20 de maio de 2008

RETROVISOR

"ONDE A MÁQUINA ME LEVA NÃO HÁ NADA / HORIZONTES E FRONTEIRAS SÃO IGUAIS / SE AGORA TUDO QUE EU MAIS QUERO / JÁ FICOU PRA TRÁS (...)
A LUZ DO TEU OLHAR NO FIM DO TÚNEL / E NO ESPELHO A MINHA SOLIDÃO (...)
ALGUÉM SENTADO À BEIRA DO CAMINHO / JAMAIS ENTENDERÁ O QUE É QUE EU SINTO AGORA (...). (Fausto Nilo / Fagner)

18 de maio de 2008

A MÚSICA DOS VALORES PERDIDOS

Artigo de autoria de José Teles, crítico musical, publicado no Jornal do Commercio online, em 06.05.2008 http://jc.uol.com.br/2008/05/06/not_167957.php 'Tem rapariga aí? Se tem levante a mão!'. A maioria, as moças, levanta a mão. Diante de uma platéia de milhares de pessoas, quase todas muito jovens, pelo menos um terço de adolescentes, o vocalista da banda que se diz de forró utiliza uma de suas palavras prediletas (dele só não, de todas bandas do gênero). As outras são 'gaia', 'cabaré', e bebida em geral, com ênfase na cachaça. Esta cena aconteceu no ano passado, numa das cidades de destaque do agreste (mas se repete em qualquer uma onde estas bandas se apresentam). Nos anos 70, e provavelmente ainda nos anos 80, o vocalista teria dificuldades em deixar a cidade.O secretário de cultura Ariano Suassuna foi bastante criticado, numa aula-espetáculo, no ano passado, por ter malhando uma música da banda Calipso, que ele achava (deve continuar achando, claro) de mau gosto. Vai daí que mostraram a ele algumas letras das bandas de 'forró', e Ariano exclamou: 'Eita que é pior do que eu pensava'. Do que ele, e muito mais gente jamais imaginou. Pruma matéria que escrevi no São João passado baixei algumas músicas bem representativas destas bandas. Não vou nem citar letras, porque este jornal é visto por leitores virtuais de família. Mas me arrisco a dizer alguns títulos, vamos lá: Calcinha no chão (Caviar com Rapadura), Zé Priquito (Duquinha), Fiel à putaria (Felipão Forró Moral), Chefe do puteiro (Aviões do forró), Mulher roleira (Saia Rodada), Mulher roleira a resposta (Forró Real), Chico Rola (Bonde do Forró), Banho de língua (Solteirões do Forró), Vou dá-lhe de cano de ferro (Forró Chacal), Dinheiro na mão, calcinha no chão (Saia Rodada), Sou viciado em putaria (Ferro na Boneca), Abre as pernas e dê uma sentadinha (Gaviões do forró), Tapa na cara, puxão no cabelo (Swing do forró). Esta é uma pequeníssima lista do repertório das bandas.Porém o culpado desta 'desculhambação' não é culpa exatamente das bandas, ou dos empresários que as financiam, já que na grande parte delas, cantores, músicos e bailarinos são meros empregados do cara que investe no grupo. O buraco é mais embaixo. E aí faço um paralelo com o turbo folk, um subgênero musical que surgiu na antiga Iugoslávia, quando o país estava esfacelando-se. Dilacerado por guerras étnicas, em pleno governo do tresloucado Slobodan Milosevic surgiu o turbo folk, mistura de pop, com música regional sérvia e oriental. As estrelas da turbo folk vestiam-se como se vestem as vocalistas das bandas de 'forró', parafraseando Luiz Gonzaga, as blusas terminavam muito cedo, as saias e shortes começavam muito tarde. Numa entrevista ao jornal inglês The Guardian, o diretor do Centro de Estudos alternativos de Belgrado. Milan Nikolic, afirmou, em 2003, que o regime Milosevic incentivou uma música que destruiu o bom-gosto e relevou o primitivismo estético,. Pior, o glamur, a facilidade estética, pegou em cheio uma juventude que perdeu a crença nos políticos, nos valores morais de uma sociedade dominada pela máfia, que, por sua vez, dominava o governo. A cantora Ceca foi uma espécie de Ivete Sangalo do turbo folk (ainda está na estada, porém com menor sucesso). Foram comprados 100 mil vídeos do seu casamento com Arkan, mafioso e líder de grupo para-militares na Croácia e Bósnia. Arkan foi assassinado em 2000. Ceca presa em 2003. Ela não foi a única envolvida com a polícia, depois da queda de Milosevic, muitos dos ídolos do turbo folk envolveram-se com a justa pelo envolvimento com a poderosa máfia de Belgrado.A temática da turbo folk era sexo, nacionalismo e drogas. Lukas, o maior ídolo masculino do turbo folk pregava em sua música o uso da cocaína. Um dos seus maiores hits chama-se White (a cor do pó, se é que alguém ignora), e ele, segundo o Guardian, costumava afirmar: 'Se cocaína é uma droga, pode me chamar de viciado'. Esteticamente, além da pouca roupa, a sanfona é o instrumento que se destaca tanto no turbo folk quanto no chamado forró eletrônico, instrumento decorativo, ali muito mais para lembrar das raízes da música tradicional. Ressaltando-se que não se tem notícia de ligação entre bandas de 'forró' e crime organizado. No que elas são iguaizinhas é que proliferaram em meio a débâcle de valores estéticos, morais, e éticos, e despolitização da juventude. Com a volta da governabilidade nas repúblicas da antiga Iugoslávia, o turbo folk perdeu a força, vende ainda porém muito menos do que no passado, hoje é apenas uma música popular para se dançar, e não a trilha sonora de um regime condenado por, entre outras lástimas, genocídio. Aqui o que se autodenomina 'forró estilizado' continua de vento em popa. Tomou o lugar do forró autêntico nos principais arraiais juninos do Nordeste. Sem falso moralismo, nem elitismo, um fenômeno lamentável, e merecedor de maior atenção. Quando um vocalista de uma banda de música popular, em plena praça pública, de uma grande cidade, com presença de autoridades competentes (e suas respectivas patroas) pergunta se tem 'rapariga na platéia', alguma coisa está fora de ordem. Quando canta uma canção (canção ?!!!) que tem como tema uma transa de uma moça com dois rapazes (ao mesmo tempo), e o refrão é 'É vou dá-lhe de cano de ferro/e toma cano de ferro!', alguma coisa está muito doente. Sem esquecer que uma juventude cuja cabeça é feita por tal tipo de música é a que vai tomar as rédeas do poder daqui a alguns poucos anos.

14 de maio de 2008

A TRINDADE DO FORRÓ

Hoje, 14 de Maio, completamos 01 ano sem Marinês, a Rainha do Xaxado.
Compus esta canção há aproximadamente seis meses. Está registrada, mas ainda não gravada. Brevemente disponibilizarei o audio ou um video no youtube.
Dispensa comentários.
A TRINDADE DO FORRÓ Voa, voa, Linda sabiá agreste Vai cantar noutros lugares Saudade do meu nordeste Vai te juntar ao Luiz, O eterno Rei do Baião Um outro Rei chegou lá Com seu pandeiro na mão Leva o triângulo E o chapéu de cangaceira. Majestade do xaxado, Faze inveja ao curió. Com tua luz Clareia nossas quimeras Vai compor noutras esferas “A trindade do forró!”

7 de maio de 2008

EU QUERO MEU SERTÃO DE VOLTA!

No dia 05 de março de 2008 recebi mensagem de Lêda Dias, enviando manifesto assinado por Anselmo Alves. Somente agora o publico. O tempo não mudou! O São João de Campina e o dia-a-dia da cidade que o digam. Leia e reflita, por favor!
(Foto: Timbaúba ressequida na Escola do Cajueiro, UEPB, Catolé do Rocha - PB - rjr) "Nos últimos dez anos tenho viajado freqüentemente pelo sertão de Pernambuco, e assistido, não sem revolta, a um processo cruel de desconstrução da cultura sertaneja com a conivência da maioria das prefeituras e rádios do interior. Em todos os espaços de convivência, praças, bares, e na quase maioria dos shows, o que se escuta é música de péssima qualidade que, não raro, desqualifica e coisifica a mulher e embrutece o homem. O que adianta as campanhas bem intencionadas do governo federal contra o alcoolismo e a prostituição infantil, quando a população canta “beber, cair e levantar”, ou “dinheiro na mão e calcinha no chão” ? O que adianta o governo estadual criar novas delegacias da mulher se elas próprias também cantam e rebolam ao som de letras que incitam à violência sexual? O que dizer de homens que se divertem cantando “vou soltar uma bomba no cabaré e vai ser pedaço de puta pra todo lado” ? Será que são esses trogloditas que chegam em casa, depois de beber, cair e levantar, e surram suas mulheres e abusam de suas filhas e enteadas? Por onde andam as mulheres que fizeram o movimento feminista, tão atuante nos anos 70 e 80, que não reagem contra essa onda musical grosseira e violenta? Se fazem alguma coisa, tem sido de forma muito discreta, pois leio os três jornais de maior circulação no estado todos os dias, e nada encontro que questione tamanha barbárie. E boa parte dos meios de comunicação são coniventes, pois existe muito dinheiro e interesses envolvidos na disseminação dessas músicas de baixa qualidade. E não pensem que essa avalanche de mediocridade atinge apenas os menos favorecidos da base de nossa pirâmide social, e com menor grau de instrução escolar. Cansei de ver (e ouvir) jovens que estacionam onde bem entendem, escancaram a mala de seus carros exibindo, como pavões emplumados, seus moderníssimos equipamentos de som e vídeo na execução exageradamente alta dos cds e dvds dessas bandas que se dizem de forró eletrônico. O que fazem os promotores de justiça, juízes, delegados que não coíbem, dentro de suas áreas de atuação, esses abusos? Quando Luiz Gonzaga e seus grandes parceiros, Humberto Teixeira e Zé Dantas criaram o forró, não imaginavam que depois de suas mortes essas bandas que hoje se multiplicam pelo Brasil praticassem um estelionato poético ao usarem o nome forró para a música que fazem. O que esses conjuntos musicais praticam não é forro! O forró é inspirado na matriz poética do sertanejo; eles se inspiram numa matriz sexual chula! O forró é uma dança alegre e sensual; eles exibem uma coreografia explicitamente sexual! O forró é um gênero musical que agrega vários ritmos como o xote, o baião, o xaxado; eles criaram uma única pancada musical que, em absoluto, não corresponde aos ritmos do forró! E se apresentam como bandas de “forró eletrônico”! Na verdade, Elba Ramalho e o próprio Gonzaga já faziam o verdadeiro forró eletrônico, de qualidade, nos anos 80. Em contrapartida, o movimento do forró pé-de-serra deixa a desejar na produção de um forró de qualidade. Na maioria das vezes as letras são pouco criativas; tornaram-se reféns de uma mesma temática! Os arranjos executados são parecidos! Pouco se pesquisa no valioso e grande arquivo gonzaguiano. A qualidade técnica e visual da maioria dos cds e dvds também deixa a desejar, e falta uma produção mais cuidadosa para as apresentações em geral. Da dança da garrafa de Carla Perez até os dias de hoje formou-se uma geração que se acostumou com o lixo musical! Não, meus amigos: não é conservadorismo, nem saudosismo! Mas não é possível o novo sem os alicerces do velho! Que o digam Chico Science e o Cordel do Fogo Encantado que, inspirados nas nossas matrizes musicais, criaram um novo som para o mundo! Não é possível qualidade de vida plena com mediocridade cultural, intolerância, incitamento à violência sexual e ao alcoolismo! Mas, felizmente, há exemplos que podem ser seguidos. A Prefeitura do Recife tem conseguindo realizar um São João e outras festas de nosso calendário cultural com uma boa curadoria musical e retorno excelente de público. A Fundarpe tem demonstrado a mesma boa vontade ao priorizar projetos de qualidade e relevância cultural. Escrevendo essas linhas, recordo minha infância em Serra Talhada, ouvindo o maestro Moacir Santos e meu querido tio Edésio em seus encontros musicais, cada um com o seu sax, em verdadeiros diálogos poéticos! Hoje são estrelas no céu do Pajeú das Flores! Eu quero o meu sertão de volta!" Anselmo Alves

6 de maio de 2008

UM PASSAPORTE CHAMADO FLORBELA

"Eu não pensei que fosse proibido Amar de longe e de perto Com o mesmo coração (...)" Esses são os versos iniciais daquilo que se transformou em meu passaporte para o pernambuco. Tendo à frente o amigo Zenobre (primeiro à esquerda na foto), que foi o verdadeiro abridor de portas, divulgador e articulador, fui à cidade do Recife dar entrevista ao Xico Bizerra (o primeiro à direita), no programa "Forró e ai" da Rádio Folha. Ainda na foto, ao centro, Tereza Accioly, produtora, viúva de Accioly Neto (pra quem não sabe, autor d' A Natureza das Coisas. "Se avexe não / amanhã pode acontecer tudo / inclusive nada .../, entre tantas outras) e Lina Fernandes, apresentadora do programa, junto com Xico Bizerra (compositor dos bons). O programa é merecedor de destaque, pois, além de tocar somente o forró P.O., se desenvolve num clima descontraído, leve eo tempo passa tão rápido que quando você se dá conta está acabando. Por onde andei em Recife fui super bem tratado (daquele jeito de encabular matuto). No Arriégua (de uma comida maravilhosa e um dono - Luiz Ceará - fora do comum), bons papos com Luizinho Calixto (um dos maiores tocadores de 8 baixos do mundo. De Campina Grande. Na foto, ao centro), com o proprietário, com Ivan Ferraz (compositor, poeta e apresentador de programas de rádio e TV. À direita na foto) e com Anastácia (ao lado de Zenobre, na foto). Anastácia merece um comentário especial, pois, pra quem não lembra ou não sabe, tem mais de 600 composições gravadas. Somente duas pra você imaginar o tamanho da autoridade: "Só Quero um Xodó" e "Tenho Sede". Dancei até forró com ela no "Nosso Quintal", um lugarzinho maravilhoso, criado para cultuar o forró tradicional e a memória dos grandes ícones da música nordestina, promovendo semanalmente um encontro de sanfoneiros. Uma beleza! Conheci muita gente boa, dentre elas, Antiógenes, do Ministério Público, colecionador e Gonzagólatra (um neologismo que andam usando por aí afora) e Paulo Vanderlei, descendente do Piancó e que mora em Fortaleza, criador do maior e melhor sítio sobre Luiz Gonzaga na Internet, o http://www.luizluagonzaga.com.br/. Com Zenobre e sua simpatia e autoridade de quem mantém um dos maiores acervos fonográficos do país sobre Luiz Gonzaga, o mundo foi se abrindo e o povo alegre do Recife me apresentando: "Esse aqui é o compositor de Florbela, gravada por Santanna". Parecia uma senha. E eu, claro, todo ancho, contente que só pinto no lixo. A recepção calorosa na Rádio Folha foi de deixar o sujeito encabulado mesmo. No Arriégua, idem! No Nosso Quintal, ibidem... (é o fraco! Parece citação bibliográfica) A oportunidade de conviver com tanta gente boa, que dedica parte de suas vidas a criar, preservar, divulgar a musicalidade nordestina mais original, a difundir pras novas gerações a obra daquele que é o maior de todos os tempos, Luiz Gonzaga Rei do Baião, foi algo maravilhoso. O contato ao vivo com Anselmo Alves, autor do manifesto "Quero Meu Sertão de Volta" - que publicarei aqui - e Leda Dias (dois bons estudiosos da cultura nordestina), valeu a pena! Descobri que há um verdadeiro balaio cultural no Recife e que um movimento forte vem acontecendo naquela cidade em prol de alavancar o forró novamente à sua mereceida posição de destaque na cena cultural do país. Enquanto isso, em Campina, os destaques são Aviões, Calcinhas, Saias, Ferros, Isso ou aquilo de Menina, Safadas, Sem-vergonha... Ai meus eggs!