeçando
no fundo do poço
tem você
porta e aconchego
é o que importa
chego..."

24 de setembro de 2009

JÁ NÃO SEI SE TE ESCUTO OU APENAS

Três poemas de Eugénio de Andrade, português, de peso poético que o ombreia com Pessoa em minha opinião sentimental. Do livro "O peso da sombra". "Já não sei se te escuto ou apenas a monotonia dos ralos entra pela casa. Um dia serei eu esse cantar, o corpo desatado e semelhante à música que das cordas se desprende. O ar é o meu elemento, o ar." "Sei de uma pedra onde me sentar à sombra de setembro e vou falar dos girassóis onde ombro a ombro com o sol a flor é quase areia e do peso da sua solidão fazem o ardor e a glória dos grandes dias de verão." "Oiço-te como se ouvisse chegar o verão, seus inumeráveis dedos correr pelos dias ou pelas noites com as águas dentro, oiço essas vozes, esse rumor de luzes subir no escuro, tropeçar nos vidros, com a manhã alta cair nas areias, morder os muros, arder endoidecido."

20 de setembro de 2009

OS PAIS, OS FILHOS E O ESPELHO

Poucas canções populares conseguiram traduzir com poesia e melodia coisas tão bonitas como a relação pai e filho. Em minha humilde opinião, mais sentimental que crítica, Sérgio Bitencourt com seu samba Naquela Mesa, Fábio Júnior (isso mesmo) com Pai, Roberto Carlos com Meu Querido, Meu Velho, Meu Amigo e talvez algumas outras, mas estas três pra mim, são mais que exemplares. Um certo dia ouvi Didi Moraes tocando Espelho, de João Nogueira e Paulo César Pinheiro e seu filho Davi Silvino de Moraes cantando emocionado, ainda lá pelos seus 11 ou 12 anos de idade. Escutada assim, pai e filho interpretando juntos foi algo tocante pra mim. Fiquei com a música no juízo e agora há pouco, quando estive pelo Rio ouvi bastante Diogo Nogueira e fiquei novamente sensibilizado, impressionado com a beleza dos versos e a singela interpretação dele com uma "participação especial" do seu pai. Uma das melhores vozes da música brasileira e um compositor riquíssimo. Nó na Madeira, uma de suas canções, eu cantava desde garoto quando ainda nos meus primeiros passos ao violão. Vejo-me seguindo um pouco os passos do meu pai, Taiguara seguindo os meus ao seu jeito e me imagino dentro da canção. Vida que segue! Vai também como uma homenagem pro Marcos, meu irmão. Achei no youtube e deixo aqui um presentinho pra você, leitor (a), com calma, lendo a letra e viajando por essa balíssima obra do cancioneiro popular brasileiro. Solte o som e abra o coração. Meu abraço domingueiro com o desejo de uma boa semana.

16 de setembro de 2009

AVENTURAS JUVENIS

Revisitando, por motivos nada aprazíveis, o antigo Grupo Escolar Manoel Vital (colégio velho) que rivalizava com o Colégio Municipal Severino Marinheiro (colégio novo), em Juazeirinho, inevitavelmente viajei pela minha infância e adolescência.
Nos tempos em que as provas vinham prontas da secretaria de educação, pois ninguém podia pensar diferente, vivíamos um mundo cheio de repressões e censuras, mas, à época, nada entendíamos daquilo. Cantávamos "Eu te amo meu Brasil, eu te amo / Meu coração é verde-amarelo e branco, azul-anil..." e nem sabíamos do que se tratava, apenas que era uma exaltação às belezas e ao amor que tínhamos por nossa pátria.
Nossas aventuras mais radicais eram umas corridas de patinete no grande corredor do Grupo, as brincadeiras de toca nas muretas de acesso à caixa d'água e nossas peladas de futebol no pequeno intervalo do recreio. Fora da escola alugávamos bicicletas, subíamos em árvores (o que me rendeu algumas sovas) e gostávamos de andar por sobre os muros da escola. Era muita adrenalina. Ainda tinha as disputas com bola de meia, barra-bandeira e bang-bang onde nenhuma arma entrava, a não ser a nossa fantasia. Pra completar, um banho na Barra ou no açude da cidade, onde cheguei a perder um colega que sentava ao meu lado aos 12 anos de idade.
O Grupo Escolar Manoel Vital foi palco de minha primeiras incursões pelo mundo da música, entre os 8 e nove anos, quando compusemos um 'conjunto', chamado pomposamente de "Os Superquentes". Usávamos uma faixa de cartolina na testa com o nome do conjunto e cantávamos, acompanhados de instrumentos improvisados e fabricados por nós mesmos, de "criança feliz" a "parabéns pra você"... Ê, vida boa! Tanto tempo faz... como diria João Nogueira na sua belíssima e triste canção Espelho.
Constatei estarrecido em Juazeirinho que a adrenalina de hoje é fornecida por corridas de moto (sem capacete) e alta velocidade, com hodômetro fotografado pra ser mostrado depois no orkut. Jovens de 14-15 anos se esbaldam na cerveja, pilotam suas motos livremente, dirigem os carros dos seus pais, não usam cinto de segurança e adoram essa mistura: álcool + velocidade + exposição pública, que visa a afirmação.
Numa dessas, cinco garotos viajam ao Junco do Seridó (que Paulo Diniz cantou em uma de suas canções - segundo consta - em homenagem a Gorete de João Galo), tomam umas cervejas, dão uns cavalos-de-pau no Junco, a Polícia Militar manda voltarem pra Juazeirinho (em vez de os segurar e chamar seus pais) e, na viagem de volta, três deles fizeram uma viagem sem volta.
Três vidas interrompidas e dentre elas a de Iuri, meu sobrinho. Um garotão de 1,80m, com 16 anos, que amava o Fluminense e o Palmeiras ao mesmo tempo. Mistura esquisita, mas era assim que era. Ah! Era louco pelo Campinense também!
Pois não tive coragem de ver aquela alegria e energia toda transformada em hematomas, traumatismos e um corpo gelado. Escolhi guardar sua memória enquanto energia pulsando. A dor do seu pai, de sua mãe, de tantos amigos e amigas, avó, tias, tios... é imensurável, mas uma pergunta fica gritando sem querer calar: o Código Brasileiro de Trânsito não tem validade nacional? Não! Em Juazeirinho não vale nada, nem pelo papel pra ser usado como embrulho em bodega.
Pior é saber (in loco) que na maioria das cidades interioranas que conheço ele é letra morta. Enquanto isso, tempos em tempos vidas vão sendo ceifadas pela ignorância, pelo absurdo, pela inoperância do Estado, pela complacência dos pais com seus adolescentes, pela incapacidade de nossas autoridades (inclusive as educacionais) em educar de verdade.
A vida, a vida mesmo, tá valendo bem pouquinho. Uma coisinha assim de nada, uma peinha de nada...
O que falo é saudosismo? Não! Falo mesmo é de dor e de educação. Quanta tristeza...

9 de setembro de 2009

NÃO SOU SENHOR NEM DE MIM

Noutro dia publiquei uma trova, escutada por mim em citação de Alfrânio Brito. Antes atribuída a Rogaciano Leite, o próprio Alfrânio, preocupado, me procurou pra fazer a correção.
A TROVA Não me chames de senhor que não sou tão velho assim, e ao teu lado, meu amor, não sou senhor... nem de mim! A autoria é de Rodrigues Crespo, de Belo Horizonte, Minas Gerais e está publicada no endereço abaixo: http://www.jgaraujo.com.br/trovadores/04_trovas_de_amor.htm Trata-se da página do poeta J.G. de Araújo Jorge e a trova obteve o primeiro lugar num concurso internacional realizado em Nova Friburgo, conforme imagens que você vê a seguir: Coleção “Trovadores Brasileiros” Organização de Luiz Otávio e J.G. de Araujo Jorge Editora Vecchi – 1959 Pra não perder a viagem, seguem outras que achei interessantes. Não te prendas mais à dor nem lembres quem te esqueceu pois quem quer morrer de amor vive do amor que morreu. (Walter Waeny Junior - Santos) Sei que não foge à verdade, você também pode crer; em amor, felicidade é dar mais que receber. (Nice Nascimento - Rio de Janeiro) Feito o registro!

7 de setembro de 2009

TATUAGEM

Passado um final de semana relativamente prolongado e vendo tanta gente com pouca roupa, percebi um detalhe que já me havia dado conta antes com alguns, hippies (eles ainda existem?),artistas e jogadores de futebol: a pessoas estão,a cada dia que passa, aderindo mais à tatuagem. Tenho amigas e amigos que fizeram suas tatuagens com símbolos, marcas, flores, borboletas, bruxas e nenhum que conheço ainda me mostrou frases ou fotos de filhos. Por estes dias vi tantas imagens de crianças tatuadas em braços, costas, pernas... que me veio uma idéia e uma pergunta: o que faz alguém querer tatuar a imagem de um filho no próprio corpo? Comigo aqui fico imaginando o quão redundante seria tatuar Taiguara e Vinícius em meus dois braços, por exemplo. Afinal, se eles são em parte a extensão do meu dna eu estou neles. Se eles são em parte a continuidade do que sou eu estou neles. Se eles absorveram um bocado do meu jeito de ser e fazer eu estou neles. No caminho contrário, deles não herdei nada, mas estão de tal modo tatuados em mim que estão em toda parte. Eles estão em todos os meus poros, estão em meus pensamentos e como eu poderia tatuá-los e meu cérebro? Eles estão dentro de mim e pela extensão de toda minha pele, portanto, não sobraria espaço se fosse tatuar em mim o que tenho em meu corpo de cada um deles e dos dois. Quero dizer com isso que acho um costume estranho tatuar imagens do filhos no próprio corpo. Respeito o gosto por fazê-lo, mas que acho estranho, isso eu acho e não posso deixar de dizê-lo. Os filhos não precisam de tatuagens para que demonstremos nosso amor por eles, não precisam de gravações em nosso corpo porque, de algum modo, estão lá gravados. Os filhos são um pouco do que somos, do que fomos e do que estamos ainda por ser. E nós? Afinal, não somos também o que eles são e o que eles fizeram de nós ao se tornarem filhos? Quanta maravilha reunida em tão pouca coisa. Se tiver de fazer uma tatuagem um dia, que seja de um símbolo qualquer que me interesse, menos de meus filhos quando meninos. Afinal, eles já estão aqui, tatuados em mim, em meu ser por inteiro.