10 de novembro de 2014

CONDOMÍNIO DE DEFUNTOS

Tendo recebido proposta para adquirir um "lote" em determinado condomínio de defuntos, agradeci gentilmente à vendedora e depois escrevi isso aqui.
Já virou samba.

Em silêncio eu ouvi sua oferta
Mas não era eu pessoa certa
Pro produto do agente funerário.
- O anúncio, disse à moça, não me pega
Não dou mole pra Caetana, mesmo cega
Por acaso tenho cara de otário?

Se eu morrer amanhã ou em cem anos
Certamente empilhei uns mil planos.
Inda sendo meio crente, meio ateu,
Sempre penso do presente pro futuro
Mas estando de pés juntos, todo duro
Pr'onde irei não será problema meu.

3 de novembro de 2014

A culpa foi do gramado

No futebol é assim, eu sei. Porém, fiquei em dúvida se era um jogo real ou se estava sonhando. Assisti a um jogo que parecia entre BJ e INTER. O Boca não vencia há muitos anos e estava muito furioso. Várias derrotas seguidas.

Os dois times disputando palmo a palmo. Muitos lances de bela plasticidade, muitas jogadas desleais, aqui e acolá uma lambança, uma trombada ou furada de bola... Ôps! Carrinho por trás não vale... Árbitros atentos (são vários e as câmeras registram tudo para posterior julgamento, se necessário for) e o "juiz" marcando o jogo com muita rigidez, apesar de mandar seguir alguns lances duvidosos, de ambos os lados, por entenderem que fazem parte do jogo.

Assim diz a regra! Está tudo lá, estabelecido desde tempos imemoriais. O "juiz" toma decisões e ele é soberano ali. Mesmo sabendo que pode voltar atrás em uma ou outra decisão, isso é coisa muito rara.

Num determinado momento do jogo a supremacia de um dos times é visível e tudo indica que pode vencer de goleada. Domina, mas não faz os gols necessários. Como repete o bordão, "no futebol é assim, quem não faz leva".

O outro time começa a crescer, vai crescendo e ameaça vencer o jogo com muitas jogadas de efeito, uma torcida apaixonada, inflamada, sem uma vitória há tento tempo, aquela se mostra como a grande oportunidade.

Já se aproximando o final do jogo e o empate se desenha como o resultado mais provável. Como é final e o empate não será possível, nem havia decisões por pênaltis neste certame, alguém teria que fazer gol para que o jogo terminasse é um dos contendores se sagrasse campeão.

As torcidas dão um show à parte e até as diretorias ameaçam entrar em campo num determinado momento. Realmente, a sede de vitória do time azul-amarelo era quase sede de vingança. Mas os colorados não estavam pra brincadeira e queriam manter a taça sob seus domínios.

O time vermelho finalmente, após alguns ajustes táticos, mostra sua supremacia e nos minutos finais se afirma e faz belo gol, empurrado pela sua vibrante e ruidosa torcida. Um gol daqueles coletivos, em que quase todo o time participou da jogada, construída desde a sua pequena área ao sair jogando investindo no toque de bola.

Grande festa nas arquibancadas e dentro de campo. Alegria e vibração de um lado. Tristeza e frustração do outro. Pensavam os derrotados: "quase chegamos lá! A vitória esteve quase em nossas mãos!"

Fim de jogo! Adversários se cumprimentam e vão curtir uma a sua conquista e outros a fossa e roedeira. Tivesse sido goleada, ninguém diria nada no dia seguinte. Entretanto, com esse placar de 1 X 0 os derrotados não se conformam e já no dia seguinte mobilizam diretoria, jogadores, torcida, jornais e comentaristas simpáticos às suas cores e fazem um escarcéu.

A culpa foi do juiz que não apitou aquele lance. Tinha sido falta! E aquele outro em que ele deu bola na mão e havia sido mão na bola? E o cartão amarelo que ele não mostrou para o zagueiro naquele lance? E aquela falta que ele inverteu? E o tempo suplementar que ele deu? Com tanta bola parada ele deveria ter dado uns 45 minutos de prorrogação... Ah, não! Sem contar que aquela bola também estava meio murcha. Aliás, o gramado estava mal cuidado e aqueles refletores também desregulados estavam atrapalhando e aquele barulho ensurdecedor da torcida deles tirou nossa concentração e aquele repórter no intervalo que veio fazer aquele tipo de pergunta?

Vamos pedir pra anular o jogo e nada de uma nova partida. A taça é nossa! As regras deveriam ter sido outras. Aquele apito que o juiz usou não tinha um som muito audível. Vamos aos tribunais. Põe nossa torcida organizada nas ruas. Vamos pedir para banir esse vermelhos da face da terra. Muitos comentaristas, a maioria das mais importantes emissoras está conosco, vamos pra cima. A taça é nossa! Nós perdemos, mas fomos nós que vencemos. Eles ganharam, mas não mereceram. Vamos derrubá-los. Nada de esperar novo campeonato. Queremos esse. Aliás, um campeonato desses de quatro em quatro anos demora muito. Vamos ver...vamos ver...