28 de novembro de 2008

PORQUE AMANHÃ É SABADO

Conta a lenda (e é bom acreditar pra não levar castigo!) que vim do barro. Aliás, do pó. Há quarenta e seis anos eu era pó. Pra ser mais exato grãos, um micro e outro maiorzinho. Um espermatozóide de um lado, um óvulo do outro. Esses eram os pós de minha anterior composição. Som e silêncio. Sombra e luz. Juntaram-se para formar esta 'obra'. Quiçá eu volte ao pó daqui mais quarenta e seis. Desta vez para ser pó de verdade, matéria transformada, energia dissipada e convertida. Noventa e dois sem Alzheimer nem Parkinson, andando sozinho e comendo com as próprias mãos. Ah, e tomando banho e fazendo outras coisas mais íntimas sozinho. Eis um grande prêmio. Maior que qualquer fórmula um. Desde uns quinze pra dezesseis eu desencaramujei. Resolvi me dar ao mundo e desde então tenho sido um poço de aperreios. Resolvi trocar um açude de águas mansas e uma leve ondazinha que batia no paredão para ser mar revolto. A vida me tem dado mais alegrias que dissabores. E pra ser sincero, vez por outra acho que sou merecedor. Noutras já penso que tenho mais do que preciso. Cresci assim, sem grandes ambições a não ser ganhar o mundo. E venho fazendo um pouco isso mesmo. Descubro sempre que edifiquei amizades sólidas como uma obra de Niemeyer. Eternas... enquanto duremos. Resolvi, assim, ser uma espécie de danação louca, mas sempre aparentemente contida. Não que tente disfarçar minha potencialidade bélica. Não sei não, viu! Nunca fui explosão de sentimentos expostos, cacos pra todos os lados, mas, por dentro, confesso, eterno vulcão. Se me fosse conduzir pelas paixões já estaria pra lá de não sei onde, pois apesar dessa atitude antiútero, anticaramujo, sou tomado por alguém muito contido. Dizem que até frio. Logo eu! Não sei porque cargas d'água resolvi escrever isto. Talvez porque amanhã é sábado.

27 de novembro de 2008

A JUSTIÇA, O DIREITO, A LEI E EU

Colhi algumas frases-citações do blog do amigo-camarada Flávio Renato, estudante de direito. Tal publicação suscitou alguns comentários analíticos de minhas leitoras e agora faço (faria, não fosse a perda) uma espécie de réplica elucidativa.

Preparei longo texto sobre o assunto esclarecendo os reais porquês de não expor com clareza minhas opiniões pessoais, que são muitas, sobre o assunto.

Por uma perda de conexão descobri agora que perdi 90% do que escrevi e precisarei de muito tempo, do que não disponho agora, para reconstruí-lo. Transcrevo um pensamento atribuído a Reveillère, publicado por M. C. Acquaviva (em seu livro O Advogado Perfeito, 2002. p. 465):

"Aquilo que consideramos justiça é, frequentemente, uma injustiça praticada em nosso favor".

Em resumo: por questões de foro íntimo e visando resguardar certas questões que também ficarei privado de expor, fico por aqui. Adianto apenas que entre o direito e a política fico com a segunda, que é onde tudo se decide. Sobre o tema em epígrafe e a conjuntura paraibana há que se fiar mais fino. Os fatos ainda precisam falar por si. Quem sabe mais tarde...

24 de novembro de 2008

SOBRE O DIREITO, A LEI E A JUSTIÇA

Direto do blog de Flávio Renato Caetano, por oportuno. "O Direito é a arte de enganar os outros e que, às vezes, por coincidência até pode praticar a justiça." (Carlos Galves) "A lei é como uma prostituta, sempre sorri para aquele que tem a carteira mais cheia." (Cevola, citado por Taylor Caldwell) "Alguns juízes são absolutamente incorruptíveis, impossível induzi-los a fazerem a justiça." (Bertold Brecht)

20 de novembro de 2008

MEMÓRIA OLFATIVA

Você conhece a Algaroba? E essas outras tantas obras da natureza? Minha infância em Juazeirinho foi povoada por algarobas, juremas, catingueiras, marmeleiros, goiabeiras, umbuzeiros, melões-são-caetano, melancias, melões, cocos catolés, frutas-de-palma, gogóias...
A imagem e o cheiro dessas árvores, plantinhas, frutas e algumas vagens estão gravadas, e bem gravadas em minha memória. Às vezes chego a salivar - qual o famoso cão de Pavlov - quando lembro de algumas delas.
Foi o que me aconteceu hoje pela manhã. Desperto às 4:50h pra ler textos, termino e resolvo fazer metade do percursos da caminhada. Pois não é que passando num trecho em que passo todos os dias sem me dar conta, o cheiro forte da Algaroba me subiu pelas ventas? O cheiro das raízes úmidas, vagens, folhas, tronco, o cheiro da minha meninice inteira, do parquinho da praça em frente à casa onde morávamos, repleto de algarobas, escorregos, gangorras, balanços, carrossel e os outros apetrechos costumeiros de um parque.
Neste mesmo parque fui vítima de um acidente marcante. Costumávamos caminhar por cima da mureta do parque, que era todo cercado de uma parede de cobogóis e uma chapa cimentada na parte superior, boleada, exatamente pra evitar que andassem sobr ela. Nós, é claro, desafiávamos tudo, num exercício de equilíbrio circense e, vez por outra, éramos 'pegos' de surpresa por um fiscal da prefeitura que botava todo mundo pra correr. Um deles, considerado dos mais rigorosos (pra ser eufêmico), era 'seo' Tonito, meu pai.
Pra tentar evitar os passeios dos equilibristas, colocaram uma pequnina cerca de arame farpado por sobre a parede da mureta. E nós? Continuamos desafiando a tudo e a todos, com a exigência natural de mais perícia, pois agora andávamos com a cerquinha de arame entre uma perna e outra. Numa dessas 'viagens', assustado, saltei e caí muito próximo da parede e, na tentativa de me equilibrar no solo, fiquei com o dedo mindinho espetado num 'espinho' do arame farpado. Ganhei uma surra, um susto, uma dor enorme, uma pereba no dedinho, uma pequena cicatriz e hoje, a maravilhosa lembrança daqueles dias fantásticos.
Pois assim me sucedeu nesta manhã ensolarada de 20 de novembro de 2008. Viajei!

19 de novembro de 2008

QUARTO TURNO

Chega a ser uma mistura de tantos sentimento que caberia, de fato, a expressão tragicomédia. Refiro-me ao clima eleitoral trazido novamente à tona em Campina Grande (mais quente umpouco, claro) e na Paraíba inteira em razão do julgamento do recurso (ou dos recursos) pelo TSE, contra a cassação do Governador Cássio Cunha Lima, feita ano passado pelo TRE da Paraíba. Já ouvi muita piada desde os últimos três anos fazendo trocadilho com a sigla e o som T.R.E., dando conta de que haveria um 'Z' oculto antes do 'E'. Tudo fofoca... O clima de fofoca e de 'já ganhou' é tão engraçado que você chega a ouvir opiniões as mais estapafúrdias possíveis e aceitáveis de ambas as partes. Liga-se o rádio é a mesma cantilena. As entrevistas, as opiniões dos jornalistas, comentaristas (salvo honrosas e raríssimas exceções) e pessoas em geral está mais pra torcida de time de futebol do que pra analistas políticos. Do ponto de vista das opiniões, palpites, prognósticos e o que mais o valha seria a mesma coisa que eu dizer a um torcedor do Atlético de Goiás que o Campinense vai ganhar de 3 X 0 do time deles, lá, na casa deles, que aliás, não é bem assim. A bem da verdade, é isso que eu torço pra que aconteça e, de certo modo, acredito que é bem capaz de suceder. Da mesma forma, não duvido nada que o Atlético imponha uma sonora goleada (existe goleada "sonora"? É o que mais escuto dizerem nos rádios) à minha gloriosa raposa. Da mesma forma, é bem possível que, mesmo assim, meu time do coração vá para a série B do Brasileirão, pois outros times deverão tropeçar em seus objetivos, para nossa alegria e glória. Ainda seguindo a mesma lógica é bem possível (no que eu não acredito nem muito menos desejo) que o Campinense perca por 1 X 0, nos acréscimos do 2º tempo e dê tudo errado com os resultados dos outros e, enfim, minha Raposa da Serra retorne à toca com o rabo entre as pernas sem subir para a série B, para alegria e gozo dos trezeanos, que nem sabem se chegarão à Série D em 2009. Ainda assim terão um prazerzinho,com dor de cotovelo e tudo, como que diz: Ei, nem subiram! É mais ou menos esse o quadro político da Paraíba, às vésperas do tal julgamentono TSE! 1. Quem comprar a cachaça da comemoração (para assumir o governo) pode ter que deixá-la envelhecendo indefinidamente em barris de desengano. 2. Quem comprar lenços descartáveis e caixas e mais caixas de Lexotan, com receita médica, é claro (pela perda do governo) pode vê-los chegar ao prazo de validade, vencidos, sem ter que usá-los! Cabe esperar! Entretanto, que torce prum time ou pro outro, sem poder ajudar a decidir nada, cabe também acender velas, rezar, fazer catimbó, despacho, quizila, macumba, figa, simpatia, urucubaca... mas o jogo vai ser decidido lá no tribunal. Como todo jogo no mundo de hoje, os bastidores muitas vezes decidem tudo. Quem fica na torcida faz apenas papel de palhaço! Uma pena que a política paraibana tenha chegado a este ponto!

18 de novembro de 2008

TUDO AO MESMO TEMPO AGORA

É ASSIM QUE ANDO ME SENTINDO. I Passo dias no velho e saudável "feijão-com-arroz" do cotidiano. De repente, numa mesma semana aparecem:aulas do doutorado todos os dias pela manhã (com textos e mais textos pra ler), mais trabalhos normais do gabinete, reunião do FIC em João Pessoa (que não posso pôr em risco meu projeto de CD e DVD inéditos), mais aula normal no departamento de psicologia, mais show em Catolé do Rocha (ali, pertinho, uns 300 e poucos quilômetros), estes três últimos na mesma quinta-feira, tudo coincidindo... retorno na madrugada, mais aula pela manhã na sexta... uma beleza! Vou esticar a corda com cuidado pra ver se ela se não quebra... como dizia Dona Neide, que já está dando pinote pra sair do Hospital. Maravilha! II Saudades dos amigos e amigas que quase não os vejo, a não ser os do trabalho. O bicho tá pegando, como se diz por aí! III Comentei outro dia que comprei um Cd com 23 'músicas' da campanha para prefeito de Campina Grande. Qualquer hora dessas publico um ensaio por aqui. Como não sou antropólogo, musicólogo nem trabalho com análise de discurso, vou falar por mim mesmo, como ouvinte curioso. Aguarde!

15 de novembro de 2008

DO LUGAR ONDE ESTOU

I
Do lugar onde estou vejo o mundo e se o não vejo imagino-o. Acho que roubei esta frase de alguém. Crio um mundo e o trago pra junto de mim. Olho para as mãos e vejo todo um passado entranhado em meus genes. Os olhos que herdei de 'seo' Tonito e pequenas manchas nos braços que indicam perda de melanina.
II
O tempo de viver já é agora. E é pra já que me dirijo quando acelero meu fusca e o vento que entra pelo quebra-vento (que a bem da verdade não quebra, mas canaliza o vento) me diz que meus cabelos ficarão assanhados e que já não são tantos como há vinte anos.
III
A coluna vertebral já me presenteou uma hérnia discal e eu insisto em brincar que, se é de disco, é CD. Caminho pela mesma calçada quase todos os dias e vejo quase as mesmas pessoas e elas usam quase as mesmas roupas todos os dias e caminham pela mesma calçada, que nem eu. Somos seres de repetição!
IV
Vejo-me no espelho e concluo que os sulcos em meu rosto são troféus que conquistei. Tantas batalhas venci que me acho merecedor de mais rugas. Prefiro chamá-las pregas, que era assim lá em Juazeirinho. Quem não as tem... não tem. Minha fotofobia ajudou a formatá-las.
V
Fazendo as contas descubro que o tempo tem sido generoso comigo. Vou e volto sempre numa atitude de reverência a ele, senhor de tudo. Acho que exagero, às vezes, quando debocho de sua ação deletéria sobre o organismo. Ora, o tempo não é culpado de nada. Como dizia o compositor, ele sabe passar, nós não! O tempo, minha amiga, Freud explica? Acho que ajuda a entender.
VI
Depois de uma semana Dona Neide saiu da UTI e esse foi meu melhor presente. Mesmo porque o segundo melhor seria a vitória da raposa, que não veio. C'est la vie! Abomino a hiposcrisia e sempre descubro que tenho amigos de verdade. Irmãos que fui agregando nestes 46 anos bem vividos. A amizade é a forma de amor mais próxima da perfeição. Ajuda muito o fato de não envolver sexo. VII Viver é perigoso, mas a vida é um prêmio, nunca um castigo. Como dizia o poeta Chico Passeata, "se a vida é uma só, por pior que seja é a melhor".

A ÚLTIMA DE VINÍCIUS

Pode parecer chatice de pai curuja, mas veja esta de ontem. Tarefa escolar pedindo pra dizer o que quer ser quando crescer. O rapazinho responde: - Quero crescer pra tocar num violão bem grandão! Taí! ***********************

VINÍCIUS DE MORAES

Por pouco o meu guri não ficou registrado como o poetinha. A iniciativa tinha sentido, pois do lado do meu pai todos são registrados como Guedes de Morais e apenas ele como Guedes Rangel e, desta forma, herdei por inteiro o seu sobrenome. Também sou o único dos seus filhos que não é Freire Rangel. Se quisesse, eu poderia 'resgatar' o sobrenome da família e colocar lá o 'de Morais'. Seria uma grande homenagem ao poetinha e um belo nome pro Vini. Pois não é que o cidadão virou fã de toquinho, por meio de um dos cds de músicas infantis do grande parceiro do Vinícius. Ele já reconhece a voz de Toquinho em qualquer canção e há três dias saiu com esta pérola: Perguntaram-lhe seu nome e ele respondeu: " Vinícius de Morais" e então a mãe o interrogou: - Quem lhe disse isso, menino? - Foi Toquinho, mamãe! Na televisão! Matou a charada?

14 de novembro de 2008

MAIS UMA (S) DE VINÍCIUS

Há um molequinho danadinho em minha vida. Há fases nas crianças que são fantásticas, mas nada como esta, quando estão aprendendo a falar das coisas, a ter idéias próprias, a descobrir códigos... Eis algumas mais do meu gurizinho. PRIMEIRA
Noite já alta, quase hora de dormir e ele pede ao pai pra fazer um 'gagau'. O pai - abestado - pergunta:
- Filho, tem certeza que quer comer a essa hora? Quer mesmo comer gagau?
O cabrinha sapeca, na bucha, com um sorriso maroto e depois quase em gargalhada:
- Comer gagau? Gagau é de tomar! Mamãe! Papai falou 'comer' gagau! Comer gagau! kkkkkkkkkkkkkkkkkk
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SEGUNDA
Há poucos dias o pai - mais uma vez abestado - o levou pra escola exatamente no dia dos professores. Chegando lá, a escola fechada, a funcionária lembra que não haveria aula, pois era "Dia dos Professores".
Uns 15 dias depois, o 'espertinho' com preguiça de ir pra escola (coisa rara) chega pra mãe e diz:
- Mamãe! Não tem escolinha hoje não porque é "Dia dos Professores"! Não teve jeito. Apesar das boas risadas que provocou foi 'convencido' a ir pra escolinha. Sem traumas!

13 de novembro de 2008

AUGUSTO

Ontem, 12 de novembro, foi aniversário da morte do poeta. Meu primeiro contato com Augusto dos Anjos foi através do Círculo do Livro, pois apesar de ter lido "versos íntimos" num livro de literatura (desses didáticos) do qual não lembro agora, vim conhecer de perto quando adquiri o livrinho, capa preta, dura, e o recebi pelos correios. Sempre tive uma certa fascinação por receber coisas pelos correios. Fui um sujeito de muitas cartas. Recebidas e enviadas. Cartas longas. Ainda menino fiz amizade com um outro garoto da cidade de Itapira, interior de São Paulo, juntamente com uma prima sua. Eu e Gilberto, meu irmão, fizemos amizade com os dois a partir de um quadro de correspondência dum 'gibi', acho que da disney. Resultado é que nos correspondemos durante alguns anos, trocamos fotos das cidades e depois sumimos no ôco do mundo. Naquele tempo, isto era tão ousado quanto o orkut hoje. Menos inocente e potencialmente menos invasivo também. Voltando a Augusto. Passei o dia ansioso pra chegar a noite e começar a leitura. Lembro como se fosse hoje, num apartamento de aproximadamente 20 metros quadrados onde morávamos eu, Gilberto e Ze Neto, na Rua João da Silva Pimentel, vizinho à Dão Silveira. Queria ficar lendo até tarde e eles precisavam dormir. Fui ler o livro no apartamento de José Inaldo, numa rede armada no meio da kitinete e quando cansava colocava-o sobre uma pilha de caixas vazias de canjiquinha que, por ironia, fazíamos uma espécie de 'coleção'. Fiquei tão impressionado com a leitura de 'EU' que ainda hoje lembros desses detalhes. Só dormi quando acabei de ler o livro e aquilo marcou definitivamente o meu entendimento sobre a poesia e a literatura. Era um período de muita 'fossa' e eu literalmente viajei nas esquisitices de Augusto dos Anjos. Fiquei atordoado com sua morbidez clássica, com aquele palavreado estranho e nunca mais o larguei. Tenho vários livros sobre sua obra e até hoje conservo o seu livrinho que, estranhamente, trazia o título de "Eu & Outra Poesia". Assim mesmo, no singular. Aqui a prova! Não me impressionei tanto com "versos íntimos", que já conhecia, Solilóquio de um visionário, Monólogo de uma sombra... belíssimos. Três versos especialmente deste soneto "Budismo moderno" me prenderam a atenção - pelas imagens que consegue criar - e estão destacados abaixo. "Tome, Dr., esta tesoura, e... corte Minha singularíssima pessoa. Que importa a mim que a bicharia roa Todo o meu coração, depois da morte? !Ah! Um urubu pousou na minha sorte! Também, das diatomáceas da lagoa A criptógama cápsula se esbroa Ao contato de bronca destra forte! Dissolva-se, portanto, minha vida Igualmente a uma célula caída Na aberração de um óvulo infecundo; Mas o agregado abstrato das saudades Fique batendo nas perpétuas grades Do último verso que eu fizer no mundo!" Quando lia sobre astrologia descobri que meu signo, ou algo parecido que não recordo agora, era regido por Plutão, algo a ver com a morte. Sempre tive enorme curiosidade sobre o assunto e nos estudos de psicologia foi um dos temas que mais me atraíram. Plutão foi 'rebaixado' da condição de planeta e eu nem sei se ainda continua com o mesmo poder. Augusto dos Anjos, entretanto, com sua poesia funesta continua fazendo minha cabeça. Seu cientificismo, em minha humilde opinião, não o diminui em nada como poeta grande que é, nem pelo fato de ter escrito um livro só. É um clássico! O tempo prova isto.

11 de novembro de 2008

POR QUE MATAM CRIANÇAS? - Parte II

Não resisti em continuar refletindo sobre o assunto. Fico me perguntando sobre as possíveis soluções para os casos existentes e consumados. Como tratar o indivíduo praticante de crimes sexuais e ainda quando há o agravante de ser contra crianças? Quais as garantias, após o cumprimento de pena, de que aquele indivíduo não voltará a praticar o mesmo tipo de crime? Como aceitar - e muitos até acham justo - o 'código de honra' dos presídios onde os apenados seviciam os presos por crimes desta natureza? Seria possível discutir na sociedade um tipo de garantia de acompanhamento, ou mesmo privação da liberdade, em locais especialmente preparados, para aqueles considerados como ameaças no sentido de potenciais reincidentes? É difícil acreditar - e sempre discuto este tema com pessoas quando eclode algum tipo de matéria sensacionalista sobre este tipo de delito - que um indivíduo que atenta contra uma criança, que violenta sexualmente e chegar até mesmo a tirar-lhe a vida seja movido apenas por uma suposta perda de referenciais morais. É verdade que há sujeitos amorais, para os quais as regras da convivência em sociedade não passam de meros badulaques, adornos sociais criados para alguns. Entretanto, é necessário refletir também se tal conduta não é resultado de um desequilíbrio de outra ordem, da organização da personalidade, da psiqué ou mesmo algo de maior profundidade como verdadeira enfermidade e que, como tal, precisa de tratamento, 'cuidados' permanentes, sem os quais, movido por forças que fogem ao seu controle, invariavelmente, poderá voltar a buscar as mesmas 'emoções' de antes. O assunto não é tão simples e os 'Datenas' e assemelhados da vida não revelam muita preocupação em ir até o âmago das questões, quando abusam dos espaços televisivos para repisar quinhentas vezes os mesmos bordões sobre as mesmas imagens. O fundamental, o bom mesmo - para eles é prender o telespectador diante da maldita tela da TV, segurá-lo ali, hipnotizá-lo com sua indignação de araque para que em poucos minutos o ibope aponte um aumento dos índices de audiência e isso se transforme em mais anunciantes e patrocinadores para os seus programas medíocres. Claro, tendo como consequência direta o aumento também dos numerários em suas contas bancárias. Sinto muito, mas até que gostaria de contar aqui hoje uma historiazinha leve e boa pra passar o tempo, mas pecisava falar disto pra não continuar com este engasgo terrível que por vezes me assusta. Temos muitas coisas importantes a fazer, não é mesmo? A vida nos chama! Falar nisso, vou fazer uns dengos ali no meu bruguelim, que anda tenso, se queixando porque tem brincado pouco, somente da hora que acorda até a hora de dormir. Há poucos minutos ele saiu do 'repouso' - uma denominação moderna e bem eufêmica para substituir 'castigo' - porque havia passado dos limites em certa circunstância. Assim, dando muito carinho, atenção, amor paternal e muitos 'nãos' quando necessários, tento mostrar pra ele que 'o mundo nunca estará aos seus pés' sempre que um seu desejo se manifestar. Afinal, se educar é acima de tudo um ato de positividade, de afirmação de valores, não há dúvids que é também de muita negação daquilo que pode fazer o contraponto entre o bem e o mal, ou o meio do caminho. Ô, vida!

10 de novembro de 2008

POR QUE MATAM CRIANÇAS?

Dentre os muitos absurdos do mundo terreno, para muitos inexplicáveis, creio que o assassinato de crianças deveria estar no topo da lista. Como imaginar que alguém, em sã consciência, pode fazer qualquer mal a uma pequena e indefesa vítima? Isto se irmos além do imaginário popular, uma espécie de envoltório que protege as crianças em torno da idéia de pureza, inocência, proteção divina e outras tantas. Chego a pensar que pode haver, de fato, algum componente moral nessa história toda, algo ligado às grandes mudanças do mundo moderno, uma espécie de (in)consciência de indica pro sujeito que 'tudo pode', tudo lhe é permitido. A noção de propriedade, posse, poder sobre as coisas e sobre as pessoas, a noção de que 'se o outro pode eu também posso', ou, por que não tomar de outrem o que quero? Quer dizer, se alguém tem tudo, por que eu também não posso? Este seria um dos princípios que fundamentam o roubo? A perda de referenciais éticos, de códigos que se apresentem aos sujeitos como verdades, para além dos "dez mandamentos"...? Onde tem falhado a humanidade em seu projeto civilizatório, especialmente em nosso país - que é de onde falo - que não assegura a todos um mínimo de garantias que envolvam a vida em primeiro lugar, depois a segurança alimentar, a moradia, o trabalho, a educação, a saúde, a diginidade, a alegria... Ouço perguntas e afirmações como: onde vamos parar? qual o limite? chega de violência! cansei disto ou daquilo! Pode parecer hipocrisia e também exercício de tautologia. Todas as questões nos levam ao mesmo lugar: onde estamos errando em nosso projeto civilizatório? Explodem por todos os lados no país denúncias de maus tratos, de violência sexual, violência física, psicológica, simbólica, real... contra crianças e continuamos indignados, massacrados pelos programas sensacionalistas das TVs, pelo repisado insistente de alguns jornalistas e sempre me ocorre uma dúvida. Será que o problema é novo ou é nova a forma de divulgar? É novo o acesso à informação e a forma como ela tem sido 'trabalhada'? Vivemos numa sociedade construída sobre valores profundamente ligados ao individualismo, ao 'tudo posso' se eu assim o desejar, o 'mundo deve estar aos seus pés', tudo que você quer pode ser seu, exija (veja-se a tal lei da atração que vem fazendo sucesso que é um horror). Sobre quais bases de valores morais, estéticos, filosóficos, culturais estamos edificando esta sociedade que é nossa? O que você ensina aos seus filhos, irmãos, pais, alunos, parentes, pessoas em geral? O que você ensina como exemplo? Listo alguns quesitos: solidariedade? fraternidade? amor incondicional? justiça? igualdade? perdão? lealdade? sinceridade? delicadeza? gentileza? respeito? Não há limites para os que desenvolveram e trazem dentro de si o germe da maldade, da injustiça da ganância, do lucro fácil, da vantagem fácil, da opressão e submissão dos outros aos seus interesses. Vão continuar abusando de nossas crianças, machucando, matando, assaltando... e vão fazer tudo isso conosco também. Tudo é uma questão de sorte, ou azar. É aquela história de você não estar "na hora errada no lugar errado"! Que vida! Eis o nosso desafio de cada dia e de todos os dias. Mãos à obra!

9 de novembro de 2008

DOMINGÃO

Dizia pela manhã que estava mais feliz e renovo agora à noite o comentário. Isto se deu após uma vitória convicente da minha Raposa da Serra contra o Confiança de Sergipe, passo decisivo para o Campinense ascender à série-B do Brasileirão. Jogo de muitas famílias, crianças, casais e uma maioria de marmanjos, como é de praxe. Aninha com João Arthur e nós (eu e Camilla) com Vinícius. A vibração com os gols da raposa, a tensão, a alegria, a explosão... tudo numa partida de futebol é teste pra cardíaco. Assistir a um jogo de futebol para analisá-lo deve ser uma chatice. Assistir pra torcer, gritar, tentar empurrar o time na força da torcida, nos gritos de guerra, nas músicas, nas palavras de ordem... é uma diversão só. No final das contas o Campinense sai com o passaporte carimbado, faltando somente a assinatura pra passagem à série B. A roederia é grande por parte das outras torcidas, mas conheço alguns trezeanos que estão torcendo de forma sincera pra que a raposa suba, o que deverá forçar a diretoria do galo a trabalhar mais pra organizar uma equipe competitiva pro ano de 2009, já que 2008 é o ano da raposa. Deveria ter Raposa no horóscopo chinês. Tem galo! Que ironia! Este ano deveria ser o ano da raposa e não do rato. Por via das dúvidas, vou matando um rato aqui, acolá... um galo aqui, outro acolá... Qualquer dia desses divulgo minha receita de "Galo na Cerveja", com acompanhamento de fava (ou feijão) verde, cuscuz e uma salada especial... huuuuummmmmmmmmmmmmmm!!! Qualquer dia eu conto... por enquanto vou curtir a vitória da raposa.

NOITE DE REENCONTROS

Quem perdeu, perdeu! Neste último sábado, 21h, no Teatro do SESC, Campina Grande, Beto Mi, compositor e cantor paulista (e agora secretário municipal de cultura em Guaratinguetá-SP) fez uma incursão memorável pelo universo do seu cancioneiro e pelo popular interiorano nordestino e sudestino. Suas canções inspiradíssimas, a voz que continua perfeitamente afinada em seus agudos e trinados, as tiradas saudosistas dos anos 80 quando cantou e tocou muito por aqui e chegou até a morar no Recife, as lembranças das lutas estudantis pela estadualização da UEPB, as pessoas, episódios marcantes, músicas... O repertório: sua belíssima Espelhos, parceria com o paraense Nilson Chaves; Pra dizer que não falei do verso, grande sucesso dos anos 80; Espanhola, que o Brasil conheceu e cantou primeiro pela sua voz; sua mixagem interessantíssima com as músicas Asa Branca e Tristeza do Jeca e uma surpresa, uma linda música de Capilé e Nino, Lua Cheia, remanescente dos festivais do início da década de 80. O lançamento do livro de Waldir Porfírio, contando a (s) história (s) dos "anos de luta" pelo ensino público e gratuito em Campina Grande e o público - pequeno, mas extremamente envolvido com o encanto dos reencontros - fizeram da noite algo memorável. A felicidade estampada no rosto, do próprio Beto Mi em poder estar de volta e de tantos outros, era indescritível. Uma grande noite para marcar os 21 anos da estadualização da UEPB. DAqui a alguns anos eu posso dizer: eu estava lá! Hoje é domingo e eu sou um sujeito um pouquinho mais feliz que ontem.

7 de novembro de 2008

PORQUE AMANHÃ É SÁBADO...

... e de sexta-feira a alegria é feita e de sol e lua (e luta) a vida é eleita por mais que se saiba - a morte espreita cada vez que, juntos, comemos o pão (mesmo que seja o "que o diabo amassou"). a vida sempre vale a pena. UM POEMA DE CARLOS NEJAR que conheci ainda nos tempos do 'círculo do livro' em Juazeirinho e ainda guardo um seu livrinho capa dura com poemas escolhidos. Cantata em rodas plumas O amor armou a clava da tarde e seu alarme. Quer, albatroz, levar-me onde alcançam suas asas. Vem, ditoso, acordar-me. Quer nos levar nas rodas das plumas e avalanches. Nós chegaremos antes com jubilosas almas, que se absorvem, alvas e salvas, nos redutos. De céu a céu, conceitos são cinzas e ferrugem. E os que se amam, pungem de amar, e mais amando em gozo, em gozo, em bombo ou nos vestígios, nuvens; nos elos desta lava. Em mais amor solvemos o que se faz pequeno. E humano: abismo, abismo.

5 de novembro de 2008

VALE DO PIANCÓ

Meu amigo Orlando Ângelo, professor da UEPB, jornalista e cronista nas horas vagas, é o único piancoense que eu conheço. Aliás, conhecia apenas ele, até ontem. Designado pela magnífica reitora para ir até a cidade de Piancó para representá-la num debate sobre expansão da UEPB para aquela cidade, lá estive ontem para dar conta da tarefa. E conheci muita gente. Viagem no final da madrugada, paisagens caririzeiras e sertanejas enchendo os olhos, motoristas imprevisíveis fazendo das suas, parada básica n entrada de São Mamede pra recarregar as baterias (o melhor restaurante de beira de estrada que já vi até hoje) e chego à cidade bem antes do horário previsto pra o início. Chego ao local antes de todos. Uma hora de atraso, ansidade, palesta e debate de duas horas e meia e uma certeza: como o povo paraibano acordou para o fato da importância de uma instituição de ensino superior. Não há cidadezinha de porte razoável (quer seja cosiderada pólo ou não) que não reivindique hoje um campus da UEPB para si. As pessoas, e os tradicionais políticos, identificam hoje na universidade um fator importante para o desenvolvimento local, para além do status de ter uma base de ensino superior em sua cidade. Se a UEPB, UFPB e UFCG fossem se instalar em todos os lugares onde reivindicam, sobraria até pra Algodão de Jandaíra... e, claro, pra Juazeirinho. O certo é que a UEPB, com sua autonomia financeira, uma gestão eficiente e zelosa com o dinheiro público, buscando rigorosamente cumprir os princíoios constitucionais no tocante à Administração pública (a história do L.I.M.P.E.), tem obtido um êxito incomparável e tem se tornado aspiração de todo o estado ter um pólo, um campus, uma faculdade, o nome que seja, da Universidade do Estado da Paraíba vinculado à sua história. Novos tempos, novos desafios, novas pessoas, novos projetos, novas soluções... o dever nos chama e a criatividade é um fator indispensável aliada à capacidade política em oferecer respostas exeqüíveis e sintonizadas com um presente de muitas mudanças e um futuro abarrotado de esperanças. De minha parte, confesso a enorme alegria de ser contemporâneo deste movimento e contribuir para impulsioná-lo. Trabalhar já é bom quando se é bem remunerado e quando ainda possibilita a obtenção de prazer... aí o bicho pega! Gosto disso!

4 de novembro de 2008

SEM-FIM

Desde menino escuto falar de uma tal rosca sem-fim, que seria uma peça - e eu entendia assim àquela época - petencente às engrenagens de caminhões, não sei se na parte da direção ou do câmbio. Tempos depois descobri que ela é parte de muitas engrenagens de máquinas, inclusive utilizada também na robótica. Seria uma espécie de parafuso que, apesar de chegar ao fim - ao contrário do que sugere o nome - fica girando em torno de si para lados opostos, permitindo um movimento contínuo de outras engrenagens, neste caso, indo e voltando. Nossa! Que explicação esquisita. Enfim, a rosca sem-fim faz com que algo gire, gire, gire... e não saia do lugar. Essa imagem me acudiu para entender o que anda acontecendo na política de Campina, com reverberação pro estado da Paraíba. Tivemos dois turnos eleitorais, vencedor proclamado, diplomado e ainda escuto, quase dez dias depois, carros de som passando em minha porta, inclusive no domingo, entoando - como um mantra - aqueles jingles da camapanha vitoriosa do prefeito Veneziano Vital do Rego Segundo Neto, incluindo alguns que considero de conteúdo impublicável aqui no blog. De tanto escutar isso, também nos carrinhos de som especializados em vender discos pirateados, resolvi ontem procurar pra comprar um desses CDs com as "músicas" de campanha. Ainda tive oportunidade de travar um bom diálogo com a vendedora sobre a poítica local. Ela se revelou apaixonadíssima, arreada os quatro pneus e o semi-eixo "por Campina" e pelo"Cabeludo'. São assim as denominações por aqui. Escolherei uma hora apropriada para escutá-lo com cuidado, pois merece um estudo. Ando torcendo para que a eleição termine aqui pela Serra da Borborema e a vida volte ao corriqueiro de antes, a cidade volte a viver normalmente, o palanque seja desmontado e eu possa vestir, sem constrangimentos, minhas camisas da cor que me apetecer, sem ouvir comentários insinuativos de ambos os lados. Afinal, todas foram pagas com o meu próprio dinheiro. Quero vestir minhas camisas, vermelhas ou amarelas, pra gozar meu expediente de trabalho ou pra ir sofrer no Bar de Almeida (ou do Brito), desfrutar uma lingüiça de bode, um arrumadinho, degustar uma dose de Triunfo... curtir um violão... Vôte! Ô, rosca sem-fim!

2 de novembro de 2008

FINADOS

Não vejo graça alguma em escolher um dia por ano para visitar cemitérios. A algazarra dos visitantes mal-educados e o choro falso dos que esqueceram seus mortos por 364 dias...
Temos hábitos exóticos. Já fiz até serenata em cemitério, véspera de finados, mas numa Juazeirinho sem maiores dramas e numa idade sem maiores malícias, e ainda num passado que vai ficando cada dia mais distante.
Opto por visitar minhas reminiscências, meus mortos, fantasminhas camaradas, a partir da rede armada em meu terraço, frente pro nascente, vento suave, céu claro, festa de bem-te-vis, folhas de craibeira levadas ao vento... madorna digestiva, o mundo se apagando aos poucos... domingo!

A MEMÓRIA E AS COISAS

Houve tempo em que gravava tudo. Por puro prazer! De números de telefones a cenas de filmes bobos, datas, nomes de ruas, o nome das coisas, das pessoas. A memória era meu arrimo e o prodígio me engrandecia só de pensar que era superdotado. Agora acho que cansei. Um espectro anda rodando minha vida e me descobri mudando. Ultimamente dei de guardar coisas estranhas e pouco usuais. Ando querendo guardar sorrisos, palavras, sons, melodias quase imperceptíveis a ouvidos desatentos; ando memorizando beijos e seu sabor de saliva alheia; ando registrando toques sutis de pele, pontas de dedos; ando redescobrindo aromas de pós-infância, mormaço caririzeiro, orvalho, chuva noturna... Ando assim...