“O tempo generoso faz oferta
e vejo em pleno outono a descoberta
de nova primavera em minha vida.”[1]
O dia já é de manhã e eu acordo com a marca dos meus
primeiros 50 anos vividos. Este senhor cinquentão que vos escreve já percorreu
uma longa e tortuosa estrada.
Não tem sido fácil. Porém, nem pense que é chata ou triste. A
pesada labuta, desde cedo, todavia, muita música e poesia.
Muita surra de cinturão, sandália “currulepe” e cipó de jucá,
mas muito banho de açude e estripulias que me renderam um bom e comprometedor
apelido.
Sem comida vária, mas muitas goiabas, melancias e umbus comidos
lá onde eles nascem.
Algumas tristezas e decepções, mas inumeráveis vivências ricas
em amizade verdadeira, solidariedade fraterna, cumplicidade amorosa, camaradagem
absoluta, amor incondicional.
Angústias que viraram poemas; dores que pariram canções;
amores que geraram filhos maravilhosos; cansaços e tensões premiados por
conquistas; alegrias novas e antigas convertidas em fachos embalando e iluminando
discretamente este coração cinquentenário. Mais que filmes e retratos eu carrego
lembranças.
“Aqui, chora um
ocaso sepultado;
Ali, pompeia a
luz de branca aurora.”[2]
Aprendi muito e continuo. Quando tento ensinar algo é por
acreditar que apenas o exemplo é capaz de tanto. No mais aprendemos juntos.
Do alto deste meio século de existência sinto-me pequeno e
ainda menino pra muitas e tantas aventuras. Dentre estas a coragem, nada
ingênua, de acreditar nas pessoas e a vontade eterna de descobrir, conhecer,
provar e sorrir sempre, mesmo depois dos revezes.
De onde vejo o mundo, o retrovisor revela mais que o largo
para-brisa. Do mesmo modo, sinto que as melhores coisas ainda estão adiante, à
espera por serem tocadas, experimentadas, vivenciadas. Sou um homem do presente
e a ele me agarro com força.
“O canto desse
menino talvez tenha sido em vão.
Mas ele fez o que
pôde.
Fez sobretudo o
que sempre lhe mandava o coração.”[3]
Não digo que valeu a pena, mas que está valendo. Se já vivi praticamente
o tempo do meu pai quando se foi, a estrada a ser edificada anima e desafia a
seguir caminhando e cantando.
Peço licença ao meu amigo Chico Passeata numa paráfrase: A
minha vida é a melhor do mundo, pois única. Vida (boa!) que segue! Afinal, são apenas meus primeiros cinquenta anos! Evoé!