26 de janeiro de 2010

AGORA SÃO AS PITANGAS

De tudo na vida é possível extrair lembranças. Uma doces, outras menos, umas dolorosas outras maravilhosamente fantásticas... outras simplesmente memórias vagas.
Agora um pequeno jabuti e uma criação de galinhas sempre me lembrarão Chico e nossas andanças lá pelo seu sítio, seu refúgio, com sua meninha Franciele de correria com Vinícius pelo oitão da casa e aquela desenvoltura de quem vê e convive com o mato com uma naturalidade própria de quem já nasce com ele (o mato) ao seu redor.
Minha acerolas, minhas plantas quase todas têm o cheiro e a imagem de minha mãe passeando por entre sua plantas no pequeno jardim que cultivava. Plantou em mim também o gosto por elas.
Como não olhar pro Mandacaru com novas flores que duram menos de um dia, e não se encantar com o espetáculo da memória viajando pelo tempo?
Agora é a pitangueira com sua primeira floração. Ainda pequena, mas já com quase dois anos de vida resolveu se mostrar pronta para a atividade reprodutiva. Não dá pra descrever por completo o sentimento, mas posso dizer com todas as letras que minha mãe está presente nas flores da minha pitangueira. Ela com seu sorrisão meio tímido, de se alegrar com coisinhas assim, quase banais.
E quando ela der uma safra considerável farei um delicioso licor com seus frutos azedinhos. E quem quiser provar dos seus frutos primeiros terá que vir diretamente ao pé colher pessoalmente. Enquanto isso é esperar que a natureza siga seu curso.
E eu aqui ruminando minhas saudades. Boas saudades.

22 de janeiro de 2010

CHICO, O MOTORISTA E MEU PRIMEIRO PROVEDOR DE GALINÁCEOS

O sujeito é mais ou menos assim: fama de corredor, boa conversa, voz macia e em tom sempre baixo. Agora que não será mais multado posso confessar que nunca senti insegurança com ele ao volante, mesmo na faixa dos 150 a 160km/h.
Cinquenta e poucos anos, às portas da aposentadoria, a história dos bastidores da UEPB em sua memória, dono de sítio, trabalhador incansável, foi o responsável pelo início da minha atividade de criador de galinhas. Deu-me uma preta (ainda viva), uma do pescoço pelado e um galo. A "granja" evoluiu e tomei gosto pela coisa.
Pois bem! Final de tarde... Chico vai saindo do banho, lá no seu sítio em São José da Mata, onde morava e considerava um pequeno paraíso, dois sujeitos aparecem armados, anunciam o assalto que termina com vários tiros e seu corpo inerte estendido no chão.
Assim, sem mais nem menos, com a mulher e sua filhinha de 6 anos em casa.
Lá se foram um montão de sonhos e planos que ele me havia confessado há uma semana em viagem a João Pessoa.
Eis o absurdo da vida nos tempos atuais, valendo assim, mais ou menos uma meia pataca...
Isso parece reforçar a tese de que devemos viver tudo ao mesmo tempo agora, até o limite do possível, pois a vida não espera e cada vez espera menos.
O sonho de morrer velhinho (simpatizo com a idéia da velhice), numa cama limpa, rodeado de carinho e atenção, ou então dormindo impunemente numa rede na varanda já era! Tá ficando cada dia mais distante...
Afinal, quem está seguro?

18 de janeiro de 2010

ZÉ LAURENTINO

“Poeta é aquele que tira de onde não tem e põe onde não cabe”


Pinto do Monteiro.

José Laurentino da Silva é Paraninfo Geral das turmas concluintes do período letivo 2009.2.

Uma lenda na Universidade, estampou em manchete um dos jornais da cidade. Não inventou nem aumentou, pois estamos de fato diante de uma verdadeira lenda viva da poesia.

Recebida a tarefa de homenageá-lo, em nome da UEPB, busquei inspiração nos poetas. Nada mais justo!

Antes de iniciar esta pequena reflexão saí por aí perguntando e depois fiz a mesma pergunta a mim mesmo:

De que matéria são feitos os poetas?

Pensei em uma resposta rápida: Da mesma matéria que são feitos os pedreiros. Os poetas são gente de carne, osso e sentimento.

Os poetas são seres de luz, disse alguém!

Outro respondeu que os poetas são seres de outro mundo. Talvez o mundo da lua!

Pra me ajudar a entender o problema que levantei fui pedir ajuda ao poeta João Paraibano e ele me disse:



"Faço da minha esperança

Arma pra sobreviver,

Até desengano eu planto

Pensando que vai nascer

E rego com as próprias lágrimas

Pra ilusão não morrer.



Há três coisas nesta vida

Que Deus me deu e eu aceito:

A Terra para os meus pés,

A viola junto ao peito

E um castelo de sonhos

Pra ruir depois de feito."



Pensei que os poetas são como os dias, são como a essência da vida... e então Cecília Meireles me confidenciou que os dias são feitos de matéria fátua.

De que são feitos os dias?

- De pequenos desejos,

vagarosas saudades,

silenciosas lembranças.



Entre mágoas sombrias,

momentâneos lampejos:

vagas felicidades,

inatuais esperanças.



De loucuras, de crimes,

de pecados, de glórias

- do medo que encadeia

todas essas mudanças.



Dentro deles vivemos,

dentro deles choramos,

em duros desenlaces

e em sinistras alianças...

Os poetas são gente comum, que comem feijão com arroz, tomam uma cachaça, mas não cospem no pé do balcão. Os poetas são catalisadores de sentimentos. Por isso carregam consigo todas as dores do mundo, todo o sentimento do mundo.

Disse Carlos Drummond de Andrade:

“Tenho apenas duas mãos

e o sentimento do mundo...”

“Poetas e tontos são feitos com palavras”, disse Manoel de Barros, pois “Quando as aves falam com as pedras e as rãs com as águas - é de poesia que estão falando”.

E quando os poetas falam com os sonhos, conversam com os desejos, buscam o inimaginável, o imponderável, o inusitado a palavra nova, a cara nova da palavra, o cheiro novo da palavra... é de vida que estão falando.

A poetisa portuguesa Florbela Espanca disse como num desabafo:

“Ser poeta é ser mais alto, é ser maior

Do que os homens! Morder como quem beija!

É ser mendigo e dar como quem seja

Rei do Reino de Aquém e de Além Dor.”

A mais famosa das tentativas de entender os poetas foi uma empreitada de Fernando Pessoa:

“O poeta é um fingidor / Finge tão completamente / Que chega a fingir que é dor / A dor que deveras sente.”

A Universidade Estadual da Paraíba, que prima e persegue a objetividade da ciência, hoje rende-se ao lirismo e à crueza do cotidiano, ao matuto de Puxinanã que virou homem do mundo.

O nome Zé Laurentino tem 208 mil entradas no Google. No site Usina de Letras, Maria do Socorro Cardoso Xavier afirma:

“De inteligência privilegiada o poeta Zé Laurentino coloca-a serviço do seu povo, fazendo rir e tirando lições do acontecer cotidiano caipira. Zé Laurentino é a encarnação do interior nordestino, este sentir rústico, forte, telúrico e pândego ao mesmo tempo”.

Eu, a Cama e Nobelina, Matuto no Futebol, O Mal se Paga com o Bem, Carona de Candidato, Esmola pra São José e tantos outros.

O homem que tem poemas e glosas gravados por dezenas de artistas brasileiros, muito de grande destaque no meio artístico e cultural.

Assim ele se definiu em discurso de posse na Academia de Letras:

Autoridades presentes,

Minhas senhoras e senhores,

Sou poeta sertanejo

Meus maiores professores

A minha maior escola

Foi o toque da viola

E os versos dos cantadores.



Meu verso cantou amores,

Saudade, mágoa, paixão

Já cantou as alegrias

De uma noite de São João

Cantou fartura na mesa,

Também cantou a tristeza

De uma mesa sem pão.



Os meus versos se juntaram

Ao violão do boêmio

Foram comigo à choupana

Teatro, colégio e grêmio

Cantei no sertão, na praia,

Ganhei beijos, sofri vaia,

Fui expulso, ganhei prêmio.



Estes versos caipiras

De andar estão cansados

Foram bater em Brasília

Disseram aos deputados

Bem como aos senadores

Que nossos trabalhadores

São todos injustiçados.



O homem que é um verdadeiro clássico da poesia popular contemporânea, um dos maiores poetas vivos deste país, por incrível que possa parecer, não passa de um Zé, mas não é um Zé qualquer. É do tamanho de um Zé Praxedes. Da estatuta de um Zé da Luz, em que se inspirou e a quem tanto cultua. É Zé Laurentino, o menino do sítio Antas.

Este homem de palavra

Este homem de talento

Produziu da sua lavra

De poemas, mais de um cento

É alegre e sorridente

Chora quando está contente

E é feliz como um menino.

Quem o conhece, o aclama

Que viva sempre essa chama!

Chamada Zé Laurentino.

Parabéns, poetinha! Boa Noite a todos!

Muito obrigado!


10 de janeiro de 2010

POESIA E VIAGEM

Pra tudo tem um dia, dizia Dona Neide, minha Mãezinha.Viajei a Teresina. Pela primeira vez num jatinho. Uma vida inteira sem conhecer o Piauí... Em 20 dias visitei duas vezes.
Relembrei que poesia é vento.
Poesia é chão.
Poesia é fogo, terra, água, ar.
Poesia é trabalho, poesia é delírio... corpo nu, poesia entrega.
Poesia uísque, poesia parede, poesia violão, poesia sono, poesia teu amor de promessa...
Poesia desejo, poesia no prato, poesia suor, poesia amizade, poesia pedra, poesia materia, poesia vida, gozo, cansaço, poesia sonho.
Poesia! Pô!


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7 de janeiro de 2010

NA VOLTA...

Já dizia o pensador paraibano. Volto! Mais bem achado que antes!
Três quilos a mais, muito estresse a menos;
O fígado plenamente saudável,
A pele pouco bronzeada (resultado de mais barraca do que praia);
A paternidade reforçada e atualizada com carinho diuturno,
Os olhos cheios de imagens belíssimas e cheiros e sotaques...
A sensação maravilhosa de desligar sobre quase tudo,
O que se chama aventura!
A sensação mais maravilhosa de voltar e encontrar tudo no lugar,
O que se chama segurança!
Quase tudo continua como dantes, mas o ano é novo.
Em 2008 perdi coisas que serão pra sempre em minha vida. Sentimentos!
Em 2009 perdi pessoas de carne e osso, mas não as perdi pra sempre.
Elas continuam aqui comigo, cá dentro onde só eu sei.
Foi um ano de muitas perdas.
Uma sugestão para pôr UMA INSCRIÇÃO no túmulo da família lá em Juazeirinho: NÃO HÁ VAGAS!


Em meu coração há vagas pra amizade, muitas vagas!
Há um sonhador com os dois pés fincados no chão. Não o suficiente pra poder se desgrudar e voar por aí espalhando devaneios pelo mundo.

Em 2010 quero viver somente 365 dias. Nem um a mais ou a menos. Um de cada vez como quem degusta uma boa cachaça, lentamente, pois dá um baratozinho sem embriagar.
Não quero me embriagar de 2010, mas apenas vivê-lo como se ele fosse mais um de muitos que virão. Há muito por fazer.

Quero que você esteja por perto, acompanhando, lendo, criticando, polemizando, elogiando (se for merecedor), mas aqui por perto.

Sem "o outro" esse blog perde a razão de sua existência e vira "meu querido diário". Aliás, quem seria "o outro" nos famosos 'diários'? Um alter ego?

Estou de volta! Vamos desejar juntos viver um ano de muita luta, paz, saúde, harmonia, amor, amizade,solidariedade... na ordem que você achar melhor!

Estou de volta!