30 de abril de 2011

O FIM DO FORRÓ - Braulio Tavares



O ayapaneco, língua falada no México há muitos séculos, está ameaçada de sumir.  Só restam dois índios que a falam com fluência.  Um tem 75 anos, o outro tem 69, mas os dois são “intrigados”. Não se falam há muito tempo, e com isso o ayapaneco está em vias de extinção.  Algo parecido está ocorrendo com o forró nordestino.  Já foi a música mais tocada no país, no tempo de “Asa Branca”.  Agora, está sendo suplantada por outros tipos de música que espertamente lhe tomaram o nome, invadiram seu território, colonizaram seu público.  Se os falantes do forró não começarem a conversar e a tomar providências juntos, essa idioma musical deixará de existir.  Ou melhor, haverá no Brasil inteiro uma coisa chamada “forró” atraindo dezenas de milhares de jovens para as festas.  Mas – nomes à parte – aquele tipo de música não existirá mais.



O forró está sendo esmagado pelo chamado “forró de plástico”, que é uma musiquinha alegre, sacudida, boa de dançar, com letras bobas ou ruins com-força. É uma variedade da lambada; recorre ao palavrão e a dançarinas seminuas, o que em princípio não é pecado, a não ser quando se torna (como é o caso) uma receita obrigatória e a principal atração.  É duro assistir um show de uma hora onde a melhor coisa do show são as pernas das dançarinas, e as frases que fazem vibrar a platéia são apenas as que dizem palavrões (em geral insultando parte da platéia).  Uma ou duas músicas assim...  Vá lá que seja.  O show inteiro?  Quem ouve isso, e gosta, merece o que está escutando.


Além disso, o forró de plástico recorre a práticas que corroem há tempos nosso mercado musical.  A primeira é o jabá (suborno de radialistas e de diretores de rádios), que tem dois tipos: o “jabá pra tocar minha música” e o “jabá pra não tocar de jeito nenhum a música de Fulano e Sicrano”.  Ganhar concessões de rádios e usá-las para divulgar as próprias músicas é uma versão legalizada desse processo, mas é legal somente porque os critérios para concessões de rádios e TV no Brasil são uma calamidade. A grande imprensa combate, como se fosse o fim do mundo, a cópia não-autorizada de CDs ou o download gratuito de músicas. Por que não fala nos critérios de concessão de rádios e TVs, que são uma catástrofe ainda pior para o país?


O forró de plástico está criando a monocultura da produção de uma coisa única, repetida, uniforme.  Monocultura é o contrário de cultura.  Cultura é o reino da diversidade, das manifestações livres dos indivíduos e dos pequenos grupos.  A monocultura é uma imposição de-cima-para-baixo, feita por um grupo que fabrica e vende uma música igual até que o povo não suporte mais a música igual mas não saiba mais como fazer a música diferente, e com isso as duas morrerão juntas.  O forró de plástico destrói o forró e destruirá a si mesmo no futuro. Sua repetitividade e mau gosto esgotam em seu próprio público o prazer e o significado de ouvir música.

OBS.: Mesmo não concordando em 100% com as opiniões expostas, Braulio Tavares faz uma excelente reflexão e acertadas provocações acerca do tema que está tão em voga na Paraíba. Quer dizer, a polêmica.

1 de abril de 2011

PRIMEIRO DE ABRIL

Fossem 364 dias "da verdade" e 1, umzinho, apenas um, "da mentira", eu acharia mais bacana.

Problema grande tem quem quiser se aventurar a refletir sobre verdades e mentiras em nosso meio social. Estará fadado ao fracasso quem tentar definir critérios para validação de verdades.

Na verdade (ôps!), como dizem, cada um tem sua verdade! Ah, é? Mentira! Pura mentira!

Se a verdade está na vida real, nos fatos, nos fenômenos per si, como poderia estar nos indivíduos? Ou seja, a verdade é o que é ou o que eu quero que ela seja? O que eu quero que ela pareça ser? O que eu acredito que ela seja?

Imagine o que se passa na cabeça do sujeito que afirma: "a verdade é que..." Ora, qual verdade, cara pálida? A sua verdade, claro.

Creio que a questão essencial é não confundir verdade com certeza. Minhas verdades são tal conjunto de coisas, ideias, conceitos... que "valorizo", ou aquilo em que acredito. Minhas certezas são aquilo que me dão a ilusão de que essas certezas são verdades universais. Complicado? Bem, penso que é o que eu acredito ser verdade que se torna verdade.

Discutir verdade e mentira no campo moral é um problema. Problemão. Afinal, quem nunca mentiu que atire a primeira pedra... ou quem nunca acreditou numa mentira, idem! A coisa não é tão simples assim. Fico matutando sobre a forma com que algumas pessoas mentem e acreditam de tal modo em suas mentiras, criam tal imagem mentirosa das coisas, dos fatos e de si que fica difícil (o outro, eu) acreditar que aquela mentira que o indivíduo diz de si, e que tanto acredita ser verdade, não seja de fato uma verdade. Ou seja, corresponde ao que de fato aconteceu, existe, é.

Há uma linha tênue e difícil de ser identificada entre a verdade e a mentira. Vivemos na sociedade da mentira e não da verdade. Uma mercadoria não basta ser boa, mas precisa parecer ser boa para que convença o consumidor potencial de que merece ser adquirida. A uma pessoa, da mesma forma, não basta ser virtuosa, precisa parecer virtuosa, ou, podemos dizer, verdadeira. Lembra da história da mulher de César? Pois bem! Na nossa sociedade não basta que algo seja verdadeiro, mas tem que parecer verdadeiro. Aliás, tem se transformado em regra que mais importante que ser é parecer ser. Desculpe os trocadilhos e cacofonias. Ou seriam "cacofo-nóias"?

Agora estamos diante de um novo problema. Lembro de uma anedota (que palavra mais antiquada!) preconceituosa, como sempre, que falava que ainda no medievo os ingleses criaram um 11º mandamento. "Não sê descoberto!". Dito de outro modo: "deves tu cumprir os 10 mandamentos, porém, caso isto não ocorra há um 11º pra te salvar". O pior de tudo vem agora. Conheço gente que só se preocupa com este suposto 11º mandamento.

Entre tantos conflitos, continuo acreditando que minhas verdades estão postas à prova sempre e a todo momento. Minha certezas? Ah, estas não resistem ao minuto seguinte, pois desenvolvi uma capacidade enorme de mudar de opinião, desde que alguém (ou a vida) me convença disto. Aprendi que quem tem ideia fixa, gostando ou não, termina muito bem enquadrado/a no CID-10.

Olhos abertos, portanto, e ouvidos atentos ao que acontece à sua volta. Nem tudo que você vê é o que é. Acredite mais no que você sente. Aí, de fato, residem muitas verdades.
Olhando com atenção você verá um meio arco-íris saindo próximo à linha do segundo poste lá no final da rua Neusa Borborema, residência de Paulinho e Socorro Barbosa. Quem viu primeiro e me indicou pra registro foi Célia Regina. Clique na foto para ampliar e só assim ele aparece.
Procuro um arco-íris completo e quase perfeito pra postar aqui e mudar alguns conceitos deste blog. Não que eu vá deixar de ser caçador, mas este espaço passará por mudanças. Tudo que já foi continua sendo, mas o que virá deve refletir o perfil do seu criador. Se não, não seria eu.
Aguarde!